O sector criativo está a ser a força fundamental para a substituição dos serviços financieros.
Nas últimas décadas, uma nova divisão do trabalho está a emergir a nível global. Uma divisão não construída sobre o produto mas sobre processos relacionais. Enquanto a manufactura está influentemente a derivar para as economias emergentes, na América do Sul ou no Sudoeste Asiático, e os serviços estão a deslocar-se para localizações mais provinciais, ou menos urbanas, o que permanece, o que cresce nos grandes centros é o privilégio de acesso a informação esotérica.
Neste contexto, o sector criativo (as artes, o entretenimento cultural, os serviços educativos e de saúde, e o turismo) está a provar ser a força fundamental para a substituição dos serviços financeiros. Da mesma forma que estes serviços, também as actividades criativas dependem das interacções, das redes, de rumores, dos encontros e desencontros individuais que só podem ser encontrados nos locais e espaços anteriormente ocupados pelos bancos. A base para esta performatividade está, crescentemente, organizada sobre o que se é ou acredita ser, como significado, ou invés de se considerar o que se faz.
Alternadamente entre artes plásticas, arquitectura, cinema ou teatro, Veneza diversifica a oferta de serviços num dos sectores que movimenta mais capitais e fluxos de pessoas a nível global: o turismo cultural. A 53ª edição da Bienal de Veneza, intitulada de Fazer Mundos, decorre até 22 de Novembro de 2009, e assimila a apresentação de 90 artistas oriundos de todo o mundo (John Baldessari, Dominique Gonzalez-Foerster, Koo Jeong A., Renata Lucas, Cildo Meireles, Aleksandra Mir, Yoko Ono, Lygia Pape, Michelangelo Pistoletto, Marjetica Potrc, Rirkrit Tiravanija, Héctor Zamora, entre outros). A aposta no turismo cultural, em 2007, atraiu cerca de 319 mil pessoas aos dois espaços da 52ª da Bienal de Veneza, enquanto os 42 pavilhões nacionais e os 34 eventos colaterais espalhados pela cidade receberam a visita de 827 mil e 650 mil pessoas, respectivamente.
Com ênfase no processo criativo, as obras de arte seleccionadas pelo curador convidado para a 53ª edição da bienal, Daniel Birnbaum (1963, Estocolmo, Suécia), representam uma visão do mundo e apresentam-se como uma forma de fazer um mundo. Ao tomar este «fazer mundos» como ponto de partida, a exposição internacional de arte permite fomentar a criatividade em futuras gerações, explorar espaços exteriores ao contexto institucional e existir para além das expectativas do mercado da arte.
Este ano as representações nacionais apresentadas nos pavilhões históricos dos Giardini, em áreas seleccionadas do Arsenale e em múltiplos espaços na cidade de Veneza, compreendem 77 nações convidadas, como Luiz Braga e Delson Uchôa (Brasil), Liam Gillick (Alemanha), Steve McQueen (Reino Unido), Lucas Samaras (Grécia), Teresa Margolles (México), Miquel Barceló (Espanha), Bruce Nauman (EUA). Entretanto, estão propostos por várias instituições e organizações internacionais 44 eventos colaterais, paralelamente ao evento principal e de maior atenção mediática.
Situada na margem do Grande Canal, na Fondaco dell’Arte, o pavilhão da representação oficial de Portugal apresenta uma instalação concebida pela dupla João Maria Gusmão + Pedro Paiva, comissariada por Naxto Checa (director do espaço Zé dos Bois, em Lisboa).
Depois de anos de representações dedicadas a introspecções estéticas, o pavilhão Português apresenta a exuberância do trabalho das novas gerações de artistas nacionais. Para esta bienal, a jovem dupla de artistas apresenta uma instalação em suporte fílmico (16 filmes mudos de 16mm e 35mm, concebidos entre 2007 e 2009, dos quais alguns já foram anteriormente apresentados ao público) influenciado entre a fenomenologia, a antropologia e a metafísica pré-socrática. Ventriloquismo (2009) ou Meteorítica (2008) são algumas das possibilidades apresentadas.
Experiências e Observações em Diferentes Tipos de Arte, é o titulo da exposição e apropria-se do título de um ensaio cientifico de Joseph Priestley, teólogo e filósofo naturalista do século XVIII. As observações apresentadas a público estão enquadradas nas explorações e experiências realizadas pelos artistas, sobre os fenómenos singulares do universo da ciência, como possibilidade abertas para o conhecimento do mundo e de, outra forma, deslegitimar o que foi institucionalmente estabelecido pelas veleidades da contemporaneidade.
