Tuesday, 27 October 2009

Espaços públicos

A escultura envolve o uso de matérias possíveis de serem moldadas ou moduladas. Uma das temáticas na escultura contemporânea está focada com a estratégia conceptual sobre o espaço, com o contraditório estatuto do lugar. As peças inseridas nos espaços públicos são lugares de investigação dos limites do indivíduo, investigam o carácter ambivalente da instituição contemporânea e estão assentes numa necessidade constante de reinvenção e de contribuição humana. Funcionam como um ponto de equilíbrio de forças. No entanto, os museus são como os centros comercias: apesar de serem espaços de reunião são, por contra ponto, lugares de consenso.

Desta modo, para o espaço público, o artista contemporâneo tende a criar novos territórios onde se questione o humano, os múltiplos sistemas existentes no epicentro humano. Por exemplo, e apesar de trabalhar com uma variedade de meios, as peças concebidas por Hugo Canoilas (1977) são uma extensão das ruas, das praças, dos jardim, dos locais de encontro do nosso quotidiano transportadas para um interior.

A criação de espaços imaginário é para muitos coleccionadores de arte contemporânea traduzido no facto de se ter um espaço próprio para expor a sua colecção. Este espaço torna-se um lugar de interacção e integração das obras no meio envolvente, principalmente quando são espaços naturais, como os 17 hectares de Norman and Norah Stone, os quarenta hectares de Jimena Blázquez Abascal, ou os jardins de Joe Berardo.

Published at NS'198/IN#094, Mercado da arte (68), (Diário de Notícias N.º 51336 e Jornal de Notícias N.º 145/122), 24 de Outubro de 2009 Portugal Courtesy: Quadrado Azul/Hugo Canoilas

Monday, 26 October 2009

Como saber o valor das obras de artistas emergentes

Um dos aspectos mais importantes num coleccionador é a paciência; outro é saber ter um ouvido atento.

No espaço de um ano alguns dos desenhos a tinta da china da jovem artista Adriana Molder foram colocadas à venda em leilões nacionais. Os preços variavam entre vinte mil euros (Março de 2008) e 2,5 mil euros (Dezembro de 2008). Em nenhum dos casos as peças encontraram comprador durante o decorrer dos leilões. Uma das questões colocadas por muitos coleccionadores está relacionada com o saber atribuir o valor a uma peça de um artista emergente, ter a noção do preço comparativo a atribuir a uma obra de um jovem artista ou emergente que ainda não passou pelas salas leiloeiras.

Apesar do natural interesse pelas vantagens financeiras do investimento em arte contemporânea, os coleccionadores também necessitam de se deixar seduzir pelos valores fundamentais que essa arte representa. Durante os últimos anos, a forma especulativa com que as pessoas propendiam para o mercado dos artistas emergentes ou jovens artistas fez com que o papel do coleccionador como patrono se diluísse, se perdesse, sacrificado aos negócios lucrativos resultantes da valorização e venda imoderada de peças acabadas de serem compradas.

Um dos aspecto mais importante num coleccionador é a paciência; outro é saber ter um ouvido atento. Os leilões não são a única forma de determinar o preço de uma obra de arte ou o valor de um artista: são um barómetro menor na validação do valor no mercado. Os leilões têm por princípio o processo em que num determinado momento duas ou mais pessoas demonstram o mesmo interesse por um determinado objecto. Não obstante a incerta situação económica actual, os comentários pós-eventos, como as feiras de arte e leilões durante estes últimos meses, salientam a surpresa pelas vendas realizadas, quer em termos de quantidades quer em termos de valores.

Mas como saber o preço a atribuir a uma peça de um artista emergente e evitar as disparidade de valores como os aplicados na obra da artista acima referida? Além de avaliar a lei da oferta e da procura, é preciso comparar obras de tamanho e em suporte análogo de um artista num estágio similar da sua carreira. Outro dos aspectos a considerar é se o artista continua a expor de uma forma regular, quando e onde foi a sua última exposição (a clara ausência desta demonstração pública reduz o valor para o mínimo, ou seja, para zero euros). Por último, falar com quem melhor conhece o mercado e os artistas, os galeristas são aqueles indivíduos que têm a consciência mais nítida de qual o preço que a obra de um artista deverá ter. Depois, existem outros factores que permitem aferir com maior exactidão qual deverá ser o seu valor, como a qualidade e singularidade da obra.

