Monday 30 March 2009

Um mercado em hibernação

Declínio da riqueza dos bilionários causou decréscimo dos preços

O mercado da arte é um bom indicador da prosperidade económica geral de um país. Como pode verificar-se na última lista da revista Forbes sobre os mais ricos do mundo, a crise financeira global veio desbastar algumas das fortunas entretanto formadas. Juntamente com o visível o declínio da riqueza dos bilionários, principalmente os originários da Rússia, Índia e China, mas também em Portugal, esta nova situação causou um decréscimo dos preços praticados no mercado da arte.

A contracção do mercado está a arrastar consigo muitos coleccionadores anteriormente atraídos pelos números, como foram alguns dos coleccionadores mais visível e outros com menor divulgação no nosso mercado. Inscritos num contexto global, estes indivíduos durante os últimos anos fomentaram o crescimento da quantidade de artistas com primeiras obras em leilão e o superar constante do recordes de vendas.

Facto visto como referência na carreira de um artista, mas, no entanto, não ajuda de forma alguma os galeristas a suportarem os seus artistas se estes não conseguirem gerar performances suficientemente fortes no mercado da arte.

Um exemplo é o domínio inflacionário da China nos leilões. Nos últimos anos, o preço de peças de arte de artistas contemporâneos chineses progrediu 440 por cento. Em 2004, só um artista chinês encontrava-se entre os dez artistas ainda vivos com maior índice de vendas em leilões. Porém, em 2008, cinco dos dez artistas que mais vendiam, avaliados em cerca de 130 milhões de euros, eram originários da China. Grupo nos quais se incluem Xiaogang Zhang (1958), Fanzhi Zeng (1964), ou Minjun Yue (1962).

Também, as galerias ao reduzirem os preços em quase 30 por cento (ou 20 por cento, como ocorreu recentemente na mais prestigiada feira de arte, a TEFAF, em Maastricht), fizeram com que os novos investidores, os que compraram arte neste últimos anos para unicamente obterem dividendos financeiros, pagassem um preço elevado e pesado.

Com a queda dos preços das acções, do mercado imobiliário e do encerramento ou a aquisição de alguns dos bancos de referência por outros, estes coleccionadores procuraram fazer a liquidação das colecções entretanto criadas, mas facilmente perceberam que a arte não é tão fácil de alienar como um outro produto de armazém. Principalmente porque as casas leiloeiras nestes últimos meses estão mais selectivas no processo de selecção de peças e ajustaram os valores estimados, para baixo.

Casos como o recentemente acontecido com dois bronzes reclamados por Pequim, no leilão da colecção de Yves Saint Laurent no passado mês de Fevereiro, na Christie’s de Paris, ajudam a reajustar o prestígio adquirido com a constituição de colecções para causas mais nobres do ponto de vista social, enquanto o mercado da arte entra numa fase de hibernação.

Published at NS'168/IN#64, Mercado da Arte (71), (Diário de Notícias N.º 51126 e Jornal de Notícias N.º 300/121), 28 de Março de 2009 Portugal Fanzhi Zeng, Mask Series 1996 No. 6, 1996 Courtesy Sotheby’s 2009

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