Comportamento do Estado francês é um bom exemplo para Portugal
Os negociantes de arte, ou marchands, são a ligação central entre os artistas e o seu público, entre os coleccionadores e as obras de arte. É reconhecido que os melhores negociantes de arte, ou galeristas, possuem um conhecimento aprofundado sobre uma determinada área ou campo da arte, saber comparável ao dos curadores e aos dos historiadores de arte. Combinam o connoisseurship e o conhecimento da história da arte com uma experiência prática e uma compreensão singular do mercado da arte.
Nesta paisagem, cabe ao Estado criar as condições necessárias para a existência de um mercado da arte dinâmico e com representatividade. E cultivar o mercado da arte com o objectivo de ajudar os artistas a vender, ajudar as pessoas a comprar arte contemporânea, desenvolver a capacidade de fornecer obras de arte de qualidade, constituir uma base de coleccionadores sólida, e atrair mais investimento para este sector.
Em França, o Ministério da Cultura e da Comunicação, pelo quarto ano consecutivo, e por ocasião da 35ª edição da FIAC, em Outubro de 2008, procedeu à aquisição de obras de arte de artistas representados por galerias presentes na feira de Paris. A comissão nacional consultiva para as artes plásticas (constituída por personalidade qualificadas no mundo das arte e representantes do Ministério da Cultura francês) dispôs de 400 mil euros do orçamento do ministério para a compra de obras de artistas na feira.
Situação idêntica propala-se em países como a Inglaterra ou Espanha, com as instituições públicas a rubricarem a sua presença no mercado, participação nas feiras através de compras de obras de arte às galerias participantes. As feiras, além de serem destinos para viagens e locais de encontro, também promovem excelentes oportunidades para os coleccionadores verem um extenso leque de obras de qualidade.
As 34 peças de arte (vídeo, fotografia, pintura e escultura) entretanto adquiridas de autores como Davide Balula (1978), Alain Declercq (1969), Hannah van Bart (1963) ou Tatiana Trouvé (1968), por exemplo, destinam-se a enriquecer o Fond National d’Art Contemporain, a qual presentemente compreende mais de 20 mil peças.
Provavelmente, no caso nacional, esta também será a forma mais eficaz do Estado apoiar mais directamente os espaços comerciais de arte moderna e contemporânea e, sobretudo, os artistas, em vez de proceder à atribuição de subsídios ou apoios singulares. Mas também enriquece uma colecção nacional de arte contemporânea – se encararmos uma peça de arte como um investimento a longo prazo – e rejuvenesce os núcleos de obras de arte moderna e contemporânea distribuídos por diferentes museus públicos nacionais, como o do Chiado, por exemplo.
Published at NS'/IN, Mercado da arte (78), (Diário de Notícias e Jornal de Notícias), 24 de Janeiro de 2009 Portugal © Davide Balula, Follow Venice (Aço e espelhos), 2008 Courtesy Galerie Frank Elbaz, Paris
Monday, 26 January 2009
Monday, 19 January 2009
A fotografia continua a resistir à crise
Trabalho de Helmut Newton arrematado em leilão por 460 mil euros
Caracterizados por baixos valores no mercado, os preços de fotografias ou dos negativos antigos estão a demonstrar serem resistentes à crise que o mercado financeiro global acentuou ao longo de 2008. Conjuntamente, e independentemente do período ou suporte, o mercado da fotografia apreciou um forte crescendo nesta última década. De acordo com a artprice, entre a última bolha especulativa, em 1990, e o último verão, o índex dos valores anunciado para este meio cresceu 131%, comparado com os 55% para a escultura, o segundo suporte mais popular durante o mesmo período.
A peça constituída por quatro excepcionais painéis em tamanho real concebidos e executados por Helmut Newton para as Vogue italiana e francesa, Sie Kommen, Paris (Naked and Dressed), Vouge Studios (1981), por exemplo, foi vendida acima do preço estimado mínimo (290 mil euros) em leilão da Christie’s (16 e 17 de Dezembro), por 460 mil euros (recorde mundial em leilão para o artista) a um coleccionador europeu.
O facto de um novo recorde para uma obra de Helmut Newton (1920-2004) ter acontecido durante uma época de dificuldades é testemunho do interesse pelas imagens do fotógrafo e da sua influência para a história da fotografia. Newton é um dos mais influentes fotógrafos de moda de todos os tempos e um dos fotógrafos mais relevantes do século XX. No entanto, nem todas as sua imagens são tão influentes como sugere o resultado do leilão. A imagem Nude in Sauna (1975) foi vendida por pouco mais de três mil euros, abaixo do estimado (cerca de cinco mil euros).
