Thursday, 31 December 2009
Tuesday, 29 December 2009
Monday, 28 December 2009
A década dos mercados alternativos emergentes
Os anos zero ficam marcados por uma nova forma de compreender a arte contemporânea, desenvolvida pela Tate Modern (Londres), o Museu de Serralves (Porto) ou o Museu Colecção Berardo (Lisboa).
Se os anos noventa foram definidos como a década das bienais, os últimos dez anos são caracterizados pela disseminação mundial das feiras de arte contemporânea. Esta não foi uma década de entretenimento, foram anos oportunos para os negócios com os mercados emergentes da Ásia, América Latina, África e Médio Oriente.
Contudo, a década que agora termina vai ser mais recordada por outros eventos, como o ataque terrorista de 11 de Setembro às Torres Gémeas de Nova Iorque e a consequente invasão de dois espaços soberanos e a restrição às liberdade cívicas; a explosão do acesso à informação, o potencial e a habilidade de ligar e comunicar com o mundo; a massificação das redes sociais virtuais; as flashmobs, ou as interacções com o público concertadas através de telemóveis; as adaptações cinematográficas de livros como Harry Potter ou O Senhor dos Anéis; a atenção e preocupação global sobre casos de pedofilia, de corrupção política ou sobre déspota legitimados democraticamente na América Latina; mas, também, pela nova forma de compreender a arte contemporânea, desenvolvida pela Tate Modern (Londres), o Museu de Serralves (Porto) e o Museu Colecção Berardo (Lisboa); a preocupação em as artes fomentarem a educação e a participação cívica; o estímulo das indústrias criativas para a economia mundial; a formação de novos públicos ao aliar arte com as finanças.
O mercado da arte esteve, durante o início desta década, com uma rentabilidade inferior aos principais mercados de investimentos – para, depois de 2004, aumentar relativamente a esses mercados, onde o lucro foi mais alto, em particular entre 2006 e 2007, do que os outros investimentos.
Entretanto, já passou um ano desde que Damien Hirst vendeu as suas peças através duma casa leiloeira, e quando o sistema bancário global esteve à beira da ruína financeira. Quando só um pacote de medidas suportado por milhões de euros (financiado por dinheiro dos contribuintes) foi capaz de resgatar e garantir a segurança do que poderia ser um acidente socioeconómico fatal. Apesar de diariamente as notícias afirmarem que «nada é como foi», desde Setembro de 2008 não existiu mais nenhuma transformação. Os gestores de topo do universo financeiro continuam à frente das instituições que administravam ou, foram promovidos e, parece, não aprenderam absolutamente nada.
Agora, os próximos anos, parecem ser propícios ao percorrer de espaços que não sendo propriamente económicos, estão ligados à economia.
A regeneração de bairros através das artes
O universo artístico é considerado, por distintas área da sociedade, como um catalisador eficaz no processo de regeneração e reabilitação de zonas e bairros desfavorecidos socialmente e economicamente. Em Maio passado, Andrea Baginski inaugurou em Lisboa o seu novo espaço galerístico, situado entre o Beato e o Parque das Nações, zona onde já tinham confluído outros espaços artísticos e culturais, como ateliers de artistas e galerias. No Bairro Alto, Lourenço Egreja, Rachel Korman e Paulo Reis coordenam a recuperação do Palácio Pombal, há muitos anos abandonado e em degradação, enquanto criam um lugar voltado para a comunidade com uma programação de importância e relevo nacional, para a pesquisa, experimentação e o estudo da arte contemporânea. No Porto, a reabilitação e a revitalização da Rua Miguel Bombarda, uma zona de galerias e de lojas alternativas que consegue atrair visitantes nacionais e internacionais, adaptou parte desta artéria à realidade de quem aí trabalha, ao vocacionar a zona para a divulgação da arte e da cultura. A nível individual, o curador e crítico de arte Miguel Von Hafe Pérez, foi escolhido como o novo director do Centro Galego de Arte Contemporânea (CGAC), em Santiago de Compostela.
O desmoronar de algumas sociedades
Durante 2009, a sociedade portuguesa acompanhou o desmoronar do prestígio construído por João Rendeiro, presidente do Banco Privado Português, e o desaparecimento de notícias relacionadas com a sua colecção de arte contemporânea, depositada em Alcoitão (Cascais). Outro caso, que também influenciou o mercado da arte nacional está relacionado com o Banco Português de Negócios (BPN): o galerista Manuel Silva Santos, sócio da empresa Filomena Soares e Santos, proprietários da Galeria Filomena Soares (em Lisboa), foi acusado pelo Ministério Público de ser o autor material de um crime de branqueamento de capitais por desviar fundos do grupo BPN/SLN, a título de uma recompra da colecção de arte à galeria, no valor de 3,2 milhões de euros, em 2007.
Published at NS'207/IN#103, Mercado da Arte (70), (Diário de Notícias N.º 51399 e Jornal de Notícias N.º 208/122), 26 de Dezembro de 2009 Portugal Exterior do Museu de Serralves, Courtesy: Galeria Pente e Instalação de Rui Horta Pereira na Carpe Diem Arte e Pesquisa
Se os anos noventa foram definidos como a década das bienais, os últimos dez anos são caracterizados pela disseminação mundial das feiras de arte contemporânea. Esta não foi uma década de entretenimento, foram anos oportunos para os negócios com os mercados emergentes da Ásia, América Latina, África e Médio Oriente.
Contudo, a década que agora termina vai ser mais recordada por outros eventos, como o ataque terrorista de 11 de Setembro às Torres Gémeas de Nova Iorque e a consequente invasão de dois espaços soberanos e a restrição às liberdade cívicas; a explosão do acesso à informação, o potencial e a habilidade de ligar e comunicar com o mundo; a massificação das redes sociais virtuais; as flashmobs, ou as interacções com o público concertadas através de telemóveis; as adaptações cinematográficas de livros como Harry Potter ou O Senhor dos Anéis; a atenção e preocupação global sobre casos de pedofilia, de corrupção política ou sobre déspota legitimados democraticamente na América Latina; mas, também, pela nova forma de compreender a arte contemporânea, desenvolvida pela Tate Modern (Londres), o Museu de Serralves (Porto) e o Museu Colecção Berardo (Lisboa); a preocupação em as artes fomentarem a educação e a participação cívica; o estímulo das indústrias criativas para a economia mundial; a formação de novos públicos ao aliar arte com as finanças.
O mercado da arte esteve, durante o início desta década, com uma rentabilidade inferior aos principais mercados de investimentos – para, depois de 2004, aumentar relativamente a esses mercados, onde o lucro foi mais alto, em particular entre 2006 e 2007, do que os outros investimentos.
Entretanto, já passou um ano desde que Damien Hirst vendeu as suas peças através duma casa leiloeira, e quando o sistema bancário global esteve à beira da ruína financeira. Quando só um pacote de medidas suportado por milhões de euros (financiado por dinheiro dos contribuintes) foi capaz de resgatar e garantir a segurança do que poderia ser um acidente socioeconómico fatal. Apesar de diariamente as notícias afirmarem que «nada é como foi», desde Setembro de 2008 não existiu mais nenhuma transformação. Os gestores de topo do universo financeiro continuam à frente das instituições que administravam ou, foram promovidos e, parece, não aprenderam absolutamente nada.
Agora, os próximos anos, parecem ser propícios ao percorrer de espaços que não sendo propriamente económicos, estão ligados à economia.
A regeneração de bairros através das artes
O universo artístico é considerado, por distintas área da sociedade, como um catalisador eficaz no processo de regeneração e reabilitação de zonas e bairros desfavorecidos socialmente e economicamente. Em Maio passado, Andrea Baginski inaugurou em Lisboa o seu novo espaço galerístico, situado entre o Beato e o Parque das Nações, zona onde já tinham confluído outros espaços artísticos e culturais, como ateliers de artistas e galerias. No Bairro Alto, Lourenço Egreja, Rachel Korman e Paulo Reis coordenam a recuperação do Palácio Pombal, há muitos anos abandonado e em degradação, enquanto criam um lugar voltado para a comunidade com uma programação de importância e relevo nacional, para a pesquisa, experimentação e o estudo da arte contemporânea. No Porto, a reabilitação e a revitalização da Rua Miguel Bombarda, uma zona de galerias e de lojas alternativas que consegue atrair visitantes nacionais e internacionais, adaptou parte desta artéria à realidade de quem aí trabalha, ao vocacionar a zona para a divulgação da arte e da cultura. A nível individual, o curador e crítico de arte Miguel Von Hafe Pérez, foi escolhido como o novo director do Centro Galego de Arte Contemporânea (CGAC), em Santiago de Compostela.
O desmoronar de algumas sociedades
Durante 2009, a sociedade portuguesa acompanhou o desmoronar do prestígio construído por João Rendeiro, presidente do Banco Privado Português, e o desaparecimento de notícias relacionadas com a sua colecção de arte contemporânea, depositada em Alcoitão (Cascais). Outro caso, que também influenciou o mercado da arte nacional está relacionado com o Banco Português de Negócios (BPN): o galerista Manuel Silva Santos, sócio da empresa Filomena Soares e Santos, proprietários da Galeria Filomena Soares (em Lisboa), foi acusado pelo Ministério Público de ser o autor material de um crime de branqueamento de capitais por desviar fundos do grupo BPN/SLN, a título de uma recompra da colecção de arte à galeria, no valor de 3,2 milhões de euros, em 2007.
Published at NS'207/IN#103, Mercado da Arte (70), (Diário de Notícias N.º 51399 e Jornal de Notícias N.º 208/122), 26 de Dezembro de 2009 Portugal Exterior do Museu de Serralves, Courtesy: Galeria Pente e Instalação de Rui Horta Pereira na Carpe Diem Arte e Pesquisa
Monday, 21 December 2009
Sobre a Capital Europeia da Cultura em 2012
A nível da Comissão Europeia, e de acordo com o relatório apresentado pelo Painel de Selecção para a Capital Europeia da Cultura (CEC) de 2012, o orçamento total previsto para Guimarães 2012 é de 111 milhões de euros.
Dois anos antes da realização do evento, a Fundação Cidade de Guimarães tem previsto: cerca de 60 por cento do montante total para o desenvolvimento das infra-estruturas, nomeadamente a regeneração do centro histórico da cidade e a construção de equipamentos que em princípio irão acolher parte da programação da Capital Europeia da Cultura; os restante 40 por cento estão reservados à programação, nos quais, dez porcento são para as artes, e outros dez porcento para acções de marketing e promoção, ou seja, 11 milhões, para cada área.
A iniciativa Capital Europeia da Cultura, como uma manifestação cultural patrocinada pela Comissão Europeia, reflecte o carácter Europeu do evento, isto enquanto envolve a participação de toda a comunidade local, como intervenientes activos, e não como meros espectadores ou usufruidores de espectáculos exclusivos, desenvolvidos e apresentados por personalidades externas á comunidade local. Desta forma, o programa é concebido para perdurar para além da efemeridade do fogo-de-artifício dos eventos culturais comemorativos, com um impacto sustentável a longo prazo ao nível do desenvolvimento cultural, económico e social, ou seja, esta manifestação contribuiu para o crescimento social e económico, e para a criação de emprego. Dados relativos a 2003, apontam para um contributo de 2,6 por cento do PIB da União Europeia.
Relativamente aos impactos esperados para 2012, os objectivos inscritos para o desenvolvimento da cidade implicam a regeneração urbana da cidade através da cultura – uma regeneração social e económica; a visão da cidade como um modelo de liderança cultural; e a cooperação e a co-criação com outras cidade europeias.
Actualmente existe uma inércia nas práticas sociais e culturais da entidade organizadora, relativamente à CEC Guimarães 2012. Das actividade entretanto programadas, estas mais parecem ser uma brochura turística da cidade com uma intenção local, ao estarem atentas à edificação de monumentos e à concepção de projectos arquitectónicos comparativos a outras cidades nacionais; do que à formação de novos públicos para a cultura; à programação de actividades culturais que visem a integração social de uma comunidade economicamente desprotegida, a residir numa zona do país com uma economia sustentada numa indústria em declínio.
Courtesy: Guimarães 2012, Capital Europeia da Cultura
Dois anos antes da realização do evento, a Fundação Cidade de Guimarães tem previsto: cerca de 60 por cento do montante total para o desenvolvimento das infra-estruturas, nomeadamente a regeneração do centro histórico da cidade e a construção de equipamentos que em princípio irão acolher parte da programação da Capital Europeia da Cultura; os restante 40 por cento estão reservados à programação, nos quais, dez porcento são para as artes, e outros dez porcento para acções de marketing e promoção, ou seja, 11 milhões, para cada área.
A iniciativa Capital Europeia da Cultura, como uma manifestação cultural patrocinada pela Comissão Europeia, reflecte o carácter Europeu do evento, isto enquanto envolve a participação de toda a comunidade local, como intervenientes activos, e não como meros espectadores ou usufruidores de espectáculos exclusivos, desenvolvidos e apresentados por personalidades externas á comunidade local. Desta forma, o programa é concebido para perdurar para além da efemeridade do fogo-de-artifício dos eventos culturais comemorativos, com um impacto sustentável a longo prazo ao nível do desenvolvimento cultural, económico e social, ou seja, esta manifestação contribuiu para o crescimento social e económico, e para a criação de emprego. Dados relativos a 2003, apontam para um contributo de 2,6 por cento do PIB da União Europeia.
