Monday 25 May 2009

Os museus globais do século XXI

Director do museu de Serralves situa a instituição no contexto da arte contemporânea.

No início da história dos museus, estes procuravam reunir o mundo conhecido num edifício com uma ambição única, universal, de abarcar colecções e um público específico. Procuravam a sustentação de uma história exclusiva. Porém, a sociedade contemporânea, com toda a sua diversidade, interligou-se. Adquiriu um conhecimento mais plural da arte do nosso tempo, quer na forma global de comunicação e intercâmbio de informação, quer através do questionamento das noções de limites e fronteiras.

Instituições globais como o Guggenheim, o Louvre ou o Hermitage (com espaços museológicos nos Estados Unidos da América, França, Rússia, ou ainda na Itália, Espanha, Alemanha, Inglaterra, Países Baixos e, mais recentemente, com a expansão para os Emirados Árabes Unidos) começaram, entretanto, a advogar a definição de Museus Globais. O conceito de museu global inserido na cultura local procura apresentar um pouco da nova globalidade enquanto mantém uma especial atenção à especificidade local num contexto globalizante. «Infelizmente o museu global não procura isso, mas deveria procurar», afirma João Fernandes, director do Museu de Serralves, no Porto. «Na arte, presentemente, a globalização é feita pela diferenciação», esclarece. «Espaços como o Guggenheim Bilbau são franchising de uma marca mais do que propriamente museus com identidade própria.»

Nesse contexto, é sobretudo a imagem e a identidade do museu em Nova Iorque que é transferida para Bilbau, por exemplo. Felizmente, «já não estamos dependentes apenas dos centros dominantes, como era a Europa ou os Estados Unidos. Hoje são outros os contextos, como a África ou a Ásia, que importa ter em conta para o nosso conhecimento da arte no tempo em que vivemos», no paradigma social contemporâneo, adianta João Fernandes.

Desta forma, deve existir uma interacção entre o contexto museológico internacional e o que se faz nacionalmente. Por um lado, «construir um museu como Serralves significa, implica situá-lo perante os outros museus existentes no mundo. O que nós nunca quisemos foi fazer em Serralves um museu que já existisse lá fora, nunca fomos de seguir uma receita, um perfil, uma identidade já construída.»

Por outro lado, a nível expositivo, há a preocupação de criar momentos em que se olha para obras produzidas noutros países através de acontecimentos passados em Portugal, ou se olha para as obras feitas em Portugal sob a perspectiva de um contexto internacional. «É desta interacção que resultam olhares diferentes. É também estarmos conscientes de que sobre a arte contemporânea ainda existe muito que contar,» diz João Fernandes. Aconteceu com a exposição das peças em cartão concebidas por Robert Rauschenberg entre 1970 e 1976, com a fonte de Bruce Nauman, ou, mais recentemente, através das pinturas de Christopher Wool.

No entanto, «na actualidade a globalização é facilitadora do conhecimento plural e o prejudicial para o nosso entendimento da arte contemporânea seria tentarmos tipificá-la, tentar criar um ponto de vista dominante sobre ela», conclui João Fernandes.

Published at NS'176/IN#072, Mercado da arte (71), (Diário de Notícias N.º 51182 e Jornal de Notícias N.º 356/121), 23 de Maio de 2009 Portugal © Direitos Reservados Fundação de Serralves

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