One in a Million
Galerie Elisabeth & Klaus Thoman (Viena, Áustria)
FORT, One in a Million 05, 2013 Wood plaster glass different materials lighting cables, 105 x 148 x 22 cm Courtesy Galerie Elisabeth & Klaus Thoman Innsbruck/Vienna. Photo © Rainer Iglar |
O trabalho apresentado pelo colectivo alemão FORT, presente na exposição One in a Million (2013), na Galerie Elisabeth & Klauss Thoman (Viena, Áustria), reporta para cenários reais do quotidiano, e pode ser percebido como uma viajem sobre a herança narrativa. Pois toda a realidade está à nossa frente. Este trabalho projecta uma sucessão de possibilidades abertas quando despendemo-nos dessa herança. Mas, apesar de os objectos reproduzidos insistirem sobre o que retratam, eles terminam com uma oferta. Com a possibilidade de liberdade. A nossa percepção é elevada para o nível da capacidade da arte em reflectir e desafiar o comum. Como se tivesse surgido a partir do nada. Pois o abandono a que os objectos nos desafiam é mais forte do que o nomear. O que é proposto pelas artistas, e, consequentemente, pelas obras, é um movimento de quebra do ciclo, de dizerem como nos libertarmos através do acto. O que se faz posteriormente é com cada um dos observadores! Porque a única coisa que se afirma é o desprender, o dar.
O que procuramos ver, através da janela para um apartamento, é uma tentativa de construir um espaço privado onde tudo é possível, onde o que é da condição imoral, onde obscenidades acontecem. A nossa percepção assemelha-se ao de um testemunho sobre um acontecimento onde não sabemos ou temos qualquer conhecimento da autoridade ou das normas estabelecidas. Enquanto, por outro lado, procuramos fantasiar um suplemento à realidade autoritária e convencer-nos da potência do espectáculo. Uma outra dimensão é, ainda, a de desafiarmos a nossa passividade para com a realidade e a tentativa de criar ficções que nos transportem para onde nos sentimos vivos.
As artistas partilham das infinitas potencialidades narrativas geradas a partir do imaginarium acerca do que existe no espaço privado – um apartamento privado – sobre o espaço imaginado e o espaço representado. Elas transpõem e projectam o observador das sensações geradas pelo espaço público, definido por regras estruturais estruturas e instituições normativas, para um espaço latente, abstracto, dominado pela psyche. Elas reproduzem a realidade através da experiência sensorial da arte ao sermos confrontados com objectos, reproduções de janelas possíveis de serem encontradas na cidade de Berlim (Alemanha). Transportam-nos para outra dimensão que permite-nos constatar a particularidade da arte, ao deixamos de olhar para (de fora), e passarmos a ver (de dentro). De certa forma, bisbilhotamos sobre o que acontece para além do ecrã que nos separa de um espaço indeterminado.
É uma terceira via para além da ilusão e da realidade, que nos permite perceber as dinâmicas da construção da realidade e da ficção. As instalações de estruturas existentes, como a reprodução de janelas, e consequentes situações derivadas e que reportam para a existência de uma individualidade privada – transposta e exposta para o espaço público – estabelecem relações entre as condições actuais com um mundo constituído por sinais e insinuações. Um par de meias penduradas num estendal à janela a secarem, ou a presença de um vaso com rosas vermelhas, um telefone e um cinzeiro com algumas beatas no parapeito de uma outra janela, sugerem a presença de uma vida privada, indiciam para a abertura, para o exterior, de um espaço fechado e que toma forma em si mesmo. O colectivo desafia a imaginar a vida de pessoas que desconhecemos – mas, por exemplo, de uma forma distinta das revistas ou programas televisivos sobre celebridades –, ao introduzir questões e incertezas naqueles espaços onde existia, anteriormente, um consenso aparente sobre o que se faz e deixa de fazer. Elas testam os limites do que pode ser definido como arte e como espectáculo, ao criarem interrupções no espaço liminar entre o que é da arte e o que é do quotidiano. Já, anteriormente, na instalação “One On One” (2012) ou na performance “The Golden Rule” (2010), as artistas exploraram este conceito de espaços que desaparecem após a ocorrência da acção, ao decidirem deixar o espaço expositivo, tanto no KW Institute for Contemporary Art e na galeria Lena Brüning (ambos em Berlim, respectivamente), completamente vazio, enquanto o ‘espectáculo performativo’ decorre no exterior, na rua, no caso da performance.
O que procuramos ver, através da janela para um apartamento, é uma tentativa de construir um espaço privado onde tudo é possível, onde o que é da condição imoral, onde obscenidades acontecem. A nossa percepção assemelha-se ao de um testemunho sobre um acontecimento onde não sabemos ou temos qualquer conhecimento da autoridade ou das normas estabelecidas. Enquanto, por outro lado, procuramos fantasiar um suplemento à realidade autoritária e convencer-nos da potência do espectáculo. Uma outra dimensão é, ainda, a de desafiarmos a nossa passividade para com a realidade e a tentativa de criar ficções que nos transportem para onde nos sentimos vivos.