Relativamente aos impactos esperados para 2012, os objectivos inscritos para o desenvolvimento da cidade implicam a regeneração urbana da cidade através da cultura – uma regeneração social e económica; a visão da cidade como um modelo de liderança cultural; e a cooperação e a co-criação com outras cidade europeias.
Actualmente existe uma inércia nas práticas sociais e culturais da entidade organizadora, relativamente à CEC Guimarães 2012. Das actividade entretanto programadas, estas mais parecem ser uma brochura turística da cidade com uma intenção local, ao estarem atentas à edificação de monumentos e à concepção de projectos arquitectónicos comparativos a outras cidades nacionais; do que à formação de novos públicos para a cultura; à programação de actividades culturais que visem a integração social de uma comunidade economicamente desprotegida, a residir numa zona do país com uma economia sustentada numa indústria em declínio.
Courtesy: Guimarães 2012, Capital Europeia da Cultura
Saturday, 19 December 2009
Prendas de Natal
O segundo Leilão Silencioso de arte contemporânea organizado pelo espaço Uma Certa Falta de Coerência, do Porto, decorre hoje, dia 19 de Dezembro, e amanhã, dia 20 de Dezembro. Tal como em ano anterior, a intenção deste evento é angariar fundos com o objectivo de pagar as despesas de funcionamento (nomeadamente a renda do espaço e as contas de electricidade), para 2010, deste espaço gerido por artistas, na cidade do Porto.
Em 2008, o mesmo leilão conseguiu reunir fundos suficiente para pagar o equivalente a sete meses de renda. Cerca de dois mil e quinhentos euros, no qual cinquenta por cento do valor reverteu para os artistas.
Este evento de certa forma representa ajuda e compreende a possibilidade, dos responsáveis pelo espaço, de continuarem a desenvolver uma programação neste espaço de arte e de artistas. Ângelo Ferreira Sousa, André Sousa, André Cepeda, Carla Filipe, Cristina Regadas, Carlos Noronha Feio, Davide Balula, Eduardo Matos, Gonçalo Sena, Manuel Santos Maia, Mauro Cerqueira e Pedro Magalhães são alguns dos artistas que disponibilizaram obras para este leilão.
Courtesy: Uma Certa Falta de Coerência
Em 2008, o mesmo leilão conseguiu reunir fundos suficiente para pagar o equivalente a sete meses de renda. Cerca de dois mil e quinhentos euros, no qual cinquenta por cento do valor reverteu para os artistas.
Este evento de certa forma representa ajuda e compreende a possibilidade, dos responsáveis pelo espaço, de continuarem a desenvolver uma programação neste espaço de arte e de artistas. Ângelo Ferreira Sousa, André Sousa, André Cepeda, Carla Filipe, Cristina Regadas, Carlos Noronha Feio, Davide Balula, Eduardo Matos, Gonçalo Sena, Manuel Santos Maia, Mauro Cerqueira e Pedro Magalhães são alguns dos artistas que disponibilizaram obras para este leilão.
Courtesy: Uma Certa Falta de Coerência
Friday, 18 December 2009
Thursday, 17 December 2009
Sophie Calle: Talking to Strangers
Whitechapel Gallery (London)
Sophie Calle: Talking to Strangers
A set of colour photographs of women and a note explaining what has triggered Take Care of Yourself (2007), introduces the exhibitions Sophie Calle: Talking to Strangers to visitors at the Whitechapel Art Gallery, in London. After contemplating the multiple interpretations given to Sophie Calle’s e-mail, sent by X (an ex-boyfriend) telling her that their relationship has ended, we go through several rooms arranged over two floor of the gallery. We dive into a game that combines sound, text and image, which is an extensive and comprehensive account regarding the artist body of work developed, since the Eighties.
The subject in Calle’s works is questioning the boundaries between what is public and what is within the private sphere. By using her body as a medium the artist encourages a series of provocative intended actions: following people on the street – a reference to 1969, Vito Acconci’s Following Piece –, or inviting strangers to sleep in her bed while she observes and photographs those individuals who were invited to trespass from the public in to the private sphere. She documents physical interactions between the observer and the observed to allow the other to know and become involved by her private domains.
The second part of the exhibitions works as a retrospective. It shows encounters and actions in which the artist creates events, but which hardly happen: traces left by customers at The Hotel (1981); the voyage in the Trans-Siberian, from Moscow to Vladivostok, where the artist shares a compartment with the Russian Anatoli (1984); Gotham Handbook (1994), a collaboration with the writer Paul Auster; Where and When? Berck (2004), etc.
More than a visual sequence of events, it is the written word that follows each project. Documenting every action, every situation, every event perpetuated by Sophie Calle along her journey, like a forensic scientist.
Coming back, to Take Care of Yourself, photos and printing gravitate with multiple specialized worlds, projecting each of the intervenient narratives. Numerous monitors screen the same matter, the commentary on the break-up letter, interpreted by more than 10 women and a parrot. We find ourselves, has the other, in the strange situation of being entrusted with her private experiences.
Published at Lapiz, Revista Internacional de Arte. Año XXVIII, Núm. 258 (90), December 2009 España © Sophie Calle, "Take Care of Yourself" (detail showing the Opera de Paris Dancer, Marie-Agnès Gillot), 2007
Sophie Calle: Talking to Strangers
A set of colour photographs of women and a note explaining what has triggered Take Care of Yourself (2007), introduces the exhibitions Sophie Calle: Talking to Strangers to visitors at the Whitechapel Art Gallery, in London. After contemplating the multiple interpretations given to Sophie Calle’s e-mail, sent by X (an ex-boyfriend) telling her that their relationship has ended, we go through several rooms arranged over two floor of the gallery. We dive into a game that combines sound, text and image, which is an extensive and comprehensive account regarding the artist body of work developed, since the Eighties.
The subject in Calle’s works is questioning the boundaries between what is public and what is within the private sphere. By using her body as a medium the artist encourages a series of provocative intended actions: following people on the street – a reference to 1969, Vito Acconci’s Following Piece –, or inviting strangers to sleep in her bed while she observes and photographs those individuals who were invited to trespass from the public in to the private sphere. She documents physical interactions between the observer and the observed to allow the other to know and become involved by her private domains.
The second part of the exhibitions works as a retrospective. It shows encounters and actions in which the artist creates events, but which hardly happen: traces left by customers at The Hotel (1981); the voyage in the Trans-Siberian, from Moscow to Vladivostok, where the artist shares a compartment with the Russian Anatoli (1984); Gotham Handbook (1994), a collaboration with the writer Paul Auster; Where and When? Berck (2004), etc.
More than a visual sequence of events, it is the written word that follows each project. Documenting every action, every situation, every event perpetuated by Sophie Calle along her journey, like a forensic scientist.
Coming back, to Take Care of Yourself, photos and printing gravitate with multiple specialized worlds, projecting each of the intervenient narratives. Numerous monitors screen the same matter, the commentary on the break-up letter, interpreted by more than 10 women and a parrot. We find ourselves, has the other, in the strange situation of being entrusted with her private experiences.
Published at Lapiz, Revista Internacional de Arte. Año XXVIII, Núm. 258 (90), December 2009 España © Sophie Calle, "Take Care of Yourself" (detail showing the Opera de Paris Dancer, Marie-Agnès Gillot), 2007
Wednesday, 16 December 2009
The Rate of Converge of Two Opposing System Trajectories
Galeria Graça Brandão (Lisboa)
Edgar Martins : The Rate of Converge of Two Opposing System Trajectories
In order to reach the gallery Graça Brandão, in Lisbon, located in one of the many historic districts in the city, it is necessary to go through cafés and taverns. Places embedded between designer shops and private homes that during the night become bars and fado houses. We walk through and crossing homely streets to get to a former warehouse, once used by one of the many newspapers that existed in Portugal in the last century, now transformed into an exhibition space for contemporary art.
Completely integrated in this reality, the gallery has always been at the heart of sensory experiences. It is enveloped in the sounds coming from many rehearsal rooms at the nearby music conservatory. While inside the exhibition space, we chance upon remnants of a fruit market, the smell of apples – a reference we find too vulgar, as if the gas from the fruit would speed up the ripening of the images presented at the exhibition The Rate of Converge of Two Opposing System Trajectories, by Edgar Martins.
Some of the photographs presented are part of the series Ruins of the Gilded Age. Journalism issues aside, there has always been a too specific link between the images digitally manipulated by the author, even in previous series like Topologies, and the writing of Guy Debord, about the society of spectacle: “The specialization of images of the world is completed in the world of the autonomous image, where the liar has lied to himself”.
Two orders are confronted: the photographic series in which it includes the image of a room at 14 Baldwin Farms South, Greenwich, Conn. (the photo displayed at the gallery is different from the digitally altered imaged shown in the north-American newspaper, and from that was originally photographed by the author), and the series that gives title to the exhibitions, The Rate of Converge of Two Opposing System Trajectories, where debris left inside empty buildings are constructed and appear as pure forms, such as in False Imprisonment or Untouchable, both from 2008.
In the revelation of the false move, reality in the “blackmail accounts for the general acceptance of the illusion at the heart of the consumption of modern” economy, in which the spectacle is the common manifestation that can be found on the way to gallery.
Published at Lapiz, Revista Internacional de Arte. Año XXVIII, Núm. 258 (88), December 2009 España © Edgar Martins, "Untitled (Phoenix, Arizona)", from the series "Ruins of the Gilded Age", 2008
Edgar Martins : The Rate of Converge of Two Opposing System Trajectories
In order to reach the gallery Graça Brandão, in Lisbon, located in one of the many historic districts in the city, it is necessary to go through cafés and taverns. Places embedded between designer shops and private homes that during the night become bars and fado houses. We walk through and crossing homely streets to get to a former warehouse, once used by one of the many newspapers that existed in Portugal in the last century, now transformed into an exhibition space for contemporary art.
Completely integrated in this reality, the gallery has always been at the heart of sensory experiences. It is enveloped in the sounds coming from many rehearsal rooms at the nearby music conservatory. While inside the exhibition space, we chance upon remnants of a fruit market, the smell of apples – a reference we find too vulgar, as if the gas from the fruit would speed up the ripening of the images presented at the exhibition The Rate of Converge of Two Opposing System Trajectories, by Edgar Martins.
Some of the photographs presented are part of the series Ruins of the Gilded Age. Journalism issues aside, there has always been a too specific link between the images digitally manipulated by the author, even in previous series like Topologies, and the writing of Guy Debord, about the society of spectacle: “The specialization of images of the world is completed in the world of the autonomous image, where the liar has lied to himself”.
Two orders are confronted: the photographic series in which it includes the image of a room at 14 Baldwin Farms South, Greenwich, Conn. (the photo displayed at the gallery is different from the digitally altered imaged shown in the north-American newspaper, and from that was originally photographed by the author), and the series that gives title to the exhibitions, The Rate of Converge of Two Opposing System Trajectories, where debris left inside empty buildings are constructed and appear as pure forms, such as in False Imprisonment or Untouchable, both from 2008.
In the revelation of the false move, reality in the “blackmail accounts for the general acceptance of the illusion at the heart of the consumption of modern” economy, in which the spectacle is the common manifestation that can be found on the way to gallery.
Published at Lapiz, Revista Internacional de Arte. Año XXVIII, Núm. 258 (88), December 2009 España © Edgar Martins, "Untitled (Phoenix, Arizona)", from the series "Ruins of the Gilded Age", 2008
Tuesday, 15 December 2009
O espectáculo do mercado da arte contemporânea
Quando falamos da arte contemporânea estamos a designar um estilo que se reporta a aquilo que nos propõe um pensamento sobre a prática visual actual, a análise crítica do nosso quotidiano. É admirável quando se pensa no passado e na quantidade de tendências estilísticas existentes – o expressionismo abstracto, a pop art, a arte conceptual, o minimalismo, etc. Actualmente, a tradição artística ocidental incorpora cada vez mais conceitos originários no Oriente, em África ou na América do Sul. Os estilos são em demasia, existe uma mutação rápida demais para que alguma possa assumir uma posição dominante, ou seja, vivemos num trópico estilístico.
Por outro lado, quando pensamos na recente correcção económica do mercado, uma das tendências é de que as obras apresentadas pelas galerias têm menos impacto visual, é uma selecção mais criteriosa. O que é uma boa notícia. As peças de arte que anteriormente estavam ofuscadas por imagens mais floridas conseguem agora estar na vanguarda da escolha de coleccionadores e conhecedores.
Recentemente, a Paris Photo, a feira especializada em fotografia que se realizou em Paris, recebeu mais de quarenta mil visitantes. Um excelente indicador quando comparado com os cerca de 37 mil no ano transacto.
