Wednesday, 24 February 2010

Tuesday, 23 February 2010

Dominó Canibal em Múrcia

O projecto de arte contemporânea comissariado por Cuauhtémoc Medina e apresentado na Sala Verónicas (Múrcia, Espanha) tem como princípio o conceito de bienal de arte, mas desenvolve-se durante todo o ano de 2010. Dominó Canibal consiste na intervenção sobre uma estrutura de poder sagrada enquanto se pensa sobre o profano, o que realmente está fora do templo religioso e da arte. Ao incidir sobre a economia do inútil, a intenção é criar condutores da ligação entre o sagrado (o espaço institucional estruturado) e o profano (o que está fora). Como no dominó, a sucessão de passos inicia-se com Jimmie Durham (25 de Janeiro). Depois, Cristina Lucas (23 de Março) aparece para «comer» a obra anterior e, posteriormente, é «comida» pela Bruce High Quality Foundation (20 de Maio). E assim sucessivamente: Kendell Geers (8 de Julho), Tânia Bruguera (23 de Setembro), Rivane Neuenschwander (11 de Novembro) e, finalmente, Francis Alÿs (16 de Dezembro) apresenta a peça Dominó, concebida antes da selecção e convite aos artistas para participarem neste diálogo.

Published at NS'215/IN#111, Mercado da Arte (70), (Diário de Notícias N.º 51453 e Jornal de Notícias N.º 264/122), 20 de Fevereiro de 2010, Portugal. Dominó Canibal, vista da instalação de Jimmie Durham na Sala Verónicas (Múrcia, Espanha). Courtesy Urroz Proyectos

Monday, 22 February 2010

«De que outra coisa poderíamos falar?»

Curador Cuauhtémoc Medina e artista Teresa Margolles defendem outra forma de intervir politicamente

No pós-modernismo, a teoria pós-colonial é uma dialéctica que consiste na análise do legado cultural do colonialismo, e é neste contexto que se inscreve o discurso do curador mexicano Cuauhtémoc Medina: «A ideia da relação de riso perante a morte na ideologia nacional mexicana é uma má leitura.» A violência gratuita geralmente associada às mortes e assassinatos noticiadas encerra em si um erotismo, a ideia de «rios de sangue» como uma forma de transgressão que substitui a violência dos sacrifícios sagrados exóticos por uma violação da proibição social, associada à violência da guerra de conquista.

Cuauhtémoc Medina vê o seu trabalho de curadoria como «uma forma de intervir politicamente, mas politicamente no sentido de reutilizar as estruturas que encontra» no seu quotidiano. Em conjunto com Teresa Margolles (representação do Pavilhão do México na última edição da Bienal de Veneza, com o obra colectiva De Que Outra Coisa Poderíamos Falar?), procurou dissociar essa relação ideológica: «A pergunta no trabalho de Teresa tem a ver com a relação material/espectral do espaço sacrificial, mas entendido como um assunto místico e arqueológico», adianta o curador.

«Não é que exista um combate ao estereótipo per se, mas sim ao estereótipo equivocado», conforme defende Medina. E acrescenta que «por um lado, evidentemente, há uma necrópole política que o espaço colonial produziu. Existe uma continuidade de violência, de enorme consumo dos conflitos praticados que tem a ver com a estrutura de poder disciplinar que acaba de se estabelecer».

Desta forma, ambos, Cuauhtémoc Medina e Teresa Margolles, ao explorarem a questão da distinção entre Estado e Governo, procuraram colocar em crise o uso da representação nacional para fins diplomáticos estatais, pois a intervenção rege-se sob regras complexas no espaço de representação nacional. Há uma actuação nele, e o que se retira desse espaço de controlo do Governo é um labor que não deve ser governamental.

Em relação ao projecto realizado pela artista, «tentou-se, num lugar muito estranho, que é a arte contemporânea, uma interpretação que se fizesse valer, uma intervenção difícil de aceitar, que passa pela noção de que, como não podemos acabar com uma representação nacional, o nosso trabalho é então evitar que sirva para o que serve», esclarece Cuauhtémoc Medina. «Ou seja, como não podemos fazer-nos estúpidos, pensar que isso desaparece, porque isso implica evadir-nos à responsabilidade política, retiramos dos mecanismos de promoção político-ideológica» o elemento de representação nacional usado por este mesmo mecanismo representativo.

