O Centre national des artes plastiques [Cnap] é um dos principais operadores da política do ministério da Cultura e da Comunicação, no domínio das artes visuais, de França. O equivalente em Portugal à Direcção-Geral das Artes. Como actor cultural e económico, o Cnap incentiva o universo artístico em toda a sua diversidade, e acompanha os artistas assim como os profissionais através de vários mecanismos de ajudas e benefícios. Este ano adquiriu 67 obras de arte só nos domínios da fotografia e do vídeo. Apesar do momento de "crise" pelo qual estamos todos a passar o orçamento global disponível para aquisições foi de €500 mil (o orçamento total para aquisição, em 2009, só em fotografia, foi de €391 mil).
As aquisições são sobretudo de obras de artistas franceses ou residentes em França. A grande maioria dos artístas é representado por uma galeria francesa. Mesmo assim, a selecção de obras entretanto adquiridas para a colecção procura também reflectir a riqueza da criação artística actual, ao realizar uma incursão por outros mercados, como o Inglês, o Holandês, o Espanhol ou o Alemão (Max Wigram Gallery de Londres, Grimm Gallery de Amsterdam, Àngels Barcelona de Barcelona, e Klemm's de Berlim, por exemplo), e comprar obras de artistas contemporâneos a negociantes sediados nesses mercados (Marine Hugonnier, Matthew Day-Jackson, Harun Farocki e Sven Johne respectivamente).
A comissão de aquisições (eleita por dois anos) é composta por directores de instituições públicas e de museus, e outras personalidades reconhecidas pelas suas competências, como directores de escolas de belas artes, coleccionadores, artistas, ou críticos de arte.
A primeira questão reside na existência de uma colecção de arte contemporânea que é dinâmica no seu conteúdo, por continuarem a ser adquiridas obras de arte, independentemente se estamos a atravessar um momento de 'crise' ou por outra qualquer razão; por outro lado, existe uma responsabilidade em implementar uma política cultural no domínio público, neste caso, o francês, e de promover o acesso a todos os públicos à arte contemporânea. A segunda questão prende-se com os princípios básicos de mercado - a injecção de fundos públicos no mercado das artes, que também é público, de uma forma constante e sustentável permite mais do que 'sobrevivência' desse mesmo mercado, permite ao universo artístico continuar a florescer (mesmo em períodos de menor disponibilidade financeira).
Enquanto a nível nacional se procede a uma diminuição do orçamento global disponível para a Cultura, em específico, e a inexistência e a renuncia sobre qualquer forma de política para a cultura, em geral, muito se pode aprender e consumir deste pequeno exemplo de governação. Seja a nível das aquisições de obras como coleccionador, seja a nível da participação no mercado ao introduzir e permitir uma fluidez económico-financeira, ou ainda ao preservar para o futuro a memória colectiva de uma comunidade ao adquirir o que melhor a reflete - a arte contemporânea - e por último, a construção de uma política cultural que perdure para além da efemeridade do titular da pasta.
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