Friday 1 March 2013

Review: Light Show

Hayward Gallery, Southbank Centre (Londres)
Light Show


Exhibition view: Leo Villareal, Cylinder II (2012) ©the artist. Courtesy the artist and GERING & LóPEZ GALLERY, NY. Photo: Linda Nylind; David Batchelor, Magic Hour (2004-2007) ©the artist/DACS. Courtesy the artist and Galeria Leme, São Paulo. Photo: Linda Nylind

Light Show é uma exposição sobre a cidade. Sobre a ilusão causada por imagens sugestivas. Sobre a deceptividade da sociedade contemporânea na sua forma mais primária enquanto interage com o observador. Os estímulos são visuais, como neons ou placards publicitários. Indícios para a aceitação comportamental e de interacção que permite-me formar parte de um grupo. A exposição é sobre a arquitectura da comunicação no espaço, conseguida através de estilos e signos. Ao interagir com as obras expostas é como se vagueasse pelo espaço escultórico urbano – o qual serve de palco para o flâneur moderno, enquanto vagueia pelas ruas movimentadas da cidade, com a intenção de encontrar algo que alimente a vista, e, por sua vez, ocupe a sua experiência entediante do quotidiano, na tentativa de substituir a sensação de ‘privação’ pela da de ‘vida’. Esta sensação é me melhor traduzida na instalação Exploded View (Commuters) (2011), de Jim Campbel (n. 1956, Chicago, Il, EUA) – de um determinado ponto no espaço, tenho a impressão de ver sombras de pessoas a vaguear por um espaço, supostamente ilimitado, pontuado por leds.

Jim Campbell
Exploded View (Commuters) (2011)
©the artist
Courtesy Bryce Wolkowitz Gallery, New York and studio of Jim Campbell
Photo: Linda Nylind

A influência recíproca dos dois elementos visuais, o que me é apresentado e o que a minha visão lê, permite estimular o meu comportamento, como indivíduo, inserido num grupo de acordo com as normas do grupo do qual faço parte. Carlos Cruz-Diez (n. 1923, Caracas, Venezuela), com Cromosaturation (1965-2008), apresenta um ambiente artificial composto por 3 salas de cores diferentes: Azul, Vermelho, e Verde. A ideia deste trabalho, conforme expressa o artista, é a de que na origem de todas as culturas existe um evento iniciático, um ponto de partida/ignição. Nas acções quotidianas, estou acostumado a receber em simultâneo um leque alargado de cores, e por conseguinte interpretar a sua significação, o seu referente. No entanto, enquanto estou inserido neste ambiente, a mente inicia um processo de neutralização da cor e de identificação espaço escultórico no qual, após algum tempo, a sensação traduzida assemelha-se ás experiências físicas e ás matérias diárias. A partir de determinado momento percebo a sala como Branca. Só a intromissão de elementos referenciadores, o corpo humano de outras pessoas, permite constatar a ilusão, o truque produzido pela mente no reconhecimento do objecto.

Carlos Cruz-Diez
Chromosaturation (1965-2013)
©the artist/DACS
Cruz-Diez Foundation
Photo: Linda Nylind

Entrar para a sala onde está Untitled (1969), de Doug Wheeler (n. 1939, Globe, AZ, EUA), é como invadir o espaço semântico de 2001: Odisseia no Espaço (1968), de Stanley Kubrick, ou Solaris (1972), de Andrey Tarkovskiy. Como nos filmes nada na peça é visível, concreto ou certo. Tudo permanece como uma sugestão provocada por uma sala escura iluminada por um grande quadrado que parece estar suspenso no espaço. Não existe qualquer referente limítrofe espacial. As paredes, o tecto e o chão estão imaculadamente brancos, sem sombras, sem volume. A luz, que reveste o quadrado, ‘pinta’ o espaço, enquanto os corpos, dos outro visitantes, aparentam ser bidimensionais. As formas, como visualmente as percebemos, desmaterializam-se. Toda a significação atribuída anteriormente às formas espaciais e dimensionais é relativizada. Mas, não o suficiente para criar desorientação e perder todos os referentes que condicionam e limitam a minha imposição corporal em relação aos outros visitantes e ao ambiente que nos faz subscrever a condição social diária. Tal como Wheeler, também o trabalho de James Turrell (n. 1943) é sobre espaço e a luz que a habita. A instalação Wedgework V (1974), presente na exposição, confronta o observador com a condição de ver ao utilizar a luz artificial para criar um ambiente espacial perceptual. You and I, Horizontal (2005), de Anthony McCall (n. 1946, St Paul’s Cray, Reino Unido), indicia para a incorporação do espectador no espectáculo, na obra. Um projector de vídeo, uma máquina de fumos e um computador criam uma escultura lumínica onde a presença do espectador é a causa para momentos performativos e condição para a transmutação do espaço visual conjurado pela projecção de luz, o vapor e as dinâmicas visuais estabelecidas a partir do computador. O elemento estático na obra – a luz projectada sobre o ambiente – sofre contínuas incorporações e configurações devido à intromissão do corpo e aos movimentos incertos do observador no espaço. O resultado são complexas formas escultóricas visuais.

Anthony McCall
You and I, Horizontal (2005)
©the artist
Courtesy of the artist and Sprüth Magers Berlin London
Photo: Linda Nylind

Em Model for a timeless garden (2011), de Olafur Eliasson (n. 1967, Copenhaga, Dinamarca), a ideia é a de caminhar vagarosamente ao longo de um jardim de fontes de água enquanto estamos mergulhados na escuridão absoluta de uma sala no interior de um espaço expositivo. 27 figuras amórficas sucedem-se umas às outra e são determinadas formalmente pelo movimento, pela força e pela indução estabelecia pela força da corrente de água originária numa escultura a entrecruzar outras esculturas. O efeito de um jardim intemporal, de permanente e constante alteração da paisagem, é intensificado pela compreensão sensorial do som da água a jorrar em variadas e múltiplas formas, intensidades e momentos de confronto, quer com outras fontes, quer com o plano horizontal, e pela percepção do efeito visual desorientador causado pela existência da iluminação estroboscópica ao longo do jardim: formas cristalinas de distintos tamanhos, feitios e alinhamentos compõem e determinam as 27 figuras esculpidas no espaço da memória visual.

A experiência sensorial causada na interacção com algumas das 23 obras, dos 22 artistas, presentes na exposição Light Show, incluso as peças de Leo Villareal, David Batchelor, Ceal Floyer, François Morellet, Cerith Wyn Evans, Bill Culbert, Ann Veronica Janssens, e Dan Flavin parece ser completamente nova, mas, no entanto, absolutamente familiar. A exposição reporta-me, também, para os trabalhos de vídeo realizados por William Klein, nomeadamente Broadway by Light (1958), uma das primeiras manifestações da Pop Art, ou a realidade dos símbolos, das reproduções e representações da strip de Las Vegas (EUA), questionada pelos arquitectos Robert Venturi , Steven Izenour e Denise Scott Brown, em ‘Learning from Las Vegas’ (1977). As indeterminações espaciais causadas pelos variados jogos lumínicos ao longo da exposição tornam evidente e permitem reconsiderar, de um modo tão incipiente como na escultura, na pintura ou na fotografia, a ausência de claridade visual quando somos confrontados com as mensagens, sensações e certezas que nos estimulam e animam no quotidiano.

A exposição Light Show está patente na Hayward Gallery, Southbank Centre (Londres) até 28 de Abril de 2013.

Published at Molduras: as artes plásticas na Antena 2: Light Show

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