Monday, 3 May 2010

Media Art, matérias concebidas no tempo

Entrevista com a coleccionadora norte-americana Pamela Kramlich sobre obras artísticas que têm como suporte vídeos, filmes, gravações áudio e instalações apresentadas em computadores.

Em 1987, os coleccionadores norte americanos Pamela e Richard Kramlich criaram o New Art Trust, uma fundação sem fins lucrativos criada para promover a colecção, a salvaguarda e a exposição de media art. No início do milénio, os coleccionadores, em conjunto com Museu de Arte Moderna de São Francisco (SFMOMA), EUA, associaram-se ao Museu de Arte Moderna (MoMA), de Nova Iorque, e à Tate Gallery, de Inglaterra, e criaram o programa de pesquisa Matters in Media Art. Para Pamela Kramlich, este é «um projecto multi-faseado desenhado para providenciar as linhas orientadoras para o zelar de obras de arte concebidas num suporte com base no tempo».

Time-based media works of art são obras concebidas por ferramentas usadas normalmente no armazenamento e distribuição de informação ou dados – vídeos, filmes, áudio e computadores, por exemplo. Como diz a coleccionadora, este género de obras de arte exige uma abordagem pró-activa na sua preservação e gestão, mas também levanta questões sobre a propriedade da obra devido à sua capacidade de ser reproduzida, atributo bastante distinto do das pinturas ou das esculturas. A Matters in Media Art reúne obras de Bill Viola, Bruce Nauman, Doug Aitken, Eija-Liisa Ahtila, Matthew Barney, Nam June Paik, Pipilotti Rist ou Stan Douglas, entre outros.

Pode dar uma breve descrição da sua colecção de media, em especial onde reside o valor na media arte?
Nós começamos a construir a nossa colecção em 1987, depois de visitarmos a Documenta VIII [realizada de cinco em cinco anos em Kassel, na Alemanha, a Documenta é uma das mais importantes exposições de arte moderna e contemporânea; a próxima está prevista para o Verão de 2012], num período em que a colecção de obras concebidas em suportes com base no tempo era inédito. Deste então expandimos a colecção. Actualmente inclui mais de trezentas obras de mais de sessenta artistas internacionais. Esta é uma colecção de índole histórica que irá beneficiar as gerações futuras.

Como é lidar com a preservação e apresentação de obras «concebidas num suporte com base no tempo»?
Em 1997, criamos o New Art Trust com o objectivo de promover media art, fosse através do apoio à pesquisa ou na concessão de bolsas de estudo para este campo em particular. Na Primavera de 2005, os membros da Trust – MoMA, SFOMA e Tate – associaram-se para lançar em conjunto o Matters in Media Art, um projecto multifaseado desenhado para providenciar as linhas orientadoras para cuidar de obras de arte concebidas com um suporte temporal. Por exemplo, vídeo, filmes, áudio e instalações apresentadas em computadores.

Quais são os grandes desafios da media art e dos artistas contemporâneos que utilizam este meio como forma de expressão?
O maior desafio dos artistas de obras baseadas no tempo é a preservação do seu trabalho a longo prazo. Este continua a ser um território relativamente novo e ainda inexplorado.

Qual é o papel que a media art pode desempenhar na sociedade contemporânea?
Um dos nossos interesses na arte electrónica resulta do compromisso de apoiar a prática artística e a crença no potencial das novas tecnologias – filmes, vídeo, imagem digital, e software de edição/composição – como uma ferramenta de expressão.

Existem ligações entre arte e gastronomia?
Ambas são artes baseadas em sensações: ver, ouvir e tocar.

Qual o vinho que lhe trouxe as memórias mais interessantes?
Madeira, de 1890, devido à sua história, à complexidade nos níveis de sabores, um nariz belo e exótico.

E qual a peça de arte que lhe provocou o mesmo efeito?
I N I T I A L S (1993-94), de James Coleman, pelo seu poder de provocar a imaginação de cada pessoa individualmente.

Published at NS'225/IN#121, Mercado da Arte (68), (Diário de Notícias N.º 51523 e Jornal de Notícias N.º 334/122), 1 de Maio de 2010, Portugal. Bill Viola, The Greeting, 1995. Video/sound installation (430 x 660 x 780cm), Color video projection on large vertical screen mounted on wall in darkened space, amplified stereo sound. Performers: Angela Black, Suzanne Peters, Bonnie Snyder. Photo: Kira Perov. Courtesy: Bill Viola Studio LLC

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