Cuauhtémoc Medina é curador de arte contemporânea. Foi o curador do Pavilhão do México, na 53.ª edição da Bienal de Veneza, em 2009. Em 2008, comissariou, em conjunto com Olivier Debroise, a exposição La era de la discrepancia – arte y cultura visual en México 1968-1997, no MUCA (México); e em 2006, Diez Cuadras Alrededor del Estúdio, de Francis Alÿs, no Antigo Colégio de San Ildefonso (México). Foi o primeiro curador para a arte da América Latina da Tate Gallery (Inglaterra).

Published at NS'215/IN#111, Mercado da Arte (70), (Diário de Notícias N.º 51453 e Jornal de Notícias N.º 264/122), 20 de Fevereiro de 2010, Portugal. Teresa Margolles, Sangre Recuperada, 2008. Courtesy Instituto Nacional de Bellas Artes y Literatura, México 2008

Wednesday, 17 February 2010

newsfrommadrid201002


keeping and looking after items characteristic of a city

JustMadrid

Carlos Urroz fala da nova feira dos valores «emergentes» na arte contemporânea.

Noutro lado da cidade de Madrid, e dada a importância crescente que a fotografia está a adquirir no mercado da arte, Henrique de Polanco – a família Polanco é detentora do Grupo Prisa, o maior conglomerado de meios de comunicação de Espanha e Portugal (onde é um dos accionistas de referência no grupo Media Capital) – apresentou em Maio de 2009 a MadridPhoto, e, para este ano, arranca com a Just Madrid, a 18 de Fevereiro de 2010, um dia após a inauguração da ARCOmadrid. Em conversa com o responsável pela comunicação da feira, Carlos Urroz, procurou-se perceber qual o enquadramento desta nova manifestação comercial artística.

Do ponto de vista do investimento, quais são as qualidades do mercado da arte?
É um momento para observar os artistas, ver como evoluem os que surgiram nos anos noventa e ver quais se mantêm ou não. Dado o preço de alguns artistas de quarenta anos, muitos coleccionadores estão a orientar-se na procura de novos artistas que, mantendo-se avaliados por comissários e instituições, ainda não entraram na especulação do mercado.

Quais são as especificidades da paisagem artista espanhola e ibérica?
Existe em Espanha todo um circuito de museus regionais que ajudam os artistas ditos «emergentes». É fácil a um artista ter uma carreira estável durante cinco anos ao transitar por salas e bolsas de instituições espanholas e conseguir uma galeria profissional com a qual trabalhe durante esses anos. O difícil para os artistas portugueses e espanhóis é saltar para o circuito internacional e poder competir com artistas que trabalham com museus por todo o mundo.

O que distingue a JustMadrid de outras feiras de arte contemporânea de Espanha e internacionais?
A JustMadrid é uma feira pequena e comissariada. Uma directora artística seleccionou as galerias e os artistas que estas representam. Também foram convidados sete grupos de curadores de todo o mundo para trabalhar com estes artistas. Pelo perfil dos artistas, será uma feira acessível, onde se pode encontrar obras com as quais é possível começar uma colecção ou encontrar um artista que se pode seguir posteriormente durante a sua carreira.

Como vê o potencial da JustMadrid para a evolução do mercado espanhol?
É um projecto complementar à ARCO, o qual permite ás galerias ditas «emergentes» apresentar artistas com um grande potencial a comissários e coleccionadores. Além disso, os preços são acessíveis e a quantidade de informação que a feira oferece é limitada a 25 galerias, com um máximo de setenta e cinco artistas. É abrangente e especializada, e os coleccionadores, além da feira de Basileia, optam cada vez mais por estes formatos.

Para a primeira edição, qual é a experiência pela qual podermos passar na JustMad 2010?
Uma experiência agradável. Numa tarde há poucos artistas para ver, pré-seleccionar e – confiamos – comprar alguns deles. Além disso, a localização é fantástica: uma nave do século XIX, a poucos metros do Reino Sofia e do Matadero.

