Monday, 28 September 2009

Arte com gosto

Processos criativos da arte são semelhantes aos da produção de um vinho ou de uma experiência gastronómica

Uma excelente refeição prepara-se, apresenta-se e consome-se. Prevalece unicamente como memória de uma experiência. É efémera. Mas não é só isso! É também um universo de sensações, de disciplina e perfeccionismo natural atravessado de forma singular, e durante esse trajecto ter alguém com quem compartilhar.

Dentro do espaço museológico e galerístico, o casal de chefs/artistas Doug Fitch e Mimi Oka, ou o artista Rirkrit Tiravanija, empregam a cozinha, os alimentos e o acto de comer como um meio de representação plástica e conceptual. Obras de arte que exploram o papel social do artista na sociedade contemporânea. Um relacionamento sobre o qual, o crítico e curador francês, Nicolas Bourriaud, no início do século, descreveu como Estética Relacional.

Muitos dos artistas contemporâneos, como John Baldessari, Paul McCarthy, Ernesto Neto, Tatsumi Orimoto ou Sam Taylor-Wood seguem a tradição plástica histórica sobre o acto gastronómico, representada em obras como A Última Ceia (1498), de Leonardo da Vinci, os retratos concebidos por Giuseppe Arcimboldo (século XVI), Mulher a Fritar Ovos (1618) de Velázquez, Os Comedores de Batatas (1885), de Vincent van Gogh, ou algumas peças de Salvador Dali e de Marcel Broodthaers (século vinte).

Em 2002, inscrito no programa Capital Europeia da Cultura, o Centro de Arte de Salamanca (Espanha) apresentou a exposição colectiva Comer o no comer, a qual contou com a participação da artista Ana Pérez-Quiroga. Um banquete estético onde as relações entre a arte e a comida eram o prato principal. Em 2007, Ferran Adrià, chef do restaurante elBulli (Espanha), foi convidado para participar na Documenta 12. Comida para pensar, Pensar sobre el comer, coordenado pelo artista Richard Hamilton e pelo director da Tate Modern (Londres), Vicente Todolí, comenta sobre o universo criativo de Ferran Adrià, a cozinha de vanguarda e a sua relação com o mundo da arte através daquele festival germânico (ao fim de cem dias de festival, em 2007, a Documenta tinha recebido mais de 750 mil visitantes, dos quais um terço vindos de fora da Alemanha).

Herdeira de duas experiência de origem nacional – o festival gastronómico internacional itinerante A Arte de Ser Português, e a 2ª edição do Comidas do Mundo – a trienal do Vale do Tejo, organizada pela associação nada na manga, inscreve-se neste domínio. Sobre a temática estritamente vinícola, o evento é a plataforma ideal para abordar a obra de um grupo alargado de criadores com afinidades electivas, mesmo quando operam em áreas distintas e sem contacto aparente, conforme esclarece André de Quiroga, conde de Rocamor, responsável pela área de gastronomia e vinhos da trienal.

Como na produção de um vinho ou na confecção de uma experiência gastronómica, também a arte percorre os mesmos processos criativos: conceptualização de uma ideia; manipulação dos materiais (solos e castas, obtenção de sabor, etc.); e a criação de uma obra cujo resultado último é a sublimação e a estimulação dos sentidos de quem a prova (apreciação e valorização) – o «eu gosto» ou o «eu não gosto», ou seja, a educação do gosto individual.

Published at NS'194/IN#090, Mercado da arte (70), (Diário de Notícias N.º 51308 e Jornal de Notícias N.º 117/122), 26 de Setembro de 2009 Portugal Courtesy: Actar-D

Thursday, 24 September 2009

Jochen Lempert: Field Work

Culturgest, Lisbon, 6.2. – 10.5.2009
Jochen Lempert: Field Work

The first perception while looking at Jochen Lempert’s photographs of bird heads, in »Oiseaux-Vögel« (1997–2005) for instance, which was exhibited at the Culturgest (Lisbon), manifested as disengaged concern about things that can be found outside the cityscape, especially the anthropological study of animals and the documentation of other natural elements within different geographical areas. The layout looked like an array of unframed photographs of natural curiosities displayed like small windows viewing the pleasurable aspects of the countryside – an unsettling incident.

