Tuesday 28 April 2009

Joalharia

O valor definindo pelo uso de símbolos que projectam imaginários como os adornos pessoais – colares, anéis, ou braceletes, normalmente feitas a partir de ou com metais ou pedras preciosas – permite facilmente perceber o status sócio-económico de uma pessoa.

Juntamente com outros indícios como posturas, concepções, rituais ou hábitos cognitivos, a reprodução de diferenças é elaborada e desenvolvida tendo em vista relações sociais num sistema de trocas.

Concebido por Ana Cardim, o projecto Garbage Pin: Valor VS Desperdício é um olhar de noventa artistas contemporâneos sobre a experiência de valor. A apropriação e reinterpretação de objectos do quotidiano (dejectos, imagens, fármacos, palavras, etc.) conferem poder e status às matérias relativas e subjectivas acumuladas durante cinco dias.

Os 440 pequenos sacos de lixo patentes na galeria MCO – Arte Contemporânea (Porto), até 2 de Maio, reciclam os excedentes produzidos por indivíduos oriundos de diferentes áreas de trabalho como pintura, escultura, teatro, música, literatura e, maioritariamente, joalharia contemporânea. A jóia Gabarje Pin (prata), com kit de recargas, custa 75 euros.

Published at NS'172/IN#068, Mercado da Arte (70), (Diário de Notícias N.º 51154 e Jornal de Notícias N.º 329/121), 25 de Abril de 2009, Portugal. Courtesy a Artista.

Monday 27 April 2009

Vivemos em tempos mais comedidos

«Sinto que estou mais consciente sobre as questões sociais contemporâneas.»

As suas peças exploram conceitos de memória, tradição e identidade, João Pedro Vale explora a força da arte para se aproximar da cultura popular de uma comunidade imaginária. A nível do mercado, Pedro Vale concebe as suas obras de acordo com três plataformas: «Existem os projectos desenvolvidos a nível pessoal para exposições, e depois são comercializados pelas galerias; existe o trabalho para a galeria – pois vou fazer uma exposição na galeria, por exemplo; e existem as feiras – ou é uma peça em armazém, ou vem no decorrer de uma vontade em conceber uma peças que vai ser inserida no circuito comercial através de um evento que dura três ou quatro dias»

Apesar de nos encontrarmos numa fase de depressão no ciclo económico, «continuo a fazer o mesmo, não sinto que estou a abdicar de nada por uma questão de mercado, mas sinto que estou mais consciente sobre as questões sociais contemporâneas, quer na produção das peças, independentemente de esta ser concebida intencionalmente para o mercado ou não, quer a nível pessoal», afirma o artista. Cada uma das peças concebidas por Pedro Vale surge no mercado com o seu mérito próprio.

Para João Pedro Vale, quem compra as suas peças está à procura de um valor (do valor intrínseco da obra de arte por oposição ao da peça como forma de investimento), por isso, «talvez as coisas me tenham corrido bem por causa da minha capacidade em diversificar as hipóteses de escolha para quem procura e compra». Também «existiu uma progressão muito tranquila do valor da minha obra, não houve uma grande oscilação dos preços, razão por que não sinto a falta de procura».

E por todo o lado, «não há grande diferença em relação aos dois anos anteriores, pois as galerias continuam a ter a mesma actividade, mas talvez de uma forma mais consciente. Hoje continuo a ter a mesma cadência de solicitações de peças».

Isto apesar de nos últimos meses haver a crescente percepção de que “há galerias a fechar, os artistas estão a mudar de ateliers e a reduzir o número de assistentes». Este facto «tem que ver com a forma como as pessoas estão a viver», são tempos mais comedidos, de menor ostentação social nos usos e costumes representativos da actividade económica de cada indivíduo, adianta o artista. Ou seja, o acto de comparação social está no desejo de as pessoas actualmente serem identificadas como mais prudentes, responsáveis, discretas. Por exemplo, um dos efeitos foi a Yvon Lambert, com espaços abertos em Paris e Nova Iorque, ter fechado o espaço expositivo na Hoxton Square (Londres), em Março passado, seis meses depois de ter aberto, com a apresentação ao público de uma única exposição.