Apesar de ter existido uma diminuição generalizada do preço a ser pago por obras de arte em todo o segmento, ainda há muito dinheiro disponível e a ser gasto nas obras de arte mais apetecíveis. Também não se deve menosprezar o factor cambial, a desvalorização do dólar face ao euro, na venda destas obras, pois muitas das peças arrematadas nos leilões de Nova Iorque, no último trimestre de 2008, foram adquiridas por coleccionadores Europeus.
Arte como um investimento-paixão alternativo
Crescentemente, as políticas de investimento e de diversificação do património num activo à margem dos mercados financeiros têm obrigados muitos gestores de instituições bancárias ou financeiras a procurar e encontrar na arte um investimento de rendibilidades elevado, a médio e longo prazo.
As formas de investimento mais evidentes são, obviamente, a compra de obras de arte e posteriormente pendurá-las na parede por tempo indeterminado... como forma de ostentação do capital cultural e social, e de capacidade consumista, ou de outra forma, sempre se pode reportar à origem e ser artista. A terceira opção é comprar acções de uma das muitas leiloeiras existentes no mercado artístico.
No espaço nacional, a Art Invest – Fundo Especial de Investimento do BANIF, do qual fazem parte obras de Paula Rego ou João Maria Gusmão + Pedro Paiva, é um exemplo. Com a criação de um fundo que investe em obras de arte, estes veículos de investimento promovem retribuições a aqueles que providenciaram o capital para a aquisição de obras de arte e, obviamente, a quem o gere, pois o seu principal objectivo é maximizar a percentagem de retorno do investimento por um período limitado – a médio e longo prazo.
Quem são os especuladores?
É certa a ausência de regulação no mercado da arte. As casas leiloeiras permitem acompanhar discretamente a evolução de uma obra na escala de valores. As galerias representam o outro sector do mercado: geralmente a sua importância percentual para o valor do mercado é quase sempre desconhecida (em Nova Iorque as galerias representam 42% do mercado de venda da obras de arte), mas provavelmente são a estrutura mais fiável em termos de data e factos.
A compra em larga escala de mercadorias com o objectivo de as revender mais tarde com um lucro resultante da variação das cotações tem caracterizado o papel desempenhado por muitas fundações privadas e colecções de arte contemporânea. Entre 2005 e 2008 o mercado da arte assistiu à presença e participação de muitos gestores de investimentos oriundos do mercado financeiro, que compravam e/ou vendiam de uma forma negligente.
Poderá a maioria dos compradores, principalmente entre 2007 e 2008, serem especuladores com o intuito de beneficiar exageradamente dos lucros exacerbados?!
Published at NS'/IN, Mercado da arte (78), (Diário de Notícias e Jornal de Notícias), 17 de Janeiro de 2009 Portugal © Helmut Newton, Sie Kommen, Paris (Naked and Dressed), Vogue Studios, 1981 Courtesy Christie’s 2008; João Maria Gusmão + Pedro Paiva, Macrocefalia (filme de 16mm, cor, sem som, 3’00’’). Edição de 5 + 1 PA. Preço de aquisição: 5 085 euros Courtesy Galeria Graça Brandão
Caracterizados por baixos valores no mercado, os preços de fotografias ou dos negativos antigos estão a demonstrar serem resistentes à crise que o mercado financeiro global acentuou ao longo de 2008. Conjuntamente, e independentemente do período ou suporte, o mercado da fotografia apreciou um forte crescendo nesta última década. De acordo com a artprice, entre a última bolha especulativa, em 1990, e o último verão, o índex dos valores anunciado para este meio cresceu 131%, comparado com os 55% para a escultura, o segundo suporte mais popular durante o mesmo período.
A peça constituída por quatro excepcionais painéis em tamanho real concebidos e executados por Helmut Newton para as Vogue italiana e francesa, Sie Kommen, Paris (Naked and Dressed), Vouge Studios (1981), por exemplo, foi vendida acima do preço estimado mínimo (290 mil euros) em leilão da Christie’s (16 e 17 de Dezembro), por 460 mil euros (recorde mundial em leilão para o artista) a um coleccionador europeu.
