Tuesday, 14 August 2012

Interview : Joana Bastos

O conjunto de entrevistas agora iniciado, para o programa MoldurasAntena 2, RTP, centra-se no campo da prática artística contemporânea neste período da globalização e nos dilemas do paradigma actual. Esta série de entrevistas consiste numa única questão, colocada a artistas contemporâneos, nacionais e internacionais, sobre como estes testam as condições políticas, em particular as estruturas económicas. Ou seja, de que forma é que a prática artística corrente informa sobre os processos de globalização, e durante o processo transforma e faz visível as condições políticas da sociedade contemporânea. No caso da Joana Bastos (Lisboa, 1979) a resposta foi apresentada na forma de uma proposta para uma acção.


RGC: De que forma é que na tua prática controlas e informas sobre a noção de 'economia' e 'códigos culturais'?

Joana Bastos:
Proposta: Cinzento ou Sem Vergonha, 2012 –

Cinzento, preto e branco catalogam diferentes tipos de mercado. O mercado negro é o comércio de mercadorias ilegais e/ou roubadas. O mercado branco é o comércio de bens legítimos. O mercado cinzento - também conhecido como mercado paralelo - comercializa quaisquer produtos.

Os trabalhadores não-assalariados ou com baixos salários (ex.: artistas, galeristas, curadores, agentes, trabalhadores por conta própria) - ou os profissionais mais bem pagos (ex. artistas, galeristas, curadores, agentes, trabalhadores por conta própria) – trabalham no mercado paralelo, fugindo aos impostos – uns por sobrevivência, outros (porque sépticos ou desacreditados do sistema político) para viverem as suas vidas. Os trabalhadores contratados não têm escolha senão pagar os impostos que lhe são devidos, uma vez que estes são automaticamente deduzidos no ordenado.

Esta economia “escondida” e em crescimento acelerado, verifica-se sobretudo nos países do Sul da Europa, onde a falta de transparência parece ser já intrínseca. A estratégia e/ou hipótese, pela parte do Estado, para contornar o incumprimento do pagamento de impostos, tem sido aumentar impostos, o que parece promover mais fuga, evasão fiscal e/ou o desenvolvimento de uma contra-economia1.

Para a exposição Our Work Is Never Over2, a par com a peça Next Money Income?3, previamente escolhida para ser integrada na exposição, proponho uma situação de mercado paralelo. Estabelecer-se-há uma narrativa entre a peça Next Money Income? que dá entrada à exposição, o fee de artista e esta acção que, pela sua natureza, quer-se inacabada e aberta.

No contexto artístico (a exposição decorre numa nave do Matadero, Madrid), proponho, com esta acção, interceptar qualquer pessoa e/ou espectador, dentro e fora do espaço expositivo, desafiando-o/a a uma troca direta, sem vergonha.

Trarei mercadorias, bens, produtos, tanto pessoais bem como obtidos de quaisquer trocas passadas.
A acção não será anunciada nem na folha de sala nem na programação, apenas no catálogo (ponto em que terá mais visibilidade e leitura).

O público, activa ou passivamente, accionará a minha proposta.


Our Work Is Never Over Photoespanha 2012 (colectiva)
Comissariado por Yael Messer
Inauguração | 7 Junho 2012 | 5f | 21h
07.06.2012 - 26.08.2012 | 3f a Domingo
Matadero Madrid? Nave 16 Plaza de Legazpi, 8, 28045 Madrid, ES
Imagens: Courtesy The Artist, 2012

1 Contra-Economia é um termo originalmente utilizado por Samuel Edward Konkin III e Neil J. Schulman, activistas teóricos libertários. Konkin definiu a contra-economia como "o estudo e/ou prática de toda acção humana pacífica que é proibida pelo Estado." Em http://pt.wikipedia.org/wiki/Contra-economia
2 Exposição colectiva comissariada por Yael Messer, no âmbito da Photoespaña 2012, Junho 2012.

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