Monday 19 January 2009

A fotografia continua a resistir à crise

Trabalho de Helmut Newton arrematado em leilão por 460 mil euros

Caracterizados por baixos valores no mercado, os preços de fotografias ou dos negativos antigos estão a demonstrar serem resistentes à crise que o mercado financeiro global acentuou ao longo de 2008. Conjuntamente, e independentemente do período ou suporte, o mercado da fotografia apreciou um forte crescendo nesta última década. De acordo com a artprice, entre a última bolha especulativa, em 1990, e o último verão, o índex dos valores anunciado para este meio cresceu 131%, comparado com os 55% para a escultura, o segundo suporte mais popular durante o mesmo período.

A peça constituída por quatro excepcionais painéis em tamanho real concebidos e executados por Helmut Newton para as Vogue italiana e francesa, Sie Kommen, Paris (Naked and Dressed), Vouge Studios (1981), por exemplo, foi vendida acima do preço estimado mínimo (290 mil euros) em leilão da Christie’s (16 e 17 de Dezembro), por 460 mil euros (recorde mundial em leilão para o artista) a um coleccionador europeu.

O facto de um novo recorde para uma obra de Helmut Newton (1920-2004) ter acontecido durante uma época de dificuldades é testemunho do interesse pelas imagens do fotógrafo e da sua influência para a história da fotografia. Newton é um dos mais influentes fotógrafos de moda de todos os tempos e um dos fotógrafos mais relevantes do século XX. No entanto, nem todas as sua imagens são tão influentes como sugere o resultado do leilão. A imagem Nude in Sauna (1975) foi vendida por pouco mais de três mil euros, abaixo do estimado (cerca de cinco mil euros).

Apesar de ter existido uma diminuição generalizada do preço a ser pago por obras de arte em todo o segmento, ainda há muito dinheiro disponível e a ser gasto nas obras de arte mais apetecíveis. Também não se deve menosprezar o factor cambial, a desvalorização do dólar face ao euro, na venda destas obras, pois muitas das peças arrematadas nos leilões de Nova Iorque, no último trimestre de 2008, foram adquiridas por coleccionadores Europeus.

Arte como um investimento-paixão alternativo

Crescentemente, as políticas de investimento e de diversificação do património num activo à margem dos mercados financeiros têm obrigados muitos gestores de instituições bancárias ou financeiras a procurar e encontrar na arte um investimento de rendibilidades elevado, a médio e longo prazo.

As formas de investimento mais evidentes são, obviamente, a compra de obras de arte e posteriormente pendurá-las na parede por tempo indeterminado... como forma de ostentação do capital cultural e social, e de capacidade consumista, ou de outra forma, sempre se pode reportar à origem e ser artista. A terceira opção é comprar acções de uma das muitas leiloeiras existentes no mercado artístico.

No espaço nacional, a Art Invest – Fundo Especial de Investimento do BANIF, do qual fazem parte obras de Paula Rego ou João Maria Gusmão + Pedro Paiva, é um exemplo. Com a criação de um fundo que investe em obras de arte, estes veículos de investimento promovem retribuições a aqueles que providenciaram o capital para a aquisição de obras de arte e, obviamente, a quem o gere, pois o seu principal objectivo é maximizar a percentagem de retorno do investimento por um período limitado – a médio e longo prazo.

Quem são os especuladores?

É certa a ausência de regulação no mercado da arte. As casas leiloeiras permitem acompanhar discretamente a evolução de uma obra na escala de valores. As galerias representam o outro sector do mercado: geralmente a sua importância percentual para o valor do mercado é quase sempre desconhecida (em Nova Iorque as galerias representam 42% do mercado de venda da obras de arte), mas provavelmente são a estrutura mais fiável em termos de data e factos.

A compra em larga escala de mercadorias com o objectivo de as revender mais tarde com um lucro resultante da variação das cotações tem caracterizado o papel desempenhado por muitas fundações privadas e colecções de arte contemporânea. Entre 2005 e 2008 o mercado da arte assistiu à presença e participação de muitos gestores de investimentos oriundos do mercado financeiro, que compravam e/ou vendiam de uma forma negligente.

Poderá a maioria dos compradores, principalmente entre 2007 e 2008, serem especuladores com o intuito de beneficiar exageradamente dos lucros exacerbados?!

Published at NS'/IN, Mercado da arte (78), (Diário de Notícias e Jornal de Notícias), 17 de Janeiro de 2009 Portugal © Helmut Newton, Sie Kommen, Paris (Naked and Dressed), Vogue Studios, 1981 Courtesy Christie’s 2008; João Maria Gusmão + Pedro Paiva, Macrocefalia (filme de 16mm, cor, sem som, 3’00’’). Edição de 5 + 1 PA. Preço de aquisição: 5 085 euros Courtesy Galeria Graça Brandão

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