Manet: Portraying Life
A retrospectiva Manet: Portraying Life é, possivelmente, um dos blockbusters menos conseguidos pela Royal Academy of Arts durante os últimos anos, quer em termos de experiência sensorial, quer em permitir visualizar novas possibilidades críticas sobre a obra do artista. A exposição, idealizada pela comissária Mary Anne Stevens, apresenta-se como um retrato da sociedade parisiense do século XIX através do olhar de Édouard Manet (1832-1883).
Manet captou com uma qualidade rara a realidade contemporânea francesa do século XIX, e, em algumas obras, apresenta uma qualidade absolutamente extraordinária, ao exceder para além do campo dos retractos que comunicam unicamente sobre as circunstâncias sociais e económicas dos retratados. O óleo sobre tela ‘A Cantora de Rua’ (‘La Chanteuse de Rue’), concebido cerca de 1862, está entre os retratos que melhor representam essa era. Um período caracterizado por convulsões sociais, culturais e políticas, como a publicação do livro A Origem das Espécies, por Charles Darwing, a queda dos impérios Espanhóis e Franceses, pelas descobertas tecnológicas e relações econômicos a uma escala mundial, como a Revolução Industrial, mas também a democratização do olhar. Apesar de não ser uma das obras mais reconhecidas pelo público, como são, por exemplo, ‘Almoço na Relva’ (‘Le déjeuner sur l’herbe’) ou ‘Olímpia’ (uma das obras não apresentada na exposição), ambas de 1863, este retrato, de uma mulher a sair de café com uma guitarra na mão, enquanto come o que parecem ser cerejas, reporta, de uma forma geral, sobre a quintessência da era moderna e, de uma forma particular, sobre a sociedade Ocidental contemporânea.
Manet captou com uma qualidade rara a realidade contemporânea francesa do século XIX, e, em algumas obras, apresenta uma qualidade absolutamente extraordinária, ao exceder para além do campo dos retractos que comunicam unicamente sobre as circunstâncias sociais e económicas dos retratados. O óleo sobre tela ‘A Cantora de Rua’ (‘La Chanteuse de Rue’), concebido cerca de 1862, está entre os retratos que melhor representam essa era. Um período caracterizado por convulsões sociais, culturais e políticas, como a publicação do livro A Origem das Espécies, por Charles Darwing, a queda dos impérios Espanhóis e Franceses, pelas descobertas tecnológicas e relações econômicos a uma escala mundial, como a Revolução Industrial, mas também a democratização do olhar. Apesar de não ser uma das obras mais reconhecidas pelo público, como são, por exemplo, ‘Almoço na Relva’ (‘Le déjeuner sur l’herbe’) ou ‘Olímpia’ (uma das obras não apresentada na exposição), ambas de 1863, este retrato, de uma mulher a sair de café com uma guitarra na mão, enquanto come o que parecem ser cerejas, reporta, de uma forma geral, sobre a quintessência da era moderna e, de uma forma particular, sobre a sociedade Ocidental contemporânea.
Se até ao século XVII toda a arte concebida para ser usufruída na esfera pública era com o intuito de celebrar e imortalizar, de uma forma visual, os feitos de santos e da nobreza, ou explicar acontecimentos de ordem divina. Com as sucessivas revoluções, a aconteceram desde os finais do século XVIII, o ‘olhar’ dos artistas passou, também, a estar atento a situações do quotidiano, com origem no espaço doméstico por exemplo, ou sobre a condição humana, sem a interferência sagrada ou profana. O comum, o popular, a vida mundana passa a ser um dos assuntos examinado e retratado pelos artistas ao ser-lhe atribuído uma importância e atenção que anteriormente não existia.
Manet, como muitos outras artistas de variadas épocas, olhou para e estudou as obras concebidas pelos grandes mestres – desde o Renascimento (séculos XIV e XV) até ao Romantismo (séculos XVIII e XIX), Velázquez ou Goya, em particular – e modernizou os assuntos examinados por esses artistas à contemporaneidade. Enquanto, nos retratos sociais, ‘Berthe Morisot com Violetas’ (1872), e ‘Retrato de Antonin Proust’ (1880), por exemplo, Manet subscreveu as convenções visuais determinadas para a pintura, até este momento na história da humanidade, ao comunicar sobre as circunstâncias sociais e económicas do retratado (poder, riqueza, posição e educação) de forma a ser imediatamente legível pelo observador (dado muitas das representações surgirem de comissões atribuídas pelos retratados ou alguém próximo). Em, ‘Almoço na Relva’ (1863), o pintor induz-nos para a gravura ‘Julgamento de Paris’ (c. 1515), de Marcantonio Raimondi, retirado de uma cena mitológica concebida anteriormente por Rafael, ou para a ‘Festa Campestre’ (1508), possivelmente de Ticiano, ao enquadra-los no espírito do século XIX. Em ‘O Caminho-de-Ferro’ ('The Railway') (1872-73) e em ‘A Cantora de Rua’ o pintor examina e retrata cenas do seu quotidiano, na procura de uma nova linguagem pictórica para a arte. Adiciona ao discurso em vigor novas questões sobre a humanidade.