Actualmente, muitos dos potenciais coleccionadores institucionais, os que normalmente compram as peças de maior dimensão, têm uma atitude de «esperar para ver», «talvez exista uma maior cautela por parte das grandes instituições em adquirir peças; enquanto o coleccionador privado é um coleccionador que continua a procurar e a comprar novas peças para o seu espaço».

A arte sempre foi um produto representativo das necessidades culturais. O boom no mercado de arte sempre acompanhou o boom económico. Foi assim no renascimento, foi assim na última década. Actualmente, os galeristas (como intermediários) sabem que os artistas empurrados para o mercado durante os últimos três ou quatro anos já não têm procura.

Published at NS'172/IN#068, Mercado da Arte (70), (Diário de Notícias N.º 51154 e Jornal de Notícias N.º 329/121), 25 de Abril de 2009, Portugal. João Pedro Vale, Diabrete (Ferro, tecido, papier-maché e chocalhos, 325,120,100cm), 2008. Courtesy o Artista.

Wednesday 22 April 2009

newsfrommadrid200904


Sometimes life is never how we expected
It can be much better

Luisa Lambri

Fundación RAC (Pontevedra, Spain)
Luisa Lambri

For someone who photographs architecture, Luisa Lambri’s pictures show a distinct universe of the photographed object. The chiaroscuro transcends a personal identity. Her images tend to a poetic expression revealing an apparent sensual reality, where we can find Lambri’s persona in the photographed spaces rather than their architects’.

At the historical centre of Pontevedra, and in a restored house that has been transformed into an exhibition according to contemporary art conveniences and necessities, eleven medium size black & white photographs compose different groups referring to architectural buildings, such as Centro Galego de Arte Contemporánea (Santiago de Compostela), or Casa Serralves (Porto).

Within each construction context, each picture resembles to the former, but with a tiny difference, that is barely visible, and differentiates it from the previous photograph. The images shown at Fundación RAC capture a world – a wall, windows and a corner in the ceiling –, where Luisa Lambri changes the camera position, the angle, or the captured light, almost as imperceptible, in distinctive moments in time. In some, the intensity of luminosity is so affecting that the object blurs into the paper’s whiteness, disentangling it from constrains derived from its own objectification.

However, Lambri’s concerns are about time. She does not document the architect or even has a vision about the architect’s spatial perspective. It is something else, a sort of “dislocation”. She is interested in how shadows and light disturb usually organized places, creating an, almost, cinematographic register. Her photographs are works about perception.

Luisa Lambri photos refer back to geometric abstraction, and to the confluence between that geometrical abstraction and nature. A discourse on the use of light and shadows to achieve a sense of volume when modelling three-dimensional objects. The objects perceived play between geometry and the curves of the human body, between the relations in proportions and surfaces with nature.

They question the landscape, the female body, the figure, the curve – that is nature –, and the relative arrangements of the parts of something – geometry.

Published at Lapiz, Revista Internacional de Arte. Año XXVIII, Núm. 253 (93), April 2009 España © Luisa Lambri, "Untitled (Centro Galego de Arte Contemporánea, #08)", 2008

Tuesday 21 April 2009

newsfrommadrid200904


The prescritp of the order of the invisible empire

Redes Sociais para coleccionadores

As redes sociais para coleccionadores existentes na internet estão a florir por esse mundo fora. A maioria deste espaços virtuais procura garantir acesso ao conhecimento sobre arte a coleccionadores e investidores, assim como permitir a visualização de trabalhos de novos artistas. Apresentamos, na continuação, uma listagem de quatro sites existentes nesta rede mundial:

