Monday 26 January 2009

Como cultivar o mercado

Comportamento do Estado francês é um bom exemplo para Portugal

Os negociantes de arte, ou marchands, são a ligação central entre os artistas e o seu público, entre os coleccionadores e as obras de arte. É reconhecido que os melhores negociantes de arte, ou galeristas, possuem um conhecimento aprofundado sobre uma determinada área ou campo da arte, saber comparável ao dos curadores e aos dos historiadores de arte. Combinam o connoisseurship e o conhecimento da história da arte com uma experiência prática e uma compreensão singular do mercado da arte.

Nesta paisagem, cabe ao Estado criar as condições necessárias para a existência de um mercado da arte dinâmico e com representatividade. E cultivar o mercado da arte com o objectivo de ajudar os artistas a vender, ajudar as pessoas a comprar arte contemporânea, desenvolver a capacidade de fornecer obras de arte de qualidade, constituir uma base de coleccionadores sólida, e atrair mais investimento para este sector.

Em França, o Ministério da Cultura e da Comunicação, pelo quarto ano consecutivo, e por ocasião da 35ª edição da FIAC, em Outubro de 2008, procedeu à aquisição de obras de arte de artistas representados por galerias presentes na feira de Paris. A comissão nacional consultiva para as artes plásticas (constituída por personalidade qualificadas no mundo das arte e representantes do Ministério da Cultura francês) dispôs de 400 mil euros do orçamento do ministério para a compra de obras de artistas na feira.

Situação idêntica propala-se em países como a Inglaterra ou Espanha, com as instituições públicas a rubricarem a sua presença no mercado, participação nas feiras através de compras de obras de arte às galerias participantes. As feiras, além de serem destinos para viagens e locais de encontro, também promovem excelentes oportunidades para os coleccionadores verem um extenso leque de obras de qualidade.

As 34 peças de arte (vídeo, fotografia, pintura e escultura) entretanto adquiridas de autores como Davide Balula (1978), Alain Declercq (1969), Hannah van Bart (1963) ou Tatiana Trouvé (1968), por exemplo, destinam-se a enriquecer o Fond National d’Art Contemporain, a qual presentemente compreende mais de 20 mil peças.

Provavelmente, no caso nacional, esta também será a forma mais eficaz do Estado apoiar mais directamente os espaços comerciais de arte moderna e contemporânea e, sobretudo, os artistas, em vez de proceder à atribuição de subsídios ou apoios singulares. Mas também enriquece uma colecção nacional de arte contemporânea – se encararmos uma peça de arte como um investimento a longo prazo – e rejuvenesce os núcleos de obras de arte moderna e contemporânea distribuídos por diferentes museus públicos nacionais, como o do Chiado, por exemplo.

Published at NS'/IN, Mercado da arte (78), (Diário de Notícias e Jornal de Notícias), 24 de Janeiro de 2009 Portugal © Davide Balula, Follow Venice (Aço e espelhos), 2008 Courtesy Galerie Frank Elbaz, Paris

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