Os anos zero ficam marcados por uma nova forma de compreender a arte contemporânea, desenvolvida pela Tate Modern (Londres), o Museu de Serralves (Porto) ou o Museu Colecção Berardo (Lisboa).
Se os anos noventa foram definidos como a década das bienais, os últimos dez anos são caracterizados pela disseminação mundial das feiras de arte contemporânea. Esta não foi uma década de entretenimento, foram anos oportunos para os negócios com os mercados emergentes da Ásia, América Latina, África e Médio Oriente.
Contudo, a década que agora termina vai ser mais recordada por outros eventos, como o ataque terrorista de 11 de Setembro às Torres Gémeas de Nova Iorque e a consequente invasão de dois espaços soberanos e a restrição às liberdade cívicas; a explosão do acesso à informação, o potencial e a habilidade de ligar e comunicar com o mundo; a massificação das redes sociais virtuais; as flashmobs, ou as interacções com o público concertadas através de telemóveis; as adaptações cinematográficas de livros como Harry Potter ou O Senhor dos Anéis; a atenção e preocupação global sobre casos de pedofilia, de corrupção política ou sobre déspota legitimados democraticamente na América Latina; mas, também, pela nova forma de compreender a arte contemporânea, desenvolvida pela Tate Modern (Londres), o Museu de Serralves (Porto) e o Museu Colecção Berardo (Lisboa); a preocupação em as artes fomentarem a educação e a participação cívica; o estímulo das indústrias criativas para a economia mundial; a formação de novos públicos ao aliar arte com as finanças.
O mercado da arte esteve, durante o início desta década, com uma rentabilidade inferior aos principais mercados de investimentos – para, depois de 2004, aumentar relativamente a esses mercados, onde o lucro foi mais alto, em particular entre 2006 e 2007, do que os outros investimentos.
Entretanto, já passou um ano desde que Damien Hirst vendeu as suas peças através duma casa leiloeira, e quando o sistema bancário global esteve à beira da ruína financeira. Quando só um pacote de medidas suportado por milhões de euros (financiado por dinheiro dos contribuintes) foi capaz de resgatar e garantir a segurança do que poderia ser um acidente socioeconómico fatal. Apesar de diariamente as notícias afirmarem que «nada é como foi», desde Setembro de 2008 não existiu mais nenhuma transformação. Os gestores de topo do universo financeiro continuam à frente das instituições que administravam ou, foram promovidos e, parece, não aprenderam absolutamente nada.
Agora, os próximos anos, parecem ser propícios ao percorrer de espaços que não sendo propriamente económicos, estão ligados à economia.
A regeneração de bairros através das artes
O universo artístico é considerado, por distintas área da sociedade, como um catalisador eficaz no processo de regeneração e reabilitação de zonas e bairros desfavorecidos socialmente e economicamente. Em Maio passado, Andrea Baginski inaugurou em Lisboa o seu novo espaço galerístico, situado entre o Beato e o Parque das Nações, zona onde já tinham confluído outros espaços artísticos e culturais, como ateliers de artistas e galerias. No Bairro Alto, Lourenço Egreja, Rachel Korman e Paulo Reis coordenam a recuperação do Palácio Pombal, há muitos anos abandonado e em degradação, enquanto criam um lugar voltado para a comunidade com uma programação de importância e relevo nacional, para a pesquisa, experimentação e o estudo da arte contemporânea. No Porto, a reabilitação e a revitalização da Rua Miguel Bombarda, uma zona de galerias e de lojas alternativas que consegue atrair visitantes nacionais e internacionais, adaptou parte desta artéria à realidade de quem aí trabalha, ao vocacionar a zona para a divulgação da arte e da cultura. A nível individual, o curador e crítico de arte Miguel Von Hafe Pérez, foi escolhido como o novo director do Centro Galego de Arte Contemporânea (CGAC), em Santiago de Compostela.
O desmoronar de algumas sociedades
Durante 2009, a sociedade portuguesa acompanhou o desmoronar do prestígio construído por João Rendeiro, presidente do Banco Privado Português, e o desaparecimento de notícias relacionadas com a sua colecção de arte contemporânea, depositada em Alcoitão (Cascais). Outro caso, que também influenciou o mercado da arte nacional está relacionado com o Banco Português de Negócios (BPN): o galerista Manuel Silva Santos, sócio da empresa Filomena Soares e Santos, proprietários da Galeria Filomena Soares (em Lisboa), foi acusado pelo Ministério Público de ser o autor material de um crime de branqueamento de capitais por desviar fundos do grupo BPN/SLN, a título de uma recompra da colecção de arte à galeria, no valor de 3,2 milhões de euros, em 2007.
Published at NS'207/IN#103, Mercado da Arte (70), (Diário de Notícias N.º 51399 e Jornal de Notícias N.º 208/122), 26 de Dezembro de 2009 Portugal Exterior do Museu de Serralves, Courtesy: Galeria Pente e Instalação de Rui Horta Pereira na Carpe Diem Arte e Pesquisa
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