As oportunidades surgem quando os mercados se encontram mais voláteis.
Apesar de parecer contra intuitivo este é o momento ideal para se encontrar as verdadeiras obras de arte à venda. Uma das razões para esta tendência natural do mercado está no facto de que os mais ricos continuam a prosperar – é ver, por exemplo os lucros obtidos e os prémios que continuam a ser atribuídos aos gestores das grandes empresas, quer a nível nacional quer internacional – enquanto a classe média começa a sofrer com a diminuição da actividade financeira e a incerteza económica. Mas também significa que o mercado não está entupido com produtos de qualidade duvidosa e valores extrapolados por instigadores financeiros à procura do bónus fácil.
Grande parte das vendas de referência que ficaram para a história, durante o século XX, foram em períodos económicos maus: Adoração dos Magos (1481-82), de Botticelli, durante a Grande Depressão, na década de vinte do século passado; Juan de Pareja (1650), de Diego Velázquez, durante a crise do petróleo dos anos setenta; Juliet and Her Nurse (1836), de J. M. W. Turner, na crise do consumo em 1980; ou o Retrato de Dr. Gachet (1890), de Vincent van Gogh, na crise bancária e monetária, em 1990, são alguns exemplos.
Recentemente, em Abril, o leilão especial organizado pelo Palácio do Correio Velho, em Lisboa, resultou em mais de um milhão de euros, um serviço de jantar em porcelana chinesa foi arrematado por 115 mil euros.
Um outro exemplo, com a moral inflacionada pelos recentes recordes, quer no segmento dos grandes mestres (Head of a Muse, de Rafael), em Dezembro de 2009, quer no segmento da arte moderna (L’Homme Qui Marche I, de Alberto Giacometti, e Nude, Green Leaves and Bust de Picasso), em Fevereiro e Maio deste ano, respectivamente, as casas leiloeiras antecipam um incremento dos preços da arte contemporânea para valores equivalentes aos praticados antes do colapso dos mercados financeiros. Ou seja, em seis meses, o recorde para uma obra em leilão foi superado mais vezes do que durante todo o período de euforia especulativa, entre 2005 e 2008. Traduzido, actualmente a expectativa está em mais de metade dos lotes oferecidos no leilão de arte do Pós-Guerra e Contemporânea na Christie’s, de Nova York, ultrapassar a linha do um milhão de euros para o valor mínimo estimado.
O ruído especulativo desapareceu e quem compra está concentrado no objecto de arte. As oportunidades surgem quando os mercados se encontram mais voláteis e os segmentos de topo do mercado da arte são, neste contexto de crise, os mais apetecíveis e procurados.
Published at NS'228/IN#124, Mercado da Arte (70), (Diário de Notícias N.º 51544 e Jornal de Notícias N.º 355/122), 22 de Maio de 2010, Portugal. Diego Velazquez, Juan de Pareja (óleo sobre tela, 81,3x69,9cm), 1650. Courtesy: The Metropolitan Museum of Art, Nova Iorque.
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