No primeiro semestre de 2009, Paris apresentou receitas em leiloes superiores às de Londres ou Nova Iorque.
Em 2008, os mercados de arte mais dinâmicos trocaram de posição: o Reino Unido destitui os Estados Unidos do primeiro lugar, ao reposicionar a Europa como a capital do mercado de arte, enquanto a China superava a França no terceiro lugar, com 7,2% das receitas em leilão. No entanto, neste últimos meses, Paris mostrou uma resiliência extraordinária à contracção visível dos outros mercados. Durante o primeiro semestre de 2009, a capital francesa apresentou valores de receitas em leilões de arte superiores aos de Londres ou Nova Iorque.
Muito desta capacidade de resistência da capital francesa à contracção mundial dos preços de obras de arte contemporânea deve-se ao facto de Paris (e a França em geral) ter essencialmente um mercado de gama alta mais reduzido quando comparado com os outros países e, portanto, ser menos especulativo por natureza (convém relembrar que nesses três mercados os preços de obras de arte contemporânea e moderna aumentaram muito rapidamente, incluindo os valores para obras de qualidade medíocre), e à venda de colecções privadas de figuras públicas, como a de Pierre Bergé-Yves Saint-Laurent, em Fevereiro, pela leiloeira Christie’s. Esta resultou em €373.9 milhões para os 656 lotes disponíveis (valor equivalente a 53,3% das receitas totais dos leilões na França, em 2008): Henri Matisse Les Coucous, Tapis Bleu et Rose (1911), estimado em €12 milhões, foi vendido por €32 milhões, ou Composition avec Bleu, Rouge, Jaune et Noir (1922) de Piet Mondrian, estimado em €7 milhões, alcançou um valor superior a €19 milhões, por exemplo; ou, ainda, o leilão de arte contemporânea na Sotheby’s de Paris, em Maio, que encontrou compradores para 95,2% dos lotes em oferta, o qual resultou num total de €9 milhões, para um estimado entre €5.6 milhões e €7.8 milhões.
Paralelamente, as leiloeiras francesas também produziram resultados notáveis. Em Junho, a casa J.J. Mathias, Baron Ribeyre & Associés, Farrando-Lemoine, através da leiloeira parisiense Drouot Richelieu, venderam uma escultura de August Rodin, Le Penseur (1882-1917, com 72,5cm), por €2 560 000 (sem comissões, e estimado em €400 mil), um recorde mundial para um Pensador do autor.
A quota francesa do mercado de arte foi progressivamente desgastada desde a década de cinquenta, quando esta era a localização mundial dominante e as vendas da Drouot superavam as da Sotheby’s e da Christie’s combinadas. É um facto que muito do declínio do mercado francês, nestas últimas décadas, se deveu à dificuldade e falta de capacidade francesa em responder adequadamente às novas práticas num mercado juridicamente liberalizado, nomeadamente com a criação de um sistema regulador para leilões demasiado proteccionista, com especial incidência no sector da arte contemporânea (sector que posteriormente veio a ser liderado por Nova Iorque). Todavia, presentemente a procura por objectos de arte é – em sectores onde é requerido um maior conhecimento, uma capacidade de julgamento superior em questões do gosto – uma área onde a influência da «Velha Europa», com a sua experiência e longa tradição de coleccionismo, está visivelmente a crescer.
Published at NS'189/IN#085, Mercado da arte (62), (Diário de Notícias N.º 51273 e Jornal de Notícias N.º 82/122), 22 de Agosto de 2009 Portugal © Henri Matisse, Les Coucous, Tapis Bleu et Rose, 1911 Courtesy Christie’s 2009
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