Monday 22 December 2008

E agora o que vai acontecer em 2009?

Paula Rego estabeleceu, com Baying, novo recorde de uma obra sua em leilao

Os artistas contemporâneos procuram nas ruas das cidades a inspiração, os sujeitos para as suas obras, um palco, e também materiais para a concepção das peças. Banksy foi um dos exemplos pragmáticos desta nova geração de artistas que se reporta à persuasão e às múltiplas ligações possíveis, de conceber, neste contexto espacial. Durante o mês de Fevereiro, e enquanto a vitalidade económica circulava pelo mercado da arte, este artista urbano vendia nos vários leilões a maioria das suas obras por valores superiores a cem mil euros. Ainda durante este mês, em Londres, The Lesson (pastel sobre papel, 1997), de Paula Rego, foi adquirido por cerca de 587 mil euros, na Christie’s, e com Baying (pastel sobre tela, 1994) leiloado por 738 mil euros, na Sotheby’s, a artista estabeleceu um novo recorde para uma obra sua em leilão. Num leilão onde o óleo sobre tela Study of nude with figure in a mirror (1969) de Francis Bacon, foi vendido por 26.4 milhões de euros. E agora, o que vai acontecer em 2009?

Paradigmas económico-financeiros

As colecções de arte representam um valor significativo no imobilizado de qualquer instituições, nomeadamente quando confrontadas com factos como os declínios históricos na riqueza mundial, ou o crash bolsista deste Outono. Um caso exemplar é a Lehman Brothers Holdings Inc. que recentemente – depois de abrir falência em Setembro – recebeu autorização do Tribunal de Falências de Nova Iorque para vender em leilão cerca de 6.3 milhões de euros da sua colecção de arte, de forma a poder pagar a alguns dos credores. Entretanto, Richard S. Fuld Jr. (chefe executivo da Lehman Brothers) e a sua esposa colocaram à venda na Christie’s de Nova Iorque obras de arte no valor de 15 milhões de euros – uma colecção privada onde se inclui peças de Jasper Johns, Frank Stella ou Damien Hirst.

A nível nacional o BPN (nacionalizado) e o BPP (apoio financeiro, e a consequente renúncia do cargo de presidente do conselho de administração por João Rendeiro, também Presidente da Ellipse Fundation Contemporary Art Collection) foram os primeiros bancos a sofrer consequências do actual paradigma económico.

Esta situação beneficia a arte e favorece a normalização dos preços aos posicioná-los nos nível de 2002. Os coleccionadores mais sérios vêm com optimismo esta readaptação do mercado, pois cria oportunidades de melhorarem as suas colecções de arte com, o que presentemente já estamos a ver, o que é uma grande procura por obras de extrema qualidade – aqueles coleccionadores e aquelas peças que estão a ser deixadas de fora são os especuladores e as inflacionadas durante estes últimos anos.

A herança económica das indústrias criativas

O Orçamento de Estado tem reservado para 2009 pouco mais de 0,4% (254 milhões de euros) para o Ministério da Cultura (longe do 1%, desejado pelos ex-titulares desta pasta ministerial). Como exprimiu o filósofo francês, Edgar Morin, sobre o conceito ecologia da acção para evidenciar a distância entre teoria e prática – “a política é um dos grandes armazéns desta contradição: a invasão do Iraque pretendia combater o terrorismo e provocou uma escalada terrorista; no comunismo, milhões de militantes são convencidos para trabalhar para a emancipação da humanidade sem saber que o fizeram para uma nova forma de escravatura”.

Politicamente os eventos culturais de expressão internacional – as Cidades Europeias da Cultura – são tendencialmente usados como modelos pragmáticos da capacidade do sector cultural e artístico em dinamizar, de uma forma económica e cultural, cidades e as regiões. No entanto, e relativamente a Guimarães 2012, parece não existirem planos de legado para a comunidade local, para a criação de novos hábitos culturais; mas só existirem preparativos para a edificação de monumentos que perdurem para além das memórias do momento, conjugada com a participação institucional na festa de dimensão europeia.

Assim, e no contexto actual de reajustamento económico, a Educação e a Cultura são menosprezadas. Num período em que estas são as duas áreas fundamentais para o estímulo social e cívico, para incentivar a participação activa da população no crescimento e na criação de uma herança económica.

Published at NS'/IN, Mercado da arte (63) (Diário de Notícias e Jornal de Notícias), 20 de Dezembro de 2008 Portugal © Paula Rego, The Lesson (pastel sobre papel montado em alumínio, 170x150cm), 1997 Courtesy Christie’s 2008

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