Wednesday 18 November 2009

Duas visões sobre o mercado da arte em Portugal

Arlete Alves da Silva
«esta é uma boa altura para investir em arte»


A
Galeria 111, com uma actividade ininterrupta desde 1964, é uma das mais antigas no mercado nacional. Com dois espaços em Lisboa e um outro no Porto, a galeria representa artistas conceituados como Paula Rego ou Graça Morais. Entretanto, Maria Arlete Alves da Silva e Rui Brito, directores da galeria, também estão associados a artistas com um percurso já estabelecido no mercado artístico, como Rigo 23 ou Fátima Mendonça. Mas provavelmente o seu maior desafio passa por apresentar jovens artistas, como são Gabriel Abrantes (Prémio EDP – Jovens Artistas 2009), Francisco Vidal ou Samuel Rama, num programa de artistas consagrados e estabelecidos.

Questionada sobre o recente boom e o posterior crash do mercado artístico no presente contexto económico, Maria Arlete Alves da Silva respondeu:

«Esta é a minha quarta crise. A primeira grande crise foi com o 25 de Abril. Nos anos anteriores, a par do investimento bolsista, as obras de arte tinham tido uma grande valorização, porque dada a melhoria económica do país começaram a aparecer coleccionadores e, pela primeira vez, havia um mercado de arte. Nesta crise tanto a Bolsa como a Arte tiveram um colapso. Nos tempos que se seguiram, as perdas no investimento bolsista foram irreversíveis mas as obras de arte, que também sofreram os seus revezes, passado algum tempo tiveram uma valorização enorme.

Anos depois (anos 80 e anos 90) tudo se repete na Arte e na Bolsa, depois de períodos de euforia seguem-se períodos de depressão. E mais uma vez estamos a enfrentar uma nova crise. Este é um bom momento para reflectir sobre o investimento na arte. Nos últimos tempos as obras de arte foram tratadas como um produto financeiro e alvo de todo o tipo de especulações por parte de artistas, galeristas e leiloeiros. Todos nós assistimos a verdadeiras operações de marketing, que culminaram no famoso leilão das obras de Damiem Hirst [Beautiful Inside My Head Forever realizou-se nos dias 15 e 16 de Setembro de 2008 na Sotheby’s de Londres]. Formaram-se empresas para adquirir as suas obras e o próprio artista também integrou o núcleo de compradores. Tudo apoiado por uma enorme campanha publicitária. Aparentemente, as obras atingiram preços exorbitantes mas a realidade parece ser bem diferente. Este forçar do mercado é altamente prejudicial. Este artista atingiu preços que nos anos mais próximos não terão mercado.

Em Portugal não houve exageros tão grandes. Há artistas e galeristas que aumentaram as cotações acima da valorização normal e esses vão ter que fazer ajustamentos mas, na sua maioria, prevaleceu o bom senso.

É pois uma boa altura para investir em arte. Nas três vertentes – imobiliário, Bolsa e arte – esta é a que está menos sujeita a flutuações. Quando bem escolhida é o investimento mais seguro e rentável que existe. Não se deve esperar uma rentabilidade imediata sobretudo se se investe em jovens artistas. Ao fim de dez anos há normalmente uma grande valorização.

Maria do Carmo Oliveira
«os artistas com quem trabalho são inspiradores»

A galeria MCO Arte Contemporânea surgiu no Porto em Outubro de 2005. Ao dirigir essencialmente a sua programação para a arte emergente e experimental a directora da galeria, Maria do Carmo Oliveira, criou um espaço que está a marcar a diferença no universo artístico nacional pela sua originalidade, ao promover uma nova geração de artistas radicados no grande Porto, como Arlindo Silva, Fabrízio Matos ou Sofia Leitão, entre muitos outros.

Quando é que percebeu que queria ser galerista?
Em 2005, ano em que abri a galeria.

Qual foi a sua primeira grande venda?
Para mim todas as vendas são significativas.

Qual o seu pior momento como galeristas?
Tenho uma memória muito selectiva e por isso guardo apenas os bons momentos.

Quais os artistas que a inspiram?
Todos os artistas com quem trabalho são inspiradores, pois são criativos, trabalhadores e sérios e por isso fazemos um trabalho de inspiração e admiração mútua.

Que conselho daria a um jovem artista em início de carreira?
Trabalho, trabalho e mais trabalho.

O que são para si as Feiras de Arte?
São eventos essencialmente de promoção dos artistas e da galeria, onde se se tiver sorte talvez se vendam alguns trabalhos.

Published at NS'201/IN#097, Destaque (53-55), (Diário de Notícias N.º 51357 e Jornal de Notícias N.º 166/122), 14 de Novembro de 2009 Portugal © Martinho Costa, Space Shuttle (óleo sobre tela, 58x46cm), 2009 Courtesy: Galeria 111 e © Fabrízio Matos, Fragmentos de Diana (aguarela sobre gesso, 57x57cm), 2009 Courtesy: MCO Arte Contemporânea

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