Published at NS'198/IN#094, Mercado da arte (68), (Diário de Notícias N.º 51336 e Jornal de Notícias N.º 145/122), 24 de Outubro de 2009 Portugal © Adriana Molder, Sem título (148,5x197,5cm), 1998 Courtesy: Palácio do Correio Velho

Thursday, 22 October 2009

newsfromlondon200910


Waiting, waiting, waiting we spend all our life just waiting for something.

Waiting to buy a plane ticket, waiting for the flight day, waiting to check-in, waiting to get into the plane, waiting in the plane, waiting to land, waiting the luggage, waiting to get home.

The time of flight has finish. We got in to our chromatic destination.

Wednesday, 21 October 2009

newsfromlondon200910


The nature of images and identity in 'No Ghost Just a Shell' (after the dead of Ann Lee in 2006) - we effectively enter a space where the rights to an identity and existence are constantly explored, giving autonomy.

Tuesday, 20 October 2009

Como as imagens redefinem o mundo


Presumivelmente, e devido à precisão óptica, a fotografia e o vídeo reflectem a forma como vemos o mundo, enquanto, por princípio, prometem dizer a verdade. A fotografia e o vídeo podem não só gravar a realidade, mas também, em simultâneo, falsificá-la. Criam a ilusão de uma realidade como a queremos ver, e não como ela efectivamente é. São imagens destituídas de qualquer fundamentação histórica.

As imagens fotográficas de autores como Olivio Barbieri (1954), Thomas Demand (1964), Andreas Gefeller (1970) ou João Paulo Serafim (1974), por exemplo, são visões da realidade, representações subjectivas que marcam a natureza elusiva e indefinível do contexto que nos rodeia, através das imagens despertam uma forte ideia de irrealidade.

Hoje, a um nível global, a vulgarização da tecnologia digital e a abrangente disseminação de imagens através dos órgãos de comunicação e da internet empurra-nos para o campo de conflitos entre o que é aparente e o que é a realidade no espaço social. Como espectadores somos obrigados a ter um papel activo na definição do que é visto como real. Assim, muitas das nossas acções e convicções estão assentes nesta «realidade», que resulta de uma mera projecção ou construção individual.

Published at NS'197/IN#093, Mercado da arte (68), (Diário de Notícias N.º 51329 e Jornal de Notícias N.º 138/122), 17 de Outubro de 2009 Portugal © João Paulo Serafim, Inauguração do Museu, 2009 Courtesy: Galeria Baginski – Projectos

Monday, 19 October 2009

Feiras de Paris testam recuperação do mercado

Desde Setembro de 2008 as leiloeiras ajustaram a estratégia ao apresentarem valores estimados mais baixos

Em Paris, nos próximos dias, a realização de diversas feiras e leilões de arte contemporânea virão confirmar se a recuperação do mercado da arte é uma realidade. A Show Off Paris 2009 (Port des Champs Elysées, de 21 a 25 de Outubro), a FIAC 2009 (no Gran Palais e no Louvre, de 22 a 25 de Outubro), a Cutlog (Bourse du Commerce, de 22 a 25 de Outubro), a Art Elysées 2009 (Campos Elísios, de 22 a 26 de Outubro) e a SLICK 2009 (Centquatre, de 23 a 26 de Outubro), juntamente com a inauguração de grandes exposições no Museu do Louvre, Centro Pompidou, Jeu de Paume, Maison Rouge, Palais de Tokyo, etc., todas em Paris, e outros eventos nas localidades vizinhas são de assinalar. Vernissages em várias galerias parisienses complementam o conjunto de experiências dispostas para usufruto comercial dos milhares de visitantes durante a realização das múltiplas feiras e leilões de arte contemporânea.

Num outro nível, e apesar da recessão mundial ter chegado ao fim - ao passar, de acordo com o FMI e analistas económicos, o ponto de inflexão -, a crise continua. A recuperação económica gradual registada durante 2009 e o crescimento modesto das economias germânicas e francesas, por exemplo, impulsionaram a moral dos vários intervenientes no mercado da arte contemporânea.