O facto de um novo recorde para uma obra de Helmut Newton (1920-2004) ter acontecido durante uma época de dificuldades é testemunho do interesse pelas imagens do fotógrafo e da sua influência para a história da fotografia. Newton é um dos mais influentes fotógrafos de moda de todos os tempos e um dos fotógrafos mais relevantes do século XX. No entanto, nem todas as sua imagens são tão influentes como sugere o resultado do leilão. A imagem Nude in Sauna (1975) foi vendida por pouco mais de três mil euros, abaixo do estimado (cerca de cinco mil euros).
Apesar de ter existido uma diminuição generalizada do preço a ser pago por obras de arte em todo o segmento, ainda há muito dinheiro disponível e a ser gasto nas obras de arte mais apetecíveis. Também não se deve menosprezar o factor cambial, a desvalorização do dólar face ao euro, na venda destas obras, pois muitas das peças arrematadas nos leilões de Nova Iorque, no último trimestre de 2008, foram adquiridas por coleccionadores Europeus.
Arte como um investimento-paixão alternativo
Crescentemente, as políticas de investimento e de diversificação do património num activo à margem dos mercados financeiros têm obrigados muitos gestores de instituições bancárias ou financeiras a procurar e encontrar na arte um investimento de rendibilidades elevado, a médio e longo prazo.
As formas de investimento mais evidentes são, obviamente, a compra de obras de arte e posteriormente pendurá-las na parede por tempo indeterminado... como forma de ostentação do capital cultural e social, e de capacidade consumista, ou de outra forma, sempre se pode reportar à origem e ser artista. A terceira opção é comprar acções de uma das muitas leiloeiras existentes no mercado artístico.
No espaço nacional, a Art Invest – Fundo Especial de Investimento do BANIF, do qual fazem parte obras de Paula Rego ou João Maria Gusmão + Pedro Paiva, é um exemplo. Com a criação de um fundo que investe em obras de arte, estes veículos de investimento promovem retribuições a aqueles que providenciaram o capital para a aquisição de obras de arte e, obviamente, a quem o gere, pois o seu principal objectivo é maximizar a percentagem de retorno do investimento por um período limitado – a médio e longo prazo.
Quem são os especuladores?
É certa a ausência de regulação no mercado da arte. As casas leiloeiras permitem acompanhar discretamente a evolução de uma obra na escala de valores. As galerias representam o outro sector do mercado: geralmente a sua importância percentual para o valor do mercado é quase sempre desconhecida (em Nova Iorque as galerias representam 42% do mercado de venda da obras de arte), mas provavelmente são a estrutura mais fiável em termos de data e factos.
A compra em larga escala de mercadorias com o objectivo de as revender mais tarde com um lucro resultante da variação das cotações tem caracterizado o papel desempenhado por muitas fundações privadas e colecções de arte contemporânea. Entre 2005 e 2008 o mercado da arte assistiu à presença e participação de muitos gestores de investimentos oriundos do mercado financeiro, que compravam e/ou vendiam de uma forma negligente.
Poderá a maioria dos compradores, principalmente entre 2007 e 2008, serem especuladores com o intuito de beneficiar exageradamente dos lucros exacerbados?!
Published at NS'/IN, Mercado da arte (78), (Diário de Notícias e Jornal de Notícias), 17 de Janeiro de 2009 Portugal © Helmut Newton, Sie Kommen, Paris (Naked and Dressed), Vogue Studios, 1981 Courtesy Christie’s 2008; João Maria Gusmão + Pedro Paiva, Macrocefalia (filme de 16mm, cor, sem som, 3’00’’). Edição de 5 + 1 PA. Preço de aquisição: 5 085 euros Courtesy Galeria Graça Brandão
Monday, 12 January 2009
As razões do êxito da A Gentil Carioca
"Uma obra de arte é uma obra de cultura", diz o director da galeria do Rio de Janeiro
Como é que a arte pode de alguma forma dialogar com a vida, com o quotidiano enquanto veículo educativo? A imagem pré-concebida alimenta a asserção de um universo à margem das diferentes políticas sociais, e na história e crítica da arte a do permanente questionamento sobre as classificações elitista e popular. De acordo com Márcio Botner (director da A Gentil Carioca, no Rio de Janeiro, juntamente com Laura Lima e Ernesto Neto) “uma obra de arte é uma obra de cultura, irradia cultura, seja na rua ou através de uma colecção (privada ou exposta em museus públicos).” Para além de artista e galerista, Botner também é professor de arte, vice-presidente de uma escola de arte, e coordenador de projectos de intervenção sócio-educacional. Márcio Botner vê “a potência da arte e da cultural como essa manifestação, e essa possibilidade de poder mudar um pouco a sociedade.”