Os recentes leilões de arte contemporânea ou as obras seleccionadas e apresentadas pelos galeristas nas feiras internacionais de arte contemporânea são testemunho dessa recuperação. Na nossa história, mais do que nunca, as pessoas estão confortáveis em poder escolher a partir de uma rica variedade de fontes.
Published at NS'206/IN#102, Mercado da Arte (70), (Diário de Notícias N.º 51392 e Jornal de Notícias N.º 201/122), 19 de Dezembro de 2009 Portugal © Rita Barros, The Last Cigarette #5, 2005 Courtesy: Galeria Pente 10
Por outro lado, quando pensamos na recente correcção económica do mercado, uma das tendências é de que as obras apresentadas pelas galerias têm menos impacto visual, é uma selecção mais criteriosa. O que é uma boa notícia. As peças de arte que anteriormente estavam ofuscadas por imagens mais floridas conseguem agora estar na vanguarda da escolha de coleccionadores e conhecedores.
Recentemente, a Paris Photo, a feira especializada em fotografia que se realizou em Paris, recebeu mais de quarenta mil visitantes. Um excelente indicador quando comparado com os cerca de 37 mil no ano transacto.
Os recentes leilões de arte contemporânea ou as obras seleccionadas e apresentadas pelos galeristas nas feiras internacionais de arte contemporânea são testemunho dessa recuperação. Na nossa história, mais do que nunca, as pessoas estão confortáveis em poder escolher a partir de uma rica variedade de fontes.
Published at NS'206/IN#102, Mercado da Arte (70), (Diário de Notícias N.º 51392 e Jornal de Notícias N.º 201/122), 19 de Dezembro de 2009 Portugal © Rita Barros, The Last Cigarette #5, 2005 Courtesy: Galeria Pente 10
Monday, 14 December 2009
Competição e estratégias de mercado
Competição por galerias e coleccionadores vai ser intensa nos próximos tempos.
Um evento é considerado como uma ferramenta no processo de comunicação ou na estratégica de marketing por qualquer entidade, pública ou privada, com ou sem fins lucrativos, para criar relações, ter lucros económicos ou servir de elemento físico de referência numa celebração, seja uma feira de arte ou uma exposição.
Suportada por uma índole privada, o mercado artístico em Espanha está a promover, para se realizar em Fevereiro (em simultâneo com a mais importante feira internacional de arte contemporânea espanhola), uma feira com mais de duas dezenas de galerias emergentes – a Just Madrid pretende criar uma experiência distinta à ARCOmadrid (de fluxo financeiro positivo) e à Arte Madrid (de fluxo financeiro modesto).
Cada vez mais, a realização de um evento também está a mostrar preocupações ao nível do impacto positivo na comunidade local a longo prazo, paralelamente à dinamização e crescimento no mercado no qual pretende estar inserido. Na região da Galiza, o governo autonómico, ao ter em consideração as necessidades de uma comunidade local cada vez mais interessada e preocupada com a arte contemporânea, idealizou uma nova feira de arte para atrair e fomentar a actividade artística e o coleccionismo local num contexto mais globalizante.
Em Portugal, a feira de arte contemporânea em Lisboa registou este ano 17 161 entradas (número no qual se incluem cerca de duzentos convidados estrangeiros, como curadores, representantes de museus e centros de arte, responsáveis pela aquisição de obras de arte de fundações e colecções, e coleccionadores – facto que só por si é bom para os artistas e para as galerias, pois podem surgir deste contacto convites para exposições, o que faz aumentar o prestígio e o valor). Neste caso, é possível percepcionar também as respostas pontuais do mercado à inerência dos grandes eventos de massa, enquanto alguns questionam esta feira, como fazem os autores da manifestação «Sem Razão Alguma».
Quando muitas das galerias de arte contemporânea estão cada vez mais interessadas em promover projectos individuais, do que uma mostra nos moldes tradicionais dos seus artistas, umas das primeiras perguntas a fazer é se, nestes momentos de maior sustentação financeira, existirão os compradores suficientes para fazer com que a visível multiplicação de eventos seja viável? Pelo menos um facto é perceptível: a competição por galerias e coleccionadores durante os próximos tempos vai ser intensa.
Published at NS'206/IN#102, Mercado da Arte (70), (Diário de Notícias N.º 51392 e Jornal de Notícias N.º 201/122), 19 de Dezembro de 2009 Portugal © Rita Sobral Campos, "In the countryside of a remote land", series The Last Faust Myth in the History of Making, 2009 Courtesy: Galeria Pedro Oliveira
Um evento é considerado como uma ferramenta no processo de comunicação ou na estratégica de marketing por qualquer entidade, pública ou privada, com ou sem fins lucrativos, para criar relações, ter lucros económicos ou servir de elemento físico de referência numa celebração, seja uma feira de arte ou uma exposição.
Suportada por uma índole privada, o mercado artístico em Espanha está a promover, para se realizar em Fevereiro (em simultâneo com a mais importante feira internacional de arte contemporânea espanhola), uma feira com mais de duas dezenas de galerias emergentes – a Just Madrid pretende criar uma experiência distinta à ARCOmadrid (de fluxo financeiro positivo) e à Arte Madrid (de fluxo financeiro modesto).
Cada vez mais, a realização de um evento também está a mostrar preocupações ao nível do impacto positivo na comunidade local a longo prazo, paralelamente à dinamização e crescimento no mercado no qual pretende estar inserido. Na região da Galiza, o governo autonómico, ao ter em consideração as necessidades de uma comunidade local cada vez mais interessada e preocupada com a arte contemporânea, idealizou uma nova feira de arte para atrair e fomentar a actividade artística e o coleccionismo local num contexto mais globalizante.
Em Portugal, a feira de arte contemporânea em Lisboa registou este ano 17 161 entradas (número no qual se incluem cerca de duzentos convidados estrangeiros, como curadores, representantes de museus e centros de arte, responsáveis pela aquisição de obras de arte de fundações e colecções, e coleccionadores – facto que só por si é bom para os artistas e para as galerias, pois podem surgir deste contacto convites para exposições, o que faz aumentar o prestígio e o valor). Neste caso, é possível percepcionar também as respostas pontuais do mercado à inerência dos grandes eventos de massa, enquanto alguns questionam esta feira, como fazem os autores da manifestação «Sem Razão Alguma».
Quando muitas das galerias de arte contemporânea estão cada vez mais interessadas em promover projectos individuais, do que uma mostra nos moldes tradicionais dos seus artistas, umas das primeiras perguntas a fazer é se, nestes momentos de maior sustentação financeira, existirão os compradores suficientes para fazer com que a visível multiplicação de eventos seja viável? Pelo menos um facto é perceptível: a competição por galerias e coleccionadores durante os próximos tempos vai ser intensa.
Published at NS'206/IN#102, Mercado da Arte (70), (Diário de Notícias N.º 51392 e Jornal de Notícias N.º 201/122), 19 de Dezembro de 2009 Portugal © Rita Sobral Campos, "In the countryside of a remote land", series The Last Faust Myth in the History of Making, 2009 Courtesy: Galeria Pedro Oliveira
Friday, 11 December 2009
Thursday, 10 December 2009
à crise..
A crise é uma mudança que sobrevém no curso de um processo degenerativo violento, de uma doença provocada por partículas desconhecidas (o estranho) ao corpo. As quais se manifestam através da incapacidade do físico em se exibir de acordo com o estipulado pelas normas e regras vigentes. Ao desviar-se do original (o singular), esta é uma perigosa conjuntura que tem persistido ao longo da história da humanidade – romanização, cruzadas, descobrimentos, renascimento, capitalismo, globalização, etc. – e que qualifica e determina o cânon ocidental (o exterior a influir sobre o secular).
Usualmente, a crise é precedida e justificada por movimentos de contracção interna. O sujeito, como um único órgão, contrai-se e toma o efeito da redução das duas formas expressivas – a degeneração e a regra – em uma só.
À é um elemento que tanto significa adjunção, aproximação, passagem a um estado, como apresenta o sentido de afastamento, de privação pelo qual os fenómenos desconhecidos se manifestam. Demonstra várias relações – sociais, económicas, políticas ou culturais –, enquanto indica a relação existente entre o sujeito e o predicado.
Ao preceder a crise, a palavra à designa simultaneamente a coisa que exprime a substância, e indica o ser sobre o qual recai directamente a acção expressa, ao substituir, na oração, o nome.
Nesta disposição sintáctica, de natureza civilizacional, os artistas têm as suas mentes na ordem caseira, no espaço Oikos, o centro da actividade doméstica (o primitivo); por oposição à natureza da Polis grega, ou da Domus romana, o espaço arquitectónico de reunião e conflito público, ou seja, a praça pública onde se encontra o mercado (o duplo). Para os artistas, os seus espaços domésticos, estão sempre com eles.
Tomemos, por exemplo, o navio. Para um marinheiro o navio é o seu espaço privado, inserido no espaço público, o mar, e o mesmo para o seu país. Para nós, todos os navios se parecem uns com os outros, e o mar é sempre o mesmo. Mas, para qualquer marinheiro, “não há nada de misterioso ... a não ser o próprio mar, que é a amante da sua existência e inescrutável como o Destino.” (Joseph Conrad, Heart of Darkness, p. 3, tradução do autor)
No mercado, na sociedade onde se encontra inserida, o destino da obra de arte é paraeconómico, pois não sendo propriamente um factor económico, está ligada à economia. Visão Sobre o Mercado (2009), de Miguelangelo Veiga (com 1 000 cm, a obra é vendida exclusivamente em múltiplos de 50 cm, esta requer a criação de uma evidência física da sua existência, tem de ser fotografada, e, ainda, tem de passar pelo acto de validação, através da assinatura do artista) ou as peças de Mikael Larsson (pequenas máquinas de registo de uma acção – o mecanismo é composto por dois tornos de precisão, reflectidos á distancia de duas caneta de feltro, a tocar na superfície emulsiva, por onde entre passa uma fina folha de um rolo de caixa registadora) exprimem várias relações, nas quais uma dessas ligações está conforme aos preceitos da economia – qualificam a sua causa ao encontrar a sua individualidade na multiplicidade da economia. No entanto, esta qualificação transporta-nos para o oikonomikos (a gestão do casa), a unidade básica da sociedade, mas também onde ocorrem na sua maioria os adultérios: Miguelangelo Veiga e Mikael Larsson, e ainda, Sara Nunes Fernandes, The Hut Project, Paulo Mendes, Giogio Sadotti pervertem o efeito do fenómeno de forma diversa (contrária) do que costuma ser. Criam uma paradinamia, ou seja, na imutabilidade das suas imediações, a versátil imensidão da vida é, também, na obra de arte, gerada e velada não por um sentido misterioso, mas por uma certa insipiência desdenhosa, esquiva. Também, nas peças de Francisco Sousa Lobo, Backward e Forward (ambas de 2009), de Ana Guedes, Natureza morta contra a parede (2009), de Francesca Anfossi, Escalator (2007) e de Fernando Mesquita, o motivo é transformar a energia produtiva bruta – a relação entre a arte (como singularidade) e a economia (como multiplicidade); entre uma obra de arte, com todas as implicações que daí advêm, e um produto resultante do consumo; mas essencialmente a ligação entre o real e a ilusão, a semelhança entre a verdade e a mentira, o reflexo do nós nos outros – em fenómenos pelos quais se manifestem a presença de partículas elementares, quer em repouso, quer em movimento.
Apesar do quotidiano socioeconómico (antes capitalismo, agora globalização) parecer sempre o mesmo – como se estivéssemos parados sempre no mesmo lugar sem nos mover, mas, quando, na realidade, passamos por vários lugares, locais onde ocorrem trocas, transformações – as infografias Where do You Want to Go Today? Web Search Interest : Travel (2009), de Patrícia Sousa, chuvas ácidas (estudos sobre a possibilidade de grande tempestade mundial), serie I (2009), de Lúcia Prancha, ou a série de gráficos desenvolvida por Romeu Gonçalves testemunham, como funções matemáticas representativas, a nossa vivência diária. A informação visual gráfica parece pertencer a uma sórdida farsa representada em frente de um sinistro pano de fundo.
Com alcance internacional, o “salão de desenhos”, à crise.., é um espaço aberto para o debate, com ênfase em temas actuais da arte contemporânea. Apresentada numa »galeria« e com uma disposição derivada dos »salões« do início do século vinte, ou seja, apresenta-se inscrita no domínio tradicional expositivo do espaço galerístico (cubo branco).
Pessoalmente, à crise é também uma só palavra, a qual implica e tem implícito que, se tu não gostas do lugar onde vives, muda-te (um dos indicativos desenhos do outro, por Adam Latham). Assim, neste contexto, o verbo, na sua função sintáctica, surge como uma palavra-ordem (o título da exposição comanda e é ordenado por – no sentido do movimento que anima o physis, mas, em simultâneo, sob o nome do logos, implica também a predicação da palavra). A simplicidade das obras apresentadas e a complexidade da realidade prevalece enquanto convidam à reflexão sobre uma variedade de eventos actuais.