  • O Myartspace é uma comunidade online com mais de cinquenta mil artistas, coleccionadores, estudantes, professores, galeristas, curadores, críticos e apreciadores de arte em geral. O acesso é livre e sem custos.
  • Ao criar um fórum global de discussão, interactividade e debate a artreview.com apresenta uma espaço único, ao combinar conhecimento interno com as opiniões de entusiastas.
  • O Independent Collectors apresenta-se como uma ferramenta virtual para coleccionadores modernos e inquiridores. A facilidade de construir uma rede de contactos e partilhar informação sobre galerias e eventos é um dos aspectos positivos. Actualmente ainda é um espaço gratuito.
  • Originalmente concebido pelos graduados do MA Fine Art da Central Saint Martins College of Art and Design e do Royal College of Art (Londres), o artselector oferece um directório visual inovativo sobre artistas, curadores independentes e galerias.

Bienal de Antiguidades
Em contraponto com o esfriar da procura de arte contemporânea, a arte antiga continua a marcar presença no mercado de arte com a mesma temperança e vivacidade de sempre. A 8ª edição da Bienal de Antiguidades apresenta bens palpáveis, «que pela sua qualidade intrínseca e raridade constituem um investimento apetecível e alternativa seguro a outros tipos de activos económicos».

Os 31 expositores, membros da Associação Portuguesa dos Antiquários [APA] mostram o que de melhor há no património cultural móvel em Portugal. Organizada pela APA, a Bienal de Antiguidades decorre entre os dias 17 e 26 de Abril, na Cordoaria Nacional, em Lisboa.

Published at NS'171/IN#067, Mercado da Arte (71), (Diário de Notícias N.º 51147 e Jornal de Notícias N.º 322/121), 18 de Abril de 2009, Portugal. As Três Graças - alegria, bom humor e esplendor (Mármore Branco), Itália, século XIX. Courtesy Conde, Sintra e Associação Portuguesa dos Antiquários, Lisboa

Monday 20 April 2009

O teste dos recentes leilões

Desfecho de uma semana marcada pela fotografia rendeu bons valores em Nova Iorque.

O primeiro teste ao mercado da arte decorreu com a feira de Maastricht, a TEFAF, durante o passado mês de Março. Posteriormente, os dois leilões considerados de «celebridades» produziram resultados surpreendentes para a situação económica actual. Os leilões da Colecção de Yves Sain Laurent e Pierre Bergé, na Christie’s de Paris, e da Colecção de Gianni Versace, na Sotheby's de Londres. Destes três momentos é possível concluir o crescente interesse dos vendedores em tranquilizar o mercado. No primeiro caso, sobre os grandes mestres e outras peças de arte de extrema qualidade; nos leilões, peças excepcionais de excepcional proveniência.

Com valor estimados entre 5,4 milhões de euros e oito milhões de euros, o desfecho da semana de leilões dedicadas à fotografia nas principais leiloeiras internacionais (Sotheby’s, Christie’s e Phillips de Pury), em Nova Iorque (EUA), entre 30 de Março e 1 de Abril, respectivamente, resultou em 4,3 milhões de euros para um total de 387 lotes vendidos em praça.

Ao restringir a selecção de espécimes a 116 lotes, a Christie’s conseguiu vender 82 lotes, o que representa 70,69% – a percentagem mais elevada de vendas quando comparada com as outras duas casas – no valor de 1,1 milhão de euros. O leilão na Philipps de Pury, com o maior volume de lotes disponíveis (279 imagens, nas quais estavam incluídas imagens de Richard Avedon, David LaChapelle ou Cindy Sherman, e espécimes oriundos da Colecção de Lisa Lyon ou da Colecção de Anabel & E. J. Gonzalez), estimado entre 1,5 milhão de euros e dois milhões de euros, resultou na venda de 187 lotes arrematados em cerca de 1,4 milhão de euros, abaixo do estimado mínimo. Por seu lado, a Sotheby’s, com 186 lotes em praça (no qual se incluíam fotografias da várias colecção privadas, como a Colecção de Leon Constantiner, por exemplo), alcançou um valor final de aproximadamente um 1,7 milhões de euros para 118 lotes.

