Monday 30 November 2009

Vaidade, interesse especulativo ou responsabilidade social

Exposição no New Museum de Nova Iorque levanta um potencial de interesses entre coleccionadores privados e instituições públicas

Recentemente o New Museum (Nova Iorque) anunciou uma série de exposições sob a temática The Imaginary Museum (O Museu Imaginário). A primeira exposição agendada, para 2010, vai apresentar obras da colecção de um dos seus Trustees. Usualmente, em organizações sem fins lucrativos, como nos museus nos Estados Unidos da América, os Trustees fazem parte de um órgão de gestão. Uma das funções é promover a eleição ou a indicação, por parte dos membros ou associados da organização, de indivíduos para gerir a organização.

A colecção de arte contemporânea do magnata da construção grego Dakis Joannou, vai ser apresentada no museu e será comissariada pelo artista norte-americano Jeff Koons, que é, em simultâneo, um dos artistas mais representados na colecção.

Esta situação fez-nos lembrar o caso do até há pouco director do Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado (uma instituição gerida com fundos públicos), Pedro Lapa, que acumulava aquele cargo com o de curador da Ellipse Foundation Colecção de Arte Contemporânea (uma instituição gerida com fundos privados, situada no limiar entre fundo de investimento e uma colecção privada), propriedade de João Rendeiro, então presidente do Banco Privado Português.

A exposição no New Museum levanta um potencial conflito de interesses entre coleccionadores privados e instituições públicas, ao movimentar-se numa área pouco definida na relação entre os domínios públicos e a esfera privada. Alem das questões éticas, se, por um lado, este género de acções diminui o papel dos curadores como determinadores do valor de uma obra para a sociedade, por outro, esta exposição também viola os princípios sob os quais se rege a organização, isto é, a de não operar em benefício dos interesses privados. Assim a decisão de apresentar uma colecção privada numa instituição pública transforma o museu de uma casa para a cultura num espaço para a vaidade.

Contudo, os museus, desde os seus inícios, são espaços de vaidade. Na sua maioria, os museus públicos da Europa foram originalmente concebidos para receber colecções privadas ou as grandes colecções dos reinos e impérios. Também é verdade que, ao longo dos séculos, a maioria das grandes obras de arte foram comissionada por patronos privados, excepcionalmente, pelo poder público instituído, quando era necessário perpetuar um acto político na esfera pública.

Neste caso, mais do que tudo, o que está em causa são os mecanismos de independência curatorial, os quais permitem a distância crítica necessária para se poder avaliar o valor qualitativo obra de arte para a sociedade.

Published at NS'203/IN#099, Mercado da Arte (70), (Diário de Notícias N.º 51371 e Jornal de Notícias N.º 180/122), 28 de Novembro de 2009 Portugal © David Claerbout, Shadow piece, 2005 Courtesy: De Pont, Museum of Contemporary Art, Tiburg e Museu do Chiado, Lisboa

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