Monday 20 July 2009

A olhar para imagens

Os artistas mostram como a bulimia de informação e imagens nos embala e nos faz cada vez mais dependentes.

A sensibilidade estética medieval concebia uma beleza assente na harmonia moral e no esplendor metafísico. Actualmente a beleza de um trabalho não é suficiente para avaliar uma obra de arte, ela deverá conter aspectos culturais importantes.

Os trabalhos de artistas como Elizabeth Peyton (1965) ou John Currin (1962) exploram a fronteira entre a beleza e as noções predefinidas dos corpos encarnados, assim como apresentam uma capacidade em elevar ostensivamente o mundano, o banal, e desta forma encontram formas para questionar as convenções estéticas entretanto herdadas, que na arte quer na sociedade.

No sociedade contemporânea, a informação apresentada diariamente pelos diferentes meios noticiosos e plataformas comunicacionais é um conhecimento perecível: é anulada e destruída imediatamente após ser consumida. Os artistas ao conceberem peças reflexivas do quotidiano, confrontam-nos com o cume visível da lixeira do nosso consumo dos media e questionam o significado de um meio mesmo quando o único que permanece são os poucos retalhos visíveis de palavras e imagens, ou um conjunto de peças informativas, como se fossem um objecto obsoleto da história da humanidade.

O «fazer» do fenómeno dos media, a dependência da sociedade que avidamente espera a continuação das cenas do último episódio, seja na forma de blocos informativos seja como figuras de óperas quotidianas, é um espantoso erro, uma catástrofe impensável para a distribuição e democratização do sensível. Os artistas mostram como, no fim, esta bulimia de informação e imagens embala-nos e faz-nos crescentemente dependentes, apegados a mais e mais ecrãs, canais de televisão, sites da internet, mais, mais e mais...

Mesmo assim os artistas contemporâneos, como Carlos Correia (1975), Martinho Costa (1977) ou Pedro Gomes (1972), que utilizam imagens da internet ou de revistas como fontes para as suas peças, não procuram desvalorizar os media, mas ao invés mostrar o quanto a sua esquizofrenia é repetitiva e anulada. Mostrar como a combinação de um texto com uma imagem produz uma opinião, uma ideia, uma identidade enquanto a sua tendência é para se inclinarem para um lado ou para o outro, ou para lado nenhum.

Uma das linhas orientadoras da arte contemporânea é de que muitos dos artistas são influenciados e recolhem as suas ideias de imagens ao folhear revistas e jornais ou quando se deparam com qualquer coisa em cartazes de rua ou livros, o que faz despertar imagens icónicas, de alguma forma já disponibilizadas no nosso subconsciente pela comunidade social onde nos encontramos inseridos. Isto é o que acontece na nossa sociedade, estamos sempre a olhar para imagens.

Published at NS'184/IN#080, Mercado da arte (70), (Diário de Notícias N.º 51238 e Jornal de Notícias N.º 47/122), 18 de Julho de 2009 Portugal © Carlos Correia, s/título (Tony #042), 2009 Courtesy Baginsky Gallery/Projects

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