Wednesday 11 February 2009

Entrevista : Lourdes Fernández, directora da ARCOmadrid 2009

Do ponto de vista do investimento, quais são as qualidades do mercado da arte?

A arte contemporânea, como todos os bens tangíveis, é um objecto de investimento mais seguro que os produtos financeiros, que estão mais sujeitos aos vaivéns da economia. Apesar de que num momento de crise tão grave como o que estamos a viver, é necessário falar com cautela, a arte e, especialmente, a contemporânea, devido à sua grande revalorização, é um excelente valor refúgio. Uma grande obra de um artista reconhecido nunca irá perder valor. Para além disso, no caso da arte, junta-se a isto o poder desfrutar da peça, o valor decorativo, cultural e criativo que, obviamente, não têm os produtos financeiros.

Portanto, pode inclusive ocorrer o movimento contrário e que os investidores, que neste momento podem sentir desconfiança face aos investimentos de bolsa ou aos fundos, se inclinem para este tipo de produtos. É necessário, de qualquer modo, ir com cautela e esperar os acontecimentos dos próximos meses.

Quais são as especificidades do panorama artístico espanhol?

O panorama da arte contemporânea espanhola é actualmente muito diverso. Os criadores são herdeiros da longa tradição artística do nosso país, não só dos grandes mestres da história, mas também das figuras indispensáveis do século XX. Mas, para além disso, os artistas espanhóis actuais estão a transformar a sua própria linguagem, incorporando as novas tecnologias, explorando as possibilidades da vídeo-arte... Estamos num momento muito interessante em Espanha, tanto para a criação artística como para o coleccionismo.

Qual é a vantagem que diferencia a ARCOmadrid de outras feiras internacionais de arte contemporânea de grande importância?

Cada feira de arte contemporânea tem a sua idiossincrasia. A ARCOmadrid tem como trunfos mais fortes a aposta nos mercados emergentes como a Ásia, que têm ganhando importância na feira ano após ano, e a ligação com a América Latina, que faz com que o certame seja uma das vias de entrada das galerias de toda a Ibero-américa para a Europa. A isto junta-se que no mês de Fevereiro, a cidade de Madrid se transforma num caldeirão em ebulição de actividade cultural, onde todas as salas de exposição abrem as suas portas e oferecem programações que se juntam ao projecto da ARCOmadrid, dando uma grande visibilidade ao país convidado, como nesta ocasião o é a Índia. Sem dúvida, isso é o que diferencia a ARCOmadrid de outros eventos similares.

É directora da ARCOmadrid desde 2006. Qual é a sua percepção da evolução do mercado espanhol nestes últimos anos?

Como já referi anteriormente, há uma tendência cada vez maior para a exploração dos novos meios, das novas tecnologias... uma procura constante de formas de expressão diferentes. Mas, paradoxalmente, também se está a constatar um certo regresso à pintura, ao figurativo, mas incorporando frequentemente elementos da cultura globalizada e referências à actualidade.

E de que forma a feira impulsionou a evolução de um mercado nacional, espanhol?

Ao longo das quase três décadas de existência da ARCOmadrid, o mercado espanhol transformou-se completamente e penso que a feira teve muito a ver com este facto. Os dois pontos principais são, por um lado, o fomento do coleccionismo institucional e corporativo, com uma verdadeira explosão de centros de arte e salas de exposição, tanto em Madrid e Barcelona como no resto das Comunidades Autónomas. E, por outro lado, a abertura e modernização do coleccionismo privado, que antes era fortemente localista e agora se tornou mais valente, mais aberto aos artistas internacionais e a tendências mais rupturistas.

Sob uma perspectiva de gestão, quais são as linhas orientadoras da feira? Os seus objectivos?

Por um lado é preciso falar da relação entre a ARCOmadrid e a Ibero-américa, que sempre foi muito estreita, dado que um dos nossos principais objectivos é servir de via para a promoção das galerias e dos artistas latino-americanos na Europa. Por outro lado, o fomento do coleccionismo nacional e internacional é outra das grandes apostas da feira. Facilitar que os coleccionadores de primeira fila visitem Madrid, incentivar a aquisição de arte espanhola e internacional, e fomentar o coleccionismo jovem, são linhas chave do nosso trabalho. E, ao mesmo tempo, reforçar a imagem de Madrid como um dos centros nevrálgicos da arte contemporânea na Europa, a amplíssima oferta desta cidade, a sua capacidade de acolhimento, de integração, de criatividade...

Para 2009, qual é a experiência pela qual poderemos passar na ARCOmadrid?

Sem dúvida, um dos pontos mais interessantes da ARCOmadrid em 2009 será a presença da Índia como país convidado. Uma terra de contrastes extremos, com uma enorme vitalidade artística que nasce das mudanças económicas e políticas das últimas décadas, da penetrante influência dos meios de comunicação e do diálogo entre as tradições milenárias e a globalização. Artistas com um discurso rupturista mas, ao mesmo tempo, enraizado na cultura local. Poder ver uma mostra destas características na Europa será um verdadeiro privilégio.

Published at NS'161 (38-39), (Diário de Notícias e Jornal de Notícias), 7 de Fevereiro de 2009 Portugal Courtesy: IFEMA

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