Nevertheless, instead of dawdling around as we do in such relaxed and unaffected environments, a closer look at the artworks reveals something more than a generic reference to bucolic sceneries of flora and fauna. Lempert’s hermeneutics, concerned with the meaning of nature, clearly play within trends and canons in contemporary aesthetics. By writing it down with light, he reaches beyond the individual collection or creation of new information about a researched field, capturing and enclosing everyday life aspects and cultural materialisations into different textures and sizes. As such, the object photographed, the subject of the image, or its manner of display stems from a different level of engagement – the artist writes and gives order to the most common apprehension of what is the disorganised natural habitat.

The subject matter of Lempert’s work is nature and more specifically what appears to be a general visual collection of birds in all of their possibilities and forms. In the series »Flock« (2005), what looks like random lines drawn on white paper are in fact documents of a group of seasonal birds travelling south. What can be perceived as casual action in the series »Formation (Swans)« (2000) are formal arrangements of four swans going somewhere in a careless way on a nearby lake. These two works mirror the artist’s intention and desire to classify and find patterns in natural manifestations and phenomena. He gives them the same orderly arrangement that can be found in our ontological needs for interpretation, reflecting a constant need for signs and symbols to explain our own surroundings. Still, a black mark at the centre of a silver hazy setting, in »Silver Surfer« (2004) and »Anschütz« (2005), manifests the singularity of an animal in its simplest form in what can be perceived as a quasi-controlled environment.

On the physical level – testing the material capabilities with low contrasts, different formats, rough edges and textures – all of this raw data was originally collected and conceived by Lempert in an attempt to reduce the observer bias on the phenomenon being observed, and on the interpretation of the reflected realities and significations. It is meant to concentrate our attention on how a particular phenomenon is related to the significance of being transformed in an open representation while being observed. These works paradigmatically take their action in reflecting raw elements, which can also personify the chaotic organisation of human life in an environment defined by classifications and multiple interpretations. In opposition to a modern established form of expression, these different photographs resemble ponds of disorganised organisations; what should have been is embedded in the unframed, unformatted, and unlevelled. Thus, all of the elements in their entirety factor into the range of choices as to what the object may be.

Though Jochen Lempert’s medium is clearly photography, in some of his work he crosses the boundaries between photography and drawing. With a cinematographic look reflecting a longing for a past long gone, in an increasingly disorderly, globalised world, he inquires about the nature of life, which we can see in »Un voyage en Mer du Nord« (2007), for instance. We, as observers, find ourselves with the same sensation as on a boat on high seas without a referent or a referential point. Although reflecting engagement towards pure forms, these things looked like they were swanning in an irrational way.

JOCHEN LEMPERT: RECENT FIELD WORK
Verlag der Buchhandlung Walther König, Köln / Cologne, 2009
124 Seiten / pages, 19,9 cm x 27,4 cm, zahlreiche SW-Abbildungen / numerous bw-illustrations.
€ 24,–
ISBN: 978-3-86560-595-5

Published at Camera Austria International, No. 107/2009 (73), September 2009 Austria © Jochen Lempert

Tuesday, 22 September 2009

Joana Vasconcelos, entre o luxo e o banal

A arte de transfigurar objectos banais do nosso quotidiano

Desde o início da sua carreira, as peças de Joana Vasconcelos reexaminam noções de criação, autoria e, de forma singular em Portugal, dão nas vistas pelo uso de objectos do quotidiano «reciclados» em obras de arte.


Os trabalhos de Joana Vasconcelos (Paris, 1971) lidam com a esfera inter-humana, as relações entre pessoas, comunidades, indivíduos ou grupos sociais. Conforme diz a artista, «as panelas são etnografia portuguesa? Não! Os talheres de plástico? Também não! São produtos culturais de uso corrente, são as formas conscientemente ignoradas do nosso quotidiano». Ou seja, ao invés de elaborar formas com base em matéria-prima, o material que manipula não é primário, ela trabalha com objectos já em circulação no mercado cultural, objectos informados por outro objecto.

