Juergen Teller: Woo!
Juergen Teller, Sigmund Freud's Couch (Malgosia), London, 2006. © Juergen Teller |
Com uma carreira iniciada na década de 90s no mundo da música, do qual transitou depois para o mundo da moda e da fotografia comercial, Juergen Teller desenvolveu uma linguagem fotográfica única. Na forma de retratos íntimos de modelos, músicos, designers ou amigos ele confluí entre o que é do domínio privado, do público e do comercial ao subverter as convenções através de intervenções provocatórias. As suas imagens apresentam histórias construídas para o contexto artístico ou publicitário que abraçam a representação do espectáculo do quotidiano. Na exposição Woo!, no Institute of Contemporary Arts (Londres), Juergen Teller apresenta-nos a sua forma de ver o etos, na combinação da intenção comercial com a linguagem íntima, pessoal e singular de quem partiu do ruído ensurdecedor do quotidiano e da música para as exclamações extasiante da música popular e de moda.
As imagens de moda da actualidade apresentam maioritariamente cenas domésticas construídas sobre o artifício e a representação do sujeito. Procuram incentivar questões como Quando é que fazemos parte? e Quando é que estamos de fora da construção mitológica, do artifício, da beleza idealizada, sedutora nossa contemporânea? Na primeira sala, cinco imagens, em grande formato (quatro a cores e uma a P&B), exprimem a intenção da obra do fotógrafo Alemão, mas a residir em Londres desde 1986, e da narrativa expositiva. O conjunto está limitado, enquanto passagem discursiva, de um lado por uma imagem de um gato sobre um banco de madeira a confrontar-nos directamente com o seu olhar; enquanto do outro, uma imagem a P&B capta um fragmento do corpo do vocalista da banda grunge Nirvana, Kurt Cobain, a tocar guitarra. Ao centro, três fotografias de Vivienne Westwood deitada sobre um sofá, desnuda, confronta-nos de uma forma imediata com o branco da pele envelhecida da ícone cultural e criadora de moda, enquanto incorporam as ideias de entidade pública, selvagem e provocativa, tanto da designer como do fotógrafo.
A história contada por estas cinco imagens seduz-nos inicialmente para o âmbito o trabalho de Juergen Teller. O quotidiano abraça a representação do espectáculo com uma intensidade emocional digna de veneração. Enquanto os limites, por sua vez, ficam cada vez mais indefinidos. No entanto, esta narração é momentaneamente silenciada pela nova séria de imagens, Irene im Wald (2012). Nas 38 pequenas imagens, a cores, da mãe do fotógrafo a vaguear pelo bosque da sua terra natal, na Alemanha, estão inscritos pequenos contos pessoais sobre momentos e situações afectivas passadas e vividas por Teller enquanto jovem. Este trabalho é, então, o centro. Um centro que coloca em questão o estabelecimento de qualquer relação espacial e da determinação de limites entre os diferentes espaços conceptuais. Este silêncio é imediatamente cancelado pelo ruído provocado pela fartura de imagens de múltiplos tamanhos e variados tópicos a forrar a sala seguinte.
Juergen Teller, No. 12 of the series 'Irene im Wald', 2012. © Juergen Teller |
A superabundância de imagens provoca insinuações a informar sobre a paisagem doméstica de Teller que não permite construir uma imagem dentro das imagens. Apesar de a prática fotográfica de Juergen Teller se situar no mundo da moda e da música popular as suas imagens são intensamente pessoais e íntimas. As fotografias desdobram-se em significados pessoais e de intimidade. Na maioria dos casos entre o fotógrafo e o modelo retratado existe uma relação de familiaridade consentida, sejam estes modelos, designers, músicos, actores, ou os membros da sua família. O foco de atenção é o ser, e não o ambiente imediato ou o que ele poderá significar ou implicar – este encontra-se quase sempre ausente ou tem um atributo complementar ao objecto retratado. O objecto está mergulhado na vastidão do plano. Teller tem algumas incisões sobre esta condição visual em Lola Birthday, Suffolk (2010), por exemplo. O trabalho dissoluto e provocativo de Teller é um contraponto às histórias narradas por Helmut Newton ou Nabuyoshi Araki, por exemplo. Nos seus corpos de trabalho ambos os fotógrafos utilizam o nu feminino como objecto da sua pulsão criativa. Newton conta-nos histórias sobre a decadência sofisticada de Berlin na década de 20s, ou Los Angeles durante a década de 70s, enquanto, Araki, apresenta-nos a anarquia quotidiana do campo social japonês. As fotografias de Teller, no entanto, apresentam uma intimidade e uma identificação ontológica que se prende sobre elas, e não em relação a si mesmo. Há uma narrativa, nas imagens, que nos transporta para o âmbito da individualidade e personalidade, mas também de pertença.
As imagens fotográficas no corpo de trabalho de Teler instituem alguma realidade num mundo construído por fantasias e ilusões. Como nos filmes, na reality TV ou no mundo virtual. É uma realidade com a qual queremos sentir alguma afinidade. Na homogeneidade contemporânea, da qual somos parte constitutiva, a imagem seduz e persiste ao espelhar os desejos de uma individualidade repercutida socialmente pelos diversos meios de comunicação e informação social. Com o último conjunto de retratos sentimos que estamos incluídos e fazemos parte do mundo que ele retrata. Pequenos poemas, músicas, momentos de intimidada de celebridades (da moda, da música, do cinema) preenchem as duas salas de forma emotiva e festiva. Permitem o relacionamento com Mark Jacobs, Kate Moss, Lily Cole, Björk, etc. Em Bjork and son, Iceland (1993) fazemos companhia à cantora islandesa e ao seu filho, que nos acena, numa piscina ao ar livre; em Pettitoe, Suffolk (2011) damos banho a um pequeno cachorro no lava loiças da intimidade do nosso lar. Se, de um lado, a exposição afirma que o fotógrafo de moda demonstra ser um observador e intérprete agudo do nosso tempo, em vez de encontrar o passado por detrás do presente; por outro, na exposição Woo! trata-se de uma realização de que a arte, em geral, não necessita de ser um exercício de espelho da realidade, pode ter o papel mágico de capturar e controlar desejos, seduções, terrores e anseios, depositando-os com cor e forma.
A exposição Juergen Teller: Woo! está patente no Institute of Contemporary Arts (Londres) até 17 de Março de 2013.
Photos: Juergen Teller, Kate Moss, No.12, Gloucestershire, 2010 e Bjork and son, Iceland 1993. © Juergen Teller
JUERGEN TELLER IMAGE USE
No retouching, cropping or re-scaling of the image is permitted.
If you require a higher resolution file, then please contact Nathalie Amor (nathalie@juergenteller.co.uk)
Published at Molduras: as artes plásticas na Antena 2: Juergen Teller : Woo!.
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