Ao abordar o potencial humano e artístico a exposição fomenta debates sobre os corpos estranhos (a ilusão da luz) e a participação na norma (a verdade da escuridão). A predicação implica a transformação, a mudança no espaço, um deslocar-se de uma posição para outra.
à crise..
Salão de Desenho
Comissariada por Rui Almeida e Carlos Noronha Feio
at Sopro – Projecto de Arte Contemporânea, Lisboa
10 de Dezembro 2009 a 9 de Janeiro 2010
Usualmente, a crise é precedida e justificada por movimentos de contracção interna. O sujeito, como um único órgão, contrai-se e toma o efeito da redução das duas formas expressivas – a degeneração e a regra – em uma só.
À é um elemento que tanto significa adjunção, aproximação, passagem a um estado, como apresenta o sentido de afastamento, de privação pelo qual os fenómenos desconhecidos se manifestam. Demonstra várias relações – sociais, económicas, políticas ou culturais –, enquanto indica a relação existente entre o sujeito e o predicado.
Ao preceder a crise, a palavra à designa simultaneamente a coisa que exprime a substância, e indica o ser sobre o qual recai directamente a acção expressa, ao substituir, na oração, o nome.
Nesta disposição sintáctica, de natureza civilizacional, os artistas têm as suas mentes na ordem caseira, no espaço Oikos, o centro da actividade doméstica (o primitivo); por oposição à natureza da Polis grega, ou da Domus romana, o espaço arquitectónico de reunião e conflito público, ou seja, a praça pública onde se encontra o mercado (o duplo). Para os artistas, os seus espaços domésticos, estão sempre com eles.
Tomemos, por exemplo, o navio. Para um marinheiro o navio é o seu espaço privado, inserido no espaço público, o mar, e o mesmo para o seu país. Para nós, todos os navios se parecem uns com os outros, e o mar é sempre o mesmo. Mas, para qualquer marinheiro, “não há nada de misterioso ... a não ser o próprio mar, que é a amante da sua existência e inescrutável como o Destino.” (Joseph Conrad, Heart of Darkness, p. 3, tradução do autor)
No mercado, na sociedade onde se encontra inserida, o destino da obra de arte é paraeconómico, pois não sendo propriamente um factor económico, está ligada à economia. Visão Sobre o Mercado (2009), de Miguelangelo Veiga (com 1 000 cm, a obra é vendida exclusivamente em múltiplos de 50 cm, esta requer a criação de uma evidência física da sua existência, tem de ser fotografada, e, ainda, tem de passar pelo acto de validação, através da assinatura do artista) ou as peças de Mikael Larsson (pequenas máquinas de registo de uma acção – o mecanismo é composto por dois tornos de precisão, reflectidos á distancia de duas caneta de feltro, a tocar na superfície emulsiva, por onde entre passa uma fina folha de um rolo de caixa registadora) exprimem várias relações, nas quais uma dessas ligações está conforme aos preceitos da economia – qualificam a sua causa ao encontrar a sua individualidade na multiplicidade da economia. No entanto, esta qualificação transporta-nos para o oikonomikos (a gestão do casa), a unidade básica da sociedade, mas também onde ocorrem na sua maioria os adultérios: Miguelangelo Veiga e Mikael Larsson, e ainda, Sara Nunes Fernandes, The Hut Project, Paulo Mendes, Giogio Sadotti pervertem o efeito do fenómeno de forma diversa (contrária) do que costuma ser. Criam uma paradinamia, ou seja, na imutabilidade das suas imediações, a versátil imensidão da vida é, também, na obra de arte, gerada e velada não por um sentido misterioso, mas por uma certa insipiência desdenhosa, esquiva. Também, nas peças de Francisco Sousa Lobo, Backward e Forward (ambas de 2009), de Ana Guedes, Natureza morta contra a parede (2009), de Francesca Anfossi, Escalator (2007) e de Fernando Mesquita, o motivo é transformar a energia produtiva bruta – a relação entre a arte (como singularidade) e a economia (como multiplicidade); entre uma obra de arte, com todas as implicações que daí advêm, e um produto resultante do consumo; mas essencialmente a ligação entre o real e a ilusão, a semelhança entre a verdade e a mentira, o reflexo do nós nos outros – em fenómenos pelos quais se manifestem a presença de partículas elementares, quer em repouso, quer em movimento.
Apesar do quotidiano socioeconómico (antes capitalismo, agora globalização) parecer sempre o mesmo – como se estivéssemos parados sempre no mesmo lugar sem nos mover, mas, quando, na realidade, passamos por vários lugares, locais onde ocorrem trocas, transformações – as infografias Where do You Want to Go Today? Web Search Interest : Travel (2009), de Patrícia Sousa, chuvas ácidas (estudos sobre a possibilidade de grande tempestade mundial), serie I (2009), de Lúcia Prancha, ou a série de gráficos desenvolvida por Romeu Gonçalves testemunham, como funções matemáticas representativas, a nossa vivência diária. A informação visual gráfica parece pertencer a uma sórdida farsa representada em frente de um sinistro pano de fundo.
Com alcance internacional, o “salão de desenhos”, à crise.., é um espaço aberto para o debate, com ênfase em temas actuais da arte contemporânea. Apresentada numa »galeria« e com uma disposição derivada dos »salões« do início do século vinte, ou seja, apresenta-se inscrita no domínio tradicional expositivo do espaço galerístico (cubo branco).
Pessoalmente, à crise é também uma só palavra, a qual implica e tem implícito que, se tu não gostas do lugar onde vives, muda-te (um dos indicativos desenhos do outro, por Adam Latham). Assim, neste contexto, o verbo, na sua função sintáctica, surge como uma palavra-ordem (o título da exposição comanda e é ordenado por – no sentido do movimento que anima o physis, mas, em simultâneo, sob o nome do logos, implica também a predicação da palavra). A simplicidade das obras apresentadas e a complexidade da realidade prevalece enquanto convidam à reflexão sobre uma variedade de eventos actuais.
Ao abordar o potencial humano e artístico a exposição fomenta debates sobre os corpos estranhos (a ilusão da luz) e a participação na norma (a verdade da escuridão). A predicação implica a transformação, a mudança no espaço, um deslocar-se de uma posição para outra.
à crise..
Salão de Desenho
Comissariada por Rui Almeida e Carlos Noronha Feio
at Sopro – Projecto de Arte Contemporânea, Lisboa
10 de Dezembro 2009 a 9 de Janeiro 2010
with: Martinha Maia, Romeu Gonçalves, Lúcia Prancha, Manuel Santos Maia, Paulo Mendes, Lara Torres com Ana Santos, Francisco Sousa Lobo, Catarina Viana, Carla Cruz, Evgenia Tabakova, The Hut Project, Patrick Coyle, Mikael Larsson, Francesca Anfossi, Carlos Noronha Feio, Sara Nunes Fernandes, Adam Latham, Giorgio Sadotti, Bruno Borges, Patrícia Sousa, Soraya Vasconcelos, André Alves, Pedro Alves, Miguelangelo Veiga, Ana Guedes, Paula Prates, Manuel Furtado dos Santos, Ana Sério, Mara Castilho, João Ferro Martins, Fernando Mesquita.
Wednesday, 9 December 2009
Tuesday, 8 December 2009
Uma oportunidade perdida
“Não se passa nada!”, foi o comentário de uma personalidade reconhecida no mercado internacional da arte, oriunda de Espanha, sobre a Arte Lisboa deste ano. Além dos dados quantitativos que crescentemente têm vindo a justificar o maior número de visitantes à feira de Madrid, a ARCO, comparativamente a Lisboa; a Arte Lisboa – Feira de Arte Contemporânea, este ano, foi mais uma oportunidade perdida de apresentar uma feira de arte contemporânea viva, localizada em Portugal.
Como um lugar reservado para expor, vender e comprar arte contemporânea é notório, na feira de arte: o retorno aos materiais tradicionais (escultura, pintura, desenho, etc.), e a exclusão de novos materiais de suporte tecnológico ou interventivos (mas esta é a situação actual em qualquer feira de registo a nível internacional); salvo excepções, muitos dos conteúdos apresentados pela maioria das galerias seleccionadas estão atentos à modernidade, e não à contemporaneidade, ou à altermodernidade (como define o crítico francês Nicolas Bourriaud); os preços praticados inseriam-se dentro da normalidade do consumo interno; e, desde 2001, é crescentemente perceptível, a nível programático, a diminuição de uma preocupação estratégica, por parte da entidade organizadora, que faça o público absorver-se num evento, concebido para promover e divulgar a arte contemporânea portuguesa.
E, pior, a saída neste espaço é sempre visível.
Published at NS'204/IN#100, Mercado da Arte (70), (Diário de Notícias N.º 51378 e Jornal de Notícias N.º 187/122), 5 de Dezembro de 2009 Portugal © Jasmina Cibic, Tourists Welcome (it’s good being first), 2007 Courtesy: Galería adhoc
Como um lugar reservado para expor, vender e comprar arte contemporânea é notório, na feira de arte: o retorno aos materiais tradicionais (escultura, pintura, desenho, etc.), e a exclusão de novos materiais de suporte tecnológico ou interventivos (mas esta é a situação actual em qualquer feira de registo a nível internacional); salvo excepções, muitos dos conteúdos apresentados pela maioria das galerias seleccionadas estão atentos à modernidade, e não à contemporaneidade, ou à altermodernidade (como define o crítico francês Nicolas Bourriaud); os preços praticados inseriam-se dentro da normalidade do consumo interno; e, desde 2001, é crescentemente perceptível, a nível programático, a diminuição de uma preocupação estratégica, por parte da entidade organizadora, que faça o público absorver-se num evento, concebido para promover e divulgar a arte contemporânea portuguesa.
E, pior, a saída neste espaço é sempre visível.
Published at NS'204/IN#100, Mercado da Arte (70), (Diário de Notícias N.º 51378 e Jornal de Notícias N.º 187/122), 5 de Dezembro de 2009 Portugal © Jasmina Cibic, Tourists Welcome (it’s good being first), 2007 Courtesy: Galería adhoc
Monday, 7 December 2009
Para que servem os museus?
Desenvolvimento das novas exposições procura um envolvimento maior e mais activo do visitante
Abrir a colecção de um museu de história natural, ou de ciência, ao público, era coisa fácil. Os museus viam como seu papel principal adquirir, conservar, estudar, comunicar e expor a herança tangível da humanidade e do seu meio ambiente á comunidade para o estudo, a educação e a fruição dessas obras. Os museus olhavam para os seus espaços como lugares de educação institucional, com a responsabilidade de criar conhecimento através do desenvolvimento e da pesquisa das colecções à sua salvaguarda, e, após, disseminar esse conhecimento através da apresentação de exposições formais de índole académica.
No entanto, nas últimas décadas, enquanto a salvaguarda das colecções para as gerações futuras continua a ser uma prioridade para os museus, começou a existir igualmente a necessidade de se saber apresentar as peças à sociedade em geral, de forma a que também esta seja incluída e partilhe deste conhecimento – a história da humanidade está confiada pela sociedade, para usufruto, a estas instituições.
Exposições como a inaugurada recentemente no Museu Nacional de História Natural, em Lisboa, ou a exposição permanente apresentada no Museu do Oriente (onde os jovens visitantes estão mais interessados em explorar as inúmeras áreas escuras do museu do que os conteúdos nas caixas em vidro com objectos no seu interior), demonstram a pouca atenção às expectativas do visitante na concepção das exposições em museus. Perseguir uma agenda qualitativa relacionada com o seu público é um conceito dinâmico, é saber: o que é que os motiva? Quais são as suas expectativas para a visita?
No caso da exposição A Aventura da Terra: Um Planeta em Evolução, no Museu Nacional de História Natural, o objecto central é um friso cronológico, uma parede com cem metros sobre a relatividade do tempo. Neste caso, o ambiente interpretativo quando confrontado com as necessidades da geração Spectrum (uma geração que cresceu com os jogos do Spectrum, agora na casa dos quarenta, e com filhos em idade de visitar estes espaços, divide actualmente o seu tempo livre com estes, na utilização da Xbox ou com qualquer outra consola de videojogos interactivos) é pouco apelativo. Os corredores inundados por cabinets e vitrinas eram o constituinte das apresentações museológicas durante o século XIX e grande parte do século XX, as quais promoviam uma sensação de reverência e protecção autoritária.
Presentemente, no global, o visitante tradicional de uma exposição museológica apresenta-se mais educado e com maior experiência quantitativa e qualificativa. Os visitantes não estão mais dispostos a ser meros receptores passivos de sabedoria, mas querem participar, questionar, estarem como iguais, enquanto recebem um serviço de exímia qualidade quando comparada com uma outra qualquer actividade de lazer.
Published at NS'204/IN#100, Mercado da Arte (70), (Diário de Notícias N.º 51378 e Jornal de Notícias N.º 187/122), 5 de Dezembro de 2009 Portugal Courtesy: Museu Nacional de História Natural
Abrir a colecção de um museu de história natural, ou de ciência, ao público, era coisa fácil. Os museus viam como seu papel principal adquirir, conservar, estudar, comunicar e expor a herança tangível da humanidade e do seu meio ambiente á comunidade para o estudo, a educação e a fruição dessas obras. Os museus olhavam para os seus espaços como lugares de educação institucional, com a responsabilidade de criar conhecimento através do desenvolvimento e da pesquisa das colecções à sua salvaguarda, e, após, disseminar esse conhecimento através da apresentação de exposições formais de índole académica.
