Monday 16 March 2009

Mercados globais

Leilões ocupam títulos e atenção, mas galerias abranges só 52% do mercado.

À medida que o valor e o dinheiro se convertem em temas delicados e sensíveis no mercado da arte, com a apregoada ausência de vendas por parte das leiloeiras e a cessação de compras por coleccionadores privados e instituições públicas, os artistas retomam o trabalho de conceber peças de arte para seu próprio prazer.

Apesar de a curva económica descendente estar a ter um impacto nos vendedores e compradores, mesmo os com os portfolios mais díspares – no negócio vitivinícola, uma caixa de Château Lafite-Rothschild, de 2005, caiu de onze mil euros para oito mil euros –, os efeitos no mercado da arte, e uma das mais interessantes sugestões é a de que, conjuntamente aos coleccionadores tradicionais (de conhecimento mais aprofundado), os novos clientes – com muito dinheiro e de perspectiva mais internacional, com motivos que incluem investimento, prestígio, moda e nacionalismos, e sem qualquer conhecimento especializado – também já começam a apresentar uma preocupação sobre a apetência de os criadores de muitas das peças concebidas nos últimos anos existirem nos próximo período de tempo; bem como quanto à forma e ao conteúdo das peças a adquirir de modo a criar uma colecção, um corpo inteligível e inteligente. Os trabalhos incluídos na exposição At Eye Level, de Susanne S. D. Themlitz, na Vera Cortês (Lisboa), To Draw An Escape Plan, de Nuno Sousa Vieira, na galeria Graça Brandão (Lisboa) ou Amnésia, de Pedro Gomes, na galeria 111 (Lisboa), são retratos desta procura por espelhos para uma compreensão social.

È verdade que os acontecimentos em leilões ocupam a maioria dos títulos e da atenção – devido à obsessão pelos famosos e da notícia fácil derivada da exaltação e da excitação causada pela venda de uma peça por valores indeterminados, da sucessiva indicação da superação de recordes ou a visível ausência dos mesmos –, mas a realidade é que as galerias abrangem 52% do mercado de vendas. Por outro lado as feiras de arte estão crescentemente a emergir como um dos meios de venda mais importante, o que deixa um valor de mercado muito reduzido para as casas leiloeiras.

Assim, as várias exposições inauguradas nestes últimos dias nos dois mais importantes centros mercantilistas nacionais, oferecem uma óptima sugestão: de facto o mercado é cada vez mais total com artistas oriundos das mais diversas culturas, e coleccionadores de múltiplas camadas ou plataformas económicas. Isto enquanto a tradicional competição entre os mercados de Lisboa e do Porto está agora a ser substituída por uma competição mais global.

Published at NS'166/IN#062, Mercado da Arte (70), (Diário de Notícias N.º 51207 e Jornal de Notícias N.º 280/121), 14 de Março de 2009 Portugal © Susanne S. D. Themlitz, Parallel Landscapes / In Search of the Mirror Neurons #26 (grafite, óleo, aguarela, colagem de impressão offset e papel de parede sobre papel 91,5x70x5cm), 2008 Courtesy: Vera Cortês Agência de Arte

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