Published at NS'181/IN#077, Mercado da arte (70), (Diário de Notícias N.º 51217 e Jornal de Notícias N.º 26/122), 27 de Junho de 2009 Portugal © Lygia Pape, TTEIA 1, C (2002), 2005 Courtesy: Project Lygia Pape - Cultural Association (Foto: Paula Pape); João Maria Gusmão + Pedro Paiva, A Tábua Humana, 2009 Courtesy: Direcção-Geral das Artes (Lisboa) e Centro Cultural Inhotim (Minas Gerais, Brasil)
Monday, 29 June 2009
Monday, 22 June 2009
John Baldessari: Raised Eyebrows/Furrowed Foreheads: Part II
Cristina Guerra Contemporary Art (Lisbon)
John Baldessari: Raised Eyebrows/Furrowed Foreheads: Part II
Merging photography, painting and cut-out shapes above the picture plane Baldessari’s artistic subversion has built a relationship between word and image. In the current exhibition, windows open an imagined territory that is physically delimited by the two rooms. These plane pieces narrate experiences and events on colourless walls; colourful lines on the figure’s foreheads, eyes and eyebrows are unwrapped as three-dimensional furrows into the artist’s exploration of human identity. Still, with a quite ambiguous humour, Baldessari, in this series about raised eyebrows and furrowed foreheads, based on appropriated images, maps the result or effect of the object’s action or condition on the logical interpretative disjunction.
For instance, works such as Angel (with Cross) and Person, Two cannons, Man (Falling) and Horse or Money (with People Gambling), all from 2009, reveal glimpses of hidden contexts perceived individually by our own: in Man (Falling) and Horse two photos of eyes with painted eyebrows converse with a painted photo of a man falling from a running horse; or in Angel (with Cross) and Person, an yellow cut-out cross is shown by the Angle to a man holding up his harms while the lower half of the work a troubled blue forehead is reminiscent of the Vetruvian Man, disperse in a yellow background. A discourse extending between photography and painting, linking space and colour. On a three-dimensional level these works disclose an imaginary order embroiling the fragmentation of human bodies and consequences.
This body of work created after series such as Noses & Ears, Etc. (2006-07) and Arms and Legs (Specif. Elbows & Knees), Etc. (2007) addresses the idea of the whole and concerns the total, a characteristic of John Baldessari’s works. In more recent years, he has fragmented single motifs such as the human body on to the canvas areas to defy linear narratives or plain and conformist interpretations. While de-mystifying the artistic process and criticising image consumption these artworks epitomize the whole body that is transformed through assumption into abstractions about linguistics and aesthetic philosophies.
Published at Lapiz, Revista Internacional de Arte. Año XXVIII, Núm. 254. (88), Junio 2009 España © John Baldessari, "Money (with People Gambling)", 2009
John Baldessari: Raised Eyebrows/Furrowed Foreheads: Part II
Merging photography, painting and cut-out shapes above the picture plane Baldessari’s artistic subversion has built a relationship between word and image. In the current exhibition, windows open an imagined territory that is physically delimited by the two rooms. These plane pieces narrate experiences and events on colourless walls; colourful lines on the figure’s foreheads, eyes and eyebrows are unwrapped as three-dimensional furrows into the artist’s exploration of human identity. Still, with a quite ambiguous humour, Baldessari, in this series about raised eyebrows and furrowed foreheads, based on appropriated images, maps the result or effect of the object’s action or condition on the logical interpretative disjunction.
For instance, works such as Angel (with Cross) and Person, Two cannons, Man (Falling) and Horse or Money (with People Gambling), all from 2009, reveal glimpses of hidden contexts perceived individually by our own: in Man (Falling) and Horse two photos of eyes with painted eyebrows converse with a painted photo of a man falling from a running horse; or in Angel (with Cross) and Person, an yellow cut-out cross is shown by the Angle to a man holding up his harms while the lower half of the work a troubled blue forehead is reminiscent of the Vetruvian Man, disperse in a yellow background. A discourse extending between photography and painting, linking space and colour. On a three-dimensional level these works disclose an imaginary order embroiling the fragmentation of human bodies and consequences.
