Após décadas de rigidez e estagnação, vários coleccionadores abriram os seus espaços ao público.
A deterioração geral das condições económicas no final do ano passado teve repercussões na riqueza de muitos dos oligarcas Russos. De acordo com a revista Forbes, o número de bilionários russos decresceu 66%, em relação a 2007.
A descida do preço do petróleo – de US$130 para US$30 por barril de crude, níveis equiparados aos praticados em 2004 –, a rápida caída dos preços das acções, aliada a uma previsão económica global sombria, tiveram significativas repercussões no mercado da arte contemporânea russo no último trimestre de 2008. Entretanto, desde essa data, a bolsa russa já recuperou algumas das perdas e o preço do petróleo subiu para os níveis de 2006-07 (US$60 por barril de crude).
Depois de várias décadas de rigidez e estagnação económica e burocracia política, vários coleccionadores, na antiga União Soviética, abriram os seus espaços ao público com o objectivo de desenvolver e fortalecer a comunidade artística local e promover um iniciativa educacional com fundos privados para um público mais alargado – em 2006, o empresário Viktor Pinchuk, inaugurou o PinchukArtCentre em Kiev (Ucrânia), enquanto Igor Marking apresentou o Art4ru em 2002, o primeiro museu russo dedicado à arte contemporânea. O apoio privado tem desempenhado desta forma um papel fundamental no desenvolvimento do mercado da arte contemporânea.
Durante o mesmo período, em Portugal, o empresário Joe Berardo inaugurou em 2007 o Museu Colecção Berardo (Lisboa); anteriormente, em 2004, surgiu a Fundação Ellipse (Alcoitão), uma iniciativa do banqueiro João Rendeiro; e, em 2001, a sociedade de advogados PLMJ (Lisboa) criou a Fundação PLMJ.
Mais recentemente, e apesar da curva descendente nos investimentos, em Setembro de 2008, Dasha Zhukova inaugurou o Garazh Centre dedicado à promoção e divulgação da cultura contemporânea, em Moscovo (Rússia). Concorrentemente, surgiram várias galerias que actualmente se posicionam como importantes pontos de referência no mercado da arte russo, mas também um suporte activo para a comunidade artística local, como por exemplo a XL Gallery, em Moscovo, ou a D-137 Gallery, em São Petersburgo.
O impacto da presente crise financeira no mercado global da arte está a permitir reconstruir a confiança dos coleccionadores e, mais particularmente, dos investidores no próprio mercado nos produtos oferecidos pelo mercado. Dos vários leilões realizados por diferentes leiloeiras dedicados à arte russa, em Junho, na Sotheby’s de Londres, o óleo sobre tela The Village Fair (1920), de Boris Kustodiev, estabeleceu um novo recorde para o artista em leilão, muito acima do estimado. Neste mesmo leilão foram estabelecidos três outros recordes para obras de artistas em leilão: Landscape (1908) de Konstantin Kryzhitsky, Nanny With Children (1912) de Isaak Brodsky e Still Life Of Flowers (1931) de Vladimir Lebedev.
É certo que esta curva descendente vai retirar muitos dos nomes mais recentes da arte contemporânea e reconhecidos pelo público em geral, mas também está a permitir o aparecimento de novas oportunidades de expressão, aquisição e investimento.
Published at NS'188/IN#084, Mercado da arte (64), (Diário de Notícias N.º 51266 e Jornal de Notícias N.º 75/122), 15 de Agosto de 2009 Portugal © Boris Mikhailovich Kustodiev, The Village Fair, 1920 Courtesy Sotheby's 2009
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