O curador e crítico de arte francês Nicolas Bourriaud no livro Pós-produção (Postproduction, 2002) defendia que as noções de originalidade (estar na origem de) e de criação (fazer qualquer coisa do nada) estavam a diluir-se numa actividade de pós-produção. Um agenciamento no qual as misturas praticadas pelos DJ eram o exemplo por excelência deste contexto cultural contemporâneo, ao manipular e inserir novas transições nos fluxos de informação sonora pré-existentes. O DJ é uma pessoa que usa fragmentos de músicas gravadas para fazer novas composições. «A ideia do DJ é uma ideia que tem a ver com ir buscar coisas, outras composições musicais, por exemplo. Um DJ vai buscar uma música à história da música e faz uma nova composição enquanto a inscreve numa nova classificação musical. Eu não vou buscar obras de arte de ninguém mas sim objectos banais do nosso quotidiano», diz Joana Vasconcelos.

Neste âmbito, qual é a diferença entre o que faz e o que fazem os DJ’s?
Os DJ misturam uma coisa com outra coisa e o resultado é um novo produto musical em relação aos anteriores. Eu não faço misturas, eu pego num objecto – um sapato ou panelas, que não são de ninguém, são objectos do quotidiano público, não são objectos autorais, não são objectos com identidade histórica, ou um castiçal, por exemplo, pois se tu olhares o projecto do castiçal [Néctar, 2006, feito em ferro metalizado e cromado, LED de alta intensidade e garrafas de vinho], as garrafas são do mais normal e o castiçal é uma ideia de um objecto –, num conceito-tipo e com um material particular faço uma outra coisa posicionada fora do seu enquadramento histórico inicial. Assim, o que existe é o desenho de um novo conceito para um objecto de uso impregnado na cabeça como um objecto tipo. Eu não misturo os componentes, não altero a sua fisionomia, a sua identidade, o seu conceito, ou os transformo noutra coisa. O que eu transformo são as ideias concebidas pelo comum sobre um determinado objecto.

Ou seja, aproprias-te de objectos do imaginário comum não inscritos na etnografia nacional oficial e dota-os de um outro objecto, por exemplo, enquanto manténs as suas propriedades originais...
As minhas peças transformam a ideia fisicamente enquanto criam uma individualidade própria. As coisas existem sobrepostas, justapostas, não as estrago, não as corto, não as altero, não lhes mudo a identidade. Pelo contrário, eu afirmo a identidade de cada objecto, não são uma mistura. É exactamente o oposto dos DJ. Estes alteram a identidade ao transformá-la noutra coisa. Alteram o produto original, eu não. E isto é uma particularidade do meu trabalho.

Por outro lado, também não vou buscar coisas com muita identidade. Vou buscar coisas com uma identidade muito aberta, do domínio público, e que, na verdade, eu personalizo e a que eu dou uma identidade própria. É como se estes objectos tivessem perdido a sua identidade inicial e passassem a ter uma identidade especial. Por exemplo, o coração de Viana [Coração Independente Amarelo, 2004, feito em ferro pintado e talheres de plástico translúcido], é um objecto banal construído com objectos banais e, no entanto, é uma jóia hiperluxuosa. Ao fazer o coração de Viana em talheres de plástico estou a fazer um objecto banal, uma banalidade.

Mas o que é que faz a alteração?
O que faz é destruir conceitos preestabelecidos, é deslegitimar o institucionalizado e desestruturar a ordem entretanto criada. O trazer do privado para o público, ou do público para o privado, o trazer de um nível social abaixo para outro mais elevado. Ao alterares os paradigmas conceptuais e revolucionares a distribuição do sensível, as pessoas questionam-se sobre o que é plausível: a filigrana de Viana de Castelo é de ouro ou prata, mas agora é de plástico? Depois surge a ideia de se este objecto é merecedor da ideia de luxo. Porque o luxo está associado a certos tipos de matérias categorizadas pela sua raridade, principalmente. De repente aquilo, aquele objecto, simboliza o luxo por ser feito de plástico. Essencialmente saímos dos guetos conceptuais entretanto construídos, democratizou-se a arte e o acesso à arte.

