Monday 5 April 2010

A contínua reformulação do mercado

O último relatório apresentado pela agência de informação francesa Artprice veio provar que o mercado teve uma maior capacidade de adaptação e recuperação agora do que durante a crise de 1991.

Os dados referentes ao primeiro semestre de 2010 e ao ano de 2009 vêm confirmar que este é ainda um tempo de contínua reformulação para o mercado da arte. Os leilões vão continuar a apresentar menos lotes quando comparados com o período anterior a Setembro de 2008, e muitas vendas vão realizar-se a nível privado.

Como é expresso por alguns coleccionadores privados, hoje os leilões são os lugares privilegiados para adquirir obras de arte contemporânea, pois muitos valores apresentados em leilão são menores do que os praticados ainda por algumas galerias nacionais que, por razões de posicionamento no mercado, dificilmente podem alterar os valores anteriormente praticados.

Por exemplo, se entre 2002 e 2008 o maior volume de vendas em leilões era obtido por artistas contemporâneos, como Andy Warhol, Gerhard Richter, Jean-Michel Basquiat ou Damien Hist, em 2009 estes foram substituídos por Pablo Picasso (1881-1973), Qi Baishi (1864-1957) ou Raphael (1483-1520) como os artistas com maior procura.

Ao longo de 2009, pelo menos 50% de todas as vendas realizadas no mercado da arte global efectuaram-se na Europa, enquanto 55% de todas as vendas globais foram geradas por comerciantes, como galeristas ou leiloeiras.

O último relatório apresentado pela agência de informação francesa Artprice sobre as tendências do mercado artístico durante 2009 veio provar que o mercado teve maior capacidade de adaptação e recuperação agora do que durante a crise de 1991. Enquanto o relatório apresentado pela feira TEFAF Maastricht sobre o mercado da arte, em 2009, estima uma circulação de capitais na ordem dos 31,3 mil milhões de euros, quando, em 2007, foi estimado em cerca de 48,1 mil milhões de euros.

Depois dos anos de euforia e de preços inflacionados para além do razoável, as principais casas leiloeiras fizeram concessões consideráveis para evitar o congelamento completo do mercado: redução de pessoal; das reestruturações internas e confluência de alguns departamentos; vendas temáticas; a redução do preço de reserva e a garantia de preço (preço combinado entre a leiloeira e o vendedor antes do leilão); revisão das estimativas; redução do número de catálogos e de densidade (menos lotes oferecidos), etc.

Quanto ao mercado das feiras, assistiu-se simultaneamente a uma fragmentação local e especialização das ofertas, como foi o caso das recentes feiras paralelas em Nova Iorque, durante a Armory Show, ou em Madrid, durante a ARCOmadrid, ou ainda a criação de novas áreas expositivas na feira TEFAF, de Maastricht.

Published at NS'221/IN#117, Mercado da Arte (68), (Diário de Notícias N.º 51495 e Jornal de Notícias N.º 306/122), 3 de Abril de 2010, Portugal. Pablo Picasso, Mousquetaire à la Pipe (óleo sobre tela), 1968. Courtesy Christie’s 2010

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