Desde 2003, a A Gentil Carioca cresceu com sustentabilidade e em contínuo. Situada numa zona histórica caracterizada pela mistura de culturas (árabe, judia e mais recentemente a chinesa), o espaço criado pelos três artistas apresenta uma capacidade de se misturar e de, através dessa mistura, criar um potencial para intervir socialmente. “Uma das responsabilidades da Gentil é de lançar jovens artistas,” afirma Márcio Botner, para além da promoção dos artistas no mercado da arte através de exposições, participações em ferias, e na promoção de eventos e outros projectos com impacto na sociedade brasileira.
Por exemplo, com o projecto Parede Gentil, a Gentil começou a tornar pública a sua atenção para com a educação. “Este projecto apresenta a preocupação em tocar numa questão tão importante como a educação,” diz Márcio Botner, por um lado, “como comunicar directamente com o público que passa na rua, que não estudou arte ou que não tenha estudado de facto, e não entra no espaço da Gentil,” enquanto por outro, “incentivar a questão do coleccionismo.” Conforme explica Márcio Botner, “sempre procuramos um coleccionador para ajudar, com um determinado valor sem retorno, o projecto da Gentil, mas em contrapartida o coleccionador vê o seu nome valorizado no mercado ao surgir como patrocinador de um trabalho com cariz educacional, quer espelhado no objecto, quer pelos diferentes meios de publicidade.”
Também, e conjuntamente a cada nova exposição inaugurada na A Gentil Carioca, através do projecto Camisa Educação “a Gentil convida um artista a fazer uma camisa com a palavra educação inscrita – para esta afirmação participar no projecto. A educação é o que move o projecto,” assegura o artista e um dos directores da A Gentil Carioca.
Os coleccionadores são o espelho para outros coleccionadores que pretendem ingressar no mercado da arte. Desta forma, Márcio Botner defende a necessidade de formar e educar novos coleccionadores da mesma forma como se educa o gosto do povo para a arte, para “começarem a perceber a importância dos coleccionadores como agentes no sistema das artes.” Esta importância é transmitida quer por “começarem a entenderem que a sua acção se inicia nas escolhas de uma colecção que legitima um tempo histórico, mas ao mesmo tempo, também ele como pessoa, encontre um agente político transformador da cultura actual.”
Published at NS'/IN, Mercado da arte (78), (Diário de Notícias e Jornal de Notícias), 10 de Janeiro de 2009 Portugal © Vista da Parede Gentil com o projecto do artista cubano Carlos Garaicoa, e na fachada da galeria a escultura da Laura Lima para a exposição Fuga; Laura Lima, Restaurante Belvedere (escultura), exposição Fuga 2008 Photo Paulo Innocêncio Courtesy A Gentil Carioca, Rio de Janeiro
Como é que a arte pode de alguma forma dialogar com a vida, com o quotidiano enquanto veículo educativo? A imagem pré-concebida alimenta a asserção de um universo à margem das diferentes políticas sociais, e na história e crítica da arte a do permanente questionamento sobre as classificações elitista e popular. De acordo com Márcio Botner (director da A Gentil Carioca, no Rio de Janeiro, juntamente com Laura Lima e Ernesto Neto) “uma obra de arte é uma obra de cultura, irradia cultura, seja na rua ou através de uma colecção (privada ou exposta em museus públicos).” Para além de artista e galerista, Botner também é professor de arte, vice-presidente de uma escola de arte, e coordenador de projectos de intervenção sócio-educacional. Márcio Botner vê “a potência da arte e da cultural como essa manifestação, e essa possibilidade de poder mudar um pouco a sociedade.”
Desde 2003, a A Gentil Carioca cresceu com sustentabilidade e em contínuo. Situada numa zona histórica caracterizada pela mistura de culturas (árabe, judia e mais recentemente a chinesa), o espaço criado pelos três artistas apresenta uma capacidade de se misturar e de, através dessa mistura, criar um potencial para intervir socialmente. “Uma das responsabilidades da Gentil é de lançar jovens artistas,” afirma Márcio Botner, para além da promoção dos artistas no mercado da arte através de exposições, participações em ferias, e na promoção de eventos e outros projectos com impacto na sociedade brasileira.
