Thursday 5 December 2013

Review: Katy Moran

Katy Moran
Stuart Shave/Modern Art (Londres)

Katy Moran, Joe's in Town (55.3 x 87.6 cm, acrílico, papel, couro e colagem sobre madeira), 2013. Cortesia Stuart Shave/Modern Art (Londres).
O que me agrada numa cidade é a ideia de poder vaguear imaginativamente sem restrições e limitações pelas ruas, praças e parques. Em particular, o que me atrai é o constante movimento inquieto da cidade. Assemelha-se a um safari urbano enquanto procuramos encontrar a ‘caça’ nos distintos espaços: os bairros que se parecem com aldeias, distribuídas pelas sete colinas de Lisboa; as extensas colônias da Cidade do México, cada qual com a sua idiossincrasia particular; ou a multiculturalidade de Londres, onde diferentes comunidades coexistem lado a lado. De um espaço para o outro existe uma indeterminada possibilidade de ir ao encontro de momentos, situações e formas de estar, viver e ser completamente distintas entre si e com os padrões de condições que definem o ser incorporado num determinado estado sociocultural.

Cada uma dos espaços apresenta e reflecte elementos distintos que são incorporados por quem lá vive e, inicialmente, percebidos por quem os visita. Em Alfama, por exemplo, o imaginário sonoro originado do Fado que irradia das tascas e tabernas. É óbvio que pessoalmente nós identificamos com determinados espaços. Muitos deles não ultrapassam os 20 metros quadrados. Cada um de nós tem, individualmente, a sua tasca ou taberna de eleição que é ocupada por um determinado conjunto de sons e luz, reflexos, faces e pessoas. É neste momento que as obras de Katy Moran (em exposição na galeria Stuart Shave/Modern Art, em Londres, até 20 de Dezembro) fazem sentido. O conjunto de onze pinturas apela a esse desdobrar de relações existente em cada um nos lugares: pessoas, paisagens e arquitecturas, o ambiente composto de sons e silêncio, pela noite e pelo luar, luz e sombras, bem como os testemunhos da presença animal, como o cheiro, os movimentos de gatos ou de faces.
Katy Moran, The Judges (40 x 48.4 cm, acrílico e colagem sobre madeira), 2013. Cortesia Stuart Shave/Modern Art (Londres).
Katy Moran, I Love You and I Like You (74.5 x 55.5 cm, acrílico, tecido e colagem sobre madeira), 2013. Cortesia Stuart Shave/Modern Art (Londres).
Há um fascínio pela exuberância da vida na cidade. Contudo, existem tascas e tabernas (lugares) com os quais não temos qualquer afinidade. Que mais se assemelham a uma contraditória reunião de animais, um entretenimento falso. Mas, no fim, não é essa a verdadeira realidade? Onde o ambiente tem a capacidade de criar algo que é auto-transcendente, que existe para além da ilusão teimosamente persistente! Por isso é que a semelhança com um safari ou com a visita a um Zoo é bastante premente – uma contraditória reunião de animais.

Joe’s in Town, Two Faced Cat, Face, Zoo (todas de 2013) são algumas das pinturas elaboras pela artista, nascida em Manchester, em 1975, que expressam essa exuberância. Katy Moran pinta temas que representam o movimento inquieto do espaço urbano contemporâneo. O corpo de trabalho desenvolvido durante os últimos dois anos faz-nos recordar esse contexto espacial num estilo abstracto. Este motivo é complementado por um interesse por colagens, como técnica expressiva. Desta forma, a artista, explora e emprega padrões irregulares nas suas pinturas, compostos por camadas de fragmentos de imagens e material encontrado no quotidiano de forma a criar novas composições. De certo modo, o trabalho de Katy Moran faz lembrar obras como Broadway Boogie Woogie (1942-1943), de Piet Mondrian, ou Broadway by Light (1958), de William Klein. A cacofonia dos materiais equipara-se ao abstrato jogo cromático de avenidas, ruas e salões de dança e música capturados por Mondrian, ou os aspectos fascinantes e obscuros, captados por Klein, que surgem em simultâneo, na grande parede de luz que é Nova Iorque.
Vista da exposição. Cortesia Stuart Shave/Modern Art
As onze telas presentes na exposição, apresentam-nos dissonâncias de materiais – acrílico sobre papel e tecidos encontrados, colados sobre tela ou madeira – que compõem de forma desordenada cenas que nos reportam para diversos lugares, momentos e encontros ao acaso que compõem e constroem as diferentes partes e histórias da vida numa cidade.

Published at Molduras: as artes plásticas na Antena 2: Katy Moran, Stuart Shave/Modern Art (Londres), até 20 de Dezembro de 2013.

No comments :