Consultora Valerie Kabov denuncia a especulação dos gestores financeiros, que destrói os valores das peças de arte.
Durante a última década, a exposição pública do mercado internacional da arte, com valores continuamente superados em leilões e apresentados pelas galerias, obscureceu e esbateu as fronteiras entre valor e preço da arte. Indivíduos mais interessados no lucro do que na arte introduziram no mercado um constante crescimento dos preços de obras de arte, «muitas pessoas que não entendem nada sobre arte mas que sabem muito sobre mercado e com dinheiro disponível» povoaram o universo artístico, pouco preocupadas com a qualidade da arte e de onde provinha, esclarece Valerie Kabov, consultora de arte.
Presentemente a realizar um doutoramento em História da Arte na Sorbonne, Paris 1 (França), sobre as relações entre política cultural, o mercado da arte e a recepção e envolvimento com arte contemporânea, Valerie Kabov defende que «o mercado não entende arte, o mercado sabe sobre preço. O mercado compreende oportunidades, mas não o que realmente valoriza arte, porque o mercado não tem tempo para aprender sobre arte». Por oposição, os que advogam a arte «têm esse tempo para compreender o que faz o valor da arte». Assim, quando a arte mais importante é apresentada ao mercado é apresentada com o valor apropriado. «O que os gestores financeiros, e não só, fizeram foi comprar peças de arte e vendê-las passado um ano, isso é especulação. Não contribui para o valor, na verdade, destrói o valor». E conclui: «isto foi o que aconteceu de errado no mercado.»
Um caso paradigmático é o colapso do mercado da arte contemporânea chinesa, quando o mercado da arte originária do Médio oriente não seguiu o mesmo percurso. Conforme explicou a consultora em conversa, «a razão da diferença entre o mercado chinês e o Médio Oriente está em que a arte contemporânea chinesa, reconhecível e de fácil relacionamento, é uma arte focalizada no público ocidental, os gestores de recursos ou de capitais, basicamente, os compradores. Enquanto a arte contemporânea do Médio Oriente não aspira unicamente a este mesmo público, é apoiada por compradores tradicionais, os compradores árabes, mas também fala sobre valores Islâmicos».
Por exemplo, os óleos sobre tela, de Zhang Xiaogang (1958, China), apresentam sob um fundo cinzento sempre as mesmas figuras melancólicas, ocasionalmente uma mancha evidencia-se em toda a composição; ou as pinturas de Yue Minjun (1962, China), faces sempre com grandes sorrisos, oferecem-se quase como uma lembrança alternativa excessivamente cara.
Com excepção de Londres e Nova Iorque, todos as restantes cidades internacionais consideram-se na periferia do mercado da arte. Para Valerie Kabov, este facto deve-se ao fenómeno do mercado. Os centros mais importantes eram onde decorriam as maiores vendas». De acordo com avaliação feita pela consultora Artprice.com, em 2008, os Estados Unidos e o Reino Unido representavam 71.3 por cento, mais de dois terços, e a china com 7.2 por cento do mercado de peças de arte vendidas em leilões, internacionalmente.
Relativamente às oportunidade neste novo paradigma, o mercado de arte contemporânea vai «estar atento aos artistas em meio de carreira. Os que durante os últimos anos não estiveram no centro das atenções, os que realmente continuaram a conceber trabalhos com qualidade, mesmo quando ninguém estava a prestar atenção. Porque agora é que eles estão a produzir os seus melhores trabalhos».
Published at NS'187/IN#083, Mercado da arte (62), (Diário de Notícias N.º 51259 e Jornal de Notícias N.º 68/122), 8 de Agosto de 2009 Portugal © Yue Minjun, Gweong-Gweong, 1993-97 Courtesy Christie's 2009
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