Published at NS'214/IN#110, Destaque (54-55), (Diário de Notícias N.º 51446 e Jornal de Notícias N.º 257/122), 13 de Fevereiro de 2010, Portugal. Sara & André, www.specificthings.com e www.hotelbedjump.net (da serie Claimetofameonline), 2009. Courtesy Galeria 3+1 Arte Contemporânea, Lisboa

Tuesday, 16 February 2010

Madrid capital ibérica da arte

A ARCOmadrid apresenta-se com uma atitude mais virada para o mercado e com uma programação claramente direccionada para demonstrar a importância dos curadores no mundo actual. Este ano, pela primeira vez, o convidado especial é uma cidade: Los Angeles.

Em Fevereiro, Madrid converte-se na capital do mundo da arte com a realização simultânea de cinco feiras dedicadas à promoção e difusão da arte contemporânea. Todavia, o que realmente importa em Madrid são as exposições no Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofia dedicadas ao artista Thomas Schütte, no Museu Thyssen-Bornemisza sobre Monet e a Abstração, e a retrospectiva dos últimos 25 anos de Miquel Barceló, na Caixaforum Madrid.

No período actual, é visível por todo o mundo a disseminação de feiras de arte e a sua fragmentação em áreas mais específicas do mercado. Feiras realizadas em zonas periféricas, dedicadas à arte emergente contemporânea ou à fotografia são alguns dos exemplos de nichos de mercado procurados por múltiplas manifestações de índole comercial: Espacio Atlántico (feira de arte contemporânea), em Vigo; JustMadrid (feira dedicada à arte contemporânea emergente) ou MadridPhoto (dirigida para um novo tipo de coleccionismo, em que se promove, difunde e vende a imagem fotográfica, um segmento de mercado cada vez mais especializado), as duas últimas na capital espanhola.

Apesar dos conflitos existentes desde sempre entre quem organiza uma feira e os galeristas presentes (ou não) devido aos critérios de selecção – este ano não foi excepção –, a ARCOmadrid apresenta-se com uma atitude mais virada para o mercado e com uma programação claramente direccionada para demonstrar a importância dos curadores no mundo actual – como se os curadores conseguissem manobrar e conduzir uma feira para fora do seu meio natural, o do mercado.

A nível nacional, a dupla Filipa Oliveira + Miguel Amado assinalam presença no programa Curators’ Desks, da JustMadrid, com um projecto em que se articulam dois momentos distintos, num dos quais os artistas são seleccionados através de uma open call internacional.

Durante os últimos anos, a ARCOmadrid, através do programa Panorama, procurou apresentar à comunidade ibérica os principais epicentros criativos da cena artística mundial, enquanto impulsionava a dinamização do mercado e da própria feira ao convidar anualmente um país. Este destaque anual trazia a Madrid a diversidade de um mercado criativo em particular – como a Índia (2009), Brasil (2008), Coreia do Sul (2007), Áustria (2006), México (2005) ou mesmo Portugal (1998), que sucedeu à Alemanha e à América Latina –, bem como todo um universo composto por coleccionadores e especuladores que se identificam como coleccionadores e que vieram ampliar a carteira de clientes às instituições espanholas.

Em 2009, uma decisão tomada pelos organizadores fez recair não sobre um país mas sobre uma cidade – Los Angeles (EUA) – o lugar de visibilidade para a edição deste ano. Através de uma selecção de 17 galerias, realizada por Kriz Kuramitsu (comissária independente) e Christopher Miles (artista, comissário e crítico), procura-se «retratar de forma mais homogénea a vitalidade artística que concentra uma determinada área que, por si só, constitui um dos grandes centros de arte dos Estados Unidos».

Num ano em que os múltiplos indicadores do mercado da arte apresentam os primeiros dados de uma recuperação da crise, espera-se desta forma conseguir atrair muitos coleccionadores norte-americanos, de grande interesse e disponibilidade económica, ao mercado europeu e, em particular, a um mercado encerrado sobre si mesmo: o ibérico. Como diz a directora da ARCOmadrid, Lourdes Fernández, «a ideia de incluir cidades vai-nos abrir novas possibilidades, e vai trazer mais para o nosso mercado por tratar-se de uma ideia mais definida do que convidar a todo um país.»

