Crítico e curador brasileiro, Adriano Pedrosa descreve a sua experiência no mundo da arte
«Eu penso, escrevo sobre arte diariamente. Questiono sistematicamente. A arte é isso.» É um permanente conflito de campos interpretativos, «e quando se descobre uma fórmula para se fazer as coisas, quando se encontra essa fórmula, já estamos errados.» Desta forma se posiciona no mundo da arte o crítico e curador brasileiro Adriano Pedrosa.
A nível pessoal, esclarece Adriano Pedrosa sobre o acto selectivo, o processo de justificação é fundamentado através da interpretação da peça, da leitura do assunto referente, razões pelas quais uma determinada obra é relevante, «geralmente tem algum tipo de complexidade, um jogo poético, ou um jogo conceptual, o acaso não entra no processo de avaliação e de decisão.»
Naturalmente, as questões sobre o belo e gosto também fazem parte do processo, mas «existem sempre como uma justificação mais fundamentada, que não é necessariamente teórica, mas é discursiva.»
A nível da arte concebida no Brasil, «nos últimos anos fala-se muito do elemento da gambiarra (palavra utilizada para expressar uma solução, improvisada e precária, para um determinado problema prático no material). Este elemento, de improvisação material – vivida ou transformada – pode ser associado à arte brasileira.» Mas isto é propor uma interpretação muito restrita do que pode ser a arte brasileira, esclarece o crítico e curador brasileiro.
Actualmente, «existe um conjunto de artistas estrangeiros que lidam com a questão do neoconcretismo, com referência explícita a Lígia Clark, Hélio Oiticica ou Lígia Pape.» Neste caso, os artistas apropriam-se de outras obras de arte para fazer comentários sobre a história da arte. Por exemplo, Picasso desafiou o passado ao trabalhar sobre as obras de Velázques, de Delacroix, de Manet ou de Degas; mais recentemente, o mexicano Damián Ortega, apropriou-se de uma pintura de Lígia Clark para conceber uma série de peças.
A diferença na visão contemporânea está no aspecto híbrido e liberal apresentado. Nas múltiplas formas de interpretação e da origem do pensamento. Ou seja, enquanto o viajante moderno – na tradição das Grand Tours do século XVII onde indivíduos percorriam a Europa à procura de objectos exóticos, raros ou estranhos para os seus gabinetes de curiosidades (predecessores dos museu) – faz o relato do que é diferente e infere para inferioridade da cultura local como um todo labiríntico (como um único caminho, com uma única interpretação), as peças contemporâneas discursam sobre o transrelacionamento e as múltiplas influências na história da arte, em particular, e nas identidades culturais, em geral. Um discurso caracterizado como pós-colonial.
Adriano Pedrosa começou a fazer a curadoria de exposições enquanto frequentava o MFA, na CALART (Califórnia, EUA). Em 1998, foi convidado como curador-adjunto de Paulo Herkenhoff, para a 24. Bienal Internacional de São Paulo (Brasil); em 2005 integrou o júri do Prémio Hugo Boss. Presentemente está a conceber a curadoria da exposição Panorama da Arte Brasileira, organizada pelo Museu de Arte Moderna de São Paulo e celebrada de dois em dois anos.
Published at NS'169/IN#65, Mercado da Arte (70), (Diário de Notícias N.º 51133 e Jornal de Notícias N.º 307/121), 4 de Abril de 2009 Portugal Foto Hélio Oiticica, Grande Núcleo (óleo e resina sobre madeira), 1960-66 Courtesy César e Cláudio Oiticica Collection, Rio de Janeiro
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