As artistas partilham das infinitas potencialidades narrativas geradas a partir do imaginarium acerca do que existe no espaço privado – um apartamento privado – sobre o espaço imaginado e o espaço representado. Elas transpõem e projectam o observador das sensações geradas pelo espaço público, definido por regras estruturais estruturas e instituições normativas, para um espaço latente, abstracto, dominado pela psyche. Elas reproduzem a realidade através da experiência sensorial da arte ao sermos confrontados com objectos, reproduções de janelas possíveis de serem encontradas na cidade de Berlim (Alemanha). Transportam-nos para outra dimensão que permite-nos constatar a particularidade da arte, ao deixamos de olhar para (de fora), e passarmos a ver (de dentro). De certa forma, bisbilhotamos sobre o que acontece para além do ecrã que nos separa de um espaço indeterminado.
É uma terceira via para além da ilusão e da realidade, que nos permite perceber as dinâmicas da construção da realidade e da ficção. As instalações de estruturas existentes, como a reprodução de janelas, e consequentes situações derivadas e que reportam para a existência de uma individualidade privada – transposta e exposta para o espaço público – estabelecem relações entre as condições actuais com um mundo constituído por sinais e insinuações. Um par de meias penduradas num estendal à janela a secarem, ou a presença de um vaso com rosas vermelhas, um telefone e um cinzeiro com algumas beatas no parapeito de uma outra janela, sugerem a presença de uma vida privada, indiciam para a abertura, para o exterior, de um espaço fechado e que toma forma em si mesmo. O colectivo desafia a imaginar a vida de pessoas que desconhecemos – mas, por exemplo, de uma forma distinta das revistas ou programas televisivos sobre celebridades –, ao introduzir questões e incertezas naqueles espaços onde existia, anteriormente, um consenso aparente sobre o que se faz e deixa de fazer. Elas testam os limites do que pode ser definido como arte e como espectáculo, ao criarem interrupções no espaço liminar entre o que é da arte e o que é do quotidiano. Já, anteriormente, na instalação “One On One” (2012) ou na performance “The Golden Rule” (2010), as artistas exploraram este conceito de espaços que desaparecem após a ocorrência da acção, ao decidirem deixar o espaço expositivo, tanto no KW Institute for Contemporary Art e na galeria Lena Brüning (ambos em Berlim, respectivamente), completamente vazio, enquanto o ‘espectáculo performativo’ decorre no exterior, na rua, no caso da performance.
FORT, 'One in a Million' installation view Courtesy Galerie Elisabeth & Klaust Thoman Innsbruck/Wien Photo © Galerie Elisabeth & Klaus Thoman/Lena Kienzer |
Desta forma, em “One in a Million”, a extrema atenção para com os detalhes, que definem cada um dos espaços privados – na sociedade germânica, em particular, a atenção para com o equilíbrio visual e usos dados a cada uma das janelas – delimita de uma forma excessiva, ao mesmo tempo que gera a sensação de controle exercido pelas artistas sobre a configuração de cada um dos espaços recriados. O desfecho, neste conjunto de instalações, não nos deixa espaço para progredir de uma forma tradicional, ao invés, cada uma das obras suspende, de uma forma perpétua, qualquer forma de progresso, de modo a permitir, aos observadores, uma pausa no processo de observação e compreensão sobre o espaço limiar entre arte e quotidiano. Momentaneamente somos transportados e encorpamos o espaço ilícito existente entre as ordens bombardeadas de uma forma constante pelas estruturas normativas e a loucura na sua ambiguidade radical.
O colectivo alemão FORT, criado em 2006 por Anna Jandt (1980, Bremen), Jenny Kropp (1978, Frankfurt am Main) e Alberta Niemann (1982, Bremen), e composto, desde 2013, unicamente pelas duas artistas originarias de Bremen, apresenta na Galerie Elisabeth & Klaus Thoman, em Viena, até ao dia 22 de Fevereiro de 2014, a instalação One in a Million, onde reproduzem 6 janelas distintas, que reflectem socialmente alguns dos distritos da cidade de Berlim.
O colectivo alemão FORT, criado em 2006 por Anna Jandt (1980, Bremen), Jenny Kropp (1978, Frankfurt am Main) e Alberta Niemann (1982, Bremen), e composto, desde 2013, unicamente pelas duas artistas originarias de Bremen, apresenta na Galerie Elisabeth & Klaus Thoman, em Viena, até ao dia 22 de Fevereiro de 2014, a instalação One in a Million, onde reproduzem 6 janelas distintas, que reflectem socialmente alguns dos distritos da cidade de Berlim.
Published at Molduras: as artes plásticas na Antena 2: FORT: One in a Million
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