Monday, 8 March 2010

A crise é a de identidade

A questão principal não assenta na incapacidade de a ARCOmadrid atrair coleccionadores e investidores, mas sim no facto de necessitar de um novo modelo.

Se durante anos a identidade da ARCOmadrid era definida como um lugar de passagem obrigatória para quem estava de acordo com o gosto ou com a forma de viver do momento, actualmente, a mais importante feira de arte contemporânea de Espanha, está a atravessar uma crise de identidade.

Ou seja, a questão principal não assenta na incapacidade de atrair coleccionadores e investidores, mas sim de a feira necessitar de um novo modelo, pois encontra-se no limiar do vazio, resultante de uma imagem alimentada pela exuberância e ostentação dos muitos visitantes que durante anos surgiam com pretensões a coleccionadores – e que entretanto deixaram de estar presentes – e a necessidade de ser o ponto de referência para a arte contemporânea na Península Ibérica e América Latina, depois de surgirem as feiras de Londres e de Miami.

Todavia, sobre os galeristas nacionais presentes na ARCOmadrid, é de salientar a visita dos príncipes das Astúrias ao Solo Project (comissariado por Adriano Pedrosa) de André Romão (1984), representado pela galeria Baginski (Lisboa). Durante esse mesmo dia, as obras presentes no stand da galeria foram adquiridas por um coleccionador português.

Por outro lado, para além da exposição de Miquel Barceló, na Fundación La Caixa, o verdadeiro ponto de interesse na capital espanhola, a nível do mercado, surgiu com a nova feira Just Madrid. Um evento que se pretende como uma plataforma para a apresentação de obras de jovens criadores internacionais, a Just Mad conseguiu deixar bons indícios para os próximos anos, quer a nível de qualidade expositiva, sem ser espectacular, quer de compromisso alternativo, ao procurar apresentar-se a público como um corte com o mercado já estabelecido (representado pela Art Madrid), e com a prepotência das modas e outros costumes passageiros na arte contemporânea (caracterizado pela ARCOmadrid).

Apesar de apresentar algumas sugestões menos conseguidas (é incompreensível a presença de Ana Jotta ou Pedro Calapez, que invariavelmente já são de outro enquadramento económico e transportam consigo outro perfil) a feira apresentava-se com uma equilibrada simplicidade académica qualitativa. Limitadas fisicamente a vinte metros quadrados, as fotografias da dupla Sara & André (os artistas inauguraram recentemente a exposição individual Claim to Fame, no Espaço Fundação PLMJ, em Lisboa) ocupavam todo o stand da 3+1 Arte Contemporânea, na sala La Lonja, com um corpo de trabalho que invoca as implicações intangíveis da economia do sistema artístico. Enquanto na Nave de Terneras, as pinceladas soltas com uma determinada aparência descontraída do espanhol Santiago Ydáñez (1969), no espaço de artistas, Invaliden1 (composto por quatro espanhóis e dois portugueses), localizado em Berlim (Alemanha), atraiam a atenção da maioria dos visitantes.

Published at NS'217/IN#113, Mercado da Arte (70), (Diário de Notícias N.º 51467 e Jornal de Notícias N.º 278/122), 6 de Março de 2010, Portugal. Vista do stand da Invaliden1, Just Madrid, 2010.

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