No entanto, nas últimas décadas, enquanto a salvaguarda das colecções para as gerações futuras continua a ser uma prioridade para os museus, começou a existir igualmente a necessidade de se saber apresentar as peças à sociedade em geral, de forma a que também esta seja incluída e partilhe deste conhecimento – a história da humanidade está confiada pela sociedade, para usufruto, a estas instituições.
Exposições como a inaugurada recentemente no Museu Nacional de História Natural, em Lisboa, ou a exposição permanente apresentada no Museu do Oriente (onde os jovens visitantes estão mais interessados em explorar as inúmeras áreas escuras do museu do que os conteúdos nas caixas em vidro com objectos no seu interior), demonstram a pouca atenção às expectativas do visitante na concepção das exposições em museus. Perseguir uma agenda qualitativa relacionada com o seu público é um conceito dinâmico, é saber: o que é que os motiva? Quais são as suas expectativas para a visita?
No caso da exposição A Aventura da Terra: Um Planeta em Evolução, no Museu Nacional de História Natural, o objecto central é um friso cronológico, uma parede com cem metros sobre a relatividade do tempo. Neste caso, o ambiente interpretativo quando confrontado com as necessidades da geração Spectrum (uma geração que cresceu com os jogos do Spectrum, agora na casa dos quarenta, e com filhos em idade de visitar estes espaços, divide actualmente o seu tempo livre com estes, na utilização da Xbox ou com qualquer outra consola de videojogos interactivos) é pouco apelativo. Os corredores inundados por cabinets e vitrinas eram o constituinte das apresentações museológicas durante o século XIX e grande parte do século XX, as quais promoviam uma sensação de reverência e protecção autoritária.
Presentemente, no global, o visitante tradicional de uma exposição museológica apresenta-se mais educado e com maior experiência quantitativa e qualificativa. Os visitantes não estão mais dispostos a ser meros receptores passivos de sabedoria, mas querem participar, questionar, estarem como iguais, enquanto recebem um serviço de exímia qualidade quando comparada com uma outra qualquer actividade de lazer.
Published at NS'204/IN#100, Mercado da Arte (70), (Diário de Notícias N.º 51378 e Jornal de Notícias N.º 187/122), 5 de Dezembro de 2009 Portugal Courtesy: Museu Nacional de História Natural
Sunday, 6 December 2009
Saturday, 5 December 2009
Wednesday, 2 December 2009
O impacto crescente da Art Basel Miami Beach
De 3 a 6 de Dezembro, Miami Beach (Florida, EUA) acolhe a oitava edição da feira internacional de arte Art Basel Miami Beach. Mais de 250 galerias líderes, oriundas de 33 países da América do Norte, Europa, América Latina, Ásia e África, foram seleccionadas para mostrar obras de mais de 2 mil artistas dos séculos XX e XXI.
O sucesso da Art Basel Maimi Beach fez com que, em 2005, quatro anos após a primeira edição da feira internacional de arte, fosse criado a Design Miami. Um fórum internacional para o design que é concorrente à feira de arte, e que permite acrescentar mais oferta de eventos à cidade. Além de Miami se tornar um centro para a arte e o design no mercado internacional, houve um enriquecimento da comunidade local com o aumento das receitas turísticas.
Este ano, Portugal está representado na feira pela Galeria Graça Brandão, com espaços em Lisboa e no Porto, e a Cristina Guerra Contemporary Art, de Lisboa. Tanto o aluguer do stand como as outras despesas inerentes à participação podem acender a mais de cem mil euros. A gama de preços apresentados oscila entre as centenas da dólares, por múltiplos e obras de jovens artistas, e os vários milhares por obras dignas de um museu. Entre directores de museus e coleccionadores é esperado a visita de mais de quarenta mil amantes da arte.
Published at NS'203/IN#099, Mercado da Arte (70), (Diário de Notícias N.º 51371 e Jornal de Notícias N.º 180/122), 28 de Novembro de 2009 Portugal © Jorge Mayet, Cayendo suave, 2009 Courtesy: Galería Salvador Díaz, Madrid
O sucesso da Art Basel Maimi Beach fez com que, em 2005, quatro anos após a primeira edição da feira internacional de arte, fosse criado a Design Miami. Um fórum internacional para o design que é concorrente à feira de arte, e que permite acrescentar mais oferta de eventos à cidade. Além de Miami se tornar um centro para a arte e o design no mercado internacional, houve um enriquecimento da comunidade local com o aumento das receitas turísticas.
Este ano, Portugal está representado na feira pela Galeria Graça Brandão, com espaços em Lisboa e no Porto, e a Cristina Guerra Contemporary Art, de Lisboa. Tanto o aluguer do stand como as outras despesas inerentes à participação podem acender a mais de cem mil euros. A gama de preços apresentados oscila entre as centenas da dólares, por múltiplos e obras de jovens artistas, e os vários milhares por obras dignas de um museu. Entre directores de museus e coleccionadores é esperado a visita de mais de quarenta mil amantes da arte.
Published at NS'203/IN#099, Mercado da Arte (70), (Diário de Notícias N.º 51371 e Jornal de Notícias N.º 180/122), 28 de Novembro de 2009 Portugal © Jorge Mayet, Cayendo suave, 2009 Courtesy: Galería Salvador Díaz, Madrid
Tuesday, 1 December 2009
Monday, 30 November 2009
Vaidade, interesse especulativo ou responsabilidade social
Exposição no New Museum de Nova Iorque levanta um potencial de interesses entre coleccionadores privados e instituições públicas
Recentemente o New Museum (Nova Iorque) anunciou uma série de exposições sob a temática The Imaginary Museum (O Museu Imaginário). A primeira exposição agendada, para 2010, vai apresentar obras da colecção de um dos seus Trustees. Usualmente, em organizações sem fins lucrativos, como nos museus nos Estados Unidos da América, os Trustees fazem parte de um órgão de gestão. Uma das funções é promover a eleição ou a indicação, por parte dos membros ou associados da organização, de indivíduos para gerir a organização.
A colecção de arte contemporânea do magnata da construção grego Dakis Joannou, vai ser apresentada no museu e será comissariada pelo artista norte-americano Jeff Koons, que é, em simultâneo, um dos artistas mais representados na colecção.
Esta situação fez-nos lembrar o caso do até há pouco director do Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado (uma instituição gerida com fundos públicos), Pedro Lapa, que acumulava aquele cargo com o de curador da Ellipse Foundation Colecção de Arte Contemporânea (uma instituição gerida com fundos privados, situada no limiar entre fundo de investimento e uma colecção privada), propriedade de João Rendeiro, então presidente do Banco Privado Português.
A exposição no New Museum levanta um potencial conflito de interesses entre coleccionadores privados e instituições públicas, ao movimentar-se numa área pouco definida na relação entre os domínios públicos e a esfera privada. Alem das questões éticas, se, por um lado, este género de acções diminui o papel dos curadores como determinadores do valor de uma obra para a sociedade, por outro, esta exposição também viola os princípios sob os quais se rege a organização, isto é, a de não operar em benefício dos interesses privados. Assim a decisão de apresentar uma colecção privada numa instituição pública transforma o museu de uma casa para a cultura num espaço para a vaidade.
Contudo, os museus, desde os seus inícios, são espaços de vaidade. Na sua maioria, os museus públicos da Europa foram originalmente concebidos para receber colecções privadas ou as grandes colecções dos reinos e impérios. Também é verdade que, ao longo dos séculos, a maioria das grandes obras de arte foram comissionada por patronos privados, excepcionalmente, pelo poder público instituído, quando era necessário perpetuar um acto político na esfera pública.
Neste caso, mais do que tudo, o que está em causa são os mecanismos de independência curatorial, os quais permitem a distância crítica necessária para se poder avaliar o valor qualitativo obra de arte para a sociedade.
Published at NS'203/IN#099, Mercado da Arte (70), (Diário de Notícias N.º 51371 e Jornal de Notícias N.º 180/122), 28 de Novembro de 2009 Portugal © David Claerbout, Shadow piece, 2005 Courtesy: De Pont, Museum of Contemporary Art, Tiburg e Museu do Chiado, Lisboa
Recentemente o New Museum (Nova Iorque) anunciou uma série de exposições sob a temática The Imaginary Museum (O Museu Imaginário). A primeira exposição agendada, para 2010, vai apresentar obras da colecção de um dos seus Trustees. Usualmente, em organizações sem fins lucrativos, como nos museus nos Estados Unidos da América, os Trustees fazem parte de um órgão de gestão. Uma das funções é promover a eleição ou a indicação, por parte dos membros ou associados da organização, de indivíduos para gerir a organização.
A colecção de arte contemporânea do magnata da construção grego Dakis Joannou, vai ser apresentada no museu e será comissariada pelo artista norte-americano Jeff Koons, que é, em simultâneo, um dos artistas mais representados na colecção.
Esta situação fez-nos lembrar o caso do até há pouco director do Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado (uma instituição gerida com fundos públicos), Pedro Lapa, que acumulava aquele cargo com o de curador da Ellipse Foundation Colecção de Arte Contemporânea (uma instituição gerida com fundos privados, situada no limiar entre fundo de investimento e uma colecção privada), propriedade de João Rendeiro, então presidente do Banco Privado Português.
A exposição no New Museum levanta um potencial conflito de interesses entre coleccionadores privados e instituições públicas, ao movimentar-se numa área pouco definida na relação entre os domínios públicos e a esfera privada. Alem das questões éticas, se, por um lado, este género de acções diminui o papel dos curadores como determinadores do valor de uma obra para a sociedade, por outro, esta exposição também viola os princípios sob os quais se rege a organização, isto é, a de não operar em benefício dos interesses privados. Assim a decisão de apresentar uma colecção privada numa instituição pública transforma o museu de uma casa para a cultura num espaço para a vaidade.
Contudo, os museus, desde os seus inícios, são espaços de vaidade. Na sua maioria, os museus públicos da Europa foram originalmente concebidos para receber colecções privadas ou as grandes colecções dos reinos e impérios. Também é verdade que, ao longo dos séculos, a maioria das grandes obras de arte foram comissionada por patronos privados, excepcionalmente, pelo poder público instituído, quando era necessário perpetuar um acto político na esfera pública.
Neste caso, mais do que tudo, o que está em causa são os mecanismos de independência curatorial, os quais permitem a distância crítica necessária para se poder avaliar o valor qualitativo obra de arte para a sociedade.
Published at NS'203/IN#099, Mercado da Arte (70), (Diário de Notícias N.º 51371 e Jornal de Notícias N.º 180/122), 28 de Novembro de 2009 Portugal © David Claerbout, Shadow piece, 2005 Courtesy: De Pont, Museum of Contemporary Art, Tiburg e Museu do Chiado, Lisboa
Sunday, 29 November 2009
Saturday, 28 November 2009
Friday, 27 November 2009
newsfromlisbon200911
Tuesday, 24 November 2009
Leituras distintas nos leilões de Nova Iorque
Apesar das tendências e dos gostos mudarem com o tempo, no mercado internacional existe sempre procura por obras de arte de extrema qualidade. Ao contrário da decepcionante venda de arte impressionista e moderna na Christie’s de Nova Iorque, no passado dia 3 de Novembro, o mesmo leilão, na rival Sotehby’s, no dia 4 de Novembro, foi um sucesso, dado o presente contexto económico.
O resultado final na Christie’s ascendeu aos 45 milhões de euros (o leilão estava estimado entre os 46 milhões e os 65 milhões de euros), enquanto o leilão da Sotheby’s superou o estimado mínimo, ao realizar um total de 123 milhões de euros (85% dos lotes presentes a leilão foram vendidos; na Christie’s foi um total de 71%). No entanto, o produto da venda na Sotheby’s ficou 19% abaixo quando comparado com o mesmo leilão realizado em 2008, e 33% em relação a 2007.
Entretanto, ainda na Sotheby’s, a acompanhar a venda de L´homme qui Chavire, de Alberto Giacometti, foram ainda superados dois recordes – para o valor pago por obra adquirida em leilão por autor – com a pintura de André Derain, Barques au Port de Collioure (cerca de 1905) por 9,5 milhões de euros, e Jeune Árabe (1910), de Kees Van Dongen, por 9,3 milhões de euros. Se no caso da Christie’s o retrato de Dora Maar pintado por Pablo Picasso (Tête de Femme, de 1943) não conseguiu encontrar comprador, o pastel de Edgar Degas, Danseuses, de 1896, superou o estimado e foi adquirido por mais de sete milhões de euros por um comprador asiático; o bronze de Auguste Rodin, Le Baise, Moyen Modèle Dit Taille de la Porte (modèle avec base simplifiée), foi vendido por um valor superior a quatro milhões de euros, também acima do estimado máximo.
