Monday 13 April 2009

A cultura é das massas

Sendo um dos pilares principais do turismo, a cultura representa 5,5% dos PIB da União Europeia.

O medidor fundamental do sucesso de uma iniciativa é a manifestação no qual se propaga com celebridade o número de espectadores e, por vezes, o valor do investimento. Normalmente, o primeiro índice reporta-se para afirmações como «sucesso de bilheteira com», no caso do cinema; «as vendas superam os», no caso da música; «já foi visitada por», no caso das exposições; ou «um best-seller», no caso da literatura. Felizmente, estes índices permitem comparações entre diversas actividades, saber as frequências e permitir consultas. Mas sempre a um nível comparativo de quantidade, ou seja, são verdadeiros instrumentos de marketing e publicidade e raramente estão inscritos sob o índice da qualidade.

Por exemplo, quando Banco Espírito Santo aposta em premiar através de manifestações anuais a fotografia contemporânea concebida em espaço nacional, seja o BES Photo (prémio com um valor pecuniário de 25 mil euros) ou o BESrevelation, perdão, BESrevelação, em parceria com dois dos mais importantes centros expositivos nacionais (Museu Colecção Berardo, em Lisboa, e a Fundação de Serralves, no Porto), os critérios de qualidade estão subalternos aos julgamentos de um júri de selecção constrangido por princípios de funcionalismo interno que, é óbvio, de qualidade têm muito pouco.

Neste caso, a capacidade de julgamento é adquirida pela quantidade. O valor será sempre mais relacionado com a estratégia política da instituição – ou a afirmação simplista de «o principal prémio de arte contemporânea em Portugal» – e menos com o discurso cultural ou artístico contemporâneo compreendido por várias plataformas e níveis de expressão. Também por esta razão é que espectáculos tauromáquicos (126 mil espectadores ou 5,3 milhões de euros em receitas), biografias de futebolistas, blockbusters (do total das 605 717 sessões realizadas em 2007, 68 por cento corresponderam a filmes norte americanos, e os quais registaram 73 por cento dos espectadores, correspondente a 11,8 milhões de indivíduos, ou 50 milhões de euros em receitas de bilheteiras) ou concerto de música popular (3,7 milhões de espectadores ou 29,7 milhões de euros em receitas de bilheteiras) têm maior audiência e conseguem potenciar um maior dinamismo económico do que a ópera, a dança, a música clássica ou as artes plásticas – conforme atestam os dados do Instituto Nacional de Estatística para a Cultura.

De acordo com o Ministério da Cultura, a cultural é um dos pilares principais do turismo e representa 5,5% do PIB da União Europeia, mas o forte impacto na criação de riqueza por estas actividades culturais está no facto da inexistência de uma política outorgada por poucos sobre a sua qualidade. Neste ponto, o julgamento qualitativo é aprovado pela multitude. Felizmente vemos cada vez mais famílias em museus, centros culturais e outros espaços culturais.

Published at NS'170/IN#66, Mercado da Arte (70), (Diário de Notícias N.º 51140 e Jornal de Notícias N.º 315/121), 11 de Abril de 2009 Portugal. Edgar Martins, Sem título (da série When Lights Cast no Shadow), 2008 Courtesy Museu Colecção Berardo

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