As cativações recentemente anunciadas pelo Ministério da Cultura (MC), de 20% (no Reino Unido a cativação é de 0.5%), representam uma redução do previsto no orçamento para 189 milhões de euros. A cativação de 10% será para os organismos nas áreas do cinema e audiovisual. Os outros organismos dependentes do Ministério da Cultura continuam a sofrem das cativações inicialmente previstas. Enquanto a redução de carácter excepcional, para 12.5%, é isso mesmo, uma redução pontual de 7.5% dependente dos casos apresentados.
Mas sejamos pragmáticos, vamos deixar cair o argumento de que as artes enriquecem a sociedade e enobrecem o nação, que elas curam os doentes e transforma o vicioso em virtuoso, que estimulam a actividade económica e que realmente não custa nada. Já sabemos que estes argumentos não encaixam. Em vez disso, devia-mos centrar o argumento sobre algo mais convincente, como: castigam desproporcionalmente as artes como têm feito e nós trazemos para cima do poder político uma infernal opinião, criada através do meios de comunicação, dos grupos sociais mais mexeriqueiros e da intelectualidade urbana liberal. Por outras palavras, cortem nas artes e é garantido que o poder político ganha rapidamente e durante largos tempos uma imprensa desfavorável e com isso começa a perder votos - e não há nada que os políticos temam mais do que isso.
A Cultura não é um luxo, é componente do desenvolvimento, tanto económico como social. A Cultura não é entretenimento, é na realidade de produção ou é capital para o desenvolvimento. Ao invés, o turismo, que é a base da nossa economia, mata todas outras indústrias, pois mais nenhuma indústria consegue os realizar tantos lucros a curto prazo como este. Mas este facto não permite um desenvolvimento social e económico constante a longo prazo, uma industria capaz de contribuir para o desenvolvimento individual e colectivo das populações.
O programa delineado para o sector cultural pelo partido Socialista, durante as eleições Legislativas de Setembro de 2009, apresentava três compromissos centrais: «reforçar o orçamento da cultura», «assegurar a transversalidade das políticas culturais», e «valorizar o contributo decisivo da criação contemporânea para o desenvolvimento do País». São destacadas três áreas: língua, a herança cultural (Património), as artes e as indústrias criativas e culturais.
No Orçamento de Estado (OE) para 2010 o principal indicador dos apoios públicos para a cultura apresentava um acréscimo de 0.1% no OE relativamente ao ano anterior (de 0.3% em 2009, para 0.4% em 2010), da percentagem disponível para a cultura.
Governo | Ano | % | € (milhões) |
PS | 1998 | 0.6 | 198.1 |
PS | 1999 | 0.6 | 210.2 |
PS | 2000 | 0.6 | 249.1 |
PS | *2001 | 0.6 | 293.8 |
PS/PSD | *2002 | 0.7 | 293.5 |
PSD | 2003 | 0.5 | 255.2 |
PSD | 2004 | 0.5 | 273.4 |
PSD/PS | 2005 | 0.6 | 285.1 [247.5] |
PS | 2006 | 0.5 | 260.5 [254.5] |
PS | 2007 | 0.4 | 242.6 [236.8/224.5] |
PS | 2008 | 0.4 | 246.5 [245.5/217.7] |
PS | **2009 | 0.3 | 212.7 |
PS | 2010 | 0.4 | 236.3 |
Fonte: Ministério das Finanças/DGO, Orçamento de Estado
* Não inclui Comunicação Social
** Não inclui o Sector Empresarial do Estado
Os valores entre [] reportam-se à provisão transferida do OE e recebida pelo Ministério da Cultura de acordo com o Orçamento do próprio Ministério apresentado no ano seguinte à atribuição. Por exemplo, de acordo com o anterior Ministro da Cultura, António Pinto Ribeiro (em entrevista publicada pelo semanário Expresso, a 15 de Novembro de 2008), o valor previsto para a cultura do OE para 2009 era de €254 milhões. Em 2007 e 2008 existem dúvidas sobre qual o verdadeiro valor da provisão pois depende das fontes utilizadas, existem discrepâncias entre o Orçamento de Estado e o Orçamento do Ministério da Cultura, e outras fontes consultadas.
Como referência, o Produto Interno Bruto de Portugal, em 2009, era de 227 mil milhões de dólares (FMI/World Bank)
Ano | Cinema | Teatro | Museus | Bibliotecas | Live Shows | Exposições |
1990 | 9 593 | 327 | 6 317 | 2 037 | 680 | - |
1991 | 8 234 | 302 | 6 578 | 1 769 | 666 | - |
1992 | 7 848 | 361 | 6 596 | 2 120 | 839 | - |
1993 | 7 786 | 192 | 7 202 | 2 098 | 767 | - |
1994 | 7 135 | 411 | 8 292 | 3 507 | 979 | 2 781 |
1995 | 7 397 | 339 | 8 667 | 4 101 | 616 | 2 397 |
1996 | 10 446 | 281 | 8 395 | 4 369 | 655 | 2 028 |
1997 | 13 708 | 232 | 8 286 | 5 885 | 929 | 2 462 |
1998 | 14 837 | 229 | 8 645 | 6 368 | 817 | 3 900 |
1999 | 17 026 | 407 | - | 9 262 | 909 | 3 364 |
2000 | 17 915 | 614 | 7 368 | 9 992 | 2 296 | 3 787 |
2001 | 19 469 | 970 | 8 556 | 12 096 | 2 865 | 4 196 |
2002 | 19 480 | 1 267 | 9 163 | 11 893 | 2 997 | 5 527 |
2003 | 18 723 | 1 281 | 8 922 | 12 794 | 3 356 | 4 918 |
2004 | 18 800 | 1 706 | 8 980 | - | 5 268 | 4 958 |
2005 | 17 165 | 1 746 | 9 725 | - | 7 292 | 5 022 |
2006 | 16 367 | 1 556 | 10 315 | - | 7 248 | 5 544 |
2007 | 16 318 | 1 762 | 9 971 | - | 8 042 | 6 890 |
2008 | 15 979 | 1 850 | 11 648 | - | 9 254 | 8 049 |
A prioridade dos diferentes governos no governo da cultura do país, desde a constituição e implementação do MC, em 1995, esteve centrada na protecção da herança patrimonial, na promoção da leitura e no desenvolvimento de redes nacionais ao nível das actividades e dos espaços – o investimento financeiro na criação Rede Nacional de Teatros e Cine-Teatros, foi um exemplo.
Nos últimos anos, entretanto, os tópicos principais nos debates ficaram centrados nos patrocínios alternativos para o financiamento da cultura (um exemplo é o Programa Cheque-Obra), no preço único para os livros, no apoio a grupos de teatro e outras entidades artísticas, o estatuto legal dos profissionais da cultura, e as provisões legais para a produção de filmes e audiovisual.
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