Published at NS'202/IN#098, Mercado da Arte (70), (Diário de Notícias N.º 51364 e Jornal de Notícias N.º 173/122), 21 de Novembro de 2009 Portugal © Edgar Degas, Danseuses, cerca de 1896 Courtesy: Christie's 2009
O resultado final na Christie’s ascendeu aos 45 milhões de euros (o leilão estava estimado entre os 46 milhões e os 65 milhões de euros), enquanto o leilão da Sotheby’s superou o estimado mínimo, ao realizar um total de 123 milhões de euros (85% dos lotes presentes a leilão foram vendidos; na Christie’s foi um total de 71%). No entanto, o produto da venda na Sotheby’s ficou 19% abaixo quando comparado com o mesmo leilão realizado em 2008, e 33% em relação a 2007.
Entretanto, ainda na Sotheby’s, a acompanhar a venda de L´homme qui Chavire, de Alberto Giacometti, foram ainda superados dois recordes – para o valor pago por obra adquirida em leilão por autor – com a pintura de André Derain, Barques au Port de Collioure (cerca de 1905) por 9,5 milhões de euros, e Jeune Árabe (1910), de Kees Van Dongen, por 9,3 milhões de euros. Se no caso da Christie’s o retrato de Dora Maar pintado por Pablo Picasso (Tête de Femme, de 1943) não conseguiu encontrar comprador, o pastel de Edgar Degas, Danseuses, de 1896, superou o estimado e foi adquirido por mais de sete milhões de euros por um comprador asiático; o bronze de Auguste Rodin, Le Baise, Moyen Modèle Dit Taille de la Porte (modèle avec base simplifiée), foi vendido por um valor superior a quatro milhões de euros, também acima do estimado máximo.
Published at NS'202/IN#098, Mercado da Arte (70), (Diário de Notícias N.º 51364 e Jornal de Notícias N.º 173/122), 21 de Novembro de 2009 Portugal © Edgar Degas, Danseuses, cerca de 1896 Courtesy: Christie's 2009
O Estado francês adquire obras, na FIAC, no valor de 400 mil euros
Por intermédio do Centro Nacional de Artes Plásticas (CNAP), o Ministério da Cultura francês disponibilizou um orçamento no valor total de 400 mil euros, para proceder à compra de obras de arte, na Feira Internacional de Arte Contemporânea (FIAC), em Paris.
A Comissão de compras, nomeada por três anos e composta por um júri de 15 pessoas (das quais 8 são personalidade de mérito reconhecido no mundo artístico, e as restantes 7 são responsáveis pela difusão cultural francesa), seleccionou 24 obras de 20 artistas que vão enriquecer a colecção do Fundo Nacional de Arte Contemporânea (FNAC).
Published at NS'202/IN#098, Mercado da Arte (70), (Diário de Notícias N.º 51364 e Jornal de Notícias N.º 173/122), 21 de Novembro de 2009 Portugal © Eva Nielsen, Camaldules (óleo, acrílico e serigrafia sobre tela, 200x150cm), 2009 Courtesy: Dominique Fiat, Paris
A Comissão de compras, nomeada por três anos e composta por um júri de 15 pessoas (das quais 8 são personalidade de mérito reconhecido no mundo artístico, e as restantes 7 são responsáveis pela difusão cultural francesa), seleccionou 24 obras de 20 artistas que vão enriquecer a colecção do Fundo Nacional de Arte Contemporânea (FNAC).
Published at NS'202/IN#098, Mercado da Arte (70), (Diário de Notícias N.º 51364 e Jornal de Notícias N.º 173/122), 21 de Novembro de 2009 Portugal © Eva Nielsen, Camaldules (óleo, acrílico e serigrafia sobre tela, 200x150cm), 2009 Courtesy: Dominique Fiat, Paris
Monday, 23 November 2009
As peças de arte intangíveis e perecíveis
Como preservar e conservar obras de arte concebidas com recurso às novas tecnologias.
Uma das propostas apresentadas pela Lisboa 20 Arte Contemporânea este ano na Frieze, a feira de arte de Londres, resumia-se a dois visitantes casuais que apareciam no stand da galeria e despiam uma peça de roupa. Depois, saiam tranquilamente do pavilhão da feira.
Paralelamente às peças que apresentam intervenientes humanos, peças sobre as quais os coleccionadores e directores de instituições museológicas se questionam – se as pessoas envolvidas na obra são também adquiridas no acto da compra, por exemplo, a desmaterialização do objecto de arte nas situações construídas por Tino Sehgal –, os artistas contemporâneos apresentam ainda outra questão aos museus e coleccionadores, nomeadamente ao nível da preservação e da conservação de obras de arte.
Há obras que existem no tempo, e não no espaço, que são perecíveis, que deixam de existir: as matérias orgânicas presentes nas instalações de Tracy Emin; a utilização de equipamentos electrónicos que se tornam rapidamente obsoletos são alguns dos exemplos; os vídeos ou os filmes de João Maria Gusmão + Pedro Paiva, João Onofre ou Noé Sendas; as instalações de áudio de Ricardo Jacinto; ou nos computadores (nos quais se incluem a arte digital, a animação computadorizada, a arte virtual e as tecnologias interactivas, etc.).
Para dar resposta a estas questões, em 2003, foi concebida uma sociedade formada por curadores, conservadores e gestores com preocupação ao nível da preservação e conservação de obras de arte concebidas com recurso às novas tecnologias. O projecto Matters in Media Art é uma colaboração multi-estruturada entre profissionais e quatro instituições artísticas (o New Art Trust, o MoMA – Museu de Arte Moderna, de Nova Iorque, o SFMOMA – Museu de Arte Moderna, de São Francisco, e a Tate, em Londres), e a qual tem como objecto providenciar linhas orientadoras para saber cuidar de obras de arte criadas, em particular, a partir das novas tecnologias.
Uma outra solução para esta questão da incorporalidade da obra de arte foi implementada pelo Darwin Centre (Museu de História Natural, em Londres). O Darwin Centre promove visitas guiadas pelos vários departamentos nas quais o cidadão comum é convidado a vislumbrar e a tomar conhecimento do universo que compreende a pesquisa nas ciências naturais, assim como os diferentes passos nos processos de preservação e conservação de espécimes naturais que tendem, com o tempo, a deixar de existir fisicamente.
As peças desenvolvidas dentro de um suporte temporal, ao invés do tradicional suporte espacial (escultura, pintura ou desenho), são actualmente sistemas tão complexos que apresentam novos desafios à sua custódia. Além de se ficar a conhecer as obras expostas nas diferentes salas expositivas, este programa do Darwin Centre permite ao público tomar conhecimento das obras armazenadas, mas principalmente convida a sociedade em geral a perceber e partilhar das mesmas preocupações do universo artístico, enquanto se contribui para a promoção e divulgação de matérias de duração ainda por definir.
Published at NS'202/IN#098, Mercado da Arte (70), (Diário de Notícias N.º 51364 e Jornal de Notícias N.º 173/122), 21 de Novembro de 2009 Portugal © Tracey Emin, The Perfect Place to Grow, 2001 Courtesy: White Cube, Londres
Uma das propostas apresentadas pela Lisboa 20 Arte Contemporânea este ano na Frieze, a feira de arte de Londres, resumia-se a dois visitantes casuais que apareciam no stand da galeria e despiam uma peça de roupa. Depois, saiam tranquilamente do pavilhão da feira.
Paralelamente às peças que apresentam intervenientes humanos, peças sobre as quais os coleccionadores e directores de instituições museológicas se questionam – se as pessoas envolvidas na obra são também adquiridas no acto da compra, por exemplo, a desmaterialização do objecto de arte nas situações construídas por Tino Sehgal –, os artistas contemporâneos apresentam ainda outra questão aos museus e coleccionadores, nomeadamente ao nível da preservação e da conservação de obras de arte.
Há obras que existem no tempo, e não no espaço, que são perecíveis, que deixam de existir: as matérias orgânicas presentes nas instalações de Tracy Emin; a utilização de equipamentos electrónicos que se tornam rapidamente obsoletos são alguns dos exemplos; os vídeos ou os filmes de João Maria Gusmão + Pedro Paiva, João Onofre ou Noé Sendas; as instalações de áudio de Ricardo Jacinto; ou nos computadores (nos quais se incluem a arte digital, a animação computadorizada, a arte virtual e as tecnologias interactivas, etc.).
Para dar resposta a estas questões, em 2003, foi concebida uma sociedade formada por curadores, conservadores e gestores com preocupação ao nível da preservação e conservação de obras de arte concebidas com recurso às novas tecnologias. O projecto Matters in Media Art é uma colaboração multi-estruturada entre profissionais e quatro instituições artísticas (o New Art Trust, o MoMA – Museu de Arte Moderna, de Nova Iorque, o SFMOMA – Museu de Arte Moderna, de São Francisco, e a Tate, em Londres), e a qual tem como objecto providenciar linhas orientadoras para saber cuidar de obras de arte criadas, em particular, a partir das novas tecnologias.
Uma outra solução para esta questão da incorporalidade da obra de arte foi implementada pelo Darwin Centre (Museu de História Natural, em Londres). O Darwin Centre promove visitas guiadas pelos vários departamentos nas quais o cidadão comum é convidado a vislumbrar e a tomar conhecimento do universo que compreende a pesquisa nas ciências naturais, assim como os diferentes passos nos processos de preservação e conservação de espécimes naturais que tendem, com o tempo, a deixar de existir fisicamente.
As peças desenvolvidas dentro de um suporte temporal, ao invés do tradicional suporte espacial (escultura, pintura ou desenho), são actualmente sistemas tão complexos que apresentam novos desafios à sua custódia. Além de se ficar a conhecer as obras expostas nas diferentes salas expositivas, este programa do Darwin Centre permite ao público tomar conhecimento das obras armazenadas, mas principalmente convida a sociedade em geral a perceber e partilhar das mesmas preocupações do universo artístico, enquanto se contribui para a promoção e divulgação de matérias de duração ainda por definir.
Published at NS'202/IN#098, Mercado da Arte (70), (Diário de Notícias N.º 51364 e Jornal de Notícias N.º 173/122), 21 de Novembro de 2009 Portugal © Tracey Emin, The Perfect Place to Grow, 2001 Courtesy: White Cube, Londres
Sunday, 22 November 2009
Thursday, 19 November 2009
Wednesday, 18 November 2009
Duas visões sobre o mercado da arte em Portugal
Arlete Alves da Silva
«esta é uma boa altura para investir em arte»
A Galeria 111, com uma actividade ininterrupta desde 1964, é uma das mais antigas no mercado nacional. Com dois espaços em Lisboa e um outro no Porto, a galeria representa artistas conceituados como Paula Rego ou Graça Morais. Entretanto, Maria Arlete Alves da Silva e Rui Brito, directores da galeria, também estão associados a artistas com um percurso já estabelecido no mercado artístico, como Rigo 23 ou Fátima Mendonça. Mas provavelmente o seu maior desafio passa por apresentar jovens artistas, como são Gabriel Abrantes (Prémio EDP – Jovens Artistas 2009), Francisco Vidal ou Samuel Rama, num programa de artistas consagrados e estabelecidos.
Questionada sobre o recente boom e o posterior crash do mercado artístico no presente contexto económico, Maria Arlete Alves da Silva respondeu:
«Esta é a minha quarta crise. A primeira grande crise foi com o 25 de Abril. Nos anos anteriores, a par do investimento bolsista, as obras de arte tinham tido uma grande valorização, porque dada a melhoria económica do país começaram a aparecer coleccionadores e, pela primeira vez, havia um mercado de arte. Nesta crise tanto a Bolsa como a Arte tiveram um colapso. Nos tempos que se seguiram, as perdas no investimento bolsista foram irreversíveis mas as obras de arte, que também sofreram os seus revezes, passado algum tempo tiveram uma valorização enorme.
Anos depois (anos 80 e anos 90) tudo se repete na Arte e na Bolsa, depois de períodos de euforia seguem-se períodos de depressão. E mais uma vez estamos a enfrentar uma nova crise. Este é um bom momento para reflectir sobre o investimento na arte. Nos últimos tempos as obras de arte foram tratadas como um produto financeiro e alvo de todo o tipo de especulações por parte de artistas, galeristas e leiloeiros. Todos nós assistimos a verdadeiras operações de marketing, que culminaram no famoso leilão das obras de Damiem Hirst [Beautiful Inside My Head Forever realizou-se nos dias 15 e 16 de Setembro de 2008 na Sotheby’s de Londres]. Formaram-se empresas para adquirir as suas obras e o próprio artista também integrou o núcleo de compradores. Tudo apoiado por uma enorme campanha publicitária. Aparentemente, as obras atingiram preços exorbitantes mas a realidade parece ser bem diferente. Este forçar do mercado é altamente prejudicial. Este artista atingiu preços que nos anos mais próximos não terão mercado.
Em Portugal não houve exageros tão grandes. Há artistas e galeristas que aumentaram as cotações acima da valorização normal e esses vão ter que fazer ajustamentos mas, na sua maioria, prevaleceu o bom senso.