O retrato de Lucia Moholy (estimado entre 150 mil e 230 mil euros) por László Moholy-Nagy – reflexo do trabalho inovativo e espontâneo do jogo complexo entre o claro e escuro, do fotógrafo húngaro –, apresentado na Sotheby’s, foi adquirido por um coleccionador privado europeu por 180 mil euros, o valor mais alto pago por uma imagem nos leilões deste ano. Em 2008, durante os mesmos leilões, a A Family on the Lawn one Sunday in Westchester NY (1968), de Diana Arbus, foi adquirida por cerca de 350 mil euros, por Jeffrey Fraenkel, da Jeffrey Fraenkel Gallery, S.F.

Published at NS'171/IN#067, Mercado da Arte (71), (Diário de Notícias N.º 51147 e Jornal de Notícias N.º 322/121), 18 de Abril de 2009, Portugal. László Moholy-Nagy, Lucia Moholy, 1920. Courtesy Sotheby's 2009

Sunday 19 April 2009

newsfromlisbon200904


During sex, my girlfriend always wants to talk to me.
Just the other night she called me from a hotel.
During sex, my girlfriend always wants to talk to me

(after Richard Prince)

Tuesday 14 April 2009

Teste do mercado nacional

O leilão de arte moderna e contemporânea no Palácio do Correio Velho, em Lisboa, assistiu a uma descida de 54,37 por cento do valor total pago pelos lotes em leilão, quando comparado com o mesmo leilão efectuado em Março de 2008. A venda, realizada a 26 de Março, ofereceu 264 lotes com valores estimados de 919 055 euros a 1 429 120 euros, em comparação com os 2 014 190 euros a 3 097 560 euros estimados para os 495 lotes no ano passado. O preço médio de venda – calculado com base na estimado mínimo – caiu significativamente quando comparado com leilão de 2008, de 4069 euros para 3481 euros.

Igualmente o valor de algumas peças apresentadas foi revisto. Por exemplo, Les Échauguettes (1958), de Vieira da Silva, foi adquirido pelo valor estimado mínimo – o óleo sobre tela estava avaliado em 150 mil euros (no mesmo leilão de 2008, esta mesma peça foi recusada, com valor mínimo de 175 mil euros). O que vem demonstrar a clarificação do mercado relativamente aos valores inflacionados, dos últimos anos. No entanto, relativamente ao total de lotes vendidos, verificou-se um crescimento em 7,17 por cento. No dia 20 de Abril, realiza-se o leilão de Arte Moderna e Contemporânea, da Cabral Moncada Leilões, em Lisboa. Do qual se espera mais indicadores referenciais sobre o estado do mercado nacional de arte moderna e contemporânea.

Published at NS'170/IN#66, Mercado da Arte (70), (Diário de Notícias N.º 51140 e Jornal de Notícias N.º 315/121), 11 de Abril de 2009 Portugal. Vieira da Silva, Les Échauguettes, 1958 Courtesy Palácio do Correio Velho

Monday 13 April 2009

A cultura é das massas

Sendo um dos pilares principais do turismo, a cultura representa 5,5% dos PIB da União Europeia.

O medidor fundamental do sucesso de uma iniciativa é a manifestação no qual se propaga com celebridade o número de espectadores e, por vezes, o valor do investimento. Normalmente, o primeiro índice reporta-se para afirmações como «sucesso de bilheteira com», no caso do cinema; «as vendas superam os», no caso da música; «já foi visitada por», no caso das exposições; ou «um best-seller», no caso da literatura. Felizmente, estes índices permitem comparações entre diversas actividades, saber as frequências e permitir consultas. Mas sempre a um nível comparativo de quantidade, ou seja, são verdadeiros instrumentos de marketing e publicidade e raramente estão inscritos sob o índice da qualidade.

