Sunday, 11 July 2010

Políticas para o Desenvolvimento Cultural

Na crise sistémica global Setembro de 2008 funciona como um landmark de um evento com indícios precursores desde, pelo menos, 2004-2005. Coincidente com os anos em que se começa a ver o início de investimento alternativo em obras de arte de forma mais avultada. Quer em quantidade quer nos valores alcançados. Por outro lado, em tempos de crise e com os mercados financeiros ainda em fluxo, o relatório redigido pela consultora Capgemini SA e pelo banco de investimentos Merrill Lynch &Co. vem evidenciar que o número de milionários no mundo cresceu 17,1% durante ano passado. Em Portugal este número cresceu 5,5% face a 2008. De acordo com a mesma análise a arte surge como a categoria mais popular nos “investimentos de paixão”.

As cativações recentemente anunciadas pelo Ministério da Cultura (MC), de 20% (no Reino Unido a cativação é de 0.5%), representam uma redução do previsto no orçamento para 189 milhões de euros. A cativação de 10% será para os organismos nas áreas do cinema e audiovisual. Os outros organismos dependentes do Ministério da Cultura continuam a sofrem das cativações inicialmente previstas. Enquanto a redução de carácter excepcional, para 12.5%, é isso mesmo, uma redução pontual de 7.5% dependente dos casos apresentados.

Mas sejamos pragmáticos, vamos deixar cair o argumento de que as artes enriquecem a sociedade e enobrecem o nação, que elas curam os doentes e transforma o vicioso em virtuoso, que estimulam a actividade económica e que realmente não custa nada. Já sabemos que estes argumentos não encaixam. Em vez disso, devia-mos centrar o argumento sobre algo mais convincente, como: castigam desproporcionalmente as artes como têm feito e nós trazemos para cima do poder político uma infernal opinião, criada através do meios de comunicação, dos grupos sociais mais mexeriqueiros e da intelectualidade urbana liberal. Por outras palavras, cortem nas artes e é garantido que o poder político ganha rapidamente e durante largos tempos uma imprensa desfavorável e com isso começa a perder votos - e não há nada que os políticos temam mais do que isso.

A Cultura não é um luxo, é componente do desenvolvimento, tanto económico como social. A Cultura não é entretenimento, é na realidade de produção ou é capital para o desenvolvimento. Ao invés, o turismo, que é a base da nossa economia, mata todas outras indústrias, pois mais nenhuma indústria consegue os realizar tantos lucros a curto prazo como este. Mas este facto não permite um desenvolvimento social e económico constante a longo prazo, uma industria capaz de contribuir para o desenvolvimento individual e colectivo das populações.

O programa delineado para o sector cultural pelo partido Socialista, durante as eleições Legislativas de Setembro de 2009, apresentava três compromissos centrais: «reforçar o orçamento da cultura», «assegurar a transversalidade das políticas culturais», e «valorizar o contributo decisivo da criação contemporânea para o desenvolvimento do País». São destacadas três áreas: língua, a herança cultural (Património), as artes e as indústrias criativas e culturais.

No Orçamento de Estado (OE) para 2010 o principal indicador dos apoios públicos para a cultura apresentava um acréscimo de 0.1% no OE relativamente ao ano anterior (de 0.3% em 2009, para 0.4% em 2010), da percentagem disponível para a cultura.

Governo

Ano

%

€ (milhões)

PS

1998

0.6

198.1

PS

1999

0.6

210.2

PS

2000

0.6

249.1

PS

*2001

0.6

293.8

PS/PSD

*2002

0.7

293.5

PSD

2003

0.5

255.2

PSD

2004

0.5

273.4

PSD/PS

2005

0.6

285.1

[247.5]

PS

2006

0.5

260.5

[254.5]

PS

2007

0.4

242.6

[236.8/224.5]

PS

2008

0.4

246.5

[245.5/217.7]

PS

**2009

0.3

212.7

PS

2010

0.4

236.3


Fonte: Ministério das Finanças/DGO, Orçamento de Estado

* Não inclui Comunicação Social

** Não inclui o Sector Empresarial do Estado

Os valores entre [] reportam-se à provisão transferida do OE e recebida pelo Ministério da Cultura de acordo com o Orçamento do próprio Ministério apresentado no ano seguinte à atribuição. Por exemplo, de acordo com o anterior Ministro da Cultura, António Pinto Ribeiro (em entrevista publicada pelo semanário Expresso, a 15 de Novembro de 2008), o valor previsto para a cultura do OE para 2009 era de €254 milhões. Em 2007 e 2008 existem dúvidas sobre qual o verdadeiro valor da provisão pois depende das fontes utilizadas, existem discrepâncias entre o Orçamento de Estado e o Orçamento do Ministério da Cultura, e outras fontes consultadas.

Por outro lado, os indicadores sociais estatísticos apresentados pelo INE, em 2008, mostram que as despesas em cultura por parte das autoridades públicas locais, entre 2002 e 2007, mantiveram uma tendência constante de aproximadamente 1.1% do Produto Interno Bruto, com excepção de 2006 (1.0%). Enquanto, analise também efectuada pelo mesmo instituto estatístico ao total de despesas com a cultura pela famílias portuguesas mostra a inexistência de alterações significativas de aproximadamente 4.1% do PIB até 2003. Contudo, desde esse ano existe uma tendência crescente (4.5% em 2006).

Como referência, o Produto Interno Bruto de Portugal, em 2009, era de 227 mil milhões de dólares (FMI/World Bank)

Ano

Cinema

Teatro

Museus

Bibliotecas

Live Shows
(excepto teatro)

Exposições

1990

9 593

327

6 317

2 037

680

-

1991

8 234

302

6 578

1 769

666

-

1992

7 848

361

6 596

2 120

839

-

1993

7 786

192

7 202

2 098

767

-

1994

7 135

411

8 292

3 507

979

2 781

1995

7 397

339

8 667

4 101

616

2 397

1996

10 446

281

8 395

4 369

655

2 028

1997

13 708

232

8 286

5 885

929

2 462

1998

14 837

229

8 645

6 368

817

3 900

1999

17 026

407

-

9 262

909

3 364

2000

17 915

614

7 368

9 992

2 296

3 787

2001

19 469

970

8 556

12 096

2 865

4 196

2002

19 480

1 267

9 163

11 893

2 997

5 527

2003

18 723

1 281

8 922

12 794

3 356

4 918

2004

18 800

1 706

8 980

-

5 268

4 958

2005

17 165

1 746

9 725

-

7 292

5 022

2006

16 367

1 556

10 315

-

7 248

5 544

2007

16 318

1 762

9 971

-

8 042

6 890

2008

15 979

1 850

11 648

-

9 254

8 049


A prioridade dos diferentes governos no governo da cultura do país, desde a constituição e implementação do MC, em 1995, esteve centrada na protecção da herança patrimonial, na promoção da leitura e no desenvolvimento de redes nacionais ao nível das actividades e dos espaços – o investimento financeiro na criação Rede Nacional de Teatros e Cine-Teatros, foi um exemplo.

Nos últimos anos, entretanto, os tópicos principais nos debates ficaram centrados nos patrocínios alternativos para o financiamento da cultura (um exemplo é o Programa Cheque-Obra), no preço único para os livros, no apoio a grupos de teatro e outras entidades artísticas, o estatuto legal dos profissionais da cultura, e as provisões legais para a produção de filmes e audiovisual.

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