É pois uma boa altura para investir em arte. Nas três vertentes – imobiliário, Bolsa e arte – esta é a que está menos sujeita a flutuações. Quando bem escolhida é o investimento mais seguro e rentável que existe. Não se deve esperar uma rentabilidade imediata sobretudo se se investe em jovens artistas. Ao fim de dez anos há normalmente uma grande valorização.
Maria do Carmo Oliveira
«os artistas com quem trabalho são inspiradores»
A galeria MCO Arte Contemporânea surgiu no Porto em Outubro de 2005. Ao dirigir essencialmente a sua programação para a arte emergente e experimental a directora da galeria, Maria do Carmo Oliveira, criou um espaço que está a marcar a diferença no universo artístico nacional pela sua originalidade, ao promover uma nova geração de artistas radicados no grande Porto, como Arlindo Silva, Fabrízio Matos ou Sofia Leitão, entre muitos outros.
Quando é que percebeu que queria ser galerista?
Em 2005, ano em que abri a galeria.
Qual foi a sua primeira grande venda?
Para mim todas as vendas são significativas.
Qual o seu pior momento como galeristas?
Tenho uma memória muito selectiva e por isso guardo apenas os bons momentos.
Quais os artistas que a inspiram?
Todos os artistas com quem trabalho são inspiradores, pois são criativos, trabalhadores e sérios e por isso fazemos um trabalho de inspiração e admiração mútua.
Que conselho daria a um jovem artista em início de carreira?
Trabalho, trabalho e mais trabalho.
O que são para si as Feiras de Arte?
São eventos essencialmente de promoção dos artistas e da galeria, onde se se tiver sorte talvez se vendam alguns trabalhos.
Published at NS'201/IN#097, Destaque (53-55), (Diário de Notícias N.º 51357 e Jornal de Notícias N.º 166/122), 14 de Novembro de 2009 Portugal © Martinho Costa, Space Shuttle (óleo sobre tela, 58x46cm), 2009 Courtesy: Galeria 111 e © Fabrízio Matos, Fragmentos de Diana (aguarela sobre gesso, 57x57cm), 2009 Courtesy: MCO Arte Contemporânea
«esta é uma boa altura para investir em arte»
A Galeria 111, com uma actividade ininterrupta desde 1964, é uma das mais antigas no mercado nacional. Com dois espaços em Lisboa e um outro no Porto, a galeria representa artistas conceituados como Paula Rego ou Graça Morais. Entretanto, Maria Arlete Alves da Silva e Rui Brito, directores da galeria, também estão associados a artistas com um percurso já estabelecido no mercado artístico, como Rigo 23 ou Fátima Mendonça. Mas provavelmente o seu maior desafio passa por apresentar jovens artistas, como são Gabriel Abrantes (Prémio EDP – Jovens Artistas 2009), Francisco Vidal ou Samuel Rama, num programa de artistas consagrados e estabelecidos.
Questionada sobre o recente boom e o posterior crash do mercado artístico no presente contexto económico, Maria Arlete Alves da Silva respondeu:
«Esta é a minha quarta crise. A primeira grande crise foi com o 25 de Abril. Nos anos anteriores, a par do investimento bolsista, as obras de arte tinham tido uma grande valorização, porque dada a melhoria económica do país começaram a aparecer coleccionadores e, pela primeira vez, havia um mercado de arte. Nesta crise tanto a Bolsa como a Arte tiveram um colapso. Nos tempos que se seguiram, as perdas no investimento bolsista foram irreversíveis mas as obras de arte, que também sofreram os seus revezes, passado algum tempo tiveram uma valorização enorme.
Anos depois (anos 80 e anos 90) tudo se repete na Arte e na Bolsa, depois de períodos de euforia seguem-se períodos de depressão. E mais uma vez estamos a enfrentar uma nova crise. Este é um bom momento para reflectir sobre o investimento na arte. Nos últimos tempos as obras de arte foram tratadas como um produto financeiro e alvo de todo o tipo de especulações por parte de artistas, galeristas e leiloeiros. Todos nós assistimos a verdadeiras operações de marketing, que culminaram no famoso leilão das obras de Damiem Hirst [Beautiful Inside My Head Forever realizou-se nos dias 15 e 16 de Setembro de 2008 na Sotheby’s de Londres]. Formaram-se empresas para adquirir as suas obras e o próprio artista também integrou o núcleo de compradores. Tudo apoiado por uma enorme campanha publicitária. Aparentemente, as obras atingiram preços exorbitantes mas a realidade parece ser bem diferente. Este forçar do mercado é altamente prejudicial. Este artista atingiu preços que nos anos mais próximos não terão mercado.
Em Portugal não houve exageros tão grandes. Há artistas e galeristas que aumentaram as cotações acima da valorização normal e esses vão ter que fazer ajustamentos mas, na sua maioria, prevaleceu o bom senso.
É pois uma boa altura para investir em arte. Nas três vertentes – imobiliário, Bolsa e arte – esta é a que está menos sujeita a flutuações. Quando bem escolhida é o investimento mais seguro e rentável que existe. Não se deve esperar uma rentabilidade imediata sobretudo se se investe em jovens artistas. Ao fim de dez anos há normalmente uma grande valorização.
Maria do Carmo Oliveira
«os artistas com quem trabalho são inspiradores»
A galeria MCO Arte Contemporânea surgiu no Porto em Outubro de 2005. Ao dirigir essencialmente a sua programação para a arte emergente e experimental a directora da galeria, Maria do Carmo Oliveira, criou um espaço que está a marcar a diferença no universo artístico nacional pela sua originalidade, ao promover uma nova geração de artistas radicados no grande Porto, como Arlindo Silva, Fabrízio Matos ou Sofia Leitão, entre muitos outros.
Quando é que percebeu que queria ser galerista?
Em 2005, ano em que abri a galeria.
Qual foi a sua primeira grande venda?
Para mim todas as vendas são significativas.
Qual o seu pior momento como galeristas?
Tenho uma memória muito selectiva e por isso guardo apenas os bons momentos.
Quais os artistas que a inspiram?
Todos os artistas com quem trabalho são inspiradores, pois são criativos, trabalhadores e sérios e por isso fazemos um trabalho de inspiração e admiração mútua.
Que conselho daria a um jovem artista em início de carreira?
Trabalho, trabalho e mais trabalho.
O que são para si as Feiras de Arte?
São eventos essencialmente de promoção dos artistas e da galeria, onde se se tiver sorte talvez se vendam alguns trabalhos.
Published at NS'201/IN#097, Destaque (53-55), (Diário de Notícias N.º 51357 e Jornal de Notícias N.º 166/122), 14 de Novembro de 2009 Portugal © Martinho Costa, Space Shuttle (óleo sobre tela, 58x46cm), 2009 Courtesy: Galeria 111 e © Fabrízio Matos, Fragmentos de Diana (aguarela sobre gesso, 57x57cm), 2009 Courtesy: MCO Arte Contemporânea
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Arte Lisboa, a invasão espanhola
O certame inscreve-se no panorama ibérico das feiras de arte ao concorrer directamente com as feiras-satélites da ARCOmadrid, que se realizam por toda a Espanha.
Algumas das galerias de arte nacionais mais representativas e dinamizadoras das novas tendências no mercado artístico, como a Galeria Pedro Cera (Lisboa) ou a Galeria Graça Brandão (Porto e Lisboa), e galerias representativas de artistas considerados de valores seguros no mercado, como a Mário Sequeira (Tibães, Braga) ou a Fernando Santos (Porto) não vão estar presentes na Arte Lisboa 2009 – Feira de Arte Contemporânea. Jovens galerias como a Caroline Pagès Gallery e a Marz, ambas de Lisboa, preferem apostar directamente no mercado internacional. Outras galerias, como a Cristina Guerra – Contemporary Art ou a Vera Cortês Agência da Arte, também têm posições distintas da Arte Lisboa.
Em 2001, a feira de arte contemporânea de Lisboa organizada pela APGA (Associação Portuguesa de Galerias de Arte) passou a estar sob a incumbência da FIL (Feira Internacional de Lisboa), através da AIP (Associação Industrial Portuguesa). Esta alteração na estrutura organizativa visava consolidar este evento como um certame internacional equiparável à feira de Madrid, a ARCO. Contudo, esta transformação da estrutura organizativa provocou de imediato mudanças nos critérios de selecção – os quais passaram a ser definidos por uma Comissão Consultiva, presidida pela AIP, e, entre outros, integrava o presidente da APGA. Também foi criado um regulamento e foram estabelecidos novos critérios de avaliação das candidaturas. Uma das consequências desta mudança foi a exclusão de muitas galerias nacionais, que, de acordo com a Comissão Consultiva da feira, não apresentavam os requisitos mínimos exigidos.
Com a dissolução da noção de nacionalidade e das fronteiras na sociedade contemporânea, actualmente a Arte Lisboa inscreve-se no panorama ibérico das feiras de arte, ao posicionar-se e concorrer directamente com as múltiplas feiras-satélites da ARCOmadrid, que se realizam por toda a Espanha, como o Foro Sur (Cáceres), a Arte Salamanca ou a Valencia Art. Para a AIP, «a mais interessante novidade desta edição é a forte participação de galerias espanholas». De um conjunto de 67 galerias, 33 são portuguesas e 31 espanholas. Em 2001 estiveram representadas 28 galerias espanholas e 26 galerias portuguesas.
De salientar três aspectos: o centralismo exacerbado nacional (Lisboa e Porto, com a excepção da Mário Sequeira, de Tibães (Braga), da António Henriques, de Viseu, e da Fonseca Macedo, da Ponta Delgada, Açores), confrontado com a periferia espanhola – um elemento caracterizador da Arte Lisboa –, este ano está mais diluído através da presença de espaços localizados no Estoril, Aveiro e Leiria. Ao contrário de Portugal, a participação espanhola em feiras internacionais é apoiada pelo instituto de espanhol responsável pela acção cultural exterior, o equivalente cultural espanhol da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP). A participação de outros países na feira nacional é considerada redundante para esta contabilidade.
Published at NS'201/IN#097, Destaque (53-55), (Diário de Notícias N.º 51357 e Jornal de Notícias N.º 166/122), 14 de Novembro de 2009 Portugal © João Pedro Vale, Barometz (Suelly Cadillac), 2006 Courtesy: Galeria Filomena Soares and © Arte Lisboa 2007, Santos Almeida Courtesy: Arte Lisboa
Algumas das galerias de arte nacionais mais representativas e dinamizadoras das novas tendências no mercado artístico, como a Galeria Pedro Cera (Lisboa) ou a Galeria Graça Brandão (Porto e Lisboa), e galerias representativas de artistas considerados de valores seguros no mercado, como a Mário Sequeira (Tibães, Braga) ou a Fernando Santos (Porto) não vão estar presentes na Arte Lisboa 2009 – Feira de Arte Contemporânea. Jovens galerias como a Caroline Pagès Gallery e a Marz, ambas de Lisboa, preferem apostar directamente no mercado internacional. Outras galerias, como a Cristina Guerra – Contemporary Art ou a Vera Cortês Agência da Arte, também têm posições distintas da Arte Lisboa.
Em 2001, a feira de arte contemporânea de Lisboa organizada pela APGA (Associação Portuguesa de Galerias de Arte) passou a estar sob a incumbência da FIL (Feira Internacional de Lisboa), através da AIP (Associação Industrial Portuguesa). Esta alteração na estrutura organizativa visava consolidar este evento como um certame internacional equiparável à feira de Madrid, a ARCO. Contudo, esta transformação da estrutura organizativa provocou de imediato mudanças nos critérios de selecção – os quais passaram a ser definidos por uma Comissão Consultiva, presidida pela AIP, e, entre outros, integrava o presidente da APGA. Também foi criado um regulamento e foram estabelecidos novos critérios de avaliação das candidaturas. Uma das consequências desta mudança foi a exclusão de muitas galerias nacionais, que, de acordo com a Comissão Consultiva da feira, não apresentavam os requisitos mínimos exigidos.
Com a dissolução da noção de nacionalidade e das fronteiras na sociedade contemporânea, actualmente a Arte Lisboa inscreve-se no panorama ibérico das feiras de arte, ao posicionar-se e concorrer directamente com as múltiplas feiras-satélites da ARCOmadrid, que se realizam por toda a Espanha, como o Foro Sur (Cáceres), a Arte Salamanca ou a Valencia Art. Para a AIP, «a mais interessante novidade desta edição é a forte participação de galerias espanholas». De um conjunto de 67 galerias, 33 são portuguesas e 31 espanholas. Em 2001 estiveram representadas 28 galerias espanholas e 26 galerias portuguesas.
De salientar três aspectos: o centralismo exacerbado nacional (Lisboa e Porto, com a excepção da Mário Sequeira, de Tibães (Braga), da António Henriques, de Viseu, e da Fonseca Macedo, da Ponta Delgada, Açores), confrontado com a periferia espanhola – um elemento caracterizador da Arte Lisboa –, este ano está mais diluído através da presença de espaços localizados no Estoril, Aveiro e Leiria. Ao contrário de Portugal, a participação espanhola em feiras internacionais é apoiada pelo instituto de espanhol responsável pela acção cultural exterior, o equivalente cultural espanhol da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP). A participação de outros países na feira nacional é considerada redundante para esta contabilidade.