Por exemplo, quando Banco Espírito Santo aposta em premiar através de manifestações anuais a fotografia contemporânea concebida em espaço nacional, seja o BES Photo (prémio com um valor pecuniário de 25 mil euros) ou o BESrevelation, perdão, BESrevelação, em parceria com dois dos mais importantes centros expositivos nacionais (Museu Colecção Berardo, em Lisboa, e a Fundação de Serralves, no Porto), os critérios de qualidade estão subalternos aos julgamentos de um júri de selecção constrangido por princípios de funcionalismo interno que, é óbvio, de qualidade têm muito pouco.

Neste caso, a capacidade de julgamento é adquirida pela quantidade. O valor será sempre mais relacionado com a estratégia política da instituição – ou a afirmação simplista de «o principal prémio de arte contemporânea em Portugal» – e menos com o discurso cultural ou artístico contemporâneo compreendido por várias plataformas e níveis de expressão. Também por esta razão é que espectáculos tauromáquicos (126 mil espectadores ou 5,3 milhões de euros em receitas), biografias de futebolistas, blockbusters (do total das 605 717 sessões realizadas em 2007, 68 por cento corresponderam a filmes norte americanos, e os quais registaram 73 por cento dos espectadores, correspondente a 11,8 milhões de indivíduos, ou 50 milhões de euros em receitas de bilheteiras) ou concerto de música popular (3,7 milhões de espectadores ou 29,7 milhões de euros em receitas de bilheteiras) têm maior audiência e conseguem potenciar um maior dinamismo económico do que a ópera, a dança, a música clássica ou as artes plásticas – conforme atestam os dados do Instituto Nacional de Estatística para a Cultura.

De acordo com o Ministério da Cultura, a cultural é um dos pilares principais do turismo e representa 5,5% do PIB da União Europeia, mas o forte impacto na criação de riqueza por estas actividades culturais está no facto da inexistência de uma política outorgada por poucos sobre a sua qualidade. Neste ponto, o julgamento qualitativo é aprovado pela multitude. Felizmente vemos cada vez mais famílias em museus, centros culturais e outros espaços culturais.

Published at NS'170/IN#66, Mercado da Arte (70), (Diário de Notícias N.º 51140 e Jornal de Notícias N.º 315/121), 11 de Abril de 2009 Portugal. Edgar Martins, Sem título (da série When Lights Cast no Shadow), 2008 Courtesy Museu Colecção Berardo

Friday 10 April 2009

newsfromporto200904


the order-word to suporte individual needs in public messages are always actions involving 'we' and what is 'ours'

Tuesday 7 April 2009

Rumores

Não que as obras de Gerald Petit definam o que é a identidade de um sistema ou regime particular politico, mas estão muito mais próximos das questões sobre os sujeitos estéticos e do papel da arte. É tudo uma questão de interpretar o que foi, o que é, o que pode ser e o que não é. Mas, como no rumor, as obras de Petit estão abertas para uma infinidade desordenada de interpretações sobre o duplo e a reflexão enquanto durante o processo se perde a fonte original.

Na exposição Beautiful Strange, na Caroline Pagès (Lisboa), existe um diálogo entre pinturas e fotografias, no entanto, o discurso do artista está posicionado entre a cultura popular e os mitos populares, entre os ícones da música e os vampiros: a pintura Electric Ladyland (dez mil euros), de 2009, apresenta um grupo de mulheres nuas sentadas com todas as suas imperfeições, e simultaneamente reporta-nos para o esplêndido álbum de Jimi Hendrix, com o mesmo nome; a figura do vampiro surge na forma de fotografias, quer em Have You ever Danced with the Devil at the Pale Moonlight? (três mil euros) e Beautiful Strange, ambas de 2009. A exposição termina no dia 9 de Maio.