Por exemplo, com o projecto Parede Gentil, a Gentil começou a tornar pública a sua atenção para com a educação. “Este projecto apresenta a preocupação em tocar numa questão tão importante como a educação,” diz Márcio Botner, por um lado, “como comunicar directamente com o público que passa na rua, que não estudou arte ou que não tenha estudado de facto, e não entra no espaço da Gentil,” enquanto por outro, “incentivar a questão do coleccionismo.” Conforme explica Márcio Botner, “sempre procuramos um coleccionador para ajudar, com um determinado valor sem retorno, o projecto da Gentil, mas em contrapartida o coleccionador vê o seu nome valorizado no mercado ao surgir como patrocinador de um trabalho com cariz educacional, quer espelhado no objecto, quer pelos diferentes meios de publicidade.”
Também, e conjuntamente a cada nova exposição inaugurada na A Gentil Carioca, através do projecto Camisa Educação “a Gentil convida um artista a fazer uma camisa com a palavra educação inscrita – para esta afirmação participar no projecto. A educação é o que move o projecto,” assegura o artista e um dos directores da A Gentil Carioca.
Os coleccionadores são o espelho para outros coleccionadores que pretendem ingressar no mercado da arte. Desta forma, Márcio Botner defende a necessidade de formar e educar novos coleccionadores da mesma forma como se educa o gosto do povo para a arte, para “começarem a perceber a importância dos coleccionadores como agentes no sistema das artes.” Esta importância é transmitida quer por “começarem a entenderem que a sua acção se inicia nas escolhas de uma colecção que legitima um tempo histórico, mas ao mesmo tempo, também ele como pessoa, encontre um agente político transformador da cultura actual.”
Published at NS'/IN, Mercado da arte (78), (Diário de Notícias e Jornal de Notícias), 10 de Janeiro de 2009 Portugal © Vista da Parede Gentil com o projecto do artista cubano Carlos Garaicoa, e na fachada da galeria a escultura da Laura Lima para a exposição Fuga; Laura Lima, Restaurante Belvedere (escultura), exposição Fuga 2008 Photo Paulo Innocêncio Courtesy A Gentil Carioca, Rio de Janeiro
Monday, 5 January 2009
Um lugar onde se mostra e pensa a arte
Na Galeria Vermelho o convívio com a arte é permanente
Ao anunciar uma ideia, um conceito, o artista já começa a estabelecer a sua linguagem na metafísica semiológica, a qual já não só significa dizer, mas principalmente representa-se com um querer dizer. Como é isto visível? E quais são as suas implicações? “A arte colabora, e têm a força ampliada quando o que o artista faz torna-se linguagem – a ideia, o conceito – e como ela reverbera na sociedade”, diz Eliana Finkelstein (Directora da Galeria Vermelho, São Paulo, Brasil). Ou seja, o segundo sistema existe com o único propósito de representar o primeiro sistema de signos. A obra de arte reflecte o modo de um certo tipo de arte.
“A arte pensa e reflecte o mundo contemporâneo, é uma forma de comunicação, uma linguagem visual sobre a visão, a tradução do que o artista pensa sobre a sociedade actual,” continua desta forma a galerista. “A natureza utiliza o belo como força de atracção. O belo na arte contemporânea entra como uma estratégia de aproximação. Existem várias essências numa peça de arte da qual o belo é uma dessas camadas, mas pode-se dizer muito mais sobre a coisa.”
A abertura do Brasil para o mundo, o consequente crescimento da sua importância no mercado internacional e a paisagem urbana de São Paulo influenciaram e permitiram o crescimento da galeria desde a sua criação em Maio de 2002. Eliana Finkelstein explica este fenómeno em que “a arte segue o incremento da economia, e esta repercute na arte esse crescimento – o que antes era uma casa, agora são três.” E acrescenta, na génese da galeria Vermelho está um projecto que pretendia criar “um lugar onde se pensa e mostra arte, onde as pessoas podem ficar, conviver.” Edificada em torno de uma praça a galeria inclui, conjuntamente à área expositiva e administrativa, um restaurante e um “espaço dedicado a livros de artistas, onde se tem uma ‘distancia’ menor para com as peças de arte.”
A galeria é um núcleo onde a convivência com a arte é permanente, onde se permite e procura transmitir conhecimento. Este conhecimento também tem repercussões na dinâmica interna da Vermelho. De um grupo inicial de três pessoas, actualmente, a galeria, compreende cerca de 15 indivíduos, com especializações nas áreas da filosofia, ou da economia, por exemplo.