Published at NS'201/IN#097, Destaque (53-55), (Diário de Notícias N.º 51357 e Jornal de Notícias N.º 166/122), 14 de Novembro de 2009 Portugal © João Pedro Vale, Barometz (Suelly Cadillac), 2006 Courtesy: Galeria Filomena Soares and © Arte Lisboa 2007, Santos Almeida Courtesy: Arte Lisboa
Tuesday, 17 November 2009
O destino mais vibrante do Médio Oriente
Do ponto de vista cultural e turístico, alguns dos mais interessantes projectos de promoção da arte contemporânea concebidos durante os últimos anos procuravam incluir e incluir-se nos mercados emergentes: China, Índia e Médio Oriente, nomeadamente os Emirados Árabes Unidos (EAU). Entretanto, algumas destas manifestações foram canceladas: a Artparis Abu Dhabi (uma associação entre a feira parisiense e este emirado), a primeira grande feira internacional de arte a realizar-se nos EAU, aconteceu por duas vezes, a primeira em 2007, e depois em 2008. Este ano uma nova feira foi criada: a Art Abu Dhabi. Realiza-se entre os dias 19 e 22 de Novembro e apresenta 50 galerias originárias de 18 países, como a Galerie Patrice Trigano (Paris, França), Nature Morte – New Delhi (Nova Deli, Índia), Hauser & Wirth (Zurique, Suiça), White Cube (Londres, Inglaterra) e a Gagosian Gallery ou a PaceWildenstein, de Nova Iorque (EUA).
Published at NS'201/IN#097, Mercado da arte (70), (Diário de Notícias N.º 51357 e Jornal de Notícias N.º 166/122), 14 de Novembro de 2009 Portugal © Simulation du District Culturel de l'ile de Saadiyat Courtesy: Claudine Colin Communication
Published at NS'201/IN#097, Mercado da arte (70), (Diário de Notícias N.º 51357 e Jornal de Notícias N.º 166/122), 14 de Novembro de 2009 Portugal © Simulation du District Culturel de l'ile de Saadiyat Courtesy: Claudine Colin Communication
Fotografia, um segmento do mercado
As últimas décadas do século XX coincidiram com a popularização da fotografia. As feiras e leilões dedicados a este meio são actualmente mais uma das manifestações comerciais no mercado artístico. Entre 19 e 22 de Novembro, no Carrousel du Louvre (Paris), realiza-se a Paris Photo, o principal evento mundial dedicado à promoção e divulgação da fotografia num contexto comercial. Os 89 stands de galerias e 13 publicações (provenientes de 23 países) presentes na Paris Photo apresentam uma visão panorâmica da expressão fotográfica desde o século XIX até ao presente. Para a edição deste ano, a feira propõe uma exploração inédita das práticas fotográficas dos países árabes e do Irão. O projecto é comissariado por Catherine David, responsável pela Documenta X, de Kassel (Alemanha), em 1997. Dos sete novos países presentes, Portugal está representado pela Pente 10 – Fotografia Contemporânea, de Lisboa. A qual vem juntar-se a outras galerias como a 798 Photo Gallery, de Pequim, Galerie Baudoin Lebon ou Galerie Vu, ambas de Paris, Galería Juana de Aizpuru, de Madrid, The Photographer’s Gallery, de Londres, ou a Aperture Gallery, Nova Iorque.
Published at NS'201/IN#097, Mercado da arte (70), (Diário de Notícias N.º 51357 e Jornal de Notícias N.º 166/122), 14 de Novembro de 2009 Portugal © Lalla Essaydi, Les femmes du Maroc : Harem Beauty #2, 2009 Courtesy Edwynn Houk Gallery, New York
Published at NS'201/IN#097, Mercado da arte (70), (Diário de Notícias N.º 51357 e Jornal de Notícias N.º 166/122), 14 de Novembro de 2009 Portugal © Lalla Essaydi, Les femmes du Maroc : Harem Beauty #2, 2009 Courtesy Edwynn Houk Gallery, New York
Monday, 16 November 2009
Novos sinais de estabilidade
Leilões de arte contemporânea de Londres dão sinais de que os piores tempos já passaram.
Apesar de o volume e os resultados finais serem uma fracção do que os leilões representavam no passado, a elevada percentagem de lotes vendidos nas três mais importantes casas internacionais (Sotheby’s, Christie’s e Phillips de Pury & Co.), na semana de leilões coincidente com a Frieze Art Fair, em Londres, aparenta sinais de que os piores tempos já passaram e melhores estão à vista.
O leilão de arte contemporânea da Sotheby’s, na tarde de 16 de Outubro, apresentou 217 lotes (incluía pela primeira vez arte originária do Médio Oriente), dos quais foram vendidos 159 lotes pelo valor total de 14 milhões de euros. Apesar da fraca prestação do dólar, quando equiparado ao euro ou à libra esterlina, um dos espelhos de Anish Kapoor, Untitled (250x250x60cm, de 1994), foi adquirido por um coleccionador privado norte-americano por cerca de 720 mil euros. Na Christie’s, a noite de 16 de Outubro resultou em mais de 18 milhões de euros para os 52 lotes vendidos, de um total de 62 oferecidos; o óleo sobre tela, Paris Bar (1991), de Martin Kippenberger, foi comprado por um anónimo por 2,4 milhões de euros (o segundo mais elevado valor pago por uma obra deste artista em leilão). No dia 17 de Outubro, os dois leilões na Phillips de Pury & Co. encerraram a semana; os 31 lotes (dos 43 apresentados) realizaram 4,5 milhões de euros.
O número de obras de arte leiloadas abaixo dos cinco mil euros aumentou cerca de 20%; uma variação dos 50%, para os 79% (números correspondentes aos lotes vendidos entre Julho de 2007 e Junho de 2008).
Durante estes últimos sete anos, o segmento da arte contemporânea desenvolveu-se com uma rapidez alucinante. Sobretudo com a venda de peças com valor mais elevado no mercado, devido ao aumento da procura de peças por novos compradores oriundos da Ásia, Rússia e do Médio Oriente, bem como ao aumento significativo do número de especuladores e fundos de investimentos atraídos por retornos fáceis.
De acordo com o relatório anual produzido pela consultora francesa Artprice, sobre o mercado da arte contemporânea entre Junho de 2008 e Junho de 2009, durante esse período a quantidade de peças de arte contemporânea vendida acima do um milhão de euros aumentou mais de 620%. No entanto, após o pico da bolha especulativa atingido nos inícios de 2008, os preços registaram um declínio de cerca de menos 27% durante o restante ano. Voltaram a valores próximos dos praticados entre 2005 e 2006.
Published at NS'201/IN#097, Mercado da arte (70), (Diário de Notícias N.º 51357 e Jornal de Notícias N.º 166/122), 14 de Novembro de 2009 Portugal © Martin Kippenberger, Paris Bar (óleo sobre tela 207x380,80cm) 1991 Courtesy: Christie’s 2009
Apesar de o volume e os resultados finais serem uma fracção do que os leilões representavam no passado, a elevada percentagem de lotes vendidos nas três mais importantes casas internacionais (Sotheby’s, Christie’s e Phillips de Pury & Co.), na semana de leilões coincidente com a Frieze Art Fair, em Londres, aparenta sinais de que os piores tempos já passaram e melhores estão à vista.
O leilão de arte contemporânea da Sotheby’s, na tarde de 16 de Outubro, apresentou 217 lotes (incluía pela primeira vez arte originária do Médio Oriente), dos quais foram vendidos 159 lotes pelo valor total de 14 milhões de euros. Apesar da fraca prestação do dólar, quando equiparado ao euro ou à libra esterlina, um dos espelhos de Anish Kapoor, Untitled (250x250x60cm, de 1994), foi adquirido por um coleccionador privado norte-americano por cerca de 720 mil euros. Na Christie’s, a noite de 16 de Outubro resultou em mais de 18 milhões de euros para os 52 lotes vendidos, de um total de 62 oferecidos; o óleo sobre tela, Paris Bar (1991), de Martin Kippenberger, foi comprado por um anónimo por 2,4 milhões de euros (o segundo mais elevado valor pago por uma obra deste artista em leilão). No dia 17 de Outubro, os dois leilões na Phillips de Pury & Co. encerraram a semana; os 31 lotes (dos 43 apresentados) realizaram 4,5 milhões de euros.
O número de obras de arte leiloadas abaixo dos cinco mil euros aumentou cerca de 20%; uma variação dos 50%, para os 79% (números correspondentes aos lotes vendidos entre Julho de 2007 e Junho de 2008).
Durante estes últimos sete anos, o segmento da arte contemporânea desenvolveu-se com uma rapidez alucinante. Sobretudo com a venda de peças com valor mais elevado no mercado, devido ao aumento da procura de peças por novos compradores oriundos da Ásia, Rússia e do Médio Oriente, bem como ao aumento significativo do número de especuladores e fundos de investimentos atraídos por retornos fáceis.
De acordo com o relatório anual produzido pela consultora francesa Artprice, sobre o mercado da arte contemporânea entre Junho de 2008 e Junho de 2009, durante esse período a quantidade de peças de arte contemporânea vendida acima do um milhão de euros aumentou mais de 620%. No entanto, após o pico da bolha especulativa atingido nos inícios de 2008, os preços registaram um declínio de cerca de menos 27% durante o restante ano. Voltaram a valores próximos dos praticados entre 2005 e 2006.
Published at NS'201/IN#097, Mercado da arte (70), (Diário de Notícias N.º 51357 e Jornal de Notícias N.º 166/122), 14 de Novembro de 2009 Portugal © Martin Kippenberger, Paris Bar (óleo sobre tela 207x380,80cm) 1991 Courtesy: Christie’s 2009
Thursday, 12 November 2009
Tuesday, 10 November 2009
Um vento optimista sobre Paris
A primeira questão é: qual das duas feiras – a Frieze em Londres, ou a FIAC, em Paris – consegue actualmente melhor reflectir a situação económica do mercado artístico contemporâneo? Isto antes da entrada de uma nova variável representada pelo mercado americano, através da Art Basel Miami Beach, em Dezembro (a qual este ano conta pela primeira vez com a presença da galeria portuguesa Graça Brandão). A resposta não é fácil.
Apesar de ambas as feiras se debaterem com questões relacionadas com a não participações de galerias e a fraca visita de coleccionadores provenientes do mercado Norte-Americano, o ambiente geral era positivo, com uma perspectiva optimista.
Ao contrário de Londres, onde a feira mais se assemelhava a um supermercado (devido ao grande número de diferentes marca e produtos disponíveis de fácil identificação), a Feira Internacional de Arte de Paris apresentava finalmente o toque francês. Apesar de existir há mais de três décadas, nos últimos três anos a feira mudou de um semblante provinciano para um de maior esplendor.
Era evidente o adiamento do acto de compra, quando comparado com anos anteriores, embora os galeristas apresentassem peças de preços mais contidos e acessíveis para qualquer bolsa.
Quem comprava tomavam o seu tempo e as reservas sucediam-se: a peça Cenotaph (A Deed of Transfer), de 2007, composta por 20 imagens Lenticular, por Jitish Kallat, a qual representava uma favela em Bombaim, na Índia, foi vendida a um coleccionador francês por 22 500 euros; ou os quatro desenhos de Maya Hewitt vendidos por seiscentos euros.
Published at NS'200/IN#096, Mercado da arte (68), (Diário de Notícias N.º 51350 e Jornal de Notícias N.º 159/122), 7 de Novembro de 2009 Portugal Foto: Tobias Rehberher, 2009 © the artist & dependance
Apesar de ambas as feiras se debaterem com questões relacionadas com a não participações de galerias e a fraca visita de coleccionadores provenientes do mercado Norte-Americano, o ambiente geral era positivo, com uma perspectiva optimista.
Ao contrário de Londres, onde a feira mais se assemelhava a um supermercado (devido ao grande número de diferentes marca e produtos disponíveis de fácil identificação), a Feira Internacional de Arte de Paris apresentava finalmente o toque francês. Apesar de existir há mais de três décadas, nos últimos três anos a feira mudou de um semblante provinciano para um de maior esplendor.
Era evidente o adiamento do acto de compra, quando comparado com anos anteriores, embora os galeristas apresentassem peças de preços mais contidos e acessíveis para qualquer bolsa.
Quem comprava tomavam o seu tempo e as reservas sucediam-se: a peça Cenotaph (A Deed of Transfer), de 2007, composta por 20 imagens Lenticular, por Jitish Kallat, a qual representava uma favela em Bombaim, na Índia, foi vendida a um coleccionador francês por 22 500 euros; ou os quatro desenhos de Maya Hewitt vendidos por seiscentos euros.
Published at NS'200/IN#096, Mercado da arte (68), (Diário de Notícias N.º 51350 e Jornal de Notícias N.º 159/122), 7 de Novembro de 2009 Portugal Foto: Tobias Rehberher, 2009 © the artist & dependance
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