O meu trabalho tem a ver com a massificação, com essa ideia de que tudo é consumido. Portanto, eu vou buscar os produtos que menos valor têm e que são consumidos por um maior número de pessoas e transformo-os em peças de luxo (com um valor económico no outro extremo), ou seja, eu passo do hipermercado para o museu.

Os teus objectos são formas que questionam as formas sociais...
Questionam o principal «valor» que é o consumismo. As aspirinas [Sofá Aspirina, 1997, blisters de Aspirina] e a cama de valium [Cama Valium, 1998, blisters de Valium] são uma crítica ao consumo de drogas, de medicamentos. Por exemplo, as pessoas mais sensíveis a esta obra são as que têm ou tiveram um forte contacto com aquele medicamento. Falam de experiências pessoais muito fortes, revelam uma certa tensão consumista que tiveram com os produtos utilizados nas peças. As pessoas consomem e raramente são questionadas sobre o excesso de consumo, seja ele de álcool, de medicamentos, de roupas, etc... Consumimos tudo duma forma completamente alucinante. Neste contexto, as minhas peças «pegam» no que toda a gente consome. Não se considera que se consome panelas ou tampões mas, apesar disso, o maior consumo dá-se em objectos socialmente menos valorizados, os objectos banais, comuns, porque só se dá valor ao que é caro e raro. Curiosamente, a aspirina é talvez o medicamento mais consumido do mundo. A única coisa que faço é pôr o dedo no comum. E a essa questão é que as pessoas não estão habituadas. Estão, sim, habituadas a que ponhas uma T-shirt a dizer «eu quero uma aspirina» ou «dá-me um tampão». O consumismo desesperado dá-se muito mais na banalidade do que no luxo.

E onde é que as tuas peças se posicionam dentro do contexto contemporâneo?
De alguma maneira tem sido muito curioso viver com essa particularidade, da surpresa de as pessoas serem confrontadas com a sua própria banalidade e terem de dar valor a objectos de uso comum, como talheres de plástico, panelas, tampões, animais de loiça, gravatas, espanadores ou blisters de aspirinas. Nos sapatos [Priscilla, 2007, feito de tachos e tampas em aço inox], as mulheres que gostam de moda vêem um sapato de design, enquanto as mulheres que dão mais valor à família, aos aspectos tradicionais da sociedade portuguesa, que cozinham, por exemplo, fazem outro género de associações, vêem mais os diferentes tamanhos de tachos e panelas. São poucas aquelas que conseguem juntar as coisas e fazer outra interpretação, pois ou só querem ver uma coisa ou outra. Não estão muito interessadas em fazer analogias ou o que seja. É ficar entre o luxo e o banal, é um novo espaço. Criar um novo espaço onde intervenho, onde não faço crítica, e não desminto, fico nesse limiar. As minhas peças funcionam como uma ignição para questionar as nossas decisões e afirmações quotidianas.

Joana Vasconcelos nasceu em Paris, em 1971. É considerada uma das mais influentes artistas plásticas portuguesas da última década, com exposições em Portugal e no estrangeiro. Em Março de 2009, integrou a exposição colectiva «A Certain Stat of the World», no Garage Center for Contemporary Art, em Moscovo. Participou na Bienal de Veneza, em 2005, com a peça A Noiva (um candelabro composto por mais de 25 mil tampões). Recentemente, a peça Coração Independente Dourado foi vendida em leilão da Christie's por 129 mil euros. Em 2005 recebeu o prémio The Winner Tekes It All, atribuído pela Fundação Berardo, para a peça Néctar, e em 2000 venceu o Prémio EDP Novos Artistas. Tem formação em joalharia e trabalha a nível da escultura e instalações.

Published at NS'193/IN#089, Destaque (51-53), (Diário de Notícias N.º 51301 e Jornal de Notícias N.º 110/122), 19 de Setembro de 2009 Portugal © DMF (Direitos Reservados), Luís Vasconcelos, e Atelier Joana Vasconcelos

Monday, 21 September 2009

A singular biblioteca de Alexandria digital

Projecto da Google ambiciona a expansão da cultura a um nível nunca visto.

Considerada uma das maiores bibliotecas da Antiguidade, a antiga biblioteca de Alexandria (Alexandria, Egipto) tinha como principal objecto a preservação e divulgação da cultura do Mundo conhecido de então. Criada no início do século III a.C., era um lugar de sabedoria e conhecimento, onde estava reunido o maior acervo cultural e científico da época, milhares de textos em diversos volumes, pergaminhos e rolos de papiro acumulados de forma a instigar e deixar um legado notável para o desenvolvimento geral da Humanidade.

Recentemente, a Google – uma empresa privada fornecedora de serviços para a internet, como um motor de busca ou endereços de correio electrónico – decidiu criar uma nova biblioteca mundial ao empreender o projecto massivo de digitalizar todos os livros existentes – novos ou antigos – e disponibilizá-los à sociedade em geral. Se o acordo com a indústria livreira for oficializado, autores e editores irão receber a sua quota parte de direitos de autor e direitos conexos, enquanto toda a sociedade beneficiará do acesso privilegiado aos livros entretanto digitalizados.

Apesar da razoabilidade e dos possíveis benefícios da proposta, este acordo permite a esta empresa privada colocar-se numa posição monopolizadora privilegiada para vir a ser, de facto, a primeira biblioteca universal ao invés de encorajar um acesso livre, standards plurais como a pluralidade de serviços e de fornecedores de serviços.

Existirá, porventura, a necessidade de discutir os potenciais efeitos perversos de tal projecto. Por exemplo, uma empresa privada é autorizada a copiar todas as obras de arte existentes e consequentemente criar um arquivo sobre estas manifestações humanas em que, posteriormente, toda a sociedade se reporta para informação e referência; ou, num contexto mais simples, captar e registar os reportórios de muitos dos ranchos folclóricos possíveis de serem encontrados em qualquer uma das aldeias, vilas ou cidades de Portugal, e mesmo internacionalmente. Fazer o registo dos cantares, músicas e danças, que se encontram num domínio legal público, de grupos e colectividades, com o intuito de salvaguardar este património intangível para as gerações futuras. Poderia tal recolha, estruturada num âmbito singular, constituir uma mais-valia incontestável para a sociedade?

O facto de se permitir a oficialização deste acordo de atribuir o monopólio da digitalização dos livros para prevenção e acessibilidade, a uma única empresa não irá fazer a sociedade ficar mais rica. Provavelmente, será um serviço válido durante os primeiros tempos, mas , mais tarde, quando se necessitar mais do que aquilo que esta biblioteca de Alexandria digital nos pode oferecer, poderá acontecer que ela peça mais em troca do que o a sociedade em geral possa dar. A biblioteca on-line da Google também pode vir a ser destruída por incêndios virtuais ou por multidões crentes em novas fés ou religiões, tal como foi a biblioteca de Alexandria ao longo da sua história com a perca de originais de incalculável valor para a história da humanidade.

Published at NS'193/IN#089, Mercado da arte (70), (Diário de Notícias N.º 51301 e Jornal de Notícias N.º 110/122), 19 de Setembro de 2009 Portugal © Andy Warhol, Flowers, 1964 Courtesy: Christie's 2009

Monday, 14 September 2009

Dicas para coleccionadores principiantes

A melhor altura para iniciar uma colecção é num período de desaceleração económica

Para quem é interessado por arte e sabe o que pretende, mesmo quando julga que não tem os recursos financeiros, este é o momento ideal para ser um coleccionador de arte contemporânea. A melhor altura para iniciar uma colecção é num período de desaceleração económica. Com menos compradores no mercado, existe uma variedade de peças de arte interessantes e valores mais do que alcançáveis disponíveis. De outro modo, o investimento apaixonado em arte permite também criar uma categoria de activos alternativos, com possíveis retornos a médio ou longo prazo.

A maioria dos galeristas trabalha em conjunto com os seus artistas de forma a encontrar o seu nicho e responder à procura no mercado da arte deste ou daquele género de objectos. As crises económicas e políticas são momentos que ajudam a abanar o próprio universo artístico enquanto criam diálogos estéticos mais enriquecidos. Estes são períodos onde é possível aos artistas pensar fora do pretendido pelo mercado, serem mais criativos na sua forma de abordar o quotidiano contemporâneo enquanto experimentam novas plataformas expressivas e de comunicação.

Obviamente, alguns dos melhores preços podem ser conseguidos indo directamente à fonte. O simples facto de se conhecer os artistas pode possibilitar um bom negócio. Ou, alternativamente, o jovem coleccionador pode encetar uma viagem pelas diferentes escolas superiores de belas artes públicas ou privadas que existem no país, enquanto visita as diferentes exposições de finalistas. Esta experiência permite encontrar artistas ansiosos por vender os seus primeiros trabalhos com qualidade a preços acessíveis – uma boa peça não tem de custar milhares de euros. Mas, fundamentalmente, a ideia é seguir a intuição no momento de compra e não se deixar influenciar pela situação económica vigente ou pelo objectivo único de retorno financeiro – o mercado da arte é demasiado instável.

Contudo, mesmo o coleccionador mais experiente necessita de aconselhamento profissional. Por isso é bom que desde o início o jovem coleccionador procure a ajuda de um curador ou gestor de arte. A gestão de uma colecção é crítica e consome tempo. Necessita de um planeamento estratégico para fortalecer o conjunto. Requer a apresentação da colecção a peritos de arte internacionais, a validação e prova de autenticidade, e, quando possível, a organização de empréstimos a museus e exposições para valorizarão das peças cedidas, do conjunto de obras de arte reunidas e do próprio coleccionador.

De outra forma, se pretende vaguear por si só, as feiras de arte são bons lugares para começar. Oferecem um nível de qualidade aceitável, e, para um principiante, garantem o acesso a um convincente conjunto de galerias visitáveis a pé num curto espaço de tempo e permitem tirar vantagens das úteis programações quando ainda se está a tentar compreender o gosto individual.

Published at NS'192/IN#088, Mercado da arte (72), (Diário de Notícias N.º 51294 e Jornal de Notícias N.º 103/122), 12 de Setembro de 2009 Portugal © Francesco Clemente, A History of the Heart in Three Rainbow, 1.3-1.5, 2009 Courtesy Deitch Projects

Saturday, 12 September 2009

newsfromlisbon200909


Susana Mendes Silva
X, 2009
1 desk, 4 chairs, lamp, typewriter, telephone, inkwell, pen, tobacco pipe, typewriting paper, postcards, ashtray; 2 video projections and 1 slide projection with 7 slides (variable dimensions)

€15k

Thursday, 10 September 2009

Tuesday, 8 September 2009

Confissões de... Sandra Vieira Jürgen

Directora da artecapital.net, revista on-line de arte contemporânea

Deveria ter sido...
A primeira mulher na Lua.
O museu que gostaria de dirigir...
O Museu de Cera.
Coisas que me deixam acordada durante a noite...
As televendas e Sempre a Somar.
A última vez que cozinhei foi para...
A gata.
O melhor vinho que apreciei em...
Circunstâncias que não me lembro exactamente.
Aprecio a companhia de...
Gente de bem.
Os artistas são incompreendidos por...
Eles próprios
As feira de arte são importantes por...
Motivos incompreensíveis.
A vida é demasiado curta para...
Não pensar nisso.

Published at NS'191/IN#087, Mercado da arte (60), (Diário de Notícias N.º 51287 e Jornal de Notícias N.º 96/122), 5 de Setembro de 2009 Portugal Photo: Courtesy Sandra Vieira Jürgen 2009

Monday, 7 September 2009

O valor relativo das cópias

A importância da autenticidade permite estimar um valor económico no mercado.

O debate sobre a autenticidade de uma peça de arte é um dos mais antigos no universo artístico. A questão sobre a autenticidade de uma obra de arte (de indisputável origem, a facilidade de identificação aliada ao seu estado de preservação) faz a diferença no capital acumulado por uma peça (económico, social, cultural e estético). Esta importância permite estimar um valor económico relativo no mercado.

No entanto, a tendência humana para idolatrar a realidade é de tal forma extrema que faz com que, ao invés, se acabe por amar as suas cópias, o falso, o artificial, as simulações concebidas à imagem do real. Inseridos num paradigma económico, procuramos substituir o real pelo objecto percepcionado como de maior capacidade para reproduzir a realidade, ou seja, a substituição é consumada pelo objecto com maior similaridade à experiência percebida do autêntico.

Sejam peças referidas como da antiguidade clássica, óleos concebidos durante o renascimento em ateliers de artistas ou os quase vinte mil objectos de origem indefinível arquivados no Museu de Belas Artes do Vietname, entretanto, desde os inícios do século XIX este diálogo alargou-se também para a fotografia. Vários exemplos sobressaem na história recente da fotografia: as imagens digitalmente manipuladas por Edgar Martins, para o diário The New York Times, sobre o quotidiano norte americano; as fotografias encenadas por Mathew Brady e Alexander Gardner, da Guerra Civil Americana, entre 1861 e 1865; a veracidade da morte na icónica imagem de Robert Capa A Morte de Um Miliciano, captada na Guerra da Civil de Espanha, em 1936; ou a imagem «tratada» do soldado do Exército Vermelho a hastear a bandeira soviética sobre o Reichstag, na Alemanha (1945), de Yevgeny Khaldei, não são só representações de momentos relacionados com morte, conflitos ou depressões sociais, mas são também reflexões onde a autenticidade de uma imagem reproduzida mecanicamente é questionada.

O facto é de que devido á precisão óptica na qual a fotografia reflecte a forma como vemos o mundo, o fotógrafo, por natureza, promete dizer a verdade. Contudo, ao existir a possibilidade de encenação ou idealização de uma imagem fotográfica esta destitui-a de qualquer fundamentação histórica sobre a qual deveria significar, e aqui passa para o domínio da reprodução, da ilusão. A revigorante e incontestável realidade de acontecimentos e episódios da história da humanidade registada de forma mecânica permanentemente serve de antónimo às pinceladas e interpretações de um artista.

Published at NS'191/IN#087, Mercado da arte (62), (Diário de Notícias N.º 51287 e Jornal de Notícias N.º 96/122), 5 de Setembro de 2009 Portugal © Edgar Martins. Um quarto da 14 Baldwin Farms South, em Greenwhic, Conn., como foi originalmente fotografado por Edgar Martins (imagem da esquerda) e a imagem alterada digitalmente: Untitled, da série «Ruin of the Gilded Age» (imagem da direita), 2008

Tuesday, 1 September 2009

Confissões de... Miguel Amado

Comissário e crítico de arte contemporânea

O meu maior erro...
Não ter saído de Portugal mais cedo.
A minha paixão secreta...
Nenhuma.
Deveria ter sido...
Treinador de futebol.
O artista que deveria ter comissariado...
João Maria Gusmão + Pedro Paiva
Coisas que me deixam acordado durante a noite...
O que tenho para fazer no dia seguinte.
O melhor vinho que apreciei em...
Bebo pouco e aprecio ainda menos.
Os galeristas são incompreendidos por...
Ninguém.
As feira de arte são importantes por...
Mostrarem o que os coleccionadores compram.
A vida é demasiado curta para...
Lamentações.

Published at NS'190/IN#086, Mercado da arte (60), (Diário de Notícias N.º 51280 e Jornal de Notícias N.º 89/122), 29 de Agosto de 2009 Portugal © Ryan McNamara

newsfromanywhere200909

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