Published at NS'169/IN#65, Mercado da Arte (70), (Diário de Notícias N.º 51133 e Jornal de Notícias N.º 307/121), 4 de Abril de 2009 Portugal. Gerald Petit, , Beautiful Strange, 2009 Courtesy Caroline Pagès Gallery, Lisboa

Monday 6 April 2009

A arte é uma questão de interpretação

Crítico e curador brasileiro, Adriano Pedrosa descreve a sua experiência no mundo da arte

«Eu penso, escrevo sobre arte diariamente. Questiono sistematicamente. A arte é isso.» É um permanente conflito de campos interpretativos, «e quando se descobre uma fórmula para se fazer as coisas, quando se encontra essa fórmula, já estamos errados.» Desta forma se posiciona no mundo da arte o crítico e curador brasileiro Adriano Pedrosa.

A nível pessoal, esclarece Adriano Pedrosa sobre o acto selectivo, o processo de justificação é fundamentado através da interpretação da peça, da leitura do assunto referente, razões pelas quais uma determinada obra é relevante, «geralmente tem algum tipo de complexidade, um jogo poético, ou um jogo conceptual, o acaso não entra no processo de avaliação e de decisão.»

Naturalmente, as questões sobre o belo e gosto também fazem parte do processo, mas «existem sempre como uma justificação mais fundamentada, que não é necessariamente teórica, mas é discursiva.»

A nível da arte concebida no Brasil, «nos últimos anos fala-se muito do elemento da gambiarra (palavra utilizada para expressar uma solução, improvisada e precária, para um determinado problema prático no material). Este elemento, de improvisação material – vivida ou transformada – pode ser associado à arte brasileira.» Mas isto é propor uma interpretação muito restrita do que pode ser a arte brasileira, esclarece o crítico e curador brasileiro.

Actualmente, «existe um conjunto de artistas estrangeiros que lidam com a questão do neoconcretismo, com referência explícita a Lígia Clark, Hélio Oiticica ou Lígia Pape.» Neste caso, os artistas apropriam-se de outras obras de arte para fazer comentários sobre a história da arte. Por exemplo, Picasso desafiou o passado ao trabalhar sobre as obras de Velázques, de Delacroix, de Manet ou de Degas; mais recentemente, o mexicano Damián Ortega, apropriou-se de uma pintura de Lígia Clark para conceber uma série de peças.

A diferença na visão contemporânea está no aspecto híbrido e liberal apresentado. Nas múltiplas formas de interpretação e da origem do pensamento. Ou seja, enquanto o viajante moderno – na tradição das Grand Tours do século XVII onde indivíduos percorriam a Europa à procura de objectos exóticos, raros ou estranhos para os seus gabinetes de curiosidades (predecessores dos museu) – faz o relato do que é diferente e infere para inferioridade da cultura local como um todo labiríntico (como um único caminho, com uma única interpretação), as peças contemporâneas discursam sobre o transrelacionamento e as múltiplas influências na história da arte, em particular, e nas identidades culturais, em geral. Um discurso caracterizado como pós-colonial.

Adriano Pedrosa começou a fazer a curadoria de exposições enquanto frequentava o MFA, na CALART (Califórnia, EUA). Em 1998, foi convidado como curador-adjunto de Paulo Herkenhoff, para a 24. Bienal Internacional de São Paulo (Brasil); em 2005 integrou o júri do Prémio Hugo Boss. Presentemente está a conceber a curadoria da exposição Panorama da Arte Brasileira, organizada pelo Museu de Arte Moderna de São Paulo e celebrada de dois em dois anos.

Published at NS'169/IN#65, Mercado da Arte (70), (Diário de Notícias N.º 51133 e Jornal de Notícias N.º 307/121), 4 de Abril de 2009 Portugal Foto Hélio Oiticica, Grande Núcleo (óleo e resina sobre madeira), 1960-66 Courtesy César e Cláudio Oiticica Collection, Rio de Janeiro