Se galeristas como, por exemplo, Pepe Cobo (Madrid), deixaram de perseguir durante os últimos tempos o esgotado formato expositivo de stands em feiras de arte substituindo-o por uma abordagem mais interventiva, através de projectos específicos, os galeristas portugueses, que anteriormente defendiam a sua presença em feiras internacionais como factor de contribuição para a internacionalização dos artistas e da arte portuguesa, este ano derivaram as suas atenções para manifestações secundárias e efémeras no plano ibérico. Ou, por outro lado, concentraram a sua atenção em múltiplos programas específicos existentes nas feiras: Carlos Carvalho e Filomena Soares, de Lisboa, a Galeria Mário Sequeira, de Tibães (Braga), continuam presentes no Programa Geral da ARCOmadrid 2010; a Fonseca Macedo, de Ponta Delgada, apresenta-se na ARCO 40 também da ARCOmadrid; na recentemente criada, JustMadrid podem ser encontrados os stands das galerias 3+1 Arte Contemporânea e Miguel Nabinho, ambos de Lisboa.

A selecção de artistas por comissários internacionais para apresentar projectos na feira reúne mais um conjunto de galerias nacionais: Nuno Sousa Vieira (Graça Brandão, Porto/Lisboa), Filipa César (Cristina Guerra Contemporary Art, Lisboa), André Romão (Baginski, Lisboa), Mauro Cerqueira (Reflexus Arte Contemporânea/Graça Brandão, Porto) e Noé Sendas (Fernando Santos, Porto) na secção «Instalaciones»; Wood & Harrison (Vera Cortês Art Agency, Lisboa) na secção «Vídeos»; e Jakub Nepras (Arthobler, Porto) complementam a presença nacional.

De igual forma é interessante registar a ausência do galerista Pedro Cera (Lisboa), actual presidente da direcção da Associação Portuguesa de Galerias de Arte. Depois das exclusões de Pedro Reigadas (Arte Periférica) e Rui Brito (111) – anteriores presidentes da direcção da APGA –, será legitimo considerar que existem interesses divergentes e inconciliáveis entre ser presidente da representação nacional de galeristas e a participação na mais importante feira ibérica?

Published at NS'214/IN#110, Destaque (54-55), (Diário de Notícias N.º 51446 e Jornal de Notícias N.º 257/122), 13 de Fevereiro de 2010, Portugal. André Cepeda, Illinois e Riverside Dallas (da série River), 2008. Courtesy Galería Ad Hoc, Vigo; Christine Streuli, Surr, 2009. Courtesy Mark Müller, Zurique; Federico Herrero, Orejas, 2009. Courtesy Juana de Aizpuru, Madrid; John Wood and Paul Harrison, One More Kilometre, 2009. Courtesy Vera Cortês Art Agency, Lisboa; Mariana Palma, Untitled, 2009. Courtesy Casa Triângulo; Manuel Caeiro, Untitled, 2009; José Lourenço, Untitled, 2009; e Ricardo Angélico, Rest in Pieces, 2009. Courtesy Carlos Carvalho Arte Contemporânea, Lisboa.

Monday, 15 February 2010

newsfromlisbon201002


what these artists aim for in their works is not to accumulate heterogeneous elements, but make meaningful connections in the infinite text of world culture

Oportunidades de Trabalho

Um estudo do governo norte-americano prevê o crescimento na empregabilidade dos curadores de 23 por cento nos próximos anos, implicando alguma transversalidade e internacionalização.

Na sociedade contemporânea, o papel do curador de arte está relacionado com os mecanismos de apresentação de exposições e com toda a esfera discursiva que envolve essas encenações. Mas, em termos etimológicos, a palavra «curador» alarga-se também a alguém que é conhecedor de substâncias vegetais usadas para administrar em pessoas ou corpos – a pharmakeia (a antepassada da farmácia) –, ou quem tem a autoridade para conduzir espiritualmente uma comunidade.

Segundo dados do estudo Occupational Outlook Handbook, 2010-11 Edition (Manual do Panorama Ocupacional), sobre Arquivistas, Curadores e Técnicos de Museus, conduzido pelo Bureau of Labor Statistics, do Ministério do Trabalho dos EUA, prevê-se um crescimento na empregabilidade dos curadores de 23 por cento nos próximos anos.

Este crescimento acarretará, provavelmente, alguma transversalidade e internacionalização, a exemplo do que, de resto, acontece noutras áreas do desenvolvimento humano em função do carácter globalizante que as sociedades tendem a assumir. Nessa óptica, é já paradigmática a mobilização de personalidades de diversas proveniências no âmbito das actividades das feiras de arte nos nossos dias.

