"Uma obra de arte é uma obra de cultura", diz o director da galeria do Rio de Janeiro
Como é que a arte pode de alguma forma dialogar com a vida, com o quotidiano enquanto veículo educativo? A imagem pré-concebida alimenta a asserção de um universo à margem das diferentes políticas sociais, e na história e crítica da arte a do permanente questionamento sobre as classificações elitista e popular. De acordo com Márcio Botner (director da A Gentil Carioca, no Rio de Janeiro, juntamente com Laura Lima e Ernesto Neto) “uma obra de arte é uma obra de cultura, irradia cultura, seja na rua ou através de uma colecção (privada ou exposta em museus públicos).” Para além de artista e galerista, Botner também é professor de arte, vice-presidente de uma escola de arte, e coordenador de projectos de intervenção sócio-educacional. Márcio Botner vê “a potência da arte e da cultural como essa manifestação, e essa possibilidade de poder mudar um pouco a sociedade.”
Desde 2003, a A Gentil Carioca cresceu com sustentabilidade e em contínuo. Situada numa zona histórica caracterizada pela mistura de culturas (árabe, judia e mais recentemente a chinesa), o espaço criado pelos três artistas apresenta uma capacidade de se misturar e de, através dessa mistura, criar um potencial para intervir socialmente. “Uma das responsabilidades da Gentil é de lançar jovens artistas,” afirma Márcio Botner, para além da promoção dos artistas no mercado da arte através de exposições, participações em ferias, e na promoção de eventos e outros projectos com impacto na sociedade brasileira.
Por exemplo, com o projecto Parede Gentil, a Gentil começou a tornar pública a sua atenção para com a educação. “Este projecto apresenta a preocupação em tocar numa questão tão importante como a educação,” diz Márcio Botner, por um lado, “como comunicar directamente com o público que passa na rua, que não estudou arte ou que não tenha estudado de facto, e não entra no espaço da Gentil,” enquanto por outro, “incentivar a questão do coleccionismo.” Conforme explica Márcio Botner, “sempre procuramos um coleccionador para ajudar, com um determinado valor sem retorno, o projecto da Gentil, mas em contrapartida o coleccionador vê o seu nome valorizado no mercado ao surgir como patrocinador de um trabalho com cariz educacional, quer espelhado no objecto, quer pelos diferentes meios de publicidade.”
Também, e conjuntamente a cada nova exposição inaugurada na A Gentil Carioca, através do projecto Camisa Educação “a Gentil convida um artista a fazer uma camisa com a palavra educação inscrita – para esta afirmação participar no projecto. A educação é o que move o projecto,” assegura o artista e um dos directores da A Gentil Carioca.
Os coleccionadores são o espelho para outros coleccionadores que pretendem ingressar no mercado da arte. Desta forma, Márcio Botner defende a necessidade de formar e educar novos coleccionadores da mesma forma como se educa o gosto do povo para a arte, para “começarem a perceber a importância dos coleccionadores como agentes no sistema das artes.” Esta importância é transmitida quer por “começarem a entenderem que a sua acção se inicia nas escolhas de uma colecção que legitima um tempo histórico, mas ao mesmo tempo, também ele como pessoa, encontre um agente político transformador da cultura actual.”
Published at NS'/IN, Mercado da arte (78), (Diário de Notícias e Jornal de Notícias), 10 de Janeiro de 2009 Portugal © Vista da Parede Gentil com o projecto do artista cubano Carlos Garaicoa, e na fachada da galeria a escultura da Laura Lima para a exposição Fuga; Laura Lima, Restaurante Belvedere (escultura), exposição Fuga 2008 Photo Paulo Innocêncio Courtesy A Gentil Carioca, Rio de Janeiro
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