This body of work created after series such as Noses & Ears, Etc. (2006-07) and Arms and Legs (Specif. Elbows & Knees), Etc. (2007) addresses the idea of the whole and concerns the total, a characteristic of John Baldessari’s works. In more recent years, he has fragmented single motifs such as the human body on to the canvas areas to defy linear narratives or plain and conformist interpretations. While de-mystifying the artistic process and criticising image consumption these artworks epitomize the whole body that is transformed through assumption into abstractions about linguistics and aesthetic philosophies.
Published at Lapiz, Revista Internacional de Arte. Año XXVIII, Núm. 254. (88), Junio 2009 España © John Baldessari, "Money (with People Gambling)", 2009
Monday, 15 June 2009
Pode a arte reavivar o nosso interesse por um lugar?
Lisboa investe em equipamentos para a promoção e divulgação, ensino e formação de conteúdos.
Podem as artes plásticas ou performativas reavivar o interesse por museus, fundações ou mesmo estádios, pavilhões e zonas que durante um determinado período de tempo apelaram pela atenção da sociedade?
No verão de 2004, Portugal foi palco de um dos eventos desportivo de maior impacto turístico internacional, no qual resultou na construção de novos espaços de espectáculo e entretenimento desportivo. Em 1998, durante meses, a zona a norte de Lisboa atraiu um grandes números de visitantes a um evento de impacto mundial, para o qual se concebeu e promoveu um destino específico. Mais recentemente, a nível internacional, o Estádio Nacional de Pequim (China), ou o «Ninho de Pássaro», como ficou conhecido devido à sua arquitectura, encontra-se a sofrer da mesma falta de programação a longo prazo de que muitos outros edifícios e lugares construídos para um momento perecível apresentam.
Todos levantam um problema: a sua utilização após a realização do fim para qual estavam destinados. Naquele caso específico, a realização de espectáculos de ópera ou de circo são possibilidades apontadas pelo governo chinês. No caso nacional a realização de eventos de índole desportivos ou de mostras temáticas, dentro do contexto para o qual os espaços foram concebidos, é a regra entretanto determinada. A crescente necessidade de encontrar alternativas às soluções estabelecidas é, porém, um requisito pretendido por muitas destas instituições, nomeadamente para a fidelização de públicos.
Inserido por um contexto local, a cidade de Lisboa, está a procurar investir, nestes últimos anos, em equipamentos urbanos para a promoção e divulgação, o ensino e formação de conteúdos culturais e artísticos. Dedicados à dança contemporânea, ao design e à moda, às artes plásticas ou residências de artistas e intercâmbios, este lugares apresentam-se com actividades programáticas concebidas e dinamizadas pela sociedade civil e seus representantes. Depois da Miguel Bombarda, no Porto, um dos últimos elementos a ser introduzido nesta equação foi o Museu do Design e da Moda, na baixa pombalina, em Lisboa. Ao introduzir soluções diversificadas das já institucionalizadas e estabelecidas, a decisão de trazer as artes para um lugar é uma escolha galvanizadora que pode estimular grupos a aproveitar os extraordinários espaços que são oferecidos.
Published at NS'179/IN#075, Mercado da arte (70), (Diário de Notícias N.º 51203 e Jornal de Noticias N.º 12/122), 13 de Junho de 2009 Portugal © Ombro a ombro. Retratos Políticos Courtesy: MUDE Museu do Design e da Moda - Colecção Francisco Capelo
Podem as artes plásticas ou performativas reavivar o interesse por museus, fundações ou mesmo estádios, pavilhões e zonas que durante um determinado período de tempo apelaram pela atenção da sociedade?
No verão de 2004, Portugal foi palco de um dos eventos desportivo de maior impacto turístico internacional, no qual resultou na construção de novos espaços de espectáculo e entretenimento desportivo. Em 1998, durante meses, a zona a norte de Lisboa atraiu um grandes números de visitantes a um evento de impacto mundial, para o qual se concebeu e promoveu um destino específico. Mais recentemente, a nível internacional, o Estádio Nacional de Pequim (China), ou o «Ninho de Pássaro», como ficou conhecido devido à sua arquitectura, encontra-se a sofrer da mesma falta de programação a longo prazo de que muitos outros edifícios e lugares construídos para um momento perecível apresentam.
