
Depois da emergência do mercado chinês, a Índia é o próximo lugar onde se irá testemunhar a um crescimento significativo em termos das compras de produtos artísticos a nível global, como também, internamente, no mercado da arte.
O governo indiano é bastante rigoroso com relação à circulação de capitais, o que faz com que seja difícil a um negociante de arte poder operar. Actualmente ainda é bastante difícil fazer circular obras de arte devido essencialmente a questões legislativas relacionados com as autorizações para exportar arte ou regulações para registar antiguidades. Mas com a presente clima económico, nenhum mercado está imune.
Muitos analistas a operar no mercado artístico consideram que o mercado indiano é ainda um bom local para se realizar, a longo prazo, investimentos em artistas. Principalmente, por ainda ser um mercado subvalorizado. Uma pintura de Francis Newton Souza (1924-2002), actualmente ainda a 300 mil euros, poderá em dois anos valer 1.5 milhões de euros (uma valorização na ordem dos 500%), por exemplo. Nos últimos anos os valores das peças cresceram substancialmente, mas não tanto como na China, onde os preços escalaram devido ao enorme interesse interno e internacional. No entanto, estes são os mesmos especialistas que durante os últimos anos ajudaram à especulação crescente no mercado de arte e ao inflacionamento do valor das peças de arte.
Esta arte frequentemente capta as paisagens vívidas e coloridas da vida e cultura indiana. Enquanto muitos dos coleccionadores mantiveram o interesse no mercado interno, a paisagem artística floresceu neste últimos anos devido especialmente ao rápido crescimento económico da região.
Através da irreverência e da liberdade artística, M. F. Husain (1915) é outro dos artista já presente na história da arte indiana. Husain procurou ao longo da sua carreira provocar alterações sociais, ao inspirar-se em eventos como guerras, pestilências e fome, ou as injustiças definidoras da sociedade indiana.
Mais recentemente, a presença dos artistas indianos mais jovens, em exposições internacionais, bienais ou leilões, vem confirmar a propensão da paisagem artística indiana em acompanham as tendências globais. É possível encontrar obras de artistas como Sheela Gowda (1957), Dayanita Singh (1961), Amar Kanwar (1964), Subodh Gupta (1964), Jitish Kallat (1974) entre nomes consagrados do mercado ocidental.

As obras de Jitish Kallat (Bombaim, 1974) estão enquadradas por um ambiente urbano quase-autobiográfico, enquanto apontam para assuntos universais homogéneos que continuam a afectar a heterogeneidade local. Os seus trabalhos são um diário pessoal reflectivo das polaridades evolutivas do caos urbano indiano, em particular da cidade de Bombaim.
A peça Aquasaurus (2008) é a recriação de um camião cisterna comum nas ruas de Bombaim. Este antiquado automóvel com sete metros apresenta-se como um receptor representativo da imagem das ruas da índia, em constante conflito. A serie Humiliation Tax apresenta imagens centralizadas de jovens crianças desfavorecidas, um símbolo dos membros mais vulneráveis e empobrecidos da sociedade Indiana. Uma da pinturas desta serie, Humiliation Tax – II (2005) foi vendida por 73 mil euros, em leilão da Sotheby’s, em Maio de 2008.
Kallat apresenta e representa as diferentes camadas de planificação de uma cidade sobre os escombros humanos. Ele relaciona o desenvolvimento urbanístico com as castas oprimidas ou os despojados, a esperança ou a sobrevivência, o invisível e o inaudível numa sociedade que procuram entrar numa economia cada vez mais globalizante, mas em si, também, por vezes, cada vez mais ditatorial.
Published at NS'/IN, Mercado da arte (78), (Diário de Notícias e Jornal de Notícias), 31 de Janeiro de 2009 Portugal © Francis Newton Souza, Untitled (óleo sobre tela), 1961; Jitish Kallat, Humiliation Tax – II (técnica mista sobre tela), 2005 Courtesy Sotheby’s 2009
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