«Não há uma linha conceitual, apenas a oportunidade de dar espaço à pesquisa de um curador brasileiro em Portugal, Espanha e França», expressa Adriano Pedrosa sobre a sua participação na ARCOmadrid, este ano, como um dos curadores convidados da secção Solo Projects.

Mauro Cerqueira (1982) e André Romão (1984), oriundos de uma cena artística que Pedrosa tem vindo a pesquisa há uma década, são os dois jovens artistas portugueses que seleccionou. Os outros dois artistas são Aurelient Fromment (1976) de França e o Basco Juan Pérez Agirregoikoa (1963). «Estou muito entusiasmado com a oportunidade de mostrar dois artistas portugueses na ARCOmadrid», acrescenta Adriano Pedrosa.

No panorama actual, a natureza crítica da teoria pós-colonial implica a desestabilização da forma de pensar ocidental (EUA e Europa). Cria espaços para o subalterno ou grupos marginalizados falarem ou produzirem alternativas ao discurso dominante. E, embora seja um prazer especial para um estrangeiro apresentar artistas locais, o que realmente importa na selecção destes quatro artistas é a complexidade e a singularidade de cada uma produções, conforme é defendido pelo curador.

Complementar ao Programa Geral e à secção ARCO 40, a secção Solo Projects apresenta projectos de um artista individualmente seleccionados por uma equipa de comissários internacionais designado pela ARCOmadrid.

Curadores portugueses
Inserido na secção Curators’ Desks, destaca-se o projecto apresentado por Filipa Oliveira + Miguel Amado, que tem como ponto de encontro a repercussão e a difusão da obra dos artistas num espaço independente. Neste caso em particular, a discussão de temas da actualidade ao envolver «artistas, profissionais e público numa plataforma discursiva que evoca a radicalidade das tradições pedagógicas artísticas.»

O projecto apresentado pelo colectivo curatorial é inspirado na frase do filósofo Bertrand Russell: «Para saber algo sobre a mesa, temos que conhecer verdades que a relacionem com as coisas que conhecemos». Intitula-se Sobre a Mesa e «significa que, se uma ideia foi apresentada, disponibilizou-se para o debate público. Sendo “mesa” um objecto, “sobre a” sugere as dimensões simbólicas a si sempre associadas, que incluem comer e beber, trabalhar e falar». A iniciativa compreende dois momentos distintos: uma conversa de tópico livre entre um comissário e um artista, e uma performance-lecture instigada por um artista – este são seleccionados através de uma open call internacional.

Filipa Oliveira + Miguel Amado formam um colectivo curatorial criado em 2004, com sede em Lisboa. Das várias exposições e múltiplos projectos organizado pela dupla, destaca-se Impossible Exchange, apresentado na última edição feira de arte de Londres inserido no Frieze Projects.

Published at NS'214/IN#110, Mercado da Arte (68), (Diário de Notícias N.º 51446 e Jornal de Notícias N.º 257/122), 13 de Fevereiro de 2010, Portugal. André Romão, delfi, 2009. Courtesy Baginski Galeria/Projectos

Tuesday, 9 February 2010

Imagens de assuntos banais

Peter Piller (1968, Alemanha) amplia as cópias de imagens sem foco substancial ou pormenor significativo e classifica e cataloga numa ordem não cronológica narrativas já fragmentadas. As fotografias são retiradas de jornais regionais alemães ou da colecção de imagens aéreas, de habitações, compradas a uma empresa cujo negócio encerrou na década de oitenta do passado século. Posteriormente, estas imagens são nominadas e organizadas tematicamente em clusters visuais de acordo com o acaso do gosto momentâneo do fotógrafo ou por índices visuais: círculos, setas ou carros dos fotógrafos – Fotografenauto [O Carro do Fotógrafo], por exemplo. Ao mesmo tempo, tornam-se numa oportunidade para o observador reflectir sobre os comportamentos sociais, significados históricos ou sobre a linearidade do pensamento. Em 2006, um conjunto de imagens intitulado Ungeklärte Fälle [Casos por Esclarecer] estava à venda por 37 mil euros na feira da arte de Basileia (Suíça). Presentemente, pode ser visto um largo conjunto de imagens deste fotógrafo alemão na exposição Regionales Leuchten [Brilho Regional], na Marz-Galeria (Lisboa), com valores que vão de 1500 euros a seis mil euros para algumas das imagens.

