Thursday 15 December 2011

Review: Lygia Pape: Magnetized Space

Serpentine Gallery (London)
Lygia Pape: Magnetized Space

A linha orientadora de Magnetized Space, uma exposição retrospectiva da obra de uma das mais importantes artista brasileiras, Lygia Pape (1927-2004), na Serpentine Galley, em Londres, é o poema e o livro.

A exposição apresenta-nos inicialmente a um conjunto de performances registadas em filme: O ovo (1967), Roda dos Prazeres (1968), Trio do embalo maluco (1968), ou Catiti catiti: Na terra dos brasis (1978), e desvenda-nos a natureza da obra de Lygia Pape, a relação entre o espaço e a experiência.

Lygia Clark, Hélio Oiticica e Lygia Pape lideraram, na década de 50, um pensamento estético, o Neo-Concretismo, que marcou toda a arte brasileira concebida durante a segunda metade do século XX. O movimento neo-concreto teve as suas raízes nos principais movimentos artísticos internacionais. Mas, ao invés de procurar uma linguagem utópica, como a que era perseguida pelos artistas europeus em termos de símbolos e forma, os brasileiros procuraram adaptar a arte à realidade do Brasil – uma realidade política muito semelhante à de tantas outras realidades apresentadas em outros países dispersos pelo globo governados por generais – e transportar a arte para outro nível, o das aspirações cósmicas e ideias poéticas.

Posteriormente, numa segunda sala, uma das paredes está completamente ocupada pelo Livro do Tempo (1961-63). 365 páginas em vermelho, azul, amarelo, branco ou preto. Uma instalação linear de objectos a representar os dias de um ano. Há dias de com triângulos em confronto, outros assemelham-se a plantas de uma casa. O Livro do Tempo cria uma linguagem imaginária que nos pode transportar a lugares e tempos distintos como se estivéssemos a folhear um diário pessoal. O observador é convidado a inserir-se no trabalho e a fazer e conceber a sua própria e única agenda durante um ano.
A sala está ainda preenchida com várias construções em papel para o Livro da Arquitectura (1959-60) instaladas dentro de uma vitrina. O conjunto de pequenos objectos, frágeis construções sobre pequenas plataformas, momentaneamente a reportar à arte paleolítica ou à arquitectura clássica, servem de indicador de algo mais; modelos para a construção de um espaço relacional entre a obra e o observador.

Uma das características principais no movimento Neo-concreto é a procura pela sensibilidade sensorial. A subjectividade e a expressividade do contacto com o objecto artístico pelo observador é uma constante. Clark concebeu objectos que deveríamos manipular; Oiticica apresentava obras que se podiam usar; Pape performances que envolviam o público. O convite à participação, e à interactividade entre o objecto e o observador, tornado participante, atribui à obra o seu sublime senso transformativo, poético e individual.

A incorporação e participação do observador na construção do objecto, em clara ruptura com um cânon modernista – caracterizado pela rigidez das forma e do pensamento, que teve o seu melhor exemplo na concepção e construção da cidade de Brasília – é vista como uma nova atitude para com a vida.

O trabalho poético de Lygia Pape transcende a sua mera condição semântica quando transmitida para o corpo e para o sujeito.
A exposição, que esteve anteriormente no Reina Sofia, de Madrid, traz-nos ainda um conjunto de obras: filmes, gravuras, pinturas, instalações. Mas é na última sala que podemos encontrar um dos mais emblemático trabalhos de Lygia Pape, Ttéia 1,C (1976-2011), a preencher um espaço negro. As Ttieas são a expressão última do espaço poético. A luz, imaterial e intangível, expande a relação entre o espaço e a experiencia, dos livros do tempo e da arquitectura, para uma escala onde o observador está completamente submergido e absorvido sobre um quadrado escuro. Esta exposição deixa-nos espaço para a imaginação!

Published at Molduras: as artes plásticas na antena 2: Lygia Pape - "Magnetized Space".

Mais sobre a exposição de Lygia Pape na Serpentine Gallery na secção 'Culture', The Sunday Times, January, 15th 2012 (p.?!), por Waldemar Januszczak.

Imagens: Lygia Pape, Installations view, Magnetized Space, Serpentine Gallery, London (7 December 2011 - 19 February 2012) © 2011 Jerry Hardman-Jones.

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