Espíritos em alta, preços em baixo, negócios a acontecer: estas são as características do momento actual
Viagens entre uma tenda montada num jardim (a Frieze Art Fair, em Londres) e um palácio (a FIAC, em Paris), presenças na sucessão de leilões dedicados à arte contemporânea e moderna nas mais prestigiadas casas leiloeiras mundiais destas duas cidades, aliadas às visitas aos múltiplos eventos paralelos que entretanto decorriam; após três meses de pausa, o mundo da arte contemporânea nestas últimas semanas esteve sem tempo para respirar.
Apesar das mudanças decorridas no mercado da arte, o universo artístico esperava com cautelosas expectativas o regresso do Outono. Durante a vernissage da Frieze (14 de Outubro), por entre copos de champanhe a circular nos corredores da feira de arte contemporânea, Miguel Nabinho, director da Lisboa 20 Arte Contemporânea, visivelmente satisfeito afirmava já ter vendido uma peça de Pedro Cabrita Reis – a qual irá fazer companhia ao tapete The Walthamstow Tapestry (2009) de Grayson Perry, adquirido por €164 mil (£150 mil) à Galeria Victoria Miro, de Londres – ao conceituado arquitecto inglês Norman Foster.
O galerista de Lisboa não era o único com este sentimento, também outros negociantes de arte, como por exemplo a galerista Juana de Aizpuru, de Madrid, e o galerista Eduardo Brandão, director da Vermelho, de São Paulo, compartilhavam da mesma sensação – os espíritos em alta, os preços em baixo e os negócios a acontecer. Apercebia-se junto das pessoas uma sensação de calma e do retorno da normalidade comercial ao mercado.
Em oposição a toda a euforia correlativa dos investidores e especuladores que caracterizava as edições anteriores, nesta edição da feira as pessoas estavam mais calmas. Mais reflexivas no momento da compra, isto enquanto em anos anteriores, na primeira meia hora, corria-se para comprar peças com valor extravagantes, para as bolsas nacionais, de artistas como Damien Hirst, Jeff Koons, Takashi Murakami. Na edição deste ano foram vários os casos onde coleccionadores regressavam aos stands para confirmar informações e interesses nas obras expostas pelos galeristas. Alexandra Pinho este ano enriqueceu a colecção do BESart - Colecção Banco Espírito Santo com a aquisição de um conjunto de cinco imagens da fotógrafa brasileira Lucia Koch.
Para os gestores de fundos de investimentos em arte assistiu-se a uma correcção do valor das peças apresentadas: em geral os preços estavam cerca de 40% mais baixos em comparação com anos anteriores, como as esculturas em porcelana de Rachel Kneebone, com preços entre os 27.500 euros e os 60 mil euros. Ainda de acordo com galeristas e analistas presentes na Frieze Art Fair, esta conseguiu também atrair coleccionadores que só recentemente entraram no mercado, com a vantagem de encontrarem preços baixos e uma grande variedade de obras disponíveis.
Entretanto para responder à fraca adesão do mercado norte-americano e alemão, ou à ausências de galerias como a Chantal Crousel, de Paris, a organização da Frieze decidiu este ano transformar a secção da feira anteriormente dedicada a espaços emergentes na Frame. Por €4.3 mil (£4 mil) de aluguer do espaço (mais despesas de deslocação e estadia) esta nova plataforma comercial permitiu a jovens galerias apresentarem exposições individuais de artistas menos conhecidos a preços acessíveis.
Os espíritos estão definitivamente muito melhores do que no ano passado, via-se mais vivacidade no caminhar das pessoas. E se em 2008, em pleno fervilhar da crise económica e financeira mundial, a ausência de peças em vídeos era assinalada, a selecção de obras para a edição da Frieze este ano, pelas galerias participantes não era especialmente comercial. As feiras e as galerias estão a reinventar-se, a adoptarem uma identidade própria para sobreviverem à crise económica.
Published at NS'199/IN#095, Mercado da arte (68), (Diário de Notícias N.º 51343 e Jornal de Notícias N.º 152/122), 31 de Outubro de 2009 Portugal Courtesy: Linda Nylind/Frieze 2009
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