Desde Setembro de 2008, há pouco mais de um ano, as leiloeiras ajustaram a sua estratégia ao apresentarem valores estimados mais baixos, oferecerem menos lotes e controlarem as garantias – excepto no caso de obras verdadeiramente excepcionais. Durante o primeiro semestre de 2009, 79% dos lotes apresentados foram adquiridos por menos de 5 mil euros, comparado com 73% em igual período de 2008.

Neste contexto, e aliada à beleza e atractivos comerciais da cidade de Paris, a interacção com o mundo da arte através de múltiplos canais (inaugurações de feiras e exposições ou a realização de leilões) vai permitir uma experiência enriquecedora para um grande número de pessoas, durante a próxima semana, quando os amantes de arte, investidores, coleccionadores e público em geral se reunirem sob as múltiplas abóbadas da Cidade-Luz e forem tentados a pagar milhões por peças de arte.

Published at NS'197/IN#093, Mercado da arte (68), (Diário de Notícias N.º 51329 e Jornal de Notícias N.º 138/122), 17 de Outubro de 2009 Portugal © Dias & Riedweg, O Jardim (colour lenticular photograph), 2009 Courtesy: Galeria Filomena Soares

Tuesday, 13 October 2009

Escuta!

Quando consideramos a arte de uma perspectiva histórica há sempre novos conceitos para comunicar e novos paradigmas a definir. Os artistas movimentam-se entre os limites de uma disciplina sem alterar a sua identidade. E, nesta paisagem, a arte sonora é um meio multidimensional complexo situado tanto no espaço físico como virtual, sem as limitações bidimensionais das artes visuais – que têm uma posição fixa. O produto desta evanescência imprevisível é perceptível em qualquer ponto do espaço.

Por outro lado, escutar uma peça de música não é um exercício linear, apesar de se começar por seguir uma narrativa sónica. É uma questão de organizar tudo numa forma, seja através das performances de Laurie Anderson ou Bruce Nauman, das intervenções sonoras John Cage, Kim Gordon ou Ryoji Ikeda, ou nas instalações de Pedro Tudela ou de Ricardo Jacinto. As peças sonoras tendem a introduzir um aspecto que tem pouco haver com a memória de curta duração; estão mais relacionadas com a memória a longo prazo, a qual nos permite dar prioridade a determinadas ocorrências enquanto asseguramos que, nesse caso, a forma sónica é percebida como uma forma que existe como unidade e está no presente.

O resultado é uma aquisição automática total meramente por nos expormos a uma estrutura complexa num ambiente sonoro, ou seja, ao escutar-mos uma peça sonora, como In a Rear Room, de Ricardo Jacinto, por exemplo, destilamos a sua duração para a o momento actual.

© Ricardo Jacinto, In a Rear Room (instalação), 2009 Courtesy: Vera Cortês Agência de Arte

Monday, 12 October 2009

Coleccionar New Media

Por serem formas de arte inimagináveis à menos de uma década, a arte denominada de New Media, ou Variable Media, tem como suporte e é uma forma de expressão ainda muito dependente dos desenvolvimentos tecnológicos, como a contínua miniaturização dos componentes, os desenvolvimentos do software ou os contínuos melhoramentos na tecnologia dos ecrãs.

A arte New Media usualmente refere-se a suportes como vídeo, projecções, arte apresentada com recurso a computadores ou através da internet. Apresenta características físicas menos usuais para o mercado da arte, menos tangíveis, enquanto as peças em suportes estáticos, as tradicionais, como a pintura, o desenho ou a fotografia, têm uma maior relação entre o corpo e a imagem.

Se na Video Arte, os trabalhos de Bill Viola, por exemplo, combinam questões tecnológicas – uso do vídeo no mundo artístico – com temas centrais da consciência e experiência humana; e se na Net.Art, Y0ung-Hae Chang Heavy Industries aliam textos em flash com peças musicais, para criar animações virtuais interactivas, fragmentadas; em ambos os casos, ao desafiarem os limites tecnológicos do material, o ecrã transforma-se na tela.