Uma pesquisa sobre o mundo contemporâneo
Inaugurou recentemente a Whitney Biennial, a mostra da arte norte-americana contemporânea que decorre no Whitney Museum of American Art (Nova Iorque), entre 25 de Fevereiro e 30 de Maio. Com 55 artistas, a edição deste ano, sem tema, apresenta-se como uma snapshot do estado actual da arte contemporânea, mas também da realidade em geral. Assim, ao invés de ser uma sucessão de mini-retrospectivas sob o mesmo título, e ao contrário de anos anteriores, a bienal apresenta unicamente uma obra ou uma série por autor.

Published at NS'213/IN#109, Mercado da Arte (68), (Diário de Notícias N.º 51439 e Jornal de Notícias N.º 250/122), 6 de Fevereiro de 2010, Portugal. Vista da exposição, Peter Piller, Regionales Leuchten, Marz-Galeria; Josephine Meckseper, Mall of America (vídeo, transferido para DVD, cor, som, 12:48min), 2001. Collection of the artist; Courtesy VG Bild-Kunst, Bonn

Monday, 8 February 2010

newsfromsantarem201002


marry ingredients to create a harmony of the senses

Os objectos do quotidiano contemporâneo

O sapato Marilyn, como metáfora da feminilidade.

Uma metáfora das expectativas e inclinações da feminilidade contemporânea: eis o sapato Marilyn. Esta e outras peças formadas por tachos e tampas em aço inox, às quais são atribuídos nomes de mulheres importantes na cultura popular. Carmen Miranda, por exemplo, é um dos nomes escolhidos por Joana Vasconcelos. As diferentes denominações contribuem para a multiplicidade de significados que as suas obras geram.

Ao explorar assuntos da esfera privada e pública, Joana Vasconcelos debate o papel tradicionalmente reservado à mulher. Conforme questiona, «as panelas são etnografia portuguesa? Não! Os talheres de plástico? Também não! São produtos culturais de uso corrente, são as formas conscientemente ignoradas do nosso quotidiano». E complementa ao afirmar que as suas peças «funcionam como uma ignição para questionar as nossas decisões e afirmações quotidianas.»

No universo artístico, uma das questões é o que a utilização de objectos do quotidiano pode dizer sobre o nosso tempo. Normalmente, esses objectos são usados para análise e estudo, quer pelos arqueólogos, sobre a história humana e através da análise de artefactos, quer pelos sociólogos, sobre o desenvolvimento, estrutura e funcionamento da sociedade humana.

Mas outra das questões é como avaliar quantitativamente uma peça de arte com menos de um ano de existência, quando ainda não teve o tempo necessário para ser inscrita no circuito de validação de obras de arte!

Concebido á menos de um ano, o sapato Marilyn, que está estimado entre 110 mil e 170 mil euros (£100 000-£150 000), é um dos 52 lotes à venda no leilão de arte contemporânea promovido pela casa Christie’s, de Londres, no dia 11 de Fevereiro.

Em Junho de 2009, a peça Coração Independente Dourado (2004) foi vendida em leilão também da Christie’s, por 129 mil euros.

Published at NS'213/IN#109, Mercado da Arte (68), (Diário de Notícias N.º 51439 e Jornal de Notícias N.º 250/122), 6 de Fevereiro de 2010. Portugal Joana Vasconcelos, Marilyn, 2009. Courtesy Christie's 2010

Tuesday, 2 February 2010

235 milhões de euros por 534 obras de arte

Durante esta semana realizam-se os leilões de impressionismo e arte moderna na Christie’s (dia 2 e 3 de Fevereiro) e na Sotheby’s (dia 3 e 4 de Fevereiro) de Londres. Entre as múltiplas obras impressionistas e de arte moderna, as duas leiloeiras apresentam uma selecção de pinturas, esculturas e obras sobre papel com o valor total estimado entre 163 milhões de euros e 235 milhões de euros, para um total de 534 lotes.

