Saturday, 1 March 2014

Review: Erik van Lieshout: Private View

Erik van Lieshout
Private View
Maureen Paley (London)

Erik van Lieshout, I hate my father (plasterboard and wood and mixed media 280 x 74 x 92 cm), 2013-14.
© the artist, courtesy Maureen Paley, London
O trabalho do artista holandês, Erik van Leishout é frequentemente descrito como hedonístico, suculento e libertino como a roupa que veste a classe média – uma combinação de frutos maduros plantados num campo de golfe, e as camisas e os vestidos florais (verde maça, frutas tropicais e frutos com caroço, como pêssegos ou nectarinas), com o perfume inebriante que envolve os corpos bronzeados durante o tempo passado num qualquer destino paradisíaco barato distante. É uma outra forma de meditar obre o elefante cor-de-rosa que é a classe média, sobre a estrutura dominante e caracterizante do mundo suburbano. Ele desperta a nossa atenção para os lugares comuns e protocolos sociais, ao olhar para assuntos do quotidiano, de baixo interesse cultural, mas que extrapolam uma forma de resposta conceptual em como e de que forma operam na mundo artístico. A forma em como as imagens estão editadas, tanto nas instalações como nos filmes – abruptas, imediatas, ou confusas – contam-nos uma história e permitem-nos o acesso a mundos cremos ter uma ligação remota. No entanto, o aspecto conflituoso com esses mundos e histórias pode existir e derivar da condição de estarmos mais perto do que pensamos e queremos pensar que estamos.

Para a exposição Private View, na galeria Maureen Paley (Londres), van Leishout (1968) apresenta um conjunto de onze estruturas, construções, instalações que inquerem sobre a sociedade holandesa. Em particular, ele retira e usa elementos autobiográficos e da família real holandesa e procura mostrar as relações entre os distintos membros que constituem essa estrutura social. As construções, ‘Film Production Plan’ (2014), ‘Workers Table’ (2013’14), ‘I hate my father’ (2013-14), ‘House of Guilt’ (2013-14), etc, estão organizadas e estruturadas de acordo com um plano social e criam relações entre as partes e os elementos de algo mais complexo, seja através da sua disposição espacial e autorização de navegação, seja através da introdução aparentemente desordenada de desenhos, imagens, e montagens. O artista, procura, com esta práctica, inquirir sobre o lugar onde poderá existir um inesperado conjunto de possibilidades no campo de expansão infinita que é chamado de Arte. Nomeadamente, ele está a tentar tirar o que é da infraestrutura do que é imposto pelo planeamento ao criar contradições. Especificamente, a infraestrutura pessoal que se encontra captiva nas mãos de quem idealiza e projecta as estruturas e os espaços circundantes, envolventes. Pois, a larga estrutura social que nos rodeia e envolve é a ilusão. Estas estruturas apresentam-se, nos discursos de quem planeia, como um veículo que parece ser eficiente.
vista da exposição na Maureen Paley
Erik van Lieshour, The Workers (HD film, colour, sound with carpet installation
52', edition of 3 + 1 AP), 2014.
© the artist, courtesy Maureen Paley, London
O argumento de Erik van Leishout é “O verdadeiro luxo é comprar nada.” A resistência ao luxo influí e imiscui-se na cultural-económica contemporânea; o acto transgressivo à ostentação requerida socialmente existe em adquirir o que não existe na escala da estrutura de imposição actual do poder. A ostentação burguesa sobre o que não existe e não têm, que tanto parecem ser os beneficiários como os desfavorecidos, no campo de possibilidades em que as estruturas e infraestruturas são e estão estabelecidas, permite-nos pensar sobre aquelas relações entre as sociabilidades informais, que vemos de uma forma evidente no mundo rosa, e a ligação possível à emergente noção de afectividade. É este conjunto de condições que nos permite pensar e experienciar as propostas visuais trazidas e apresentadas pelo artista, num contexto onde as estruturas e infraestruturas são incorporadas na lógica capitalista e governamental. Por serem captadas de dentro. De um regime económico. Por estas razões o trabalho permite-nos ler o papel em que a abordagem distributiva é negociada e articulada em cenários distintos.

Através da sua obra, van Lieshout, submerge-se dentro dos rituais e normas da comunidade que descreve. Ele oscila entre perspectivas documentais e ficcionais de forma a poder contar histórias sobre a sabedoria rosa, a memória e o poder da perseverança do vazio na classe média, no pequeno-burguês. As estruturas são o campo de sentimentos, e as infraestruturas os campos subjectivos. Os filmes – como ‘The Workers’ (2014), presente na exposição na Maureen Paley, um dos assuntos focados é a ilusão de transparência nas condições brutais e injustas derivadas do trabalho – e instalações questionam e exploram as escolhas e a visão redutora do mundo, preconceituosa e tacanha das decisões tomadas pela classe média. As particularidades das condições sob as quais um trabalha dita realmente a forma como um pode operar. Esta é uma obra política em que as estruturas, as infraestruturas e o planeamento imposto é relacionado.

Published at Molduras: as artes plásticas na Antena 2: Erik van Lieshout: Private View

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