Todos levantam um problema: a sua utilização após a realização do fim para qual estavam destinados. Naquele caso específico, a realização de espectáculos de ópera ou de circo são possibilidades apontadas pelo governo chinês. No caso nacional a realização de eventos de índole desportivos ou de mostras temáticas, dentro do contexto para o qual os espaços foram concebidos, é a regra entretanto determinada. A crescente necessidade de encontrar alternativas às soluções estabelecidas é, porém, um requisito pretendido por muitas destas instituições, nomeadamente para a fidelização de públicos.
Inserido por um contexto local, a cidade de Lisboa, está a procurar investir, nestes últimos anos, em equipamentos urbanos para a promoção e divulgação, o ensino e formação de conteúdos culturais e artísticos. Dedicados à dança contemporânea, ao design e à moda, às artes plásticas ou residências de artistas e intercâmbios, este lugares apresentam-se com actividades programáticas concebidas e dinamizadas pela sociedade civil e seus representantes. Depois da Miguel Bombarda, no Porto, um dos últimos elementos a ser introduzido nesta equação foi o Museu do Design e da Moda, na baixa pombalina, em Lisboa. Ao introduzir soluções diversificadas das já institucionalizadas e estabelecidas, a decisão de trazer as artes para um lugar é uma escolha galvanizadora que pode estimular grupos a aproveitar os extraordinários espaços que são oferecidos.
Published at NS'179/IN#075, Mercado da arte (70), (Diário de Notícias N.º 51203 e Jornal de Noticias N.º 12/122), 13 de Junho de 2009 Portugal © Ombro a ombro. Retratos Políticos Courtesy: MUDE Museu do Design e da Moda - Colecção Francisco Capelo
Wednesday, 10 June 2009
Tuesday, 9 June 2009
Monday, 8 June 2009
Sunday, 7 June 2009
Saturday, 6 June 2009
Friday, 5 June 2009
Thursday, 4 June 2009
Tuesday, 2 June 2009
Monday, 1 June 2009
Serralves, uma preocupação socioeconómica
Director do Museu, João Fernandes faz o balanço de uma instituição com dez anos de actividade.
«Para o museu, a primeira prioridade é trabalhar com obras de arte que existem, com obras de arte que vão ser produzidas, quer através da exposição, quer através da colecção, quer através da reflexão e, para trabalhar com obras de arte, temos de trabalhar com os artistas», responde João Fernandes, director do Museu de Serralves (Porto), à pergunta sobre o papel dos museus na sociedade contemporânea, acrescentando que «Serralves trabalha com fundos públicos, trabalha com o objectivo de um museu de arte contemporânea, o primeiro em Portugal, em que o trabalho com a comunidade é importante e deve acrescentar comunidade à comunidade».
A comunidade é um espaço comum de conflito de escolhas distintas. «Quando entramos na questão do universo da recepção e da circulação das obras de arte, há outras questões como o mercado ou a sociologia da recepção. Existe todo um sistema de circulação das obras de arte, no qual o museu é uma das instâncias.» Dentro deste campo de forças relacionadas, o museu procura o seu território, o espaço classificativo da sua posição num contexto museológico.
Conforme é defendido pelo director do museu do Porto, «Serralves é, por um lado, um caso pioneiro. Mesmo no contexto europeu é um case-study, porque é das poucas instituições na Europa onde há uma relação equilibrada entre o investimento estatal e o investimento privado, sustentada pelos rendimentos que a instituição gera por si própria, sem prejuízo para a programação expositiva.» É um caso paradigmático em que, ao contrário de outras instituições de fundos públicos, o Conselho de Administração não é remunerado.
Por outro lado, «o museu de arte contemporânea oferece aos públicos um confronto entre aquilo que eles não conhecem e aquilo que eles já reconhecem. A nível programático fazemos exposições com nomes celebrados ou reconhecidos, mas, para nós, o relevante é poder apresentar facetas menos conhecidas dos seus trabalhos,» expressa João Fernandes. Ou seja, a obra de arte responde ao que a comunidade quer dela, mas existem outras peças de arte que questionam as escolhas da comunidade.