A atenção da leiloeira e de qualquer apreciador estará concentrada em três dos lotes apresentadas pela Sotheby’s (no dia 3 de Fevereiro), as pinturas a óleo Pichet et Fruits Sur Une Table, de 1893-94 (proveniente de uma colecção privada europeia), de Paul Cézanne, e Kirche in Cassone (Landschaft Mit Zypressen), de 1913 (este óleo sobre tela desapareceu da colecção de familiares do industrial do aço Austro-húngaro Viktor e Paula Zuckerkandl durante o período da Segunda Grande Guerra, e foi entretanto restituída aos seus descendentes), de Gustav Klimt, e a escultura L’Homme Qui Marche I, concebida em 1960 (da propriedade da instituição financeira Dresdner Bank AG), de Alberto Giacometti. Cada uma das peças está estimada por um valor superior a onze milhões de euros.

É raro apareceram no mercado peças desta qualidade, mas a selecção conduzida pelas diferentes casas leiloeiras e a importância da peças apresentadas só vêm confirmar o interesse dos coleccionadores em obras já emolduradas pela história da arte.

Published at NS'212/IN#108, Mercado da Arte (70), (Diário de Notícias N.º 51432 e Jornal de Notícias N.º 243/122), 30 de Janeiro de 2010. Portugal Gustav Klimt, Kirche in Cassone (Landschaft Mit Zypressen), 1913. Courtesy Sotheby's 2010

Monday, 1 February 2010

newsfromanywhere201002


when | dreams | become | reality

Espacio Atlántico

Fica na Galiza o novo lugar de peregrinação do mercado artístico português.

O Espacio Atlântico, em Vigo, apareceu este ano como uma nova feira para a arte contemporânea na Galiza (Espanha). Pelos Caminhos de Santiago, uma nova atitude e intenção no mercado da arte suportou a transformação de uma rudimentar área de comércio de arte num espaço de apreciação e compromisso qualitativo e quantitativo para com a arte contemporânea a norte de Portugal.

Com mais de trinta mil visitantes durante quatro dias, este novo lugar de peregrinação do universo artístico nacional permitiu também compreender o estado do mercado da arte contemporânea na Península Ibérica, e perceber quais as dinâmicas económicas a nível dos coleccionadores e dos galeristas, a um mês de distância da mais importante feira internacional de arte contemporânea de Espanha e, por conseguinte, para muitas galerias portuguesas, a ARCOmadrid.

Além da alteração do nome (nos três anos anteriores tinha o nome de Puro Arte) e da nomeação de um novo director artístico (o crítico de arte e curador galego David Barro), para a directora-geral da feira, Marta Scarpellini, a diferença entre esta nova feira e as edições anteriores está «fundamentalmente na qualidade, as galerias presentes trouxeram o melhor que tinham nos seus espaços».

David Barro seleccionou e atraiu à Galiza algumas das mais interessantes galerias de Espanha, como por exemplo Fernando Pradilla, Fúcares, Heinreich Enrhardt, Magda Bellotti ou Maisterravalbuena, todas de Madrid. Num total de 52 galerias de arte contemporânea surgiram incluídas ainda 15 galerias oriundas de Portugal – o galerista portuense José Mário Brandão (director da galeria Graça Brandão), Maria Arlete Alves da Silva e Rui Brito (Galeria 111) ou ainda Jorge Viegas e Lúcio Albuquerque (directores da 3 + 1 arte contemporânea), de Lisboa, foram alguns dos dealers presentes.

De acordo com informações adquiridas junto de alguns galeristas e compradores, durante o primeiro dia foram adquiridas obras de artistas por um valor global superior a quinhentos mil de euros. Um dos casos foi uma instalação de Albano Afonso (representado pela galeria Graça Brandão) adquirida por uma colecção privada, por 15 mil euros.

Distante da polémica que está a condicionar a realização da ARCOmadrid deste ano, e da emergência de mais uma feira periférica (a Just Madrid), o coleccionador galego Carlos Rosón (presidente da Fundación RAC, de Pontevedra) considerou o Espacio Atlántico um evento «importante para os coleccionadores Galegos e do norte de Portugal, mas também é importante que uma feira como esta aconteça na Galiza».

Published at NS'212/IN#108, Mercado da Arte (70), (Diário de Notícias N.º 51432 e Jornal de Notícias N.º 243/122), 30 de Janeiro de 2010. Portugal © Miguel Calvo 2010, Courtesy Espacio Atlántico