Manet, como muitos outras artistas de variadas épocas, olhou para e estudou as obras concebidas pelos grandes mestres – desde o Renascimento (séculos XIV e XV) até ao Romantismo (séculos XVIII e XIX), Velázquez ou Goya, em particular – e modernizou os assuntos examinados por esses artistas à contemporaneidade. Enquanto, nos retratos sociais, ‘Berthe Morisot com Violetas’ (1872), e ‘Retrato de Antonin Proust’ (1880), por exemplo, Manet subscreveu as convenções visuais determinadas para a pintura, até este momento na história da humanidade, ao comunicar sobre as circunstâncias sociais e económicas do retratado (poder, riqueza, posição e educação) de forma a ser imediatamente legível pelo observador (dado muitas das representações surgirem de comissões atribuídas pelos retratados ou alguém próximo). Em, ‘Almoço na Relva’ (1863), o pintor induz-nos para a gravura ‘Julgamento de Paris’ (c. 1515), de Marcantonio Raimondi, retirado de uma cena mitológica concebida anteriormente por Rafael, ou para a ‘Festa Campestre’ (1508), possivelmente de Ticiano, ao enquadra-los no espírito do século XIX. Em ‘O Caminho-de-Ferro’ ('The Railway') (1872-73) e em ‘A Cantora de Rua’ o pintor examina e retrata cenas do seu quotidiano, na procura de uma nova linguagem pictórica para a arte. Adiciona ao discurso em vigor novas questões sobre a humanidade.
Leonardo da Vinci, no século XV, denominou o verdadeiro artista como aquele que era o “espelho da natureza”; o que conseguia refletir de uma forma pictórica o real existente; o que conseguia reproduzir nitidamente as imagens que o defrontavam. Com a modernidade o artista passa a subverter o valor atribuído anteriormente às imagens provenientes da cultural popular. Os artistas modernos para além de continuarem a transformar imagens existentes, não só de forma a adaptar os temas principais da história da arte e a reflectir a sua contemporaneidade de um modo ‘real’, mas, também, ao atribuir a essa ‘realidade’ relativa um capital sociocultural que anteriormente não lhes era atribuído. Em particular imagens sobre a condição humana. Indivíduos anónimos ou objetos de uso diário passam a ser o objeto de atenção.
A democratização do ‘olhar’ passa a ter maior validade no discurso como consequência dos contatos interculturais a nível global. Há um estudo, compreensão e aceitação de outras formas e modos de ser e ver a realidade. Neste contexto, a ideia da importância de espaço público, e do que acontece neste espaço, surge como um rico campo de possiblidades críticas. As alterações aos valores atribuídos já não é só imposta pelas minorias governantes, mas passa, também, a ser imposta pelas maiorias governadas. Consequentemente, o quotidiano do sujeito governado passa a ser um dos assunto a ser representado pelos artistas ao lhes ser aberto um espaço e atribuído um lugar central na história da humanidade.
A democratização do ‘olhar’ passa a ter maior validade no discurso como consequência dos contatos interculturais a nível global. Há um estudo, compreensão e aceitação de outras formas e modos de ser e ver a realidade. Neste contexto, a ideia da importância de espaço público, e do que acontece neste espaço, surge como um rico campo de possiblidades críticas. As alterações aos valores atribuídos já não é só imposta pelas minorias governantes, mas passa, também, a ser imposta pelas maiorias governadas. Consequentemente, o quotidiano do sujeito governado passa a ser um dos assunto a ser representado pelos artistas ao lhes ser aberto um espaço e atribuído um lugar central na história da humanidade.
Images: Édouard Manet, 'Berthe Morisot with a Bouquet of Violets' (Oil on canvas, 55.5 x 40.5 cm), 1872. Musee d Orsay, Paris. Acquis avec la participation du Fonds du Patrimoine, de la Fondation Meyer, de Chine Times Group et d un mecenat coordonne par le quotidien Nikkei, 1998. Photo copyright RMN (Musee d'Orsay) / Herve Lewandowski; e 'Portrait of M. Antonin Proust' (Oil on canvas, 129.5 x 95.9 cm), 1880. Lent by the Toledo Museum of Art; Gift of Edward Drummond Libbey. Photo Photography Incorporated, Toledo.
Published at Molduras: as artes plásticas na Antena 2: Manet: Portraying Life
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