Tuesday, 16 February 2010

Madrid capital ibérica da arte

A ARCOmadrid apresenta-se com uma atitude mais virada para o mercado e com uma programação claramente direccionada para demonstrar a importância dos curadores no mundo actual. Este ano, pela primeira vez, o convidado especial é uma cidade: Los Angeles.

Em Fevereiro, Madrid converte-se na capital do mundo da arte com a realização simultânea de cinco feiras dedicadas à promoção e difusão da arte contemporânea. Todavia, o que realmente importa em Madrid são as exposições no Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofia dedicadas ao artista Thomas Schütte, no Museu Thyssen-Bornemisza sobre Monet e a Abstração, e a retrospectiva dos últimos 25 anos de Miquel Barceló, na Caixaforum Madrid.

No período actual, é visível por todo o mundo a disseminação de feiras de arte e a sua fragmentação em áreas mais específicas do mercado. Feiras realizadas em zonas periféricas, dedicadas à arte emergente contemporânea ou à fotografia são alguns dos exemplos de nichos de mercado procurados por múltiplas manifestações de índole comercial: Espacio Atlántico (feira de arte contemporânea), em Vigo; JustMadrid (feira dedicada à arte contemporânea emergente) ou MadridPhoto (dirigida para um novo tipo de coleccionismo, em que se promove, difunde e vende a imagem fotográfica, um segmento de mercado cada vez mais especializado), as duas últimas na capital espanhola.

Apesar dos conflitos existentes desde sempre entre quem organiza uma feira e os galeristas presentes (ou não) devido aos critérios de selecção – este ano não foi excepção –, a ARCOmadrid apresenta-se com uma atitude mais virada para o mercado e com uma programação claramente direccionada para demonstrar a importância dos curadores no mundo actual – como se os curadores conseguissem manobrar e conduzir uma feira para fora do seu meio natural, o do mercado.

A nível nacional, a dupla Filipa Oliveira + Miguel Amado assinalam presença no programa Curators’ Desks, da JustMadrid, com um projecto em que se articulam dois momentos distintos, num dos quais os artistas são seleccionados através de uma open call internacional.

Durante os últimos anos, a ARCOmadrid, através do programa Panorama, procurou apresentar à comunidade ibérica os principais epicentros criativos da cena artística mundial, enquanto impulsionava a dinamização do mercado e da própria feira ao convidar anualmente um país. Este destaque anual trazia a Madrid a diversidade de um mercado criativo em particular – como a Índia (2009), Brasil (2008), Coreia do Sul (2007), Áustria (2006), México (2005) ou mesmo Portugal (1998), que sucedeu à Alemanha e à América Latina –, bem como todo um universo composto por coleccionadores e especuladores que se identificam como coleccionadores e que vieram ampliar a carteira de clientes às instituições espanholas.

Em 2009, uma decisão tomada pelos organizadores fez recair não sobre um país mas sobre uma cidade – Los Angeles (EUA) – o lugar de visibilidade para a edição deste ano. Através de uma selecção de 17 galerias, realizada por Kriz Kuramitsu (comissária independente) e Christopher Miles (artista, comissário e crítico), procura-se «retratar de forma mais homogénea a vitalidade artística que concentra uma determinada área que, por si só, constitui um dos grandes centros de arte dos Estados Unidos».

Num ano em que os múltiplos indicadores do mercado da arte apresentam os primeiros dados de uma recuperação da crise, espera-se desta forma conseguir atrair muitos coleccionadores norte-americanos, de grande interesse e disponibilidade económica, ao mercado europeu e, em particular, a um mercado encerrado sobre si mesmo: o ibérico. Como diz a directora da ARCOmadrid, Lourdes Fernández, «a ideia de incluir cidades vai-nos abrir novas possibilidades, e vai trazer mais para o nosso mercado por tratar-se de uma ideia mais definida do que convidar a todo um país.»

Se galeristas como, por exemplo, Pepe Cobo (Madrid), deixaram de perseguir durante os últimos tempos o esgotado formato expositivo de stands em feiras de arte substituindo-o por uma abordagem mais interventiva, através de projectos específicos, os galeristas portugueses, que anteriormente defendiam a sua presença em feiras internacionais como factor de contribuição para a internacionalização dos artistas e da arte portuguesa, este ano derivaram as suas atenções para manifestações secundárias e efémeras no plano ibérico. Ou, por outro lado, concentraram a sua atenção em múltiplos programas específicos existentes nas feiras: Carlos Carvalho e Filomena Soares, de Lisboa, a Galeria Mário Sequeira, de Tibães (Braga), continuam presentes no Programa Geral da ARCOmadrid 2010; a Fonseca Macedo, de Ponta Delgada, apresenta-se na ARCO 40 também da ARCOmadrid; na recentemente criada, JustMadrid podem ser encontrados os stands das galerias 3+1 Arte Contemporânea e Miguel Nabinho, ambos de Lisboa.

A selecção de artistas por comissários internacionais para apresentar projectos na feira reúne mais um conjunto de galerias nacionais: Nuno Sousa Vieira (Graça Brandão, Porto/Lisboa), Filipa César (Cristina Guerra Contemporary Art, Lisboa), André Romão (Baginski, Lisboa), Mauro Cerqueira (Reflexus Arte Contemporânea/Graça Brandão, Porto) e Noé Sendas (Fernando Santos, Porto) na secção «Instalaciones»; Wood & Harrison (Vera Cortês Art Agency, Lisboa) na secção «Vídeos»; e Jakub Nepras (Arthobler, Porto) complementam a presença nacional.

De igual forma é interessante registar a ausência do galerista Pedro Cera (Lisboa), actual presidente da direcção da Associação Portuguesa de Galerias de Arte. Depois das exclusões de Pedro Reigadas (Arte Periférica) e Rui Brito (111) – anteriores presidentes da direcção da APGA –, será legitimo considerar que existem interesses divergentes e inconciliáveis entre ser presidente da representação nacional de galeristas e a participação na mais importante feira ibérica?

Published at NS'214/IN#110, Destaque (54-55), (Diário de Notícias N.º 51446 e Jornal de Notícias N.º 257/122), 13 de Fevereiro de 2010, Portugal. André Cepeda, Illinois e Riverside Dallas (da série River), 2008. Courtesy Galería Ad Hoc, Vigo; Christine Streuli, Surr, 2009. Courtesy Mark Müller, Zurique; Federico Herrero, Orejas, 2009. Courtesy Juana de Aizpuru, Madrid; John Wood and Paul Harrison, One More Kilometre, 2009. Courtesy Vera Cortês Art Agency, Lisboa; Mariana Palma, Untitled, 2009. Courtesy Casa Triângulo; Manuel Caeiro, Untitled, 2009; José Lourenço, Untitled, 2009; e Ricardo Angélico, Rest in Pieces, 2009. Courtesy Carlos Carvalho Arte Contemporânea, Lisboa.

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