Quando um coleccionador decide adquirir uma peça em New Media, este entra numa nova forma de relação com a arte. Mesmo apesar dos todos os desenvolvimentos tecnológicos recentes, muitos destes novos meios de expressão requerem ser instalados com um maior cuidado e sensibilidade ao meio ambiente envolvente, e necessitam de uma manutenção regular mais frequente, devido à complexidade tecnológica intrínseca do material, do que os suportes tradicionais.

Contudo, o desejo dos coleccionadores por estes suportes joga na proporção directa com a sua objectividade. Quanto mais intangíveis, mais desejados.

Por outro lado, a questão da reprodutividade técnica do material permite também questionar a expansão deste meio a nível da quantidade (o número de edições existentes). Apesar de incrementar a sua disseminação pelo espaço público, e atender a um maior público ao permitir aumentar o seu reconhecimento e compreensão pelas massas, este facto reduz o preço de mercado e a intenção em adquirir uma destas peças.

© Bill Viola, Passage Into Night (instalação de vídeo), 2005 Courtesy: James Cohan Gallery/Kira Perov

Friday, 9 October 2009

Monday, 5 October 2009

A transgressão na arte e a censura

Por ser um campo fértil de interpretações, o universo artístico é o mais permeável às criticas extremistas.

Um dos mais enevoados temas com influência na prática artística, e mesmo no relacionamento social, desde a Antiguidade, é a infracção ou a superação dos limites delineados pelos princípios morais ou por outras normas estabelecida de comportamento no relacionamento comunitário. Outro tema é a forma oficial encontrada pela comunidade para responder a estas transgressões morais através da supressão das partes inaceitáveis, nomeadamente matérias consideradas obscenas, pornográficas - como, em especial na sociedade contemporânea a pornografia infantil - ou outros assuntos de moral questionável. Um comportamento comunitário possível de ser encontrado nos actos de censura, nas visões e práticas intolerantes provenientes dos mais variados quadrantes sociais, políticos, religiosos ou corporativos.

Por ser um campo fértil de interpretações o universo artístico é o mais volátil e permissivo a este género de críticas extremistas. Por exemplo, recentemente, o apresentador populista televisivo norte-americano Glenn Beck conseguiu encontrar indícios fascistas e comunistas em vários murais localizados em edifícios na Rockefeller Plaza, em Nova Iorque – apesar de um dos painéis nem sequer existir nesse espaço –, enquanto, na Escócia, uma exposição na Gallery of Modern Art (Galeria de Arte Moderna) foi retirada da programação dedicada à promoção da igualdade e dos direitos humanos. Se nos Estados Unidos da América existe uma propensão para extremismos morais, exemplos existem também a nível nacional, como uma peça da designer Catarina Pestana, criada para a exposição da Experimenta Design, censurada por um dos patrocinadores do evento sob a direcção de Guta Moura Guedes.

O controlo exercido no domínio artístico pelos diferentes governos europeus durante o século vinte é um facto histórico registado. Socialmente, a visão de um tornozelo duma mulher era considerado chocante para a sociedade de épocas passadas. Assim como imagens de nudez, alguns dos aspectos fisionómicos das figuras pintadas por Michelangelo na Capela Sistina, no Vaticano, estão actualmente completamente desvelados ao público; ou as duplas pinturas de Goya, para serem mostradas no espaço privado ou público do século dezoito.

A arte é um fórum, uma plataforma independente onde a transgressão e o questionar de situações éticas, morais, políticas e sexuais são constantes. De acordo com algumas ideologias partidárias, a atribuição de fundos públicos permite a existência desta independência relacional. Dá a possibilidade de conceber obras não limitadas às exigências e gostos progressistas, tradicionais ou das massas, mas sim criar obras que facultam a reflexão sobre a condição humana contemporânea. O que é certo, como em muitas obras de arte, por diversas vezes o valor económico e cultural da peça censurada aumenta de acordo com a exposição no debate público.

Published at NS'195/IN#091, Mercado da arte (70), (Diário de Notícias N.º 51315 e Jornal de Notícias N.º 124/122), 3 de Outubro de 2009 Portugal © Francisco de Goya, La maja desnuda (1795), e La maja vestida (1800) Courtesy Museo Nacional del Prado, Madrid