No mercado brasileiro de arte contemporânea “não existe a ideia de Estado financiar a arte, existem muitas outras áreas sociais com prioridade, como a saúde, a educação. A arte não vem em primeiro lugar,” explica desta forma, a galerista, a não intervenção ou participação do Estado no mercado da arte.
O interesse dos coleccionadores privados é antagónico ao do Estado. Conforme refere Eliana Finkelstein, “há uma maior abertura dos coleccionadores. Existe uma curiosidade para saber o que se passa no Brasil, depois de se ter estado tanto tempo fechado. A adesão de jovens coleccionadores, que se interessam, viajam e procuram ter conhecimento do que se passa em outros lugares do mundo, como Nova Iorque, por exemplo. É evidente a formação de um público interessado em arte.”
Published at NS'156/IN#052, Mercado da Arte (46), (Diário de Notícias e Jornal de Notícias), 3 de Janeiro de 2009 Portugal © Vista do pátio e vista da instalação externa, Banco de Jardim, Marcius Galan - Terraço (novo espaço), Galeria Vermelho, Janeiro 2008 Courtesy Galeria Vermelho, São Paulo
Ao anunciar uma ideia, um conceito, o artista já começa a estabelecer a sua linguagem na metafísica semiológica, a qual já não só significa dizer, mas principalmente representa-se com um querer dizer. Como é isto visível? E quais são as suas implicações? “A arte colabora, e têm a força ampliada quando o que o artista faz torna-se linguagem – a ideia, o conceito – e como ela reverbera na sociedade”, diz Eliana Finkelstein (Directora da Galeria Vermelho, São Paulo, Brasil). Ou seja, o segundo sistema existe com o único propósito de representar o primeiro sistema de signos. A obra de arte reflecte o modo de um certo tipo de arte.
“A arte pensa e reflecte o mundo contemporâneo, é uma forma de comunicação, uma linguagem visual sobre a visão, a tradução do que o artista pensa sobre a sociedade actual,” continua desta forma a galerista. “A natureza utiliza o belo como força de atracção. O belo na arte contemporânea entra como uma estratégia de aproximação. Existem várias essências numa peça de arte da qual o belo é uma dessas camadas, mas pode-se dizer muito mais sobre a coisa.”
A abertura do Brasil para o mundo, o consequente crescimento da sua importância no mercado internacional e a paisagem urbana de São Paulo influenciaram e permitiram o crescimento da galeria desde a sua criação em Maio de 2002. Eliana Finkelstein explica este fenómeno em que “a arte segue o incremento da economia, e esta repercute na arte esse crescimento – o que antes era uma casa, agora são três.” E acrescenta, na génese da galeria Vermelho está um projecto que pretendia criar “um lugar onde se pensa e mostra arte, onde as pessoas podem ficar, conviver.” Edificada em torno de uma praça a galeria inclui, conjuntamente à área expositiva e administrativa, um restaurante e um “espaço dedicado a livros de artistas, onde se tem uma ‘distancia’ menor para com as peças de arte.”
A galeria é um núcleo onde a convivência com a arte é permanente, onde se permite e procura transmitir conhecimento. Este conhecimento também tem repercussões na dinâmica interna da Vermelho. De um grupo inicial de três pessoas, actualmente, a galeria, compreende cerca de 15 indivíduos, com especializações nas áreas da filosofia, ou da economia, por exemplo.
No mercado brasileiro de arte contemporânea “não existe a ideia de Estado financiar a arte, existem muitas outras áreas sociais com prioridade, como a saúde, a educação. A arte não vem em primeiro lugar,” explica desta forma, a galerista, a não intervenção ou participação do Estado no mercado da arte.
O interesse dos coleccionadores privados é antagónico ao do Estado. Conforme refere Eliana Finkelstein, “há uma maior abertura dos coleccionadores. Existe uma curiosidade para saber o que se passa no Brasil, depois de se ter estado tanto tempo fechado. A adesão de jovens coleccionadores, que se interessam, viajam e procuram ter conhecimento do que se passa em outros lugares do mundo, como Nova Iorque, por exemplo. É evidente a formação de um público interessado em arte.”
Published at NS'156/IN#052, Mercado da Arte (46), (Diário de Notícias e Jornal de Notícias), 3 de Janeiro de 2009 Portugal © Vista do pátio e vista da instalação externa, Banco de Jardim, Marcius Galan - Terraço (novo espaço), Galeria Vermelho, Janeiro 2008 Courtesy Galeria Vermelho, São Paulo
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