Na dimensão social existe uma experiência ausente na sociedade portuguesa. Culturalmente, não existe uma linha social suficientemente abundante para a construção de uma memória colectiva comum. A nível fiscal as doações são pouco vantajosas. «Uma empresa tem maiores deduções fiscais na doação de valores ou obras de arte a museus do que um particular. Por exemplo, se um artista quiser oferecer uma obra de arte a um museu, tem de pagar imposto sobre o valor da obra». É um facto significativo, uma empresa ter mais vantagens do que um indivíduo. Culturalmente, esta riqueza de ser generoso para com a comunidade que o acolheu também é inexistente na sociedade portuguesa.
Num momento de maior contenção financeira, a exposição Serralves 2009 – a Colecção, que inaugurou oficialmente ontem, dia 29 de Maio, é exclusivamente composta por peças da Colecção de Serralves. Durante este fim-de-semana, e conjuntamente às obras de arte adquiridas durante os últimos dez anos pela instituição, Serralves apresenta a 6ª edição do ‘Serralves em Festa’.
Published at NS'177/IN#073, Mercado da arte (71), (Diário de Notícias N.º 51189 e Jornal de Notícias N.º 363/121), 30 de Maio de 2009 Portugal © Paula Rego, Possessão I, 2004 Courtesy: Museu de Serralves
«Para o museu, a primeira prioridade é trabalhar com obras de arte que existem, com obras de arte que vão ser produzidas, quer através da exposição, quer através da colecção, quer através da reflexão e, para trabalhar com obras de arte, temos de trabalhar com os artistas», responde João Fernandes, director do Museu de Serralves (Porto), à pergunta sobre o papel dos museus na sociedade contemporânea, acrescentando que «Serralves trabalha com fundos públicos, trabalha com o objectivo de um museu de arte contemporânea, o primeiro em Portugal, em que o trabalho com a comunidade é importante e deve acrescentar comunidade à comunidade».
A comunidade é um espaço comum de conflito de escolhas distintas. «Quando entramos na questão do universo da recepção e da circulação das obras de arte, há outras questões como o mercado ou a sociologia da recepção. Existe todo um sistema de circulação das obras de arte, no qual o museu é uma das instâncias.» Dentro deste campo de forças relacionadas, o museu procura o seu território, o espaço classificativo da sua posição num contexto museológico.
Conforme é defendido pelo director do museu do Porto, «Serralves é, por um lado, um caso pioneiro. Mesmo no contexto europeu é um case-study, porque é das poucas instituições na Europa onde há uma relação equilibrada entre o investimento estatal e o investimento privado, sustentada pelos rendimentos que a instituição gera por si própria, sem prejuízo para a programação expositiva.» É um caso paradigmático em que, ao contrário de outras instituições de fundos públicos, o Conselho de Administração não é remunerado.
Por outro lado, «o museu de arte contemporânea oferece aos públicos um confronto entre aquilo que eles não conhecem e aquilo que eles já reconhecem. A nível programático fazemos exposições com nomes celebrados ou reconhecidos, mas, para nós, o relevante é poder apresentar facetas menos conhecidas dos seus trabalhos,» expressa João Fernandes. Ou seja, a obra de arte responde ao que a comunidade quer dela, mas existem outras peças de arte que questionam as escolhas da comunidade.
Na dimensão social existe uma experiência ausente na sociedade portuguesa. Culturalmente, não existe uma linha social suficientemente abundante para a construção de uma memória colectiva comum. A nível fiscal as doações são pouco vantajosas. «Uma empresa tem maiores deduções fiscais na doação de valores ou obras de arte a museus do que um particular. Por exemplo, se um artista quiser oferecer uma obra de arte a um museu, tem de pagar imposto sobre o valor da obra». É um facto significativo, uma empresa ter mais vantagens do que um indivíduo. Culturalmente, esta riqueza de ser generoso para com a comunidade que o acolheu também é inexistente na sociedade portuguesa.
Num momento de maior contenção financeira, a exposição Serralves 2009 – a Colecção, que inaugurou oficialmente ontem, dia 29 de Maio, é exclusivamente composta por peças da Colecção de Serralves. Durante este fim-de-semana, e conjuntamente às obras de arte adquiridas durante os últimos dez anos pela instituição, Serralves apresenta a 6ª edição do ‘Serralves em Festa’.
Published at NS'177/IN#073, Mercado da arte (71), (Diário de Notícias N.º 51189 e Jornal de Notícias N.º 363/121), 30 de Maio de 2009 Portugal © Paula Rego, Possessão I, 2004 Courtesy: Museu de Serralves
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