Monday, 1 December 2008

Quando o espaço para expor é secundário

Experiência da Kurimanzutto define novos conceitos de galeria

Para criar um espaço onde os artistas possam desenvolver a sua carreira, os seus projectos, e ideias, a denominação Galeria é limitativa, devido às conotações económicas e aos mecanismos de exposição e discursos que envolvem as disposições cénicas nestes espaços. José Kuri conjuntamente com Mónica Manzutto e Gabriel Orozco procuraram alternativas, opções para fazer projectos, enquanto existisse como ponto de reunião. Em Agosto de 1999 nasceu a Kurimanzutto. Depois de uma existência nómada, inauguram, hoje, o novo espaço, na Cidade do México.

A condição embrionária da Kurimanzutto, foi, para José Kuri, a de “propor um modelo único, que responde-se às qualidades e características muito próprias dos artistas e do seu processo de criação. Isto deu-nos um inside muito importante, um comportamento cúmplice com os artistas, com o que estão a fazer.” E complementa, nesta condição “o mais importante numa galeria é a arte e os artistas, o espaço é secundário. O que nos interessa é abrir o tempo da arte, não o espaço. O não ter um espaço abre outras possibilidades – se não existe um mercado, porquê abrir uma galeria, porquê abrir uma loja se não tem sentido económico? O que realmente nos interessa é o que acontece na rua, nos espaços alternativos, o que os artistas propõem.”

Como defende José Kuri, “a arte é fundamental para entender a realidade em que vivemos; a arte gera conhecimento, ciência. Seja pelas pronunciações estéticas, ou pela força que transmite na compreensão da realidade.” Esta tem o poder, a capacidade de transformar nem que seja uma única pessoa. E uma pessoa pode transforma uma sociedade.

Ao nível do coleccionismo, no México, existem poucos mas bons (informados e conhecedores). Para a Kurimanzutto são fundamentais, pois “uma galeria cresce com uma geração de artistas, mas também com uma geração de coleccionadores. Um galerista quer colecções que falem dos artistas, depois de alguns anos sejam o espelho de uma época. Por isso é bom trabalhar com poucos, mas que estes também sejam bons coleccionadores – com paixão, conhecimento e saber preservar as obras para além do ímpeto económico ou das modas.”

No México, o mercado da arte é muito pequeno – as instituições públicas não compram –, explica José Kuri, “do qual não dependemos, pois vendemos 90% para coleccionadores internacionais, e só 10% para o mercado interno.” Neste contexto, os Estados Unidos e a Europa representam a maior percentagem de compradores de peças dos artistas representados pela Kurimanzutto. Nomeadamente museus ou outras instituições públicas e privadas. Por exemplo, as obras de Damián Ortega, Gabriel Orozco ou Jimmie Durham podem ser encontradas na colecção de João Oliveira-Rendeiro, ou na Fundação de Serralves.

Actualmente, alguns dos artistas têm um calendário de exposições programadas para dois ou três anos. “Os artistas necessitavam de um centro de gravidade, como um ponto nevrálgico. Mas, de todas as formas, continuamos a considerar a cidade como a nossa galeria.” Há que entender esta nova realidade e trabalhar com ela. Assim, ”o novo espaço da Kurimanzutto agrega uma outra dimensão ao trabalho que fazem”, explica Kuri. Servir como ponto intermédio entre o emergente e o estabelecido.

Published at NS'/IN, Mercado da arte (54) (Diário de Notícias e Jornal de Notícias), 29 de Novembro de 2008 Portugal © Damián Ortega, El cotidiano alterado, Vista da instalação na 50ª Bienal de Veneza, 2003 Courtesy Kurimanzutto

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