Monday 27 July 2009

Espaços Off

Onde se impulsionam políticas culturais inscritas por uma índole de regeneração urbana

É reconhecido o papel desempenhado pelos espaços Off (fora) quer como embriões programáticos futuros para as plataformas institucionalizadas, ou seja, os On (dentro), quer por serem percebidos como eficazes impulsionadores de políticas culturais inscritos por uma índole de regeneração urbana.

Estas plataformas, para além de serem espaços regidos por princípios muito firmes e com uma aparente forte componente intelectual, são locais onde, naturalmente, a localização é não convencional e, também, sórdida. Existe um ênfase sobre a comunidade e o espaço acaba por transforma-se no seu centro. Esta comunidade apresenta-se quase sempre como uma estrutura rígida e, como convém, apresenta coniventemente uma abertura boémia e descuidada. O álcool é, em conjunto com as exposições, uma prioridade e um constante aliado. Frequentemente, apresentam-se eventos de índole mais reflectiva, como conversas, cursos, workshops ou residências de artistas que se envolvem com a comunidade mas, particularmente, desafiam os conceitos artísticos e questionem os padrões e cânones reguladores da sociedade que os recebe e contém. E, por último, não existe um valor económico disponível significativo.

No entanto, este espaços contribuem para uma maior oferta cultural na comunidade local, ao serem dirigidos por e para jovens artistas, grupos ou associações sem fins lucrativos, com uma actividade regular no universo artístico. O Espaço Campanhã (sob a responsabilidade de Miguel Pinho e José Maia), no Porto, e o Kunsthalle Lissabon (um projecto de João Mourão e Luís Silva), em Lisboa, por exemplo, são espaços alternativos ao circuito comercial contemporâneo, como a Rua Miguel Bombarda (onde se encontram a maioria das galerias de arte, na cidade do Porto), e instituído, como Serralves (Porto) ou a Culturgest (Lisboa), com estratégias mais contextuais e atentas à contemporaneidade.

A nível internacional, o The Mews Project Space – localizado próximo da Whitechapel Art Gallery, em Londres, tem como mentores Carlos Noronha Feio, Mikael Larsson e Nuno Centeno – apresenta, sem qualquer apoio económico, durante um dia, propostas expositivas de artistas portugueses ou radicados em Portugal ao mercado anglo-saxónico, enquanto o Empty Cube – sob a orientação de João Silvério –, inserido no contexto nacional, apresenta-se por uma noite como um projecto nómada independente, não comercial, aberto a propostas discursivas entre o trabalho do artista, o espaço e o seu espectador.

Por oposição, uma estrutura On, por exemplo, o espaço Zé dos Bois, em Lisboa, é uma plataforma onde sem qualquer dificuldade podemos encontrar as ligações dos artistas apresentados a determinadas comunidades, a exposições já realizadas ou à linha editorial de uma revista. Esta estrutura usufrui, de resto, de apoio financeiro da Direcção-Geral das Artes. Mas a verdadeira questão é: quantos destes espaços Off se transformam em espaços On? Com sacrifícios, se souberem governar a sua realidade, manter as diferenças do comum, do normal quotidiano, enquanto criam uma estrutura organizativa e implementam estratégias a longo prazo, alguns espaços mantêm-se.

Published at NS'185/IN#081, Mercado da arte (70), (Diário de Notícias N.º 51245 e Jornal de Notícias N.º 54/122), 25 de Julho de 2009 Portugal © The Mews Project Space

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