Monday 24 September 2012

Review: Pre-Raphaelites: Victorian Avant-Garde

Tate Britain
Pre-Raphaelites: Victorian Avant-Garde


A revolução social, acontecida durante os finais do século XVIII, serviu de guia para a revolução industrial e tecnológica que se seguiu. A Europa durante o século XIX foi palco de um extraordinário e vasto conjunto de transformações que afectaram os vários extremos da sociedade. Conjuntamente com as guerras de independências das colónias inglesa, espanholas e portuguesa no continente americano, o século XIX é, também, sinónimo das Grandes Exposições em Paris, Londres, e Nova Iorque, das invenção e descobertas cientificas, ao nível da química (fotografia), da metalúrgica (os caminhos de ferro), da história da evolução do ser humano ('A Origem das Espécies'). O Neo-Classicismo e Romantismo (vestígio do Iluminismo) foram substituídos pelos Impressionismo, Simbolismo, Cubismo, etc. nas Belas Artes.

É durante este período que surge a Pre-Raphaelites Brotherhood (PRB) em Londres, em 1848. Formada por um núcleo de artistas, quase familiar, composto por irmãos, filhas, esposas e amigos (John Everett Millais, Dante Gabriel Rossetti e os seus irmãos, William Michael Rossetti e Christina Georgina Rossetti, William Holman Hurt, e muitos outros) os PRB quiserem distanciar-se da filosofia imposta até esse momento no meio artístico Britânico. Primordialmente, um meio claramente sob a influência do pensamento desenvolvido pelo pintor do século XVIII, Joshua Reynolds (1723-1792), especializado em retratos idealizados sob o cânone determinado pela Antiguidade Grega-Clássica, e pelo classicismo da Alta-Renascença; mas também pelas linguagem artística desenvolvida e representada nos retratos, principalmente de mulheres, concebidos por Thomas Gainsborough (1727-1788), nas paisagens inglesas de John Constable, ou, ainda, na linguagem pictórica desenvolvida nos poemas de cor criados por J. M. W. Turner (1775-1851), definida por três ingredientes essenciais: forma, luz e cor, e seguida por muitos pintores. A composição era essencial.

Os PRB re-interpretaram as figuras familiares da arte da época Vitoriana (coincidente com o longo reinado da Rainha Vitória, 1837-1901) e introduziram “novos” elementos nessa linguagem. O movimento tomou como seus os princípios defendidos pelo principal crítico de arte da era Victoriana, John Ruskin (1819-1900), da prolongada e extenuante examinação dos detalhes, à semelhança com a natureza, e realista, à variedade, à contemporaneidade, e às emoções – Timothy Hilton veio recentemente defender que uma pessoa não pode pensar no Pre-Raphaelismo sem reflectir sobre o amor, algumas vezes no deleite, mas nunca na felicidade, pois esta nunca é expressa. Eles procuraram através de pinturas de inspiração religiosa democratizar o sagrado: The Girlhood of Mary Virgin (1848-9), por Dante Gabriel Rossetti (1828-1882), Christ in the House of His Parents (The Carpenter's Shop) (1849-50), por John Everett Millais (1829-1896); pintaram a vida social contemporânea e os seu problemas, Work (1852-65), por Ford Madox Brown (1821-1893), por exemplo, celebra a nobreza e o sagrado do trabalho; e, especialmente, os problemas relacionados com a sexualidade: The Awakening Concience (1853-4), por William Homan Hunt (1827-1910), é um exemplo da moralidade e salvação presentes nas pinturas religiosas e de cenas da vida moderna. No entanto, e apesar de os curadores da exposição querem apelidar o movimento como de vanguarda, a 'Pre-Raphaelites Brotherhood' (PRB) está mais próxima de ser um movimento reformista das belas artes que surgiu durante a era do reinado da Rainha Vitória (a era Vitoriana é notória pelo emprego de crianças em fábricas e minas e pela ausências de nus na pintura), ao relacionar arte com sexualidade no espaço contemporâneo e ao se inspirar na pintura religiosa do pré-Renascimento (séculos XIII e XIV). Este Pré-Raphaelismo estará, provavelmente, mais associado com a Revolução Industrial Inglesa, com conflito entre a doutrina científica e a dogmática religiosa, e às ilustrações de histórias de fadas para crianças, editadas durante este período.


Por outro lado, a segunda metade da exposição, apresenta-nos um conjunto de trabalhos que transitam da abordagem realista à natureza, sociedade e religião para uma exploração das possibilidades estéticas. Por volta de 1860, o Pré-Raphaelismo procura dar mais valor à 'beleza' do que à 'verdade' e metamorfoseia-se num movimento estético – através do uso da fotografia Julia Margaret Cameron conseguiu transportar esta forma expressiva de uma forma mais representativa e impactante do que as pinturas Pre-Raphaelites –, onde, numa primeira fase, a face e o corpo da mulher são o sujeito: The Beloved ('The Bride') (1865-6), por Rossetti; ou o simbolismo de The Rock of Doom e Perseus Slaying the Sea Serpent (1875-77), por Edward Burne-Jones, (1833-1898) onde o corpo nu em dialogo com o mitológico oferece uma imaginária distinta da violência constrangedora da era Vitoriana. E, já numa segunda fase, os processos de manufactura e produção emanaram da Revolução Industrial, permitiram a William Morris (1834-1896) e Burne-Jones dar origem ao movimento Arts & Crafts. Este movimento toma os seus princípios na ideia do socialismo utópico. Num período em que a classe trabalhadora começa a usufruir de algo anteriormente reservado à classe dominante – tempo de lazer –, a procura de objectos com capital estético passa a ser uma condição imposta socialmente; e a necessidade de entretenimento para ocupar este novo tempo disponível provoca os excessos e a despreocupação que irá culminar na primeira grande guerra.

Como escreveu recentemente o critico e director do Institute of Contemporart Art, de Londres, Gregor Muir, sobre os Young British Artists (YBA), os PRB foram uns 'Lucky Kunst', num período da história da arte em que a Reino Unido teimava em ficar na retaguarda dos desenvolvimentos artísticos. A exposição Pre-Raphaelites: Victorian Avant-Garde, na Tate Britain (Londres), até 13 de Janeiro de 2013, apresenta um conjunto de cerca de 150 obras: pintura, desenho, escultura, vitral, fotografia, mobiliário, e tapeçaria organizadas de forma cronológica em sete salas temáticas.

Imagem: Dante Gabriel Rossetti
 Lady Lilith 1866-1868, 
Delaware Art Museum, Samuel and Mary R. Bancroft Memorial, 1935; William Morris's Bed, Kelmscott Manor Collection. Courtesy: Tate 2012.
Published at Molduras: as artes plásticas na Antena 2: Pre-Raphaelites: Victorian Avant-Garde.

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