Monday 23 November 2009

As peças de arte intangíveis e perecíveis

Como preservar e conservar obras de arte concebidas com recurso às novas tecnologias.

Uma das propostas apresentadas pela Lisboa 20 Arte Contemporânea este ano na Frieze, a feira de arte de Londres, resumia-se a dois visitantes casuais que apareciam no stand da galeria e despiam uma peça de roupa. Depois, saiam tranquilamente do pavilhão da feira.

Paralelamente às peças que apresentam intervenientes humanos, peças sobre as quais os coleccionadores e directores de instituições museológicas se questionam – se as pessoas envolvidas na obra são também adquiridas no acto da compra, por exemplo, a desmaterialização do objecto de arte nas situações construídas por Tino Sehgal –, os artistas contemporâneos apresentam ainda outra questão aos museus e coleccionadores, nomeadamente ao nível da preservação e da conservação de obras de arte.

Há obras que existem no tempo, e não no espaço, que são perecíveis, que deixam de existir: as matérias orgânicas presentes nas instalações de Tracy Emin; a utilização de equipamentos electrónicos que se tornam rapidamente obsoletos são alguns dos exemplos; os vídeos ou os filmes de João Maria Gusmão + Pedro Paiva, João Onofre ou Noé Sendas; as instalações de áudio de Ricardo Jacinto; ou nos computadores (nos quais se incluem a arte digital, a animação computadorizada, a arte virtual e as tecnologias interactivas, etc.).

Para dar resposta a estas questões, em 2003, foi concebida uma sociedade formada por curadores, conservadores e gestores com preocupação ao nível da preservação e conservação de obras de arte concebidas com recurso às novas tecnologias. O projecto Matters in Media Art é uma colaboração multi-estruturada entre profissionais e quatro instituições artísticas (o New Art Trust, o MoMA – Museu de Arte Moderna, de Nova Iorque, o SFMOMA – Museu de Arte Moderna, de São Francisco, e a Tate, em Londres), e a qual tem como objecto providenciar linhas orientadoras para saber cuidar de obras de arte criadas, em particular, a partir das novas tecnologias.

Uma outra solução para esta questão da incorporalidade da obra de arte foi implementada pelo Darwin Centre (Museu de História Natural, em Londres). O Darwin Centre promove visitas guiadas pelos vários departamentos nas quais o cidadão comum é convidado a vislumbrar e a tomar conhecimento do universo que compreende a pesquisa nas ciências naturais, assim como os diferentes passos nos processos de preservação e conservação de espécimes naturais que tendem, com o tempo, a deixar de existir fisicamente.

As peças desenvolvidas dentro de um suporte temporal, ao invés do tradicional suporte espacial (escultura, pintura ou desenho), são actualmente sistemas tão complexos que apresentam novos desafios à sua custódia. Além de se ficar a conhecer as obras expostas nas diferentes salas expositivas, este programa do Darwin Centre permite ao público tomar conhecimento das obras armazenadas, mas principalmente convida a sociedade em geral a perceber e partilhar das mesmas preocupações do universo artístico, enquanto se contribui para a promoção e divulgação de matérias de duração ainda por definir.

Published at NS'202/IN#098, Mercado da Arte (70), (Diário de Notícias N.º 51364 e Jornal de Notícias N.º 173/122), 21 de Novembro de 2009 Portugal © Tracey Emin, The Perfect Place to Grow, 2001 Courtesy: White Cube, Londres

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