Monday 9 March 2009

Sobre a propriedade e a herança cultural

Como lidar com o passado e salvaguardar o património

A Grécia vai formalmente inaugurar o novo Museu da Acrópole no dia 20 de Junho. Desenhado pelo arquitecto suíço Bernard Tschumi, em cooperação com o arquitecto local Michalis Photiades, o museu, atento às necessidades contemporâneas, vai receber os quatro mil artefactos originários do Pártenon – dedicado à deusa grega Atenas, o templo é o símbolo de Atenas, da democracia, e está ornamentado com esculturas decorativas reminiscentes da Antiguidade Clássica.

Mas este espaço foi também concebido para servir a causa do retorno dos Mármores de Elgin à Grécia (presentemente expostas no Museu Britânico, em Londres, as esculturas do século V a.C. foram retirados do Pártenon por Thomas Bruce, sétimo conde de Elgin, em 1806, e posteriormente vendidos ao Museu Britânico).

Desde 1981 que o Estado grego tenta recuperar os Mármores de Elgin, mas até ao presente momento com pouco sucesso, isto enquanto os ingleses continuam a mostrar-se pouco disponíveis para devolver os mármores.

Na Itália, tudo com mais de cinquenta anos é regulado pelas leis estatais sobre o património e isso reflecte-se, entre outras coisas, sobre o património romano ou as pinturas de Caravaggio, por exemplo, mas também qualquer edifício, obras de arte ou peças de mobiliário como património nacional. Por outro lado, países como a Inglaterra e os Estados Unidos, permitem a venda do património por parte dos privados, mas com a salvaguarda de preferência para o Estado.

Na prática, em países em que o governo do património cultural está entregue a um sistema centralizado, antiquado e que se ressente de sucessivas diminuições do orçamento para o ministério responsável, é quase ingovernável a sustentabilidade de politicas culturais. Este sistema desencoraja a inovação e a capacidade de envolvimento da sociedade civil, enquanto foca a atenção na conservação e preservação, mas não na interpretação da propriedade e herança cultural.

O conceito de Museu Universal transforma-se, em certas circunstâncias, num eufemismo. Ninguém é dono de um Picasso, um Caravaggio, ou uma Vieira da Silva ou Paula Rego, o que realmente interessa é saber «tomar conta de». As pessoas devem poder descobrir-se criativamente no presente e não permanecer na riqueza de um passado armazenado em museus.

Em países como Portugal estamos constantemente a interagir com a nossa herança cultural, seja quando caminhamos pelas ruas das nossas localidades, ou através de caracteres determinantes de uma cultura, como são os usados por Joana Vasconcelos.

Published at NS'165/IN#061, Mercado da Arte (70), (Diário de Notícias N.º 51200 e Jornal de Notícias N.º 273/121), 7 de Março de 2009 Portugal Courtesy: New Acropolis Museum

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