"O objecto, como peça de arte, não tem de ser bonito; tem é de dizer coisas importantes"
A força da arte está em que ela chega do exterior para fragmentar os constrangimentos éticos e morais, questionar as classificações e necessidades contemporâneas, enquanto abre novas perspectivas, cria novos modos de ver o exterior sem qualquer condicionalismo. Para Juana de Aizpuru (directora da galeria homónima, em Espanha), “a arte é vida, e falar da arte é falar da vida.” E acrescenta, “a arte não pode modificar o mundo, mas pode alterar a mentalidade de aqueles que podem alterar o mundo, as escalas de valores que movem o mundo.”
O objecto, como peça de arte, “não tem de ser bonito, reger-se pelos padrões clássicos do belo, mas ‘dizer’ coisas importante. As quais, nós – os observadores – temos de escutar, e saber ouvir. O artista comunica sentimentos, que nos forçam a pensar, a reflectir para que a convivência entre os seres humanos seja o mais importante.” Na sua convivência com obras de arte, independentemente da sua beleza, Juana de Aizpuru sabe que existem outras camadas de informação a um nível mais profundo, muito mais interessantes e enriquecedoras, as quais reflectem as preocupações contemporâneas de uma forma que devemos absorver, adoptar, enquanto passamos um bom momento acompanhado por estes objectos.
O artista contemporâneo, conforme expressa Aizpuru, “não se ergue para conceber objectos belos, mas sim expressar sentimentos.” As pessoas estão enredadas num momento civilizacional de crescente predomínio da homogeneização cultural e tendências materialistas; de expressão global; crescentemente mais informada mas de menos cultura; cada vez mais se abandonam as paixões, o afecto. “O artista hoje tem um papel diferente quando comparado com o do renascimento, por exemplo; ele possui a capacidade de nos dar as pautas do individualismo, de sermos indivíduos, singulares.” E não mais uma expressão num corpo, numa máquina desprovida de qualquer sentimento e valor humanista.
Na sociedade contemporânea o mercado é quem manda, sustenta Aizpuru. “Hoje, as pessoas viajam para consumir, não para compreender – viaja-se à China ou à Índia, mas vai-se para consumir, não para contactar, adoptar ou enriquecer-se o ser humano com aquelas culturas.” O que se vai procurar em Xangai pode ser encontrado nos Estados Unidos, em França ou em Portugal: os mesmos artistas, os mesmos restaurantes, as mesmas tendências, as mesmas experiências.
Juana de Aizpuru dedica-se a “promover os artistas, a aplanar o seu caminho para que o seu trabalho sejam o mais fácil possível.” Desta forma, o seu agenciamento no mercado da arte está na condição de “que as obras produzidas pelos artistas cheguem da forma mais fácil e rapidamente aos seus destinatários, o público e os coleccionadores, quer públicos quer privados.” Aizpuru reforça a ideia de que “um bom coleccionador não é o que só compra obras, mas também o que as preserva. Um coleccionismo assente no amor à arte e pelo conhecimento.”
Mas, evidentemente, uma parte da promoção como galerista é a venda, é “poder colocar as obras em museus importantes e nas melhores colecções.” A arte floresce e triunfa não como um hobby, um investimento, ou uma carreira, mas como o que é e o que foi – uma vida, defende ainda Juana de Aizpuru.
Published at NS'/IN, Mercado da arte (54) (Diário de Notícias e Jornal de Notícias), 22 de Novembro de 2008 Portugal © Alberto Garcia Alix, La Gata, 2001 Courtesy Galeria Juana de Aizpuru
Subscribe to:
Post